Viver não custa – uma homenagem ao Arquitecto Celso Costa

Para Celso Costa, Arquitecto, marido da minha amiga Maria Luiza Cortesão, que soube viver, e ensinar a viver, um militante da liberdade com os Cortesão, falecido ontem.

Sem saber como nem quando, nascemos. Nascemos sem saber o como e o porquê. De certeza, somos resultado de uma violenta paixão dos nossos adultos. Essa paixão que não permite pensar, apenas agir. Essa paixão tem um resultado, a maior parte do tempo, de dar vida. E o caminho ao Gólgota começa. Dizer que viver não custa e, a seguir, referir o caminho ao calvário, parece uma contradição. No entanto, contradição não é. Dizer que viver não custa é já definir esse caminho semeado de espinhos dos preços, os horários intermináveis de trabalho, descontar o dia no qual não se trabalha. Um desconto feito pelos mais poderosos do mundo que apenas querem acumular com a força de trabalho dos outros. Essas espinhas que nem permitem tomar conta de nós nem dos nossos, quando estão doentes. Espinhas inevitáveis. A vida ensina como somos matéria e que essa matéria, ou se cansa, ou se aborrece, ou nem sabe como se entreter. Não é em vão que Alice Miller comente o que está na citação da nota de rodapé
Es por meio de estas ideias de Alice Miller, do abuso que a criança sobre ao ser sempre considerados pessoas que não estão bem, que a sua dotação intelectual é mais baixa do que a normal, que entendemos finalmente, que viver não custa, o que custa é ensinar a saber viver. Viver não custa desde que se saiba poupar às doenças, entender de economia e de gerir o corpo e a inteligência, com diligência, com informação.
Os mais novos aprendem estas ideias e outras, pelo real calvário dos seus pais, esses adultos que são a força de trabalho de uma nação, como já advertia Marcel Mauss em 1924 . Ao aprender estas ideias, especialmente a minha teima de que a religião é a lógica da cultura, como reitero em vários textos, especialmente no texto do seminário de Universidade da Beira Interior, Beira Alta, Em Nome de Deus , é já na catequese que a criança sabe o que é bom e mau, o que deve ou não ser feito. Quer os catequistas, quer os pais que se autodenomina cristãos romanos ou católicos, vivem a sua vida de forma simples. Eles fazem como entendem ou que sentem.. As crianças, se fizerem como entendem, são punidas. As crianças se sentirem e exprimirem as suas emoções, são postas de partes. Daí que viver não custa: os adultos guardam os seus bem incutidos pensamentos dos Dez Mandamentos, no bolso, especialmente os homens.
É no meio desta contradição que as crianças nunca mais aprendem e passam a ser como os seus adultos, mais tarde na sua vida.
E mais nada digo.
É apenas um esboço para o livro que preparo com o título do cabeçalho. Debatido com os Cortesão, que merecem, de longe, este texto, para me ensinarem mais.
São saberes em desencontro , entre adultos e crianças, que acabam por desabar aos mais novos. È Por esse motivo que, ou são punidos os mais novos…ou são levados ao especialista, saiba deus por quê. Normalmente, no mal empregue psicanálise. Que nada adianta. Eis porque viver não custas, o que custa é ensinar a viver entre estas referidas sintéticas ideias.

Comments

  1. Raul Iturra says:

    Ricatdo
    tenho 18 textos para revisão e publicaram com o seu nome, um texto meu, que já enviei- Celso e Maria Luiza são os meus amigos pessoais. Agradecia esse poque nunca 18 texto meus aparecem ou são agendados, e retiram este que nem tinha enviado ao Avntar.
    Abraço
    Raúl Iturra
    lautaro@betcabo.pt

Discover more from Aventar

Subscribe now to keep reading and get access to the full archive.

Continue reading