O maior problema das escolas é o Ministério da Educação

Se o Ministério da Educação (MEC) tivesse algum poder sobre as salas de operações, qualquer cirurgião viveria em constante sobressalto, sem nunca ter a certeza se, no dia seguinte, sairia uma ordem de serviço que o obrigaria a operar com um talher de peixe ou se seria obrigado a substituir a anestesia por uma dose de bagaceira (em princípio, para o paciente).

Para quem não conhece a vida das escolas, pode parecer que exagero, mas a verdade é que o MEC é, desde há vários anos, uma fonte garantida de instabilidade e de desvario: todos os profissionais do ensino vivem cientes de que qualquer regra pode ser alterada em qualquer altura e de que as mudanças são, quase sempre, para pior.

Voltando ao mundo absurdo que imaginei no primeiro parágrafo, é certo que as consequências dos disparates do MEC levarão mais tempo a notar-se do que as de uma cirurgia mal realizada. Assim, tudo aquilo que Nuno Crato continua a fazer, na senda das duas incompetentes que o antecederam, terá reflexos diluídos no tempo e continuará a ter como almofada de protecção – cada vez mais ineficaz, também pelo cansaço acumulado – a acção dos pais, dos alunos e de todos os que trabalham nas escolas.

O episódio da recente e abrupta alteração das regras para os exames de 12º ano é mais um dos momentos que confirmam que o MEC só existe para atrapalhar e que as escolas perdem tempo precioso a resolver os problemas atirados do alto do edifício da 5 de Outubro.

São inúmeras as histórias deste género e valerá a pena dedicar-lhes um ou mais textos, para memória futura. Entretanto, começo a sentir-me cada vez mais parecido com Catão que terminava todos os seus discursos com a recomendação de que se devia destruir Cartago, mas vale sempre a pena repetir: isto não é problema dos professores, é algo que afecta o seu filho, o seu sobrinho ou seu primo mais novo.

Entretanto,e por falar em memória, apetece-me recordar aqui alguns dos textos que escrevi desde que Nuno Crato ocupou uma pasta ministerial:

Abaixo os professores!

Desumanizar a Escola: os exames dos alunos com Necessidades Educativas Especiais

A tua cara não me é estranha: Nuno Crato interpreta Isabel Alçada

Para que serve o Ministério da Educação?

Se o Ministério da Educação fosse uma pessoa, seria viciado em drogas duras

Quem quer casar com a Educação?

Horários zero: o desnorte do Ministério da Educação

Ensino vocacional: pôr portaria na ventoinha

Nuno Crato, o travesti

Comments

  1. Acredito – e já estou longe do ensino – parei em 2008 – e tenho amiga profª de História que se reformou antes de tempo porque não aguentava mais (minha vizinha) e tive amiga que não vejo desde 2003 (de educação visual helama Mártires) que se farou e reformou antes do tempo – estava farta – e tenho amigo Antº Prata de Educação visual que igualmente se reformou (creio masnão tenho a certeza) e ainda outra Maria Inácia Bemto Caraça (Évora) que não vejo há anos – só sei do ensino o que vivo«i (2o anos ensino privado e profissional) e o que elas me contaram e esta vizinha me conta – Já esquecia que tive um amigo Arqtº José Jardim Norberto que dava Educaçºao visual em que a directora fazia a vida no inferno e nem sei porquê porque era homem de grande cultura – Morreu creio que em 2011 e eu gostava muito dele e conhecía-o desde 1976 – estava no programa SAAL (25 abril) deixou e ficou só com o seu atelier privada – Ontem ouvi Siza vieira dizer que fechou o atelier dele (que conheço) por não haver trabalho – Sisa é Pritzer e trabalhou para Holanda + CVerde mais não sei para onde

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  1. […] me falte nada 08/10/2012 Por António Fernando Nabais Deixa um Comentário Para confirmar este meu texto, Nuno Crato não perdeu oportunidade de brincar com a vida das pessoas. O poder de síntese do […]

  2. […] ser constituído por estúpidos, não pode ser incompetente; é apenas mal-intencionado. Perante este balanço, confirma-se que a placidez de Nuno Crato não é sinal de bonomia: é a frieza típica do […]

  3. […] A situação, dizem, está a ser corrigida, o que diz bem da leviandade com que o Ministério da Educação é gerido. Em Portugal, o Ministério da Educação serve, exactamente, para atrapalhar a vida das escolas. […]

  4. […] ter criado um ambiente de estabilidade, favorável ao planeamento, mas manteve a mesma atitude atabalhoada de anunciar decisões em cima da hora, sem se preocupar com as […]

  5. […] decorrentes do final de ano. Toda esta confusão, contudo, é compreensível, porque, no fundo, o principal objectivo do Ministério da Educação é atrapalhar a vida das escolas e para se ser ministro é fundamental não se saber sequer o que é um ano lectivo. Diria mais: é […]

  6. […] Ministério da Educação, fazendo jus à sua natureza de instituição intrinsecamente anti-educativa, resolveu impor serviços mínimos, de maneira a que um conselho de turma se realize desde que […]

  7. […] de ministros marialvas, ignoram a destruição do sistema educativo, assistem impavidamente a agressões contínuas e ainda ficam aborrecidos quando a vítima se revolta. Neste ambiente, é fácil a um ministério […]

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