Mostruário dos tiques anti-professor (2)

Greve sim mas e daí é melhor não

Fazendo jus à pluralidade do Aventar, já antes discordei do meu caríssimo Carlos Garcez Osório e volto agora a fazê-lo. Não será, muito provavelmente a última vez, o que será sempre bom sinal.

Parece-me que o Carlos revela um estranho conceito de democracia: é coisa boa, se servir para eleger os nossos, e é detestável por trazer agarrada a si excrescências como o direito à greve. O governo que o Carlos apoia tem, ainda, sonhos lúbricos em que o Tribunal Constitucional desaparece numa enxurrada, arrastando, na voragem, a Constituição, apontada como a única razão para a ingovernabilidade do país, em substituição do bode expiatório, com a vantagem de cheirar melhor.

Ora, tal como o Carlos, também eu tenho alguns problemas com a democracia. Chateia-me, por exemplo, que a maioria da população insista em votar nos partidos em que eu não voto, sabendo-se, para mais, que são os responsáveis pelos vários desmandos que colocaram o país nesta encosta perigosa, porque nem sequer temos dinheiro para comprar um abismo a sério. Tenho de confessar que, em sonhos enraivecidos, chego a pensar que, se fosse eu a mandar, só deixava votar os eleitores que elegessem deputados do mesmo partido em que voto.

O problema é que isso iria dar origem a um partido único na Assembleia, o que seria recuar aos tempos da União Nacional. Aos tempos, já agora, em que as greves eram proibidas.

A greve dos professores incomodou muito um governo de gente insensível e sem vergonha. Aconteça o que acontecer, os professores devem acreditar que deram início a uma reviravolta que ainda nos há-de permitir ouvir o discurso de despedida de Passos Coelho, que, de tanto mandar emigrar, já deve ter um lugar de emigrante de luxo à espera.

Outros, sem pôr em causa o direito à greve, acusam os professores de prejudicarem os alunos, manifestando sempre o desejo de que aqueles tivessem escolhido outras formas de protestar que prejudicassem apenas o empregador. Alguns comentadores, também no Aventar, disseram que havia muitas soluções, não tendo sido, no entanto, capazes de enunciar uma.

Este tique, na realidade, não é exclusivamente anti-professor. A greve faz muita confusão a muita gente: lá vamos dizendo que já tentámos explicar os vários problemas da Educação e dos professores a vários ministros que se recusam, repetidamente, a entender ou, no mínimo, a atender. Os mais simpáticos responderão qualquer coisa como “Pois, têm de reclamar, mostrar os vossos pontos de vista.” Pois, tentámos explicar aos ministros os vários problemas da Educação e dos professores.

Comments

  1. M. Martins says:

    Força professores. Haja alguém que lute e resista à prepotência dos que nos desgovernam. Não posso muito mas farei o que puder, por ex divulgando os vossos testemunhos.