As consequências

São simples.

Não há reuniões de avaliação, não há notas e sem estas, as pautas não existem.

A primeira consequência é a inexistência de elementos que permitam tomar decisões sobre aprovações ou retenção, isto é, não vai ser possível saber quem passa ou não de ano. Sem esta informação não se poderão concretizar matrículas em novos anos ou até em novas escolas, tal como não será possível desenvolver o processo que levará à entrada na Faculdade.

Numa só expressão, se o ano lectivo 2012/2013 não termina, o que se segue não poderá começar e o arranque das aulas em Setembro começa a ficar realmente em causa.

O problema é sério, mas Nuno Crato e Passos Coelho parecem estar pouco preocupados com a situação que vai colocar em causa um sector vital da nossa economia – o turismo.

Pelo contrário, os Professores continuam muito preocupados e por isso estão disponíveis para continuar esta GREVE que já vai em 8 dias úteis. E as exigências são simples:

– a mobilidade especial (requalificação ou despedimento) não pode ser regulamentada;

– o aumento do horário de trabalho, a acontecer, deverá ser exclusivamente na componente individual (“trabalho de casa”);

– a direcção de turma tem que continuar a ser considerado serviço lectivo.

E, apesar dos números brutais da GREVE (sempre acima dos 90%), há ainda muitos professores que não fizeram qualquer dia de GREVE, ou seja, ainda temos muito caminho para andar. E, apesar da tradicional página em branco do Expresso ou dos posts de ocasião no Aventar, a gente vai continuar

Comments

  1. Tiago Ferreira says:

    Os professores descobriram, finalmente, que são poderosíssimos ?!


    • Tiago, não sei o que percebeu a classe, mas que finalmente se está a fazer uma luta a sério, ai isso está. E para durar…

  2. Hugo says:

    Antes de mais, compreendo e aceito como direito democrático que um profissional ou uma classe lute para manter os seus direitos, independentemente de estes serem justos ou não.

    Dito isto, pergunto: os professores estão dispostos a provocar sérios prejuízos aos alunos (impedindo-os de se candidatar à universidade ou atrasando o início do próximo ano lectivo) somente para:

    – não estarem sujeitos ao despedimento como qualquer outro cidadão nacional;

    – e não terem a mesma carga horária que outro trabalhador nacional?

    Por fim, o superior interesse dos alunos ainda é motivo para esta greve ou assume-se definitivamente que isso foi apenas um argumento hipócrita e demagogo para tentar colocar a opinião pública contra o governo?

    Falemos agora das consequências das consequências. Supondo que o protesto assume essas proporções e que os professores vencem à custa de começar o próximo ano lectivo em Novembro ou atrasando um ano a entrada dos alunos que o queiram na Universidade. Com que imagem ficará a opinião pública dos professores? Uma classe que não hesitou em pôr em causa os interesses dos alunos (a razão pelas quais os professores têm emprego) para proteger meia dúzia de direitos que aliás a maioria esmagadora da população não tem nem nunca teve. É isso que pretendem? Com que margem de manobra ficarão no futuro e com que moral poderão depois falar de dificuldades e carências sociais dos alunos?


    • De vitória em vitória até que fique claro que os cidadãos são todos iguais, mas há alguns que tem a pretensão de ser mais iguais que outros… Numa palavra: vergonha.

    • nightwishpt says:

      Fazem greve por serem despedidos à revelia da constituição e numa altura em que fazem falta. Não sei também porque é que as pessoas ainda acham que os professores trabalham menos tempo que os outros, além do mais, é daquelas coisas que se gosta de medir para ver quem está pior que o outro como se tivesse qualquer relação com a produtividade.

      E sabendo que a ideia do governo é ter alunos a passar frio e fome na escola, parece-me que defendê-lo é patético.

      • Hugo says:

        Confesso que desconheço – sem ponta de ironia ou sarcasmo – que parte da constituição estipula que os funcionários públicos não podem ser despedidos. O mais próximo que encontrei numa busca rápida foi o art.º 53.º: “É garantida aos trabalhadores [não apenas aos funcionários públicos] a segurança no emprego, sendo proibidos os despedimentos sem justa causa ou por motivos políticos ou ideológicos”. Não creio que à situação dos professores se aplique qualquer um daqueles critérios. Dir-me-ão que não há justa causa, porque não há professores a mais. E quem diz isto? Os professores. Se for perguntar a um empreiteiro, ele dir-lhe-á que não há auto-estradas a mais; se for perguntar a um professor universitário ele dir-lhe-á que não há cursos a mais; etc. Até pode ser verdade, não haver professores a mais nas escolas, mas uma coisa é certa: o que há a menos é dinheiro. E se essa falta de dinheiro tem provocado falências e com elas o despedimento de trabalhadores do privado, considerando ainda que a igualdade foi um factor invocado há tempos para impedir a aprovação das medidas do governo, por que razão(ões) os funcionários públicos hão-de ter um tratamento diferenciado? E por que razão(ões) hão-de ter direito a trabalhar menos horas? Nada tem a ver com a produtividade. Quem diz? Quem beneficia desse privilégio. Quanto ao passar frio e passar fome, eu fome nunca passei, mas frio na escola lembro-me perfeitamente de passar (e numa escola do litoral) e tenho trinta e poucos anos; e não foi por isso que deixei de aprender. Em todo o caso tinha um bom remédio: levava mais um casaco de casa. Seja como for nada disto está relacionado com o protesto dos professores, que como já se viu, colocaram os seus interesses corporativos à frente dos interesses dos alunos.


        • Hugo,
          Se puder verifique o programa de matemática do 1º e 2º ciclos. Penso que este é suficiente para entender que com turmas de 30 alunos, conseguir o sucesso pleno é tarefa difícil. Obviamente que a produtividade está comprometida. Ainda neste ano, lecionei o novo programa de mat ao 6º ano (o qual já foi substituído pelo atual), tinha o programa do 5º (a lecionar pela 2ª vez) e ciências da natureza. Como se não bastasse, acrescia ainda uma turma de percursos alternativos, repleta de especificidades e carências múltiplas.
          Não podemos abnegar a existência de alunos cujo suporte familiar é parco ou inexistente. Muitos foram postos neste nosso mundo por mero acaso, criando-se a si próprios e sobre a “demência” dos progenitores. Temos ainda que considerar os alunos com défice inteletual não contemplados pela educação especial (o que me levou a abandonar esta área dado discordar plenamente da legislação posta em vigor). E tantos, tantos outros… Trabalhamos com a formação de pessoas – os homens do amanhã – ,e lhe garanto que não somos todos farinha do mesmo saco (lambe botas!)

        • Maria says:

          Relativamente ao horário de trabalho, há quem pense que os professores têm um horário de luxo, isto é 22 horas letivas. Se o trabalho fosse apenas este, o tempo de aulas, estaria completamente de acordo. Mas não é! Para além das horas letivas, acresce uma componente não letiva (dada obrigatoriamente na escola) e, maioritariamente, a apoiar alunos. Estas horas não são consideradas letivas mas equivalem a estar com uma turma ou mais e preparar o apoio, tal como se fosse uma aula. Acresce ainda as 7 horas de trabalho individual (estas podem ser desenvolvidas em casa), mas com 5/6 turmas (dependendo das situações) mal chega para preparar as aulas de uma semana. Junta-se a este trabalho individual a elaboração e correção de testes, fichas de trabalho, testes adaptados, para quem tem alunos de Educação Especial. Não são contabilizadas as reuniões de grupo disciplinar, para planificações (unidades letivas e atividades inerentes à disciplina, como visitas de estudo, preparação de aulas práticas para quem dá ciências e, depois da aula, lavar o material de laboratório- na maioria das escolas são os professores que têm esta tarefa, realização de inventários de material, etc); não são contabilizadas as reuniões de Direção de Turma (em que todos os DT reúnem); não são contabilizadas as reuniões de Conselhos de Turma (todos os docentes de cada turma), sendo que estas últimas ocorrem no mínimo em dois momentos por cada período e com a duração mínima de 2h/2h30, dependendo das situações. Não é contabilizado o tempo que o Diretor de Turma passa a registar faltas, a justificar faltas, a enviar correspondência aos encarregados de educação, a reunir com os encarregados de educação, muitas vezes fora da hora (os dois tempos de DT, são insuficientes)…
          A questão do despedimento / mobilidade: há professores que fazem parte do quadro da mesma escola há anos (+ de 20) e agora vão perder o lugar, não por falta de alunos, mas porque o MEC, no ano letivo anterior reduziu o número de horas em algumas disciplinas, aumentou o número de alunos por turma, agora vai retirar os tempos de DT da componente letiva (um dos cargos que ocupa mais tempo aos docentes). Por ex. As disciplinas de Biologia e Química, do 12º ano, tinham até o ano transato 7 tempos de lecionação, para cada uma. Este ano o tempo letivo reduziu para 4 tempos, mas o programa, que é extenso, mantém-se. Como é que se consegue abordar todos os conteúdos e, realizar componente prática com menos de 3 tempos semanais? Quais são os maiores prejudicados com estas reduções? É claro que são os alunos. Sabemos que estamos em crise: não me revoltei com a perda de vencimento, não me revoltei com a perda de subsídios, etc. A minha questão é esta: se o governo tem tanta de dificuldade em pagar aos funcionários públicos, não terá a mesma dificuldade em pagar aos membros do Governo? (não podiam também reduzir em número?). Se as escolas agruparam, será que os Ministérios também não poderiam agrupar? Poupariam muito também se o fizessem. A única coisa que os professores querem do público é que compreendam o seu trabalho, que não passa apenas por lecionar. Em muitas situações os professores são pai e mãe (não vale a pena referir aqui em que situações ou como, quem o faz, fá-lo porque quer ajudar e não por obrigação). Sabemos que há bons e maus, como em todas as profissões… Para além disto tudo, muitos professores trabalham longe de casa e das famílias (alguns com filhos pequenos) e todos os anos passam por uma grande incerteza quanto ao futuro. É de salientar ainda que, durante muitos anos, era das poucas profissões a quem não era dado subsídio de desemprego, caso não fosse colocado… E muito mais se poderia dizer!


      • Devo dizer que muitas vezes nós, professores, levamos comida, roupas, materiais de higiene, etc, etc para nossos alunos. Não vou enunciar o que já dei – é de mau tom e ofereci-o por querer por forma a sentir a minha alma aliviada. É que frio nas escolas… Sim, em alguns casos existe. Mas e quando detetamos casos de violação, os denunciamos e somos ameaçados de morte, como já me aconteceu duas vezes, em diferentes lugares, continuaremos, no seu entender, a não defender os interesses dos alunos?
        Mais, durante todo o ano letivo dei aulas de apoio não pagas nem publicitadas junto a diretor, a uma turma com maiores dificuldades. Ainda agora, no trabalho de preparação para exames, dediquei 4h todas as manhãs, aos alunos que 40km diários percorriam para às minhas aulas assistir, pagando cerca de 5€/dia no autocarro pois a autarquia não assegurou os transportes (ah… e somos nós aqueles que não defendem os interesses dos alunos…). Terça, se a alguma reunião de avaliação tiver que faltar, fazendo greve, para poder me manter todo o dia na preparação final destes para o exame de quarta, fazê-lo-ei!!! Gostava que o que alguns professores fazem não fosse a todos generalizado 🙁


    • Convém esclarecer que a carga horária dos professores é superior à maioria dos restantes funcionários públicos. Por exemplo, ainda nesta terça, cheguei à minha escola para preparar os alunos para exame, às 8.15 e sai às 21h.20min. Garanto que não decorreram momentos de lazer ou sai da sala de aula para fumar, tomar um café, ir ao wc, fazer compras, ir ao bar da esquina,… Na quinta, no secretariado de exames, apresentei-me às 8h. Eu e os restantes colegas tivemos apenas 1h de almoço (o exame da manhã foi referente ao 2º CEB e o da tarde ao 3º). Almocei durante 30 min para os restantes dedicar à elaboração de imagens no geogebra, a constar nos critérios de correção do exame a realizar a nível de escola.
      O despedimento fez também sempre parte da classe docente, Hugo. Aliás, quantos são os que acabam por a abandonar dado não se adaptarem ao atual e caótico sistema? Pessoalmente, efetivei a 106km de casa, nunca região muito diferente das restantes onde exerci funções docentes. Nunca, em 16 anos, estive mais perto de casa. As despesas são duplas… Porém, para efetivar, tive que trabalhar durante o curso, lutando por uma boa média e sujeitar-me, profissionalmente a situações inusitadas, algumas das quais inimagináveis…
      Desconhecidos são ainda muitos dos diferentes papeis assumidos pelo professor: na escola, ele é pai, amigo, psicólogo, investigador, confidente, … e aquilo que não devia ser – “educador”. Sim, porque à escola chegam-nos alunos que os talheres não sabem usar, muito menos estar à mesa ou entrar numa sala de aula e muito mais…
      Espero, com este sucinto relato, ter contribuído para o seu esclarecimento.

      • Hugo says:

        Não tenho razões para duvidar da sua palavra, mas também acredito que essa situação só se verifique excepcionalmente.

        Em relação ao despedimento, creio que há aqui um enorme equívoco: abandonar por livre vontade não é despedir, da mesma forma que não ter trabalho porque se chegou ao fim do contrato também não é despedir. Despedir é uma pessoa ter contrato e esse contrato ser rescindido pela entidade patronal.

        Quanto à efectivação longe de casa, compreendo que não seja a situação ideal para muitos, mas penso que também compreenderá que não pode haver lugar para todos na escola à beira de casa.


        • O Paulo Vasco descreveu um dia de trabalho que está muito longe de ser excepcional, assim como está longe de ser excepcional um professor ficar a trabalhar em casa pela madrugada fora e durante os fins de semana. Um professor que tenha um horário mesmo muito bom – digamos, 22 horas lectivas divididas por apenas seis turmas de 20 alunos e dois níveis de docência do mesmo ciclo – terá menos aulas para preparar, menos testes para elaborar e corrigir, menos reuniões de avaliação, menos reuniões de coordenação e poderá eventualmente trabalhar um pouco menos que 40 horas por semana. Mas estes horários são raros.

          No outro extremo, um professor que tenha um horário muito mau – digamos, as mesmas 22 horas divididas por onze turmas de 30 alunos e cinco níveis de docência em ciclos diferentes – dificilmente trabalhará menos que 60 ou 70 horas semanais. Nuno Crato, que é matemático, sabe isto muito bem; mas não o reconhece porque a sua prioridade em relação aos professores, como a do governo em relação aos outros trabalhadores do sector público e do privado, é aumentar o mais possível o número anual de horas trabalhadas de modo a que o salário anual por hora seja o mais baixo possível. É a isto que eles chamam “sucesso” e “competitividade.”


          • Concordo, José Luiz.
            Assim são os nossos dias…E os fins de semana a corrigir provas, problemas do mês, momentos de avaliação formativa e/ou na procura de materiais cativantes? A verdade é que poucos conhecem os nossos dias e a comunicação social, em meu entender, pouco (ou nada) tem contribuído 🙁


        • Permita-me apenas que esclareça o facto de nunca ter lecionado perto de casa: disso não me queixo! Sempre arrisquei. E foi assim que efetivei.
          Contudo, se quisesse constituir família, e atendendo a que os 106km citados contemplam serra, neve, nevoeiro, gelo, … tudo seria complicado. E na verdade até o é. Posso exemplificar com momentos vividos no presente ano letivo, numa outra vertente: a minha mãe com um tumor maligno que foi extraído em fevereiro e a minha avó, aos nossos cuidados, com a doença de Alzheimer… A legislação não me é benevolente. Contudo, asseguro que nem os meus alunos nem os meus familiares deixaram de ter o devido apoio. No entanto, no dia da extração do tumor da minha mãe, por exemplo, estive eu a dar aulas… Friso ainda que não sou exemplo algum de bom professor ou modelo de professor. Sou alguém que seguiu esta profissão por vocação, numa licenciatura de via ensino e posterior especialização.

    • adelinoferreira says:

      Hugo,o seu comentário tem contradicões insanaveis:
      Aceita como direito democratico que uma classe lute
      para manter os seus direitos,sendo justos ou não!
      A seguir põe em causa os direitos que diz defender!
      Quem assim pensa, e não quer ser demagogo,tem
      forçosamente que aceitar as consequências da dita
      luta democrática!
      Depois mistura todas as profissões,como se não hou
      vesse especificidades entre elas.Poderia começar por
      politicos e acabar na tripulação de um navio mercante
      quando faz viagens de 30 e mais dias.Não vou perder
      mais tempo consigo,você é um demagogo formatado
      e encartado, que chama ao Socrates paineleiro,quer
      dizer paneleiro e a seguir diz: Se eu lhe chama-se
      paneleiro…..

      • adelinoferreira says:

        O meu comentário refere-se ao PRIMEIRO comentário
        do Hugo 12,51h

      • Hugo says:

        O exercício de um direito pode ser legítimo, mas injusto. Assim de repente lembro-me daquele caso em que a Igreja queria despejar uma velhota em Fátima. Legalmente, a Igreja tinha toda a razão. Do ponto de vista da justiça, se bem me lembro, essa acção deixou muito a desejar. Não sei onde está a minha contradição.

        Também não entendo a referência às profissões. Acho que ficou bem claro que o que quis dizer foi que ninguém é bom juiz em causa própria. Obviamente os professores dizem que há poucos profissionais na área e não muitos, porque querem defender o seu posto de trabalho. Da mesma forma que os empreiteiros dizem que há falta de obras públicas. Quer num caso, quer noutro, essas opiniões não correspondem necessariamente à verdade.

        Em relação ao engenheiro dos domingos, eu posso ter escrito muito coisa. Duvido seriamente que tenha escrito «se eu lhe “chama-se”».


    • [Os professores fazem greve] «somente para:

      – não estarem sujeitos ao despedimento como qualquer outro cidadão nacional;

      – e não terem a mesma carga horária que outro trabalhador nacional?»

      Para começar, gosto acho graça ao «somente». Como se fosse pouco.

      Para continuar, o que há a mais em Portugal, e o governo neoliberal quer agravar a todo o custo, é a precariedade laboral. Qualquer grupo profissional que lute contra ela, e não só os professores, está a lutar pelos direitos de todos. O governo neoliberal agradece ao Hugo a inveja, que é o que lhe permite nivelar sempre por baixo. Um dia que os direitos dos outros desçam tanto que os do Hugo fiquem por cima, chegará a sua vez de ser equiparado a «qualquer outro cidadão nacional». E assim sucessivamente até estarmos todos reduzidos a escravos.

      Para terminar, gostava de saber como é que o Hugo calcula a carga horária dos professores, quando ela depende de variáveis que nem sequer lhe passam pela cabeça, como o número de turmas, o número de alunos por turma, o número de níveis, etc.

      No dia em que os professores decidam trabalhar só 40 horas por semana, ao cronómetro, e nem mais um minuto, deixando por fazer o que ficar por fazer, talvez os Hugos se calem. Ou talvez nem assim. A ignorância sempre foi atrevida e avessa a contas e a factos.

      • Hugo says:

        Antes os professores lutavam pelos alunos, Como essa não pegou, viram o bico ao prego e afirmam estar agora a lutar pelos direitos de todos. Que virá a seguir? Luta pelos direitos dos povos da China?

        Eu não quero que se nivele por baixo. Quero que se nivele pelo justo e não me parece que 40 horas/semana seja uma violação dos direitos humanos. Guarde lá a retórica do “é fascista, é neoliberal, eles querem é escravos” (aliás como é que escravos conseguem comprar aquilo que “eles” produzem é coisa que me escapa). Mas se realmente os professores oficiosamente já trabalham 40 horas/semana, então qual é o problema de oficialmente o governo implementar essa medida? A não ser que os professores (e os funcionários públicos em geral), afinal não trabalhem nada 40 horas/semana.


        • Essa do nivelar pelo justo tem muito que se lhe diga. Como é que se define um horário de trabalho “justo”? Porquê 40 horas semanais e não 20, ou 10? Em termos aritméticos, era perfeitamente possível: se há meio século um horário de trabalho “normal” já era de 40 horas, e se de então para cá a produtividade por trabalhador/hora quintuplicou, porque é que não estamos todos a trabalhar 8 horas por semana?

          Mas deixemo-nos de “utopias”. Quando falo em nivelar por baixo, quero mesmo dizer nivelar por baixo. Durante 30 anos, entre 1950 e 1980, a tendência foi para que os salários subissem e os horários diminuíssem acompanhando o aumento de produtividade. Subitamente, a partir de 1980, os salários pararam de subir, ou passaram a subir muito pouco, e os horários não só pararam de diminuir como começaram a crescer de novo. E isto apesar de a produtividade, impulsionada pela inovação tecnológica, continuar a aumentar ao ritmo anterior.

          O que é que aconteceu em 1980 para que a tendência se invertesse? Aconteceu Reagan, aconteceu Thatcher, aconteceu o neoliberalismo de que você não quer que eu fale. Aconteceu a globalização, que devia consistir, de acordo com o modelo que nos foi vendido, na livre circulação de capitais, mercadorias e trabalhadores mas se ficou pelas duas primeiras, como um tripé com uma perna a menos.

          A ideia é mesmo nivelar por baixo. E usar a inveja para que as populações permitam isto. Nivelar pela China ou, se os salários e as condições de trabalho melhorarem demais na China, nivelar pelo Bangladesh. O Gaspar, o Passos e o Crato fazem apenas a sua parte.

          Quem comprará as coisas quando formos todos escravos? Sei lá. Pergunte a quem está a conduzir o Mundo nessa direcção. Ou não pergunte: alguns já estão a dar-se conta do sarilho que será, também para eles, o trabalho barato demais.


        • Ah, já me esquecia. O Hugo quis ser sarcástico, mas a verdade é que temos mesmo que lutar pelos direitos dos povos na China. E no Bangladesh. E na Turquia, na Grécia e no Brasil. Se não o fizermos, estamos lixados. Para a maioria dos que mandam no mundo, nenhum horário é longo demais, nenhum salário baixo demais e nenhum emprego precário demais.


    • Não sei quando é que o Hugo fez o 12º Ano, mas o comentário que publiiquei aqui http://aventar.eu/2013/06/21/a-chave-desta-greve-esta-nas-reunioes-do-12-o-ano/comment-page-1/#comment-101887 a propósito de um Orlando que dizia ter feito o 12º em 1989, serve perfeitamente para responder ao primeiro comentário do Hugo:

      Portanto, Orlando [aqui Hugo], para que os estudantes possam ter o seu primeiro ano de universitários sossegaditos, os professores devem abdicar de lutar pelos seus direitos.

      Sim, senhor. Grande lição de cidadania que nos dá com esta sua intervenção.

      Pessoalmente, não me comove nem demove. Lamento.

    • Victor says:

      Prometo não me alongar muito relativamente ao que o Sr. Hugo apresenta logo no seu 1º comentário, pois poderá não saber o que é trabalhar mais de 40h semanais, tal como os professores. Tem razão sim, quando refere que isso a maioria da população não tem essa carga horária especialmente quando não é paga, a exemplo dos professores. Mas o que me deixa completamente atónito é quando refere “Com que margem de manobra ficarão no futuro e com que moral poderão depois falar de dificuldades e carências sociais dos alunos?”. Pois caro Hugo, fique sabendo que habitualmente, grande parte dos professores ajuda (diretamente) esses mesmos alunos com graves carências sociais, seja ao nível de dinheiro para a compra de materiais, uma simples sandes ou a senha de um almoço, só para citar algumas das ajudas. Ajuda-os também de uma forma indireta quando são contactadas instituições de solidariedade social para aquilo a que se chama de “miséria encapotada”, ou organiza eventos e campanhas de recolha de alimentos, entre outras coisas. Por isso a nossa moral está bem acima da sua, que revela ignorância absoluta sobre o que se passa dentro de uma escola. Se visse os olhos humedecidos de algumas crianças, ou se na “sua aula” alguns deles desmaiassem por falta de alimento, talvez reconsiderasse no que acaba de escrever. Espero que os seus comentários não tenham sido encomendados por alguém…mais cego que o sr.


  3. Excelente artigo: linguagem simples e clara, capaz de esclarecer qualquer indivíduo.


  4. Reblogged this on Sonhos desencontrados and commented:
    Na atualidade: a greve dos professores a todos de acessível compreensão!


  5. A luta continua!

    🙂

  6. Ana Roma says:

    Acho imensa piada ao facto de alguém que não está na profissão, nem tem conhecimento do que se passa na vida de um docente (como por exemplo, cônjuge/filhos/pais/irmãos…) se dê ao desplante de tecer comentários. Como todo e qualquer cidadão um docente tem direito de constituir família, ao contrário do que acontecia no “tempo da outra senhora”, em que só lecionavam padres e freiras – exatamente com o propósito de viverem para a escola. Hoje em dia, e com o direito de constituir família, já ninguém vive para a escola – vive-se DA escola – e BEM MAL. Quantas vezes se chega tarde a uma festividade em família, ou nem se vai, porque saímos tarde demais de uma reunião agendada em menos de 24 horas e via telefone, enquanto que essa celebração planeada ao pormenor durante bastante tempo fica preterida?
    Quantas vezes não participamos em atividades que os nossos filhos têm nas suas escolas (sim, também somos pais/mães) porque temos que estar presentes naquelas em que participamos com os nossos alunos?
    Quantas horas passamos na nossa segunda casa – a escola onde estamos colocados – porque, por não ser perto de casa, gastaríamos demasiado tempo, energia e dinheiro em ir e regressar ao local de trabalho, independentemente de se ter cinco ou seis tempos de intervalo entre a última aula da manhã e a primeira ou segunda da noite – sim, porque há docentes que lecionam em todos os “turnos” – manhã, tarde e noite.
    Quantos serões em família, fins de semana são “desperdiçados” porque temos trabalhos de casa para corrigir, cadernos para verificar e corrigir, aulas para preparar, testes para preparar, corrigir e avaliar, estratégias para motivar alunos e Encarregados de Educação a irem à escola? E por vezes somos nós próprios Encarregados de Educação forçados a ser não presentes porque tudo o que é feito com os nossos educandos é num horário incompatível com o nosso. Mas atenção à diferença – os meus educandos foram, apesar do pouco tempo que me é permitido estar com eles, devido a tudo referido atrás educados a respeitar tudo e todos, sendo que, até hoje ainda não tive qualquer queixa face ao seu comportamento/atitude nas escolas que frequentam – este facto não é o que sucede com os nossos alunos, habituados a serem preteridos a afetos, responsabilidades, obrigações -só sabem que têm direitos! E os Encarregados de Educação, a mesmíssima coisa!
    Apesar de tudo isto sou professora, não por saída profissional, mas por vocação – ao dez anos tomei a decisão de o ser – e não me arrependo de o ser, pois já tive o privilégio de ser observada clinicamente por uma ex-aluna, de trabalhar com ex-alunos e tenho o prazer de ser atendida em diferentes ocasiões comerciais por ex-alunos, já procurei apoio judicial a ex-aluno e tudo isso me deixou orgulhosa de, de alguma forma, ter ajudado a formar aqueles seres humanos para a vida e para as diferentes profissões que exercem. Assim como educo as minhas filhas, no pouco tempo que com elas passo, a serem seres humanos capazes de saber ser e estar com quem quer que seja e em qualquer lugar no mundo.
    A greve que tenho feito, e sim – a minha filha mais velha teria realizado o exame de dia 17 se os meus queridos colegas não tivessem feito greve e a minha filha mais nova teve o seu exame de Matemática do 6º ano antecipado graças à greve geral, tudo isto são o que os estrategas bélicos chamam de “danos colaterais” à morte de inocentes/civis, com esta nossa greve não estamos a declarar morte a ninguém, apenas a adiar ( ou obrigar a antecipar) um exame, mas com um objetivo nada comparado a uma vitória bélica, um objetivo que é um bem adquirido pelas sociedades desenvolvidas, ter trabalhadores, neste caso professores no mesmo local de trabalho para trabalhar com e para os alunos desde o início até ao fim do seu percurso escolar, conhece-los, muitas vezes melhor que os pais, prepará-los para a vida futura, formá-los nas diferentes áreas da vida humana desde os afetos até à formação profissional e para isso é necessária senão obrigatória estabilidade de docentes nas escolas do nosso país. Esta preparação não pode ser feita corretamente em turmas com mais de 20 alunos, senão que atenção lhes podemos dispensar e que preparação lhes podemos facultar?

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