Dedicado aos ressabiados de direita que andam por aí a estrebuchar

Fiquei por estes dias a saber, pela turba que entoa cânticos de apoio ao PàF nas redes sociais, que a possibilidade de um governo que integre CDU e BE resultaria numa ditadura de esquerda. Que se prepara um golpe de Estado. Que os mercados serão implacáveis com a heresia democrática de haver quem à esquerda do PS se perfile para encontrar soluções governativas. O apocalipse ao virar da esquina.

Mas, voltemos atrás no tempo.

Maio de 2011. O líder do PSD, Pedro Passos Coelho, e o senhor absoluto do CDS-PP, Paulo Portas, encontram-se na SIC para um debate na antecâmara das Legislativas de 2011 que os levaria para o poder. Durante o debate, Portas fez saber que, não era importante se o PS tinha mais votos, que aquilo que realmente importava era saber quem conseguia apresentar ao presidente da República uma maioria estável, grande e boa diria Ricardo Araújo Pereira, que as maiorias absolutas, tal como a cara dos queridos líderes do PàF nos cartazes, desapareceram do debate e da comunicação.

Questiono-me sobre quantos destes ressabiados que agora entopem as redes sociais como caixas de ressonância do spin do governo, a falar de golpes de Estado e de ditaduras de esquerda como autênticos patetas, entraram neste histerismo primário quando o irrevogável explicava aos portugueses, em canal aberto – e com razão, há que dizê-lo, e para isso basta olhar para os nossos parceiros europeus onde tantas vezes o partido mais votado não chega sequer ao governo – que mais do que indigitar quem foi mais votado, importa haver um acordo que permita estabilidade no Parlamento.

Depois há o argumento que nos diz que os portugueses que votaram no PS não votaram numa coligação à esquerda. Como se tivessem votado num qualquer entendimento à direita. Mas verdadeiramente espantosa é a amnésia colectiva do rebanho: então e em 2011, será que os eleitores do PSD – e vice-versa – votaram numa coligação com o CDS-PP? O mordomo das Lajes foi um dos que trouxe este argumento à baila. Será que, quando foi eleito, os eleitores do PSD votaram numa aliança com os centristas? Será que votaram num primeiro-ministro para que, a meio do seu mandato, trocasse o país de tanga pela vida faustosa de Bruxelas? Melhor: será que votaram numa solução em que Pedro Santana Lopes sucedia hereditariamente a Durão Barroso? Claro que não. E a prova disso é que quando Santana foi a votos, foi esmagado nas urnas por José Sócrates. E nunca é demais agradecer a Durão Barroso pelo feito.

Não me entendam mal, eu até gostava de ver o Tecnoforma, o Irrevogável e o Marco AnTony Soprano a fritar em lume brando até ao momento em que, aproveitando-se de um qualquer momento de fragilidade da coligação, o PS forçaria eleições antecipadas. Vê-los cair tal como fizeram cair Sócrates, e ver a justiça cair em cima deles será algo que, a acontecer, me dará uma imensa satisfação. Por enquanto terei que me contentar com o festival de degustação de sapos gigantes. Ver a turba do PàF engasgar-se com batráquios, depois de meses de ataques cerrados ao mesmo António Costa a quem agora os seus ídolos políticos estão dispostos o conceder tudo e mais alguma coisa, faz-me sentir um António José Seguro na noite da eleição a rebolar de tanto rir.

Comments

  1. joão lopes says:

    depois da brilhante jogada do jeronimo(sem duvida,que já é o mourinho mind game da politica),alguem sabe se já fomos invadidos pela nato? é que lêr o CM(aquele jornal “credivel”) uma pessoa fica com a ideia que terceira grande guerra vai começar …em Portugal.malvados dos esquerdistas,caraças,que estragam “narrativas”,não havia necessidade…

    • acho que já se arrependeram de não terem ordenado aos barquinhos estacionados no Tejo para esmagar as chaimites do Salgueiro Maia 🙂

  2. Rui Silva says:

    Eu por acaso gostaria de ver um governo PS+BE+PCP.
    Esperemos que isso seja possível.

    cumps

    Rui Silva

  3. Antonio Santos says:

    Estou completamente tranquilo porque sei que o BE+PCP jamais iram para o governo. Porque se não for com PSD+CDS então vamos a novas eleições.

  4. A tua tranquilidade não permite perceber o primeiro parágrafo.
    No segundo estás com tranquilidade insegura…

Trackbacks

  1. […] de sobretaxas e de comunicação política matreira, não foi suficiente para manter o poder, tal como o líder do CDS-PP havia profetizado em 2011. Portas regressa ao seu táxi, senhor absoluto do Largo do Caldas, enquanto Passos, refém da sua […]

  2. […] assim uma vitória. Tramou-os a democracia representativa, essa expressão suprema do golpismo que em tempos integrava o leque de opções de Paulo Portas, o homem que, segundo a narrativa da actual oposição parlamentar, seria aquele que teria o PSD e […]

  3. […] defendia que não importava quem tinha mais votos, mas quem conseguia apresentar uma maioria [3]? Na Europa, vários Estados têm governos que não são liderados (nem integrados) pela força […]

  4. […] já vem do tempo em que Paulo Portas afirmava, em debate com Passos Coelho, que não importava se o PS tinha mais votos nas Legislativas, desde que o seu CDS chegasse aos 23,5%…. Estava feita a maioria, e com toda a legitimidade, apesar das palermices que a direita vendeu aos […]

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