Não acredito em políticos

Os políticos não são de facto o tipo de pessoas em que devemos confiar. Por exemplo: O Pacto de Paris de 1928. Como é óbvio mentiram. É normal. Os políticos mentem constantemente. Os políticos sobem na carreira mentindo cada vez mais. Aliás, os políticos mentem tanto que nem precisam de fazer rigorosamente nada para estarem a mentir.
Eu posso de facto, provar esta afirmação. Através da comunicação. O único meio de um político fazer passar a informação, que lhe dará direito a ser eleito, é através da comunicação. E todos nós comunicamos, não são só os políticos. Aliás, é impossível não comunicar. Uma pessoa em silêncio, imóvel, no meio de uma rua provavelmente comunica muito mais que a pessoa que conversa na paragem do autocarro. Quer se queira, quer não, é impossível não comunicar. A comunicação não tem oposto. Os políticos sabem disso. Por isso usam cartazes e outdoors para isso. Para comunicar nem sequer é preciso estar fisicamente num espaço. Basta uma foto e letras.
As roupas que os políticos vestem, também comunicam. Os seus cortes de cabelo comunicam. As suas mãos comunicam. Os seus óculos comunicam. A sua idade comunica. Tudo comunica. É preciso então explicar o que comunicam. É preciso explicar porque alguns políticos usam óculos e outros não usam. É preciso explicar porque uns usam gravatas e outros não. Porque usam fatos ou roupa casual. E principalmente porque fazem isso e com que propósito.
Por exemplo: nenhum político actualmente usa óculos pretos de massa em campanha. Todos os óculos são finos e praticamente transparentes. Esta escolha não é obviamente uma questão de gosto, mas uma questão de não se identificar com aquela pequena fatia de “intelectuais não compreendidos”. Por outro lado, os “intelectuais não compreendidos” não usam óculos finos e transparentes. Pode-se argumentar que esta apreciação é subjectiva, mas é o mesmo argumento que temos para ir a um funeral vestidos de negro. Não sabemos porque vamos vestidos de negro, mas vamos! Todos temos que nos adaptar a um grupo maior e todos nos adaptamos. Nem que seja inconscientemente. É normal.
Os políticos “de direita” usam sempre gravata e fato. Já os “de esquerda” nunca usam gravata. Claro que alguns tentam confundir estas teorias, mas na realidade apenas conseguem comunicar verdadeiramente a sua posição. De certa forma, também prova aquela sensação estranha que os portugueses têm de já não existir direita e esquerda e de como essa distinção já não faz sentido. São todos iguais, é vox populi.
E tudo o resto comunica. O cabelo comprido por um lado tem uma aproximação pacifista e até cristã, mas tem muitas ligações negativas pois associa-se facilmente a hippies e afins e a quem não liga à sua imagem pessoal como valorização de um estatuto na sociedade. E também a uma certa desregulação e liberdade de acção. Coisas que não se pode sequer associar inconscientemente à política. O cabelo curto, por outro lado, acentua o carácter competitivo instigado por uma imagem inconsciente de um guerreiro. Assim como implica limpeza. Os políticos como não são muito inteligentes, normalmente aplicam este conceitos a tudo. A si e ao que os rodeia. Não é por nada, que nas vésperas de eleições todos os jardins são tratados e aparados. Aliás, qualquer beira de estrada é limpa e aparada! Os exemplos são infindáveis e estão todos à vista.
Isto não são conclusões. São lições de marketing. Por alguma razão existe marketing político. Por alguma razão o marketing político pretende “melhorar” os sistemas eleitorais.
Se os políticos se alteram com o intuito de agradar a outros, estão a mentir logo à partida! Não são eles próprios! São uma imagem criada para agradar ao máximo de pessoas possível.
O marketing transformou o político e a política num produto que se tenta vender a si próprio. Na melhor embalagem possível e ao maior número de pessoas possível. Neste momento, a política é apenas e só mais um produto que se compra e venda… como umas míseras cuecas.
Aliás, é sempre assim que se deveria imaginar os políticos: de cuecas, com os seus óculos e os seus cabelos todos iguais.
Visto assim, um político apenas pode enganar pela retórica e esse é um campo em que os políticos portugueses são praticamente nulos. Pelo menos é muito mais difícil de enganar alguém…
Por isso, e para todos os indivíduos perceberem isto, o marketing político deveria ser uma disciplina obrigatória nas escolas. Desta forma, qualquer adulto em formação teria noção exacta do poder de manipulação do marketing. Numa sociedade de consumo não se dão aulas de marketing? Estranho. Mas qualquer político e dirigente confirmará a sua importância. Os políticos que introduzirem esta disciplina nas escolas, terão de certeza, o meu voto. Até lá, eu não acredito em políticos.

Comments

  1. Basta ver a extraordinária campanha dinamizada por Obama e a sua equipa nas eleições dos EUA. Quer nas primárias democratas quer nas presidenciais. No entanto, convém lembrar que a culpa não é só dos políticos e de quem administra a sua comunicação. Porque é que a imagem tem tanta preponderância em relação à mensagem? Será porque aos olhos dos cidadãos eleitores “os políticos são todos iguais” (frase sempre acompanhada por um encolher de ombros resignado)? Porque é sempre mais interessante olhar os candidatos e escutar os “sound bytes” que ler os respectivos programas eleitorais, pensar e, até, apresentar sugestões?Hoje, participar no debate político é fácil, ao contrário do passado. Mas quantos efectivamente o fazem? Porque “não vale a pena” ou porque é mais cómodo ficar em casa e ficarmos livres de compromissos para, depois, “dizer mal”?

  2. Isac says:

    Exacto. Não é um problema da política. É um problema da sociedade. A imagem tem toda a importância em relação à mensagem. Hoje em dia, o marketing consegue transformar em vendável produtos que nem sequer têm mensagem! Apenas têm uma excelente imagem! Não é por nada que a Justiça é representada de olhos vendados. Não porque é cega mas porque não deveria ver! Deveria julgar os argumentos e a letra da Lei, mais nada. E mais correcto ainda é que devemos participar no debate político. O problema é como, já que a política se tornou uma coutada elitista de homens poderosos que nada, nem ninguém ouvem.

  3. Nuno Antunes says:

    Gostava de o ver a si a mandar no país. Ou simpesmente como político. Havia de ser bonito!São todos uns malandros, só você é que é bom!Sabe que mais? Bardamerda para isto tudo.

  4. Isac says:

    Eu não quero mandar no país. Por mim, até você pode mandar no país. Desde que não esteja envolvido em corrupções, favorecimentos de amigos em empresas privadas, fuga aos impostos, com dinheiros em paraísos fiscais e a apoiar financeiramente meia dúzia de grandes empresas enquanto outras fecham todos os dias… Não são todos malandros e não sou só eu que sou bom! Apenas constato a realidade. E a realidade diz-me que os políticos dizem uma coisa e fazem outra. Prometem isto e aquilo e não fazem. Dê uma vista de olhos na própria Constituição e pode ver que ela é atropelada muitas vezes pelos próprios políticos.

  5. “Deveria julgar os argumentos e a letra da Lei, mais nada”.Sim, de acordo, mas há ainda o pequeno detalhe da qualidade das leis (ver http://blocodenotas.eu/?p=254). E, em Portugal, nem sempre estamos bem servidos.

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