Uma volta no expresso…

Passando a publicidade, ontem dei uma volta no Expresso on-line. E foi uma volta estranhíssima que me deixou, mais uma vez, preocupado. Costumo passar lá para ler as novidades da Emily. Presa no gelo, na base Amundsen-Scott relata a sua permanência na estação junto com outros investigadores. Não é que tenha grande interesse técnico em saber o que a rapariga faz por lá, mas é uma oportunidade única para mim, saber como é viver com recursos muito limitados, completamente isolado do resto mundo e, também, ter a hipótese de ver fenómenos naturais extremos. Interessam-me as “travessias no deserto”, ainda que neste caso seja mais “estadia no deserto”. Tivesse eu oportunidade (e dinheiro) e o Pólo Sul seria um dos meus destinos de sonho. No entanto, enquanto lia mais umas novidades da base, olho para a barra dos links do lado direito e vejo: “Supositório-bomba é a nova arma da Al-Qaeda”. Como?!? Não resisto e sigo o link. E não é que é mesmo verdade? Agora nem se sabe se o possível “terrorista” sentado ao nosso lado no autocarro não vai explodir mal lhe toque o telemóvel! Paranóia!

“O novo modus operandi da Al-Qaeda foi descoberto na sequência das investigações sobre o atentado cometido contra o príncipe Mohammed bin Nayef , responsável pela luta contra o extremismo na Arábia Saudita. Ficou provado que o activista islâmico Abul Khair trazia o explosivo dentro de um supositório, algo até aqui inédito, tendo utilizado um telemóvel para provocar a explosão.”

Bem, é melhor desdramatizar um pouco a situação e ver umas notícias menos “pesadas” – pensei eu. Mas não dá. Novamente do lado direito, pisca um link que alerta: Gripe A é uma doença “banalíssima”. Quem o diz é Pedro Nunes, bastonário da Ordem dos Médicos. Como disse?!?!

“”Há claramente um excesso de alarme, de zelo”, disse Pedro Nunes, referindo que “não passa de uma gripe, uma doença banal, pouco letal“. Neste sentido, frisou, “o melhor contributo da Ordem dos Médicos é chamar a atenção dos médicos e, através deles, das pessoas, de que isto é uma doença banalíssima e que não é preciso andarmos todos assustados“”

Há coisas que eu não entendo. Mas então anda a miudagem toda a cantar nas escolas para evitar o monstro da Gripe A, juntamente com milhões de portugueses que não conseguem parar de lavar as mãos com aquele gel de álcool e agora é que se lembram de avisar que afinal não é assim tão grave? Mas assim sendo, é ou não é grave? Não tenho o direito a saber? Ou tenho de tirar um curso rápido de medicina para tirar  as minhas próprias conclusões? O cidadão comum já nem tem o direito de ser informado sem contradições evidentes? E o mais preocupante de tudo isto é ler os comentários à própria notícia. Comentários totalmente paranóicos sobre uma conspiração para dramatizar a Gripe A, negócios obscuros com as vacinas, implantação de chips e, claro, a Nova Ordem Mundial . E já não é a primeira vez que noto esta queda geral para a paranóia, partindo seja de que tema for. Não consigo deixar de observar que, lentamente, a paranóia invade a sociedade. E não consigo deixar de pensar que a génese da paranóia é precisamente a contradição, o que equivale a dizer, a mentira.

Isto foi uma autêntica volta no Expresso Preocupado. Desisto de ler as notícias… Se calhar, o melhor que tenho a fazer é tentar arranjar algo para fazer na base Amundsen-Scott.

Escrevi este texto durante a manhã. No entanto, quando ia para publicar, o Aventar foi-se abaixo e ficou em baixo. Terá sido coincidência ou acto propositado? Não se sabe. E é assim que começa a paranóia.

Regionalização: Chegou a Hora!

Ainda por causa desta posta de excelência recordo o tempo em que Paulo Rangel defendia, isto antes de o mandarem de castigo para Bruxelas, a fusão de Porto e Gaia e as vantagens de tal decisão.

Já na altura procurei acrescentar Matosinhos (Porto de Leixões) e parte substancial da Maia (Sul e Poente – Aeroporto Sá Carneiro). Seria uma verdadeira cidade europeia com território e massa crítica suficiente – e não descartaria a possibilidade dela ser criada pela fusão de todos os seis concelhos circundantes, ou seja, Gaia-Porto-Matosinhos-Maia-Valongo e Gondomar.
Para Portugal seria melhor: 5 regiões (as CCDRs) mais duas grandes cidades (Porto e Lisboa) e as duas Regiões Autónomas. Esta lógica administrativa é a que melhor serve o interesse nacional. Penso eu…de que…

Todo este relambório a propósito do resultado das legislativas. A soma do número de deputados do PS + BE + CDU, acrescidos de parte dos deputados do PSD e do PSD-M, são mais do que suficientes para o futuro governo apresentar na AR a proposta de realização de novo referendo sobre a Regionalização em finais de 2010 ou no primeiro trimestre de 2011.

Estou para ver se Sócrates vai cumprir esta promessa. Para Portugal, para o seu futuro e a sua coesão nacional é, de todo, urgente. Vamos a isso?

Empresa Frente Tejo SA – a luta continua

Por convite a seis empresas estrangeiras foi escolhida uma delas para apresentar um estudo base para o Terreiro do Paço, tambem conhecido por Praça do Comércio.

Esta empresa, Frente Tejo SA foi constituída, justamente, para poder funcionar ao arrepio dos controlos a que as câmaras estão sujeitas, podendo contratar por ajuste directo (filho selecto do governo socialista) sem ouvir quem quer que seja e muito menos os Lisboetas.

Mas o atrevimento é de tal ordem, como demos conta há dias aqui no Aventar, que nem sequer o vereador da câmamra, Arquitecto Manuel Salgado, resiste a uma feroz crítica. O estudo propõe que as frentes das paredes que dão para as arcadas sejam rasgadas para assim se criarem montras e ali se instalarem lojas e restaurantes.

Tudo nas costas dos Lisboetas, como convém, o estudo está agora em discussão (por uns senhores muito importantes, tão importantes como os que foram convidados para constituirem o juri, que ninguem sabe quem são) e parece que a ideia de o rés do chão ligar aos primeiros andares por umas escadas espectaculares fica, para já, sem efeito.

O mesmo acontecerá com as tais janelas/montras que iam rasgar as paredes dos edificios que, segundo o arquitecto Salgado “são uma gargalhada de mau gosto”.

A empresa Frente Tejo SA como se vê, continua a trilhar o seu caminho de roubar à cidade o melhor que ela tem, nas costas dos Lisboetas, e à Praça junta-se uma série de projectos que pouco a pouco virão à luz do dia, como sejam os Contentores de Alcântara, a acostagem de navios e muitos metros quadrados de betão no rio junto a Santa Apolónia, os edificios no Cais de Sodré que já lá estão sem discussão pública, o Hotel na Marina de Belém que já lá está, a Fundação Champallimoud que vai ser criada junto à marina de Pedrouços, o gigante Museu dos Coches…

Eu não voto no António Costa porque o governo com ele na Câmara faz o que quer, como se vê. Lisboa precisa de uma oposição forte que lute contra este assalto à luz do dia.

Aos aficionados

Rua das Musas - Porto

Por onde anda Rui Mateus? (o Aventar incomoda muita gente)

Dizem que não há coincidências, não é verdade?
O certo é que, logo que o Aventar retomou a publicação dos «Contos Proibidos: Memórias de um PS Desconhecido», ao arrepio de alguns conselhos que nos chegaram via mail, o blogue é posto fora durante um dia inteiro. Dizem que foi o servidor, que foram os mails, que foi isto e aquilo. O certo é que, quando o Aventar se chega perto dos «grandes», conseguem logo cortar-lhe as asas durante um dia inteiro. Lá vai a inevitável queda nas audiências.
Mas nós não nos calamos e continuamos a procurar o paradeiro de Rui Mateus, o autor dos «Contos Proibidos» que, diz-se, teve de fugir para a Suécia sob pena de ver a sua saúde tratada da forma que se imagina. Pois bem, contactos privilegiados do Aventar na Noruega possibilitaram o nosso acesso à lista telefónica da Suécia. Em breve teremos surpresas sobre os vários Mateus que vivem na Suécia. Aqui, no Aventar.

Pedro Passos Coelho no «Gato Fedorento»

Araújo Pereira esteve mais calmo do que na véspera – continuo sem perceber a razão de tamanho nervosismo por estar a entrevistar Mário Soares. Deve ser a costela Herman José das «lambidelas a quem manda» a vir já ao de cima. Começou mais cedo, o humorista.
Desta vez, Pedro Passos Coelho é que me pareceu mais nervoso. Ou não tem sentido de humor, ou levou tudo a sério, ou tentou e não conseguiu ter graça – a verdade é que foi uma prestação bem fraquinha. Felizmente que não há-de ganhar a liderança do PSD, que assim não corremos o risco de o ter como primeiro-ministro.

Cartazes das Autárquicas (Chaves)


Rui Pinheiro, CDS.
via Chaves

Memórias do Reviralho (III)

continuação daqui

III – A revolta militar de 3 de Fevereiro de 1927

Com excepção daquilo que Fernando Rosas (9) qualifica como “comichão insurreccional” da infantaria flaviense, logo em 11 de Setembro de 1926 (10), o movimento de 3 a 7 de Fevereiro de 2007, foi o primeiro e único a constituir uma verdadeira ameaça para a ditadura.
A esquerda republicana, apesar das prisões e deportações logo no consulado de Gomes da Costa, mantinha-se activa e atenta, tanto no Exército, como na Marinha, na GNR, na PSP, na Guarda Fiscal, tanto a nível dos oficiais (superiores e intermédios), como dos sargentos. As organizações de operários, em especial a CGT, bem como os partidos republicanos mantinham-se em funcionamento, e continuavam a editar a sua imprensa, não obstante as crescentes restrições censórias e policiais.
A iminência da revolta era pública e notória. O próprio Presidente Carmona havia visitado o Porto e unidades militares da região, nas vésperas do movimento e os ministros haviam estado reunidos no Quartel de Artilharia nº 3, em Lisboa, “contando espingardas”, e ordenando alertas e prevenções em todo o país.
A revolta inicia-se a 3 de Fevereiro, pelas 4.30 da madrugada, com a saída do Regimento de Caçadores 9, a que se juntou o Regimento de Cavalaria 6, vindo de Penafiel, vários núcleos de outros regimentos da cidade e uma companhia da Guarda Nacional Republicana, aquartelada na Bela Vista.
No dia seguinte, 4 de Fevereiro, vieram juntar-se aos revoltosos os militares do Regimento de Artilharia de Amarante.
Comanda a Revolta o General Sousa Dias (11), secundado pelo Coronel Fernando Freiria e pelo Comandante Jaime de Morais. Dos civis destacam-se José Domingos dos Santos (12), Jaime Cortesão (que havia sido Capitão-médico do Corpo Expedicionário Português), logo nomeado Governador Civil do Porto, e Raúl Proença que teve uma intervenção activa nesta revolta – foi conspirador, organizador e combatente de armas na mão (13).
Os revoltosos tomam de assalto a sede do Quartel-General e do Governo Civil, bem como os Correios, e fazem prisioneiros o general Ernesto Sampaio e o coronel Zamith, respectivamente primeiro e segundo comandantes da Região Militar, o tenente-coronel Nunes da Ponte, governador civil do Porto, e o seu substituto, major Sequeira Tavares e o comandante da força que fazia a guarda ao Quartel-General, tenente Alão, e o presidente da Comissão de Censura à Imprensa.
Nesse mesmo dia, e nos dias imediatos, juntam-se aos revoltosos outras forças do Exército, vindas de Penafiel, Póvoa do Varzim, Famalicão, Guimarães, Valença, Vila Real, Régua, e Lamego. De Amarante chega a artilharia, que é colocada nas imediações de Monte Pedral.
Simultaneamente levantam-se tropas em Viana do Castelo, Figueira da Foz, Faro (apoiadas por forças de Olhão, Tavira e Vila Real de Santo António), combatendo, contudo, por escassas horas.
Lisboa, centro vital, permanece queda, o que obviamente, permite ao Ministro da Guerra, Coronel Passos e Sousa concentrar todas as forças no combate aos entricheirados no Porto.
Montaram-se trincheiras na zona envolvente à Praça da Batalha (14) e, na confluência desta com a Rua de Entreparedes, duas peças de artilharia.
O chefe militar do “Comité Revolucionário do Norte”, Jaime de Morais, envia ao general Carmona, presidente da República, um ultimato: “Os oficiais revoltosos decidiram reintegrar o País dentro do regimen democrático constitucional, com a formação de um Governo Nacional que afirmasse a supremacia do poder civil, guardado e defendido pela força armada, que assim teria restituído as funções de que a desviaram.” (15)
Na própria tarde do dia 3, sob o comando inicial de Craveiro Lopes (16) as tropas fieis ao Governo – parte bastante reduzida do Regimento de Infantaria 18, o Regimento de Cavalaria 9 e o Regimento de Artilharia 5, da Serra do Pilar – concentram-se nesta última e abrem fogo de artilharia contra os revoltosos. Mais tarde, o bombardeamento prossegue a partir do Monte da Virgem (Vila Nova de Gaia), para onde são obrigadas a recuar pela resposta das peças de artilharia vindas de Amarante.
Do lado governamental, na manhã do dia 4, furando o fogo dos revolucionários, o Regimento de Cavalaria nº 8, vindo de Aveiro atravessa a Ponte de D. Luís, mas esbarra nas barricadas que defendem a Praça da Batalha. A mesma sorte têm as tropas fiéis ao regime da própria cidade, que são rechaçadas pelo fogo intenso das trincheiras.
A Leixões chegava, no dia 5, o vapor “Infante de Sagres”, com tropas governamentais, comandadas por Farinha Beirão. Outras atravessam o Douro em Valbom e encaminham-se para o centro da cidade.
Começa então a montar-se o cerco aos revoltosos, envolvendo o Porto num anel de fogo e metralha: pelo Norte as tropas desembarcadas do “Infante de Sagres”; do leste as tropas fiéis vindas de Bragança e da Régua, chefiadas por Lopes Mateus; e em Vila Nova de Gaia concentra-se um verdadeiro exército vindo de todo o país – em números redondos 4 000 homens, munidos de farta artilharia, preparando-se assim o assalto final.
Perante o esmagador e sufocante ataque das forças governamentais, faltando os géneros, e perante um cenário dantesco de destruição, fogo e fome, os revoltosos na noite do dia 5 propõe um armistício. Contudo, face à dureza das condições governamentais apresentadas na manhã do dia 6, ainda se resiste – com os olhos postos em Lisboa, onde, finalmente no dia 7 o movimento arranca – por mais dois dias.
Na tarde do dia 7, o quartel-general, instalado no Teatro de S. João, dispensa os civis ali aquartelados. À meia-noite Sousa Dias faz chegar ao Regimento de Artilharia nº 5, em Vila Nova de Gaia, documento apenas por si subscrito, em que propõe a rendição salvaguardando a isenção de responsabilidades de sargentos, cabos e soldados e toda a responsabilidade dos oficiais. Como resposta as forças fiéis ao Governo admitem apenas a isenção quanto a cabos e soldados. Na madrugada do dia 8, pelas 3 da manhã, sucumbe o Porto revolucionário: Sousa Dias, em resposta, afirma aceitar as condições propostas.
Pelas 8.30 horas da manhã, Passos e Sousa, entra na cidade, pela Ponte D. Luís, depois de ter avisado que qualquer civil apanhado de armas na mão seria imediatamente fuzilado.
Craveiro Lopes, envia ao presidente da República o seguinte telegrama “Felicito V. Ex.ª e o Governo da Nação. Tropas entraram Praça da Batalha, Porto, às 8 horas e meia, tomando conta da cidade onde a vida vai retomando a sua normalidade”.
“Esperava se a revolta simultânea, em Lisboa e Porto. Mas não. Daí o desastre. Não sai igualmente com toda a força de que dispunha ou que estava comprometida. A organização poderia e deveria ter ido mais longe, arrostando com as dificuldades dos ronceiros; mas o optimismo, contando com adesões que não vieram e outras que demoraram, foi fatal”. (17) Sousa Dias, por seu turno, considerou que o insucesso se deveu essencialmente “à falta de acção de elementos militares mais do que suficientes para garantir o seu êxito em todo o País, e que no momento necessário faltaram” . (18)
Em Lisboa, apenas a 7 de Fevereiro, e comandada pelo comandante Agatão Lança e pelo Coronel Mendes dos Reis, irrompe a “revolução do remorso”, como lhe chamaria ironicamente Sarmento Pimentel. A 9 de Fevereiro, pelas 19.30 horas, já sem munições para combater as tropas governamentais (reforçadas, entretanto com a tropa mandada regressar do Porto), Mendes dos Reis pede a rendição. Desta vez cumpre-se a ameaça feita no Porto, e repetida em Lisboa: inicia-se uma caça ao homem, e marinheiros e civis, no dia 9, junto ao chafariz do Largo do Rato, são sumariamente fuzilados.
Balanço final: no Porto, 80 mortos e 360 feridos (19) (segundo alguns autores, mais de 100 mortos e mais de meio milhar
d
e feridos(20)), em Lisboa, 70 mortos e cerca de 400 feridos (21).
Na sequência do fracasso do 3 de Fevereiro, o General Sousa Dias, como muitos outros líderes revolucionários, foi preso e separado do serviço activo, com direito a apenas metade do respectivo vencimento (22), sendo-lhe fixada residência obrigatória em São Tomé e Príncipe, uma situação considerada oficialmente como de deportação política que se prolongou por nove meses, sujeito aos caprichos atrabiliários do Governo. Do degredo continuou a manter activa ligação com os exilados políticos da Liga de Paris, sempre coerente com a sua lealdade aos princípios, valores e ideais constitucionais da República e sempre confiante no triunfo final desta contra a ditadura. (23)
Transferido, em Dezembro de 1927, de S. Tomé para o Faial (Açores), foi julgado em 1929, no Forte da Graça, em Elvas, por um tribunal especial e condenado a dois anos de prisão, tendo-lhe sido descontado o tempo passado em São Tomé e nos Açores. Voltou a ser-lhe fixada residência no Faial, sendo em 1930 transferido para o Funchal.
A 21 de Fevereiro, sem julgamento, são deportados para os Açores e para as colónias africanas, a bordo do Lourenço Marques, mais de 700 pessoas.
A derrota do movimento militar marca o início de uma era de repressão como não havia memória no passado, desferindo um rude golpe nas forças democráticas e republicanas do reviralhismo.

9) Fernando Rosas, O Estado Novo (1926-1974) in José Mattoso (editor) História de Portugal (vol. VII), Círculo de Leitores, Lisboa, 1994.

10) Comandada pelo capitão Alfredo Chaves.

11) O General Sousa Dias encontrava se no Porto, ao tempo, sob prisão e com baixa no Hospital Militar.

12) Líder da Esquerda Democrática, que, em 1918, dirigira a conspiração civil contra a Monarquia do Norte, e agora comandava os combatentes civis.

13) Através do estudo do espólio de Raúl Proença, especialmente a correspondência e as notas que tomava nos seus cadernos de apontamentos, ficamos a saber que, em 25 de Junho de 1926, isto é, um mês depois do golpe de 28 de Maio já se trabalhava em preparar uma revolta contra a Ditadura Militar. Quem liderava o processo era o denominado grupo da Biblioteca Nacional, onde trabalhavam Raúl Proença, Jaime Cortesão, David Ferreira que também tinham fortes ligações à Seara Nova. A 21 de Janeiro de 1927, Raúl Proença parte para a cidade do Porto, para servir como elemento de ligação. Profundamente envolvido na revolta, Raúl Proença convoca os civis para combaterem ao lado dos revoltosos, mas com pouco sucesso. Na noite de 6 de Fevereiro de 1927 regressa a Lisboa para pedir auxílio e para tentar ajudar a desencadear a revolta que começava a enfrentar sérias dificuldades no Porto. Intervenção do Prof. Doutor António Reis, intitulada Raul Proença e a participação em Fevereiro de 1927, em conferência promovida a 2 de Fevereiro de 2007, no Arquivo da Universidade de Coimbra, pelo Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX, sob o tema “A Revolução de Fevereiro de 1927 contra a ditadura: oitenta anos depois”.

14) A que foi erguida na bifurcação da Rua 31 de Janeiro com a Rua de Santa Catarina ficou conhecida como “trincheira da morte”…

15) Citado por José Freire Antunes, “A Desgraça da República na Ponta das Baionetas – As Forças Armadas do 28 de Maio”, Livraria Bertrand, Amadora, 1978.

16) João Carlos Craveiro Lopes, ao tempo comandante da Região Militar e governador militar da cidade, pai do futuro presidente da República (1951-1958), Marechal Francisco Craveiro Lopes.

17) Raúl Rego, “História da República” Vol. V, Círculo de Leitores, 1987.

18) Citado por A.H. de Oliveira Marques, “O General Sousa Dias e as Revoltas contra a Ditadura 1926 1931”, publicações Dom Quixote, 1975

19) Fernando Rosas, ob. cit.

20) Germano Silva a 3 de Fevereiro de 2007, in Jornal de Notícias, Germano Silva.

21) Fernando Rosas, ob. cit. Segundo Germano Silva, loc. cit., em Lisboa, os combates entre os revoltosos e as forças governamentais causaram 90 mortos e 400 feridos.

22) Decreto n º 13 137, de 15 de Fevereiro de 1927 e Decreto de 14 de Julho de 1927.

23) Seguindo de perto o Major-General Augusto José Monteiro Valente, em texto alusivo a Adalberto Gastão de Sousa Dias, publicado na Revista Militar nº 2447 – Dezembro de 2005.

Maria de Lurdes Rodrigues fora do Parlamento!

A SIC-Notícias acaba de dar a notícia: o PSD elegeu 3 dos 4 Deputados no Círculo da Europa. Isso significa que o PS elege apenas o cabeça de lista pela Europa. Ora, o número dois da lista era… Maria de Lurdes Rodrigues, a nossa querida Ministra da Educação.
Assim, pelo menos para já, Maria de Lurdes Rodrigues vai ficar de fora do Parlamento. Podia ser hipócrita, mas não sou. Estou contente. Estou mesmo muito contente e a senhora tem exactamente o que merece. Mesmo que obriguem o cabeça de lista a sair para dar lugar à excelsa Ministra, que no Governo já se viu que não tem lugar, mais esta derrota ninguém lha tira.
Desculpai lá, ó aventadores e leitores, mas a vingança serve-se fria. Por isso, depois de ter andado 4 anos a ser vítima da sua… falta de gentileza, não posso deixar de me sentir mesmo muito contente.

Moniz ataca no Benfica

Há uns dias, a OnGoing de José Eduardo Moniz comprou uma parte da Média Capital ao Grupo Prisa. Agora, ataca no Benfica, um ataque que se concretiza através do Benfica Stars Fund, um fundo especial de investimento que tem como activos os passes de 12 jogadores do Benfica, avaliados em 40 milhões de euros .
Ou seja, dentro em breve teremos José Eduardo Moniz a mandar na TVI e… no Benfica!

A máquina do tempo: coisas elementares, gente simples – elementos transcendentes na poesia de Neruda

Dou a palavra a Isabel Allende: «A 23 de Setembro de 1973, doze días após o Golpe Militar, morreu Pablo Neruda. Estava doente e os tristes acontecimentos desses dias acabaram com a sua vontade de viver.»(…)«que está a acontecer? Ficaram todos loucos? murmurava o poeta com a vista extraviada.»(…)«Enterraram-no no dia seguinte, numa cova emprestada, num funeral eriçado de metralhadoras ladeando as ruas por onde passou o negro cortejo. Poucos puderam ir com ele no seu último percurso, os seus amigos estavam presos ou escondidos e outros temiam as represálias.» («Paula»,tradução de José Carlos Gonzalez).

Pode, pois, dizer-se que Neruda morreu de tristeza. Uma tristeza profunda por tudo o que estava a acontecer no seu Chile. Estava doente, com um cancro na próstata; a emoção e a tristeza foram demasiadas. O coração do poeta não aguentou.

Li tudo o que pude ler de Pablo Neruda. Sempre em castelhano – naqueles anos 50, os livros dele, não só não estavam traduzidos, não se vendiam livremente, alguns livreiros tinham-nos «debaixo do balcão», como se dizia na altura. Lembro-me da emoção com que, na adolescência, pegava nos livrinhos de capa cinzenta da Editorial Losada, de Buenos Aires e devorava as suas páginas.

Lia Neruda, com a sensação transgressora de quem abre uma porta proibida, ainda com a ajuda de um velho dicionário de David Ortega Cavero. Sabia de cor muitos dos «Veinte poemas de amor y una canción desesperada» e, depois, deslumbrei-me com os ainda mais clandestinos dois volumes do épico «Canto general».

Anos depois, saboreei os quatro volumes de «Odas elementales». Encantou-me a ideia de se dedicarem palavras tão belas a coisas tão simples e comuns, tão ligadas à face mais humilde do quotidiano, como uma cebola, o pão, uma colher, uma laranja, um cão, uma maçã… Uma coisa tão simples como transformar chumbo em ouro. Alquimia que só está ao alcance de um grande poeta como Pablo Neruda.

Em «Confieso que he vivido», confia-nos que nas «Odas» quis descrever coisas já cantadas, ditas e reditas. Como se fosse uma criança que começa, mordendo o lápis, uma redacção sobre o sol, sobre a ardósia escolar, o relógio ou sobre a família humana. Nenhum tema podia ficar de fora da sua órbita, tinha de tocar em tudo, andando ou voando, submetendo a sua expressão à máxima transparência e virgindade.

Ouçamos Pablo Neruda na voz do cantor andaluz Joaquín Sabina:

Isabel Allende conta como no funeral «diante dos olhares raivosos dos soldados, todos iguais, com os rostos pintados para não serem reconhecidos e com as armas a tremer-lhes nas mãos», os amigos desfilavam lentamente, com cravos vermelhos nas mãos, gritando: «Pablo Neruda! Presente, agora e sempre!»

Agora e sempre, Pablo, as tuas palavras ecoam nos corações amantes da liberdade.

Carvalho da Silva, um comunista apoia a Direita!

Carvalho da Silva é um grande comunista.
Para todos aqueles que dizem que a CGTP é o «braço armado» do Partido Comunista, aí está o seu líder a apoiar António Costa na corrida à Câmara de Lisboa.
Nunca tinha visto um comunista no activo a apoiar a Direita, mas há sempre uma primeira vez para tudo. Qualquer dia, ainda o vemos sentado ao lado de Zita Seabra na bancada do PSD…

Diana Chaves capa da próxima «Playboy»?


Vendo a informação pelo mesmo preço que a comprei.
Estive no último fim-de-semana em Cinfães, a empacotar umas roupas de cama que ainda restavam do ano lectivo anterior. Encontrei então um colega de muitas farras, o mesmo que me deu a dica do varão de Ana Malhoa. Ele foi o organizador das últimas festas de S. João em Cinfães e, por isso, sabia das exigências da artista.
A notícia de que Diana Chaves está em negociações com a «Playboy» para vir a ser a próxima capa da revista, foi ele que ma deu. Comecei por desconfiar, porque ele é um bocado faroleiro, mas a verdade é que não me mentiu sobre o varão.
Sendo assim, fiquemos todos à espera para confirmar se é verdade ou não. Enquanto isso, já começo a salivar só de pensar na Diana Chaves e nas páginas interiores da revista. A salivar, que digo eu? O «post» tem de ficar por aqui, desculpem, desculpem.

Um treinador chamado Nelo?

Para começar, não se pode levar a sério um treinador de futebol chamado Nelo. Pior do que Nelo, só mesmo Neca – e esse já sabemos por onde anda.
Nelo Vingada nunca foi um grande treinador. O seu maior feito foi mesmo ter levado 5 do Brasil nos Jogos Olímpicos de Atlanta. Os dirigentes do Guimarães, numa ideia peregrina, decidiram contratá-lo, mas como era de esperar, as coisas correram mal. E lá levou, o pobre do Neca, com a chicotada psicológica do costume.
Comparo bastante Nelo Vingada a Jesualdo Ferreira – a sorte deste foi mesmo ter vindo parar ao FC do Porto. Porque quanto ao resto…

O verdadeiro hino do Porto

Ó Fernando, este sim, é o verdadeiro hino do Porto. Que os tempos na Invicta não estão para lamechices. Porto, Porto!

Vindo deste Vigo ao Porto
sem mala nem passaporte
o comboio era tão velho
que o fumo cheirava a morte

Pela manhã vi-me em S. Bento
tinha os olhos mal dormidos
estava na rua um silêncio
daqueles de abrir ouvidos

Quando de repente o estrondo
duma esplosão fabulosa
me atirou quase por terra
à esquina da Carvalhosa

Vi um fumo no horizonte
tomei o trolley p´ra Baixa
desci depois do Palácio
e fui deparar com um graxa

– Olá, como está, disse eu
– Eu bem, e vocemecê
– De onde é que vem este fumo?
– Do Inferno, então não vê?

E em geito de despedida
disse “O meu nome é Duarte,
se vir por aí o diabo
diga que vem da minha parte”

Lá fui andando para o fumo
que agora era quase branco
quando dei com um surdo-mudo
com um letreiro escrito “Manco”

Perguntei-lhe pelo estrondo
respondeu “mudo não fala”
a viagem ia ser grande
decidi comprar uma mala

Entrei dentro dum quiosque
dirigi-me ao jornaleiro
mordeu-me e o sangue espirrou
nas notícias de Janeiro

A descer a Boavista
surgiram três atletas
um piloto, outro ciclista
e o outro pintava as metas

Perguntei se o estrondo vinha
lá das bandas de Leixões
responderam “ao passarmos
só ouvimos ovações”

Vi ao olhar da janela
dois carros feitos num feixe
“se alguma janela aberta o incomada
peça ao condutor que a feche”

Lá nos degraus do mercado
vi três senhoras em prantos
cobrindo o rosto com véus
e o corpo com negros mantos

Pensei, devem ter perdido
pai, marido ou companheiros
responderam “qual marido?,
quem perdeu foi o Salgueiros”

Sem mais notícias do estrondo
fui comprar mais uma mala
não sabia o que pôr dentro
fui para o Douro lavá-la

Estava meio vazo de água
sem ninguém nas redondezas
mas assim que mergulhei
perdi-me nas profundezas

Voltei à tona molhado
Gritei “Eh povo! Eh povo!
Aquela explosão tão grande
era da casca dum ovo!”

Lá de dentro veio um pinto
saíu e disse “sou eu”
“Então eu que já nasci
e o galo ainda não morreu?”

Dizem que os pintos não voam
este voou sobre as casas
os que não voam não querem
ou lhes cortaram as asas

Dizem que os pintos não voam
este voou sobre as casas
os que não voam não querem
ou lhes cortaram as asas

ETICA E EDUCAÇÃO – 2ª PARTE (6)

ETICA E EDUCAÇÃO -2ª PARTE (6)

 

b) Educação no tratamento dos problemas éticos ligados à informação. Simples reflexões sobre um tema demasiado complexo

 

Os grandes males dos predadores da humanidade, como o egoísmo, a segregação, a maldade, a ambição e a ganância são os ingredientes do grande caldo da competitividade, do culto da eficácia que mais não visa do que manipular homens com etiquetas de preço e comportamentos negociáveis, para fazer do cidadão um cliente desprovido de razão, vontade e emoções, tão desmiolado e rentável quanto possível.

 

Para isso, os poderosos apropriaram-se da maior de todas as armas, a grande arma dos déspotas, a comunicação social, a informação, melhor dizendo, a desinformação. Os meios de comunicação servem os fins políticos e económicos, por isso são um instrumento de poder. A informação como formação já não existe, passou a ser praticamente desinformação, e a desinformação arrasta para a desigualdade, facilita a injustiça e acelera a segregação. Tudo o que a informação globaliza torna-se virtual.

 

As ideias transfiguram-se na magia da electrónica, robotizando o indivíduo e impedindo-o de encontrar pontos de referência na reflexão política e social. A omissão, a falsificação, a mentira, a vulgar deturpação dos factos conforme os interesses constituem, hoje, a grande arma dos senhores do poder, bem mais mortífera do que as bombas e canhões. Estes matam o homem, a desinformação mata o homem e a ideia.

 

Lembro-me de ter lido umas palavras de Berlusconi, há mais de vinte anos atrás, que diziam o seguinte: “para que uma televisão dê lucro tem de estupidificar as massas”. Também, Já em 1965, Paul Sethe dizia que “a liberdade de expressão é a liberdade de 200 ricos difundirem a sua opinião”. Nordcliffe, magnata da imprensa inglesa, corroborava da seguinte forma: “Deus ensinou os homens a ler, para que eu possa dizer-lhes a quem devem amar, odiar ou aquilo em que devem pensar”. (Continua)

 

                        (manel cruz)

(manel cruz)

Encontros de campanha

pacheco pereira e beMais fotos aqui

A máquina do tempo: a força positiva do futebol – Eusébio

Já aqui confessei o meu gosto pelo futebol e também a minha indisponibilidade para falar do tema sem ser em termos muito gerais – já pude verificar como, rapidamente, pessoas de grande saber e inteligência parecem perder esses atributos mal pegam no assunto. Quem já não é muito prendado, quando discute futebol ainda o fica menos.

O facciosismo, a clubite aguda, são inimigos da clarividência e pasma-me a convicção com que, por exemplo, se afirma que num determinado lance houve ou não houve grande penalidade, quando, por vezes, árbitros e comentadores isentos (se é que os há), têm dificuldade em discernir mesmo depois de verem e reverem o lance de vários ângulos.

Em família, embora sejamos todos adeptos do mesmo clube, lá vou discutindo e dando vazão aos meus sentimentos futebolísticos, se tal coisa se pode chamar às pulsões malignas que o futebol provoca (sobretudo quando o nosso clube não ganha). Em crónicas anteriores, lamentei o meu desapontamento quer face ao mau futebol praticado pela generalidade das equipas portuguesas, quer perante a corrupção associada a este desporto. Verberei as miseráveis claques, gente asquerosa, pelo menos quando em manada. Hoje queria falar de uma força positiva que o futebol também tem. A de ser fonte de inspiração para escritores e não só.

Há muitos anos, traduzi um livro de Ernesto Sábato, o grande escritor argentino, um dos indigitados este ano para o Prémio Nobel da Literatura. Foi o romance «Sobre héroes y tumbas» que na edição portuguesa, e com o acordo do autor, ficou «Heróis e Túmulos». Não foi um trabalho fácil, porque tendo eu estudado o castelhano europeu, deparou-se-me um texto cheio de argot porteño que só consegui decifrar com a amável ajuda de Sábato com quem fui trocando correspondência e que, compreendendo a minha justificada atrapalhação, me mandou um glossário enorme com termos que nenhum dos dicionários de que dispunha registava.

Contudo, o que me surpreendeu num intelectual de tamanha dimensão foi o rigor com que as suas personagens discorriam sobre futebol. Vim depois a saber que Sábato, hoje quase centenário, pois nasceu em Junho de 1911, é um fervoroso adepto do Boca Juniors, o clube do mítico Diego Maradona. Hei-de voltar a falar aqui de Ernesto Sábato e oxalá que seja muito em breve e a propósito da atribuição do Nobel – poucos escritores houve e há que tanto justifiquem esse galardão. Esta a força positiva do futebol – artistas como Maradona, Eusébio ou Pelé, inspiram grandes escritores, artistas plásticos, músicos…

Não é pecado (e se fosse tanto melhor) – sou adepto e sócio do Benfica. Sendo agoráfobo – ou tendo a mania que o sou, o que vem a dar no mesmo – raramente vou ver os jogos ao estádio (mas tenho as quotas em dia). Porém, apesar do meu convicto benfiquismo, alguns dos meus melhores amigos são adeptos de clubes rivais. Para mim, o futebol é um jogo e há coisas infinitamente mais importantes. Mas, quando bem jogado, é um jogo bonito.

Hoje, como o vídeo indicou, queria referir uma figura que transcende as fronteiras do universo vermelho – Eusébio. E, mais adiante, explicarei porque é que não digo «encarnado».
Num almoço que, há muitos anos, por motivos profissionais, tive com o grande musicólogo João de Freitas Branco e com o maestro Ivo Cruz no restaurante Belcanto, no Largo de São Carlos, Freitas Branco contou-me um episódio muito curioso ocorrido durante a vinda a Lisboa do grande violinista ucraniano David Oistrakh, que na altura era considerado o maior executante do mundo, sobretudo de compositores do repertório russo contemporâneo.

Logo após a chegada, a recepção, os cumprimentos, este, chamando Freitas Branco de parte, lhe pediu para lhe arranjar maneira de ir ver o Eusébio jogar. Embora muito surpreendido pelo inusitado pedido, João de Freitas Branco, entrou em contacto com o presidente do Benfica e logo foi disponibilizado um camarote para Oistrakh e Freitas Branco assistirem ao jogo. Diz-se que, no final do concerto, o grande violinista nem sequer veio agradecer pela segunda vez os aplausos do público do São Carlos, para poder chegar rapidamente ao estádio. No final do jogo, em que Eusébio marcou um dos seus magníficos golos, David Oistrakh foi ao balneário cumprimentar o jogador. Sobre este concerto em Lisboa, o grande escritor José Gomes Ferreira escreveu um interessante poema, que vem publicado no 2º volume do seu livro Poeta Militante:

Não, não deixes secar
este fio de água de violino
que nas manhãs de ouro
completa as nossas sombras com flores –
enquanto os pássaros de sementes nos olhos
procuram na espiral dos voos
outro cárcere de recomeço.

A leitura deste belo poema de Gomes Ferreira, leva-nos até a Fernando Namora e a Manuel Alegre. O primeiro, no seu poema «Marketing», alude aos 5-3 do Eusébio à Coreia. Manuel Alegre, sobre o «Pantera Negra» diz:

Havia nele a máxima tensão
Como um clássico ordenava a própria força
Sabia a contenção e era explosão
Não era só instinto era ciência
Magia e teoria já só prática
Havia nele a arte e a inteligência
Do puro e sua matemática
Buscava o golo mais que golo – só palavra
Abstracção ponto no espaço teorema
Despido do supérfluo rematava
E então não era golo – era poema.

Houve e há outros grandes jogadores, nomes míticos como Pinga, Peyroteo, Luís Figo . Mas Eusébio foi, numa época em que o nosso futebol era pouco conhecido além-fronteiras um caso aparte. Ele faz parte da face positiva e inspiradora do futebol.

Falemos agora do vermelho e do maldito encarnado. Nas primeiras décadas da sua existência sempre se chamou aos jogadores do Benfica, os «vermelhos». Em 1936, o fascismo internacional desencadeou a Guerra Civil de Espanha. O governo de Salazar, sem ser de forma oficial, apoiou desde a invasão o exército rebelde nacionalista. E forneceu o apoio logístico que podia – por exemplo as antenas do Rádio Clube Português foram postas ao serviço dos insurrectos emitindo da Parede para toda a Península.

O embaixador do Governo espanhol, Claudio Sánchez Albornoz, apresentou protestos formais, mas indignados. Salazar fez orelhas moucas. Em 20 de Janeiro de 1937, o RCP foi alvo de um atentado com uma bomba-relógio, mas o major Jorge Botelho Moniz, responsável pela emissora, com o apoio do ditador, lá prosseguiu a sua campanha contra os «Vermelhos».

«Vermelhos» foi a designação pejorativa que os fascistas deram às forças leais à República. Os benfiquistas foram proibidos de usar essa expressão que sempre tinham usado para se auto designar e os jornalistas idem. Por isso, não alinho na mariquice do «encarnado» (que até a Benfica TV usa). É VERMELHO, raios os parta!

Viram? Isto estava tudo a correr bem, até podia ter sido acompanhado por um dos diversos concertos para violino do Chopin (os tais que o Santana Lopes descobriu enquanto secretário de Estado da Cultura), mas já está a azedar. O futebol, mesmo sendo uma fonte de inspiração, tem este efeito absolutamente contrário ao do Prozac.

Alguém te perguntou alguma coisa?

Então cala-te!

A GNR prendeu os bombeiros

Nós temos um país com muitos problemas mas se estivermos atentos divertimo-nos imenso.

Há uma técnica de combater os incêndios em campo aberto que se chama “contra-fogo”, que consiste em atear um fogo controlado, por forma que o incêndio quando ali chegar, já não tem matéria para arder e assim morre ou é combatido, mais facilmente, nesse local.

Foi o que fizeram os bombeiros numa região do centro-norte do país, devidamente autorizados pela autoridade que coordena as acções dos bombeiros, quando em acção.

Então não é que a GNR viu e não só impediu que os bombeiros ateassem o fogo, como identificou o sub-comandante da corporação e fez a participação ao Ministério Público!

A GNR estava ali para ajudar os bombeiros, controlando os populares, coordenando o trânsito, identificando algum factor que colocasse o trabalho dos bombeiros em perigo. Mas não, mandou-os prender e impediu-os de executar uma técnica eficaz, praticada inúmeras vezes e com resultados.

Agora digam se temos razões para andarmos tristonhos!

SENHORES AUTARCAS: É PRECISO SABER EDUCAR

Longe de mim a ideia de que os autarcas dos concelhos comecem a dar aulas. A ideia é bem mais simples. Saber educar significa escolher os docentes com paciência, que não ensinem pelos livros dos doutores e que saibam orientar os seus estudantes nos sítios certos onde acontecem os factos que os aprendizes de feiticeiros, isto é, de cidadania, saibam para se orientar dentro da vida que devem viver como adultos:
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Estudantes a aprender botânica no sítio certo. Imagem de Tom Rog, em http://www.google.pt/search?hl=pt-PT&source=hp&q=Fotos+de+estudantes+em+aula&btnG=Pesquisa+do+Google&meta=&rlz=1W1ADBR_en&aq=f&oq

A sala de aulas é uma punição se não é combinada com exemplares vivos das matérias que se estudam. Não é uma ideia aventureira pensar combinar os conteúdos dos livros da cultura doutoral, com as explicações que o docente sabe, pode e deve ensinar sem ter em frente de si um livro de texto. Livro de texto que, porque sim ou porque não, o aluno deve ler orientado pelo seu professor ou pelos seus adultos.
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Sala de aula prática para ensinar a tratar de si, da sua roupa edo seu asseio. Em: http://www.unicruz.edu.br/site/fotos/1184.jpg

Em várias oportunidades do nosso trabalho de campo, ensinávamos agricultura enquanto se cortavam as videiras em tempo de vindima, explicando aos mais novos quais as partes a serem cortadas porque tiram força às partes das quais nascem os cachos de uvas.
Ou história, comparando casas de diferentes estilos, anos e épocas diversificadas, explicando como eram construídas as casas antigamente, em pedra e cimento e hoje, apenas em cimento revestido de cal, alcatrão ou alumínio, para a humidade não entrar.
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Estudantes em aula na Faculdade de Farmácia: o hipotético futuro das crianças

Quatro ruas diferentes da vila Cadafaz (1), do concelho de Góis (2), retiradas do blogue Corterredor (3), sítio, entre outros, excelente para levar os estudantes e contar a história, quer da aldeia, quer de Portugal através do tempo. As casas de habitação podem ser o recurso explicativo, isto é: qual a casa pertencente a um senhor, qual a de jornaleiros, quais as pessoas com meios para construir casas modernas ao pé das antigas dos tempos da Monarquia ou da Ditadura. Motivo que pode levar a explicar porque é que os habitantes emigraram para países mais ricos, para poupar e trazer ou marcos alemães (aqui, por exemplo, pode-se introduzir a temática da diversidade de moedas e o valor que têm face à moeda corrente em Portugal, aproveitando-se o momento para abordar a aritmética) ou o porquê da separação de membros da mesma família desde que ficaram entregues a si próprias desde os tempos da primeira República.
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E, enquanto as casas são mostradas, comparadas, auscultadas, pode-se contar não apenas a História de Portugal, bem como, outra abordagem possível, as diversas leis que a governaram e os seus diferentes sistemas.
É apenas uma ideia que entrego nestas páginas e que tenho desenvolvido como cultura doutoral nos meus texto de 1990ª e de 1994f.
Ideia que, ao longo do tempo, tenho desenvolvido, aplicado e criado com Paulo Freire e transferido aos meus discípulos, todos Doutores em Antropologia da Educação e que praticam estes métodos no seu ensino.
Senhores Autarcas, não será esta a melhor ideia para ser eleito, como faz a minha antiga discípula, Berta Nunes, médica e doutorada por mim, com estudos com Pierre Bourdieu em Paris onde a enviei para saber mais, e que pratica como autarca de Alfândega da Fé.

(1) Cadafaz é uma freguesia portuguesa do concelho de Góis, com 34,15 km² de área e 283 habitantes (2001). Densidade: 8,3 hab/km².
A freguesia de Cadafaz engloba também várias povoações, nomeadamente: Cabreira, Corterredor, Tarrastal, Candosa, Capelo, Sandinha, Mêstras e Relvas.

(2) Góis, situado no coração de Portugal, é um concelho do distrito de Coimbra, região Centro e sub-região do Pinhal Interior Norte, com uma área de 263,72 km².
A Vila de Góis, sede de concelho, está situada a 40 Km de Coimbra, num vale estreito e profundo, o Vale do Ceira.
Fundada como Concelho em 1802, alberga 4600 habitantes.

(3) Em : http://eugeniasantacruz.blogspot.com/2009/07/as-ruas-da-aldeia-do-corterredor.html Peço licença para as usar.

Memórias do Reviralho (II)

continuação daqui

II – DO 28 DE MAIO ÀS PRIMEIRAS MOVIMENTAÇÕES ANTIDITATORIAIS. O INÍCIO DO REVIRALHO.

Finalmente, a 28 de Maio de 1926, com a sublevação inicial do Regimento de Infantaria 8, de Braga, e em nome de “um governo nacional militar, rodeado das melhores competências para instituir, na Administração do Estado, a disciplina e a honradez que há muito perdeu” (como se lê na proclamação ao País de Gomes da Costa), inicia-se o movimento militar que rapidamente se estendeu às Divisões militares de Vila Real, Coimbra, Viseu, Tomar e Évora.
O General Adalberto Gastão de Sousa Dias, que, desde 1925, comandava a 3 ª Divisão do Exército, no Porto, assumiu então – após recusar o convite que, a partir de Penafiel, lhe fez o General Gomes da Costa, de se juntar ao levantamento militar, reiterando a obediência devida ao Ministro da Guerra – o comando das operações de resistência, organizando um Grupo de Destacamentos para contra atacar os revoltosos, que nesse mesmo dia marchou em direcção a Braga, ocupando posições em Famalicão e Nine.
Contudo, apenas dois dias depois, dada a clara superioridade das forças revoltosas, por um lado, a neutralização dos reforços enviados de Lisboa, pelo Governo, entretanto demissionário, juntamente com Bernardino Machado, por outro, e por fim a adesão à revolta de várias das unidades sob o seu comando, e após reunião com os comandantes dos vários corpos militares aquartelados no Porto, ao mesmo tempo que pedia a exoneração do cargo que exercia, acabaria por dar, em nome da 3ª Divisão do Exército, a adesão ao movimento.
Face à enorme instabilidade política da agónica 1ª República, à agitação social, e à crise económica e financeira em que o país se encontrava mergulhado, o regime ditatorial obteve senão o apoio, pelo menos a aceitação tácita de uma parte substancial da população.
No entanto ao contrário do que a historiografia do Estado Novo quis fazer crer, não foi nada fácil consolidar o regime que durante quase meio século Oliveira Salazar dirigiu. Com Fernando Rosas podemos mesmo concluir que entre 1926 e 1931, período em que o reviralhismo foi mais activo, o país viveu um período de “guerra civil intermitente”.
O reviralhismo ainda é, muitas vezes, encarado como uma página esquecida da nossa história, porque a história feita pelos vencedores aponta, em especial, no sentido da força hegemónica do Partido Comunista Português, que foi, como se sabe o principal foco de resistência organizada ao Estado Novo.
Segundo Luís Farinha (8), dentro do reviralhismo era possível encontrar dois tipos de facções republicanas: os conservadores ou moderados e os revolucionários ou radicais. Estes republicanos revolucionários estabeleceram uma estreita rede de contactos, em particular com Espanha. Outro dos aspectos a salientar é que quase todos estes homens, pelo menos os que apareceram a liderar os processos de revolta, tinham ligações maçónicas.

(8) Luís Manuel do Carmo Farinha, O Reviralho: revoltas republicanas contra a ditadura e o Estado Novo (1926-1940). Editorial Estampa, colecção Histórias de Portugal, Lisboa, 1998. O 26 de Agosto de 1931 foi o verdadeiro canto do cisne do reviralhismo insurreccional, já que a partir daí o espaço de manobra para a acção revolucionária foi drasticamente reduzido, pouco mais restando do que vagas movimentações que acabam por desaparecer com o rebentar da Segunda Guerra Mundial.

poema frásico

Se deres a uma mulher o teu esperma ela pode transformá-lo em prazer

O seu nome é Maia…

Esta cidade morre a cada dia, escreveu Carla R. neste nosso Aventar. Um magnífico texto que quase me passou ao lado mas no qual tive o privilégio de tropeçar.

E ao lê-lo recordei, desculpem a publicidade, uma outra cidade, mesmo ao lado desta, que cresce todos os dias, que nos últimos anos viu nascer sete novos parques urbanos de média dimensão (mais de 20.000m/2), cuja sua zona industrial continua pujante e a receber investimento (central Norte dos CTT, 3º fase do TecMaia – Parque de Ciência e Tecnologia, a ADIDAS, etc, etc, etc.); cujo seu Parque Escolar de Ensino Básico e Jardins-de-Infância está a sofrer uma revolução num investimento superior a 25 Milhões de Euros;

Onde todos os dias mais de 12 mil pessoas praticam desporto (dos quais 4 mil são crianças); onde o Inglês e a Informática é obrigatório há anos (mesmo antes do Sócrates imaginar ser PM) e as salas de aula possuem Quadros Interactivos e os alunos e professores possuem gratuitamente um Manual Digital (pen drive); onde 1500 idosos praticam desporto e usufruem de actividades de lazer gratuitas; onde as casas e os prédios novos são obrigados a ter casa do lixo não podendo colocá-lo em sacos na rua; onde 60% da população tem recolha selectiva porta-a-porta;

Onde a taxa de saneamento básico é de 98%; que é o concelho do Norte que mais cresceu nos últimos 8 anos e sem que tal resulte em problemas sociais; onde a qualidade de vida é uma realidade comprovada por todos os estudos académicos nacionais e internacionais; onde existem, num total de 17 freguesias, 12 unidades de saúde de proximidade e médico de família para mais de 96% da população; onde nasceram, só nos últimos dois anos, mais de 40 parques infantis e 20 polidesportivos de rua; onde existem Hortas Pedagógicas e as únicas Hortas de Subsistência da AMP; onde existe uma Escola Ambiental e um Conservatório de Música Municipal; Onde existe um projecto municipal, de seu nome “Novos Laços” que nos últimos 12 meses distribuiu mais de 50 toneladas de comida pela população carenciada, que apoia mulheres vítimas de violência doméstica, que possui um centro de apoio à criança, que transporta idosos ao centro de saúde e à farmácia, que faz gratuitamente reparações em casas de idosos sem retaguarda familiar; onde vai nascer, amanhã, o primeiro Centro Técnico de Assistência ao Magalhães para os alunos das nossas escolas e, depois de amanhã vai ser apresentada mais uma grande obra e investimento na área da saúde e até Sábado esta a decorrer o único Festival Internacional de Teatro Cómico que se realiza por estas bandas; no concelho que mais candidaturas ao QREN viu aprovadas e cuja penúltima aprovação obteve a mais alta classificação em termos de avaliação de mérito e excelência do projecto de candidatura.

Esta é uma cidade mesmo ao lado do Porto, num concelho cujo lema (bastante apropriado) é “Maia, À Frente do Seu Tempo”. Esta não é a minha cidade, pois a minha cidade é o Porto, mas é nela que habito e nela que, com orgulho, trabalho. E se é possível fazer tudo isto, em tão pouco tempo, mesmo ao lado do meu Porto, eu pergunto: o Porto está à espera do quê???

Nós, por vezes, nem sabemos dar o devido valor ao que temos e foi ao ler o post da Carla que me lembrei da Maia e começei a pensar como podia ser possível fazer tanto e tanto no nosso Porto e, se assim fosse, talvez se pudesse afirmar, copiando daqui: “Sorria, está no Porto”….

Venha a música, o Hino Nacional:

Aos homens burros

Se deres a uma mulher o teu esperma ela o transforma num bébé.

Se lhe deres uma casa ela a transforma num lar.

Se lhe deres produtos de mercearia ela os transforma numa refeição.

Se lhes deres uma flor ela dá-te o coração.

Não sejas burro olha que se a tratares mal ela dá-te de volta uma camioneta do que tu mereces!