Segundo reza a história, a Revolução de 25 de Abril de 1974 apenas provocou quatro mortos. Agentes da PIDE/DGS, aterrados com a multidão que gritava sob as janelas do quartel-general daquela polícia, dispararam sobre os manifestantes, matando quatro e ferindo muitos outros. A História está errada – foram cinco e não quatro os que morreram nesse dia devido à Revolução. A poucos metros do sinistro palácio da Rua António Maria Cardoso, no Largo de Camões, dois poetas seguiam, entre muitas outras pessoas que enchiam o largo naquela tarde de Primavera, as peripécias dos agentes da secreta que, saltando de telhado em telhado procuravam escapar de ser presos pela força de fuzileiros que invadira o edifício. Era o António José Forte (o sócio número um deste clube) e o Pedro Oom. O Pedro estava feliz e comentava para o Forte: «Nunca esperei ver uma coisa destas, os pides a fugir de nós!». Sorria, e de repente, sentiu-se mal cambaleou e caiu. O Forte, ajudado por algumas outras pessoas, estenderam-no sobre um banco do largo e tentaram reanimá-lo. Alguém foi rapidamente telefonar a pedir uma ambulância. Nada feito. O coração do Pedro não aguentou tanta alegria.
Pedro Oom nasceu em Santarém no dia 24 de Junho de 1926. Inicialmente ligado ao neo-realismo, aderiu ao movimento surrealista. Foi o mentor da teoria do abjeccionismo, ao redigir, em 1949, o Manifesto Abjeccionista. Até 1974, os seus textos encontravam-se dispersos por jornais e revistas, sendo um dos colaboradores da «Pirâmide». Alguns desses textos poéticos, foram postumamente compilados em Actuação Escrita (1980) e em «Histórias para Crianças (Emancipadas», pequenos poemas ou relatos escritos com um insólito non sense próprio da poesia surrealista. Como o poema «Pode-se escrever» que ouvimos, declamado por Mário Viegas, e como estes «Camaradas»:
Os camaradas
Os camaradas
saíram para a rua
com os bolsos cheios de serpentinas
(o calendário
estava trocado
e de entrudo
nicles
nem um só cabeçudo
ou máscara
até o polícia de giro
com dignidade sui generis
dos pequenos autocratas
participou na patuscada
depois do jogo
– o Benfica foi eliminado)
Os camaradas
compraram fatos novos
nos alfaiates dernier-cri
e botaram as serpentinas
no lixo
para não deformar
os bolsos (novos).
Carlos,A quinta vítima, por ti mui bem recordada, foi nos dias subsequentes, ou seja, após a tal manif. -25 de Abril. Alguns manifestantes tresloucados por aquela aventura imprevisível – não esquecer que a maioria estava no rossio a festejar a queda do carmo – foram de corrida ao carmo, onde, ainda, estava estacionado um tanque. A partir desse momento iniciaram-se as movimentações militares para pôr fim à odiosa polícia política fascista. Se bem me lembro duraram dois dias. A populaça nunca abandonou o espaço circundante, numa de permanente manifestação de apoio aos militares, entre o regozijo e, talvez, o controlo. Não vão eles lixarem esta merda toda!!!De qualquer modo se há que morrer, tanto faz ser de bala como de emoção. Até fica melhor ao poeta o da emoção…Um abraço
A última coisa que eu pretendo fazer é criar lendas. Se não foi no 25 de Abril e foi em 26 ou 27, faz a rectificação. Eu não assisti à morte do Pedro. Tudo me foi contado pelo Forte. É possível que a minha memória tenha falhado nesse pormenor dos dias. Se sabes exactamente como as coisas se passaram, conta.
Agradeço à Celeste Baeta o comentário, pois desencadeou um processo de investigação que deveria ter antecedido a feitura do post. Corrijo o que digo no texto – o poeta Pedro Oom morreu, de emoção, de alegria, segundo continuo a pensar, mas no dia 26 de Abril, às 14,30, quando no «Restaurante 13», festejava com uns amigos a queda do regime fascista. Agora, falta apurar se, de facto, ele não terá tido uma primeira crise cardíaca na tarde de 25. O Forte, estava presente quando ele morreu. Bem, Celeste, se conheces bem a história, conta-a. Até porque, tenha morrido do Largo de Camões ou no Restaraute 13, isso não reduz em nada a dimensão humana e poética de Pedro Oom.E já agora, Celeste, coinhecemos-nos? Sim ou não, um abraço.
Bom Dia Carlos,É irrelevante o dia, a hora e o local (com quem então no “13”! do Jaime?) em que morreu o poeta. Apenas escrevi o comentário porque ele vem na sequência de um email (para o endereço “Aventar”, dirigido a ti” que enviei a propósito do escrito: “história de um poema…”. Não sei se tiveste acesso a ele.Quanto ao “conhecermos-nos”. A resposta é sim. Lá na pré-história das nossas vidas, conhecemos-nos. Até nos dávamos bem, e eu, tenho uma grande dívida de gratidão para contigo e tua companheira. Mesmo muito grande. Uma pista: três inocentes criancinhas ao abandono!!! Madorna city!!!Estás de parabéns. Os teus escritos, recentemente descobertos, levar-me-ão a clicar neste blogue.Um abraço para ti e tua companheiraMaria Celeste Baeta
Olá Celeste! Não nos deves nada. Viste o post que dediquei ao Adriano. Já foi há meses, mas deve poder ser recuperado. E aí não cometi falhas de investigação e a memória não falhou. Um grande abraço.
Olá Carlos, boa tarde! Encontro-me neste momento a trabalhar num pequeno artigo sobre Pedro Oom e o episódio insólito da sua morte. Poderia-me fornecer mais dados concretos sobre o episódio? Pessoas presentes, conversas tidas, assuntos, o momento do trágico acidente? Para mim seria vitar obter o máximo de informações, pois trata-se de um artigo que pretende incluir num livro que me encontro a escrever neste momento.
Muito obrigado pela atenção,
Ricardo Raimundo