As revelações feitas acerca das escutas no processo “Face oculta”, na esteira do que vem acontecendo há anos acerca de condutas impróprias do Primeiro-Ministro, demonstram o pântano de que falava Guterres.
Para mim não está em causa a ilegalidade de certas escutas, nem a obrigação de as destruir. O que está em causa é que, uma vez publicadas, as mesmas não foram postas em causa por nenhum dos envolvidos, não houve nenhuma acusação de adulteração, de falsificação ou do que fosse. Nada. Apenas a crítica e a indignação em se revelar o que deveria, em parte, estar destruído.
Juridicamente não concordo com a divulgação de escutas declaradas nulas (e atente-se que parte das escutas transcritas não se reportam ao Primeiro-Ministro).
Como cidadão e republicano, entristece-me constatar que esta realidade governativa que as transcrições das escutas revelam, é apenas a deprimente radiografia da minha pátria.
Pelo silêncio nesta sede – ninguém ousar pôr em questão a veracidade das transcrições -, só se pode concluir que aquilo que lá está é verdade, e isso é do mais vergonhoso. E que num qualquer país, verdadeiramente civilizado, levaria à demissão do Chefe de Governo, por iniciativa própria ou por iniciativa presidencial.
Não teremos nenhuma das duas, como é evidente, porque não existe mais uma réstia de vergonha que seja.
Até mesmo porque à Oposição, em geral, não interessa perder um alvo fácil de corrosão política, e o PSD, em particular, não tem qualquer solidez para se confrontar seriamente com o PS.
Já Cavaco Silva, tem uma grande oportunidade para assegurar o segundo mandato: forçar o PS a apresentar um candidato (que não é difícil de sustentar, dadas as diversas reacções alérgicas que a disponibilidade de Manuel Alegre cedo provocou) para, com Manuel Alegre – que teve mais uma inábil estratégia de arranque de candidatura, agora ao aparecer colado ao Bloco de Esquerda –, dividir a Esquerda e ganhar à primeira volta. Depois é só deixar o PSD arrumar a casa e encontrar um líder com um mínimo de substância, e fazer cair o Governo no momento certo – ou seja, a mesma estratégia de Jorge Sampaio que abriu as portas do poder ao PS -, e José Sócrates poderá ainda sair de um pesadelo governativo como pobre vítima.
Tudo será mais um jogo, onde a vergonha é retórica, não é regra.
Face ao teor das transcrições – influências e perversões institucionais e partidárias, carreiras meteóricas, salários principescos, tráficos, manipulações, etc. -, pergunto-me onde está, efectivamente, a moral da sociedade em perseguir e condenar um carteirista?
A República precisa, urgentemente, de vergonha. E só a vamos conseguir quando se conseguir afastar dela quem a não tem.
Estou completamente de acordo, com o que li aqui…sobre a vergonha,temos esta máxima:Não tem quem rouba,mas quem é apanhado…neste caso nem isso…Ás Armas,Ás Armas…contra os corruptos,atacar, atacar.
è preciso mesmo atacar mas… o problema é que os corruptos também se vestem de santidade… uns vão-se tapando aos outros
Por menos de metade já muitos políticos tiveram que se demitir.
E se metêssemos a BANDEIRA NACIONAL,(TODOS o que não aceitam esta selecção de gentinha)nas janelas,mas ao contrário??!!Eu sei que não dava nada,mas é Carnaval…