Teresa de Sousa, a presunçosa analista do BRASIL

O estilo da jornalista é conhecido. As presenças, na SIC Notícias, foram actos de revelação da postura presunçosa. De quem tudo sabe e pouco acerta, acentue-se. Ontem no ‘Expresso’, hoje no ‘Público’, mantém o sofisma da sabedoria sem limites, sejam temáticos ou geográficos.

No artigo intitulado ‘No país das boas notícias’, começa por decretar que o actual modelo de expansão brasileiro, baseado no consumo interno, é insustentável a longo prazo. Teresa de Sousa, ao estilo de Pandora, antecipa a abertura da caixa que derramará os males sobre o Brasil inteiro.

O comportamento é próprio da altivez ‘proto-intelectual’ de certos fazedores de opinião portugueses, em relação aos povos de África, América Latina e Ásia. Pode não ser uma patologia endógena, de âmbito nacional; mas, nos tempos que vivemos, a soberba de alguns analistas de um país arruinado é moeda corrente e anómala dos nossos ‘media’.  

No fundo, na posição assumida por Teresa de Sousa e outros comentadores da nossa praça, relativamente ao Brasil de Lula, percebe-se um sentimento de enorme frustração. Custa-lhes, e de que maneira, que a esquerda, através de um ex-metalúrgico, tenha conquistado o poder e dotado a Nação Brasileira de um processo de desenvolvimento económico e social com os resultados que o mundo inteiro reconhece – o percurso não foi um caminho imaculado, longe disso, e no caso de Dilma Rousseff ser eleita é obrigatório aperfeiçoar a obra de Lula em vários domínios e actuar drasticamente sobre o fenómeno da corrupção. Lá, como cá.

De um país pequeno e pobre, enfunada pela indiferença com que desdenha os seus compatriotas com vidas dificultadas, impõe-se a Teresa de Sousa que termine a viagem ao  “Fim da História”. Ao menos, tenha a lucidez de entender que entre o Portugal de uma Europa exaurida e um Brasil, com uma economia de abundantes recursos naturais, a diferença é abismal e favorável aos brasileiros. O que lhes falta, e não é pouco, é a continuação do combate à estrutural desigualdade social e de distribuição de rendimentos. Têm os recursos necessários para o alcance desse objectivo. Haja vontade e capacidade para cumprir. Nós, até ver, continuaremos pendurados na Europa e nos caprichos de Merkel, Sarkozy e de outros que tais. Mesmo que Teresa de Sousa e mais uns quantos se entretenham com as prédicas da desgraça brasileira.

Comments

  1. diabo11982 says:

    Eu até estou de acordo com o que diz a Teresa de Sousa relativamente ao crescimento brasileiro. É verdade que o governo de Lula tem tirado muita gente da pobreza…E como? Essa subida do nível de vida tem-se feito à base de prestações sociais que, no longo prazo, poderão levar à ruptura dos cofres do Estado, caso não exista um crescimento sustentado da economia e a “passagem” para a classe média de uma grande percentagem da populução que se encontra, actualmente, a beneficiar dessas prestações sociais…E aqui tem que se ponderar os problemas estruturais da sociedade brasileira…Se é verdade que não há comparação possível entre a riqueza de um país como o Brasil em relação a Portugal, isso não é sinónimo que o Brasil, com mais ou menos dificuldade, vai conseguir tornar-se em um país de sucesso…Se fosse assim, Angola seria a maior potência do continente africano (apesar de ter potencial para o ser)…

  2. carlos fonseca says:

    No fundo, o que pretendo salientar é que, após anos e anos de estagnação na miséria, o Brasil foi capaz de promover o seu crescimento – não apenas pelo método de prestações sociais, obviamente. Como sabe, além dos recursos naturais, o país dispõe de uma indústria diversificada e competitiva, sendo até forte investidor em Portugal em domínios como a aeronáutica e o cimento.
    O que é habitual em TS, e de novo se repete, é a falta de imparcialidade na análise e, neste momento, estar já prever o fim da sustentabilidade do modelo económico actual brasileiro. Claro que a vida dos países é também marcada por diferentes ciclos, mas estou certo de que à TS desagrada ver a esquerda no poder, com sucesso. Medir as alterações no Brasil pelo se passa no comércio do Leblon é equivalente a avaliar a situação de Portugal pelo ambiente social da Quinta da Marinha, em Cascais. Falta de rigor. O Brasil, que conheço bem, é um mosaico muito extenso e complexo para se tratar de ânimo leve.
    Ressalvo que, no texto, chamo a atenção para o facto de ter o Brasil ainda muito caminho a percorrer no combate à desigualdade, à distribuição de rendimentos e à corrupção. Estes, sim, são problemas cruciais da sociedade brasileira.

  3. Caro Sr. Fonseca,

    Estou do outro lado do espectro político, mas no fundo sei que desejo a mesma coisa que as pessoas da esquerda não comprometida com projectos totalitários.
    A Srª. Teresa é uma desconhecida para mim, mas ela tem razão quando fala das fragilidades do crescimento económico brasileiro. Ele tem sido baseado na exportação de produtos básicos para a China, no despesismo estatal e na manutenção de uma política que mantém um défice crónico e cria dependência. A política do bolsa família tornou federal o que antes era prática dos coronéis, ou seja, trocar esmola por votos, e isso não tira ninguém da pobreza.
    Por outro lado, a manutenção do défice crónico leva a uma política de juros altos que tem duas consequências: esmaga a pequena empresa e mantém a moeda num patamar que desindustrializa o país.
    Poderia falar mais da economia, mas não quero fazer um post gigante. Passemos a factos que por aqui são pouco divulgados.
    A esquerda honesta do Brasil, que existe e é necessária para que a direita se aprimore e haja alternância de poder, está tão orfã de partidos políticos que a representem quanto a direita. Tanto o Serra como o Lula são candidatos envolvidos com um esquema que no fundo favorece os grandes bancos, que são os maiores ganhadores do Brasil desde a gestão do fabiano FHC.
    Mas falemos das coisas do Lula que fizeram militantes honesto da esquerda se separarem dele. Uma delas foi a morte do antigo prefeito de Santo André, que era do PT mas descobriu um esquema de corrupção que tentou denunciar e foi morto. Já sete testemunhas desapareceram e há um mês a promotora do caso teve o seu carro metralhado.
    Há um artigo que foi censurado de um fundador do PT que dá umas pistas acerca da sujeira que tomou conta do partido:

    http://noticias.mfrural.com.br/noticia-agricola/leia-o-texto-de-cesar-benjamin-na-integra-os-filhos-do-brasil–13079.aspx

    E nesse vídeo dá para constatar o apreço que o Lula tem pelas pessoas com pouco dinheiro, o que para mim nunca foi motivo para distinguir ninguém:

    http://www.midiasemmascara.org/videos/viewvideo/775/Brasil/Lula-preocupado-com-preju%C3%ADzo-eleitoral-e-S%C3%A9rgio-Cabral-xingando-menino-de-17-anos-(na-%C3%A9poca).html

    Cumprimentos.

  4. Nightwish says:

    A parcialidade de TS nada tem a ver com o Brasil. A menina é das pessoas que acreditam em tudo o que lhe dizem, desde que venha de cima. Como a palavra de Bruxelas é que um país não pode ser socialista, nem tratar respeitosamente os cidadãos, que tem que ser tudo austeridade e aumento de pobreza para todos, ela não é capaz de acreditar noutra coisa.

  5. Pisca says:

    Essa fulana, colocada agora como “papagaia” de turno, repete o que lhe meteram no teleponto, anda mesmo a por-se a jeito para um dia destes a mandarem à merda em directo

  6. carlos fonseca says:

    Nightwish e Pisca,
    O que mais me incomóda nesta analista de trazer por casa é a falta de honestidade intelectual; mas, se calhar, ela, como outros, ou não sabe mesmo da poda ou renuncia a princípios éticos e deontológicos, por mais elementares que sejam.

  7. Pisca says:

    Carlos
    Sabe que anda aí muita gente que confunde

    Honestidade
    com outra coisa chamada
    “Oh ! Nesta idade ?”

  8. carlos fonseca says:

    Caro Sr.Carlos Velasco,
    Como diz, e bem, dentro de princípios e comportamentos democráticos, pode e deve haver debate entre ‘direita’ e ‘esquerda’, sem prejuízo de, em ambos os lados, se pretender os melhores resultados para uma sociedade. Só que o mundo ocidental está a viver sob o anátema de uma crise que não foi propriamente criada pela esquerda.
    Quanto ao restante do comentário, tenho que o separar em dois capítulos distintos para análise da sociedade brasileira: a actividade económica e a política.
    No que se refere à economia, o Brasil de Lula, é indesmentível, registou um progresso muito sensível. Leia-se por exemplo o que foi publicado pela insuspeita BBC em Janeiro deste ano:
    http://www.bbc.co.uk/portuguese/reporterbbc/story/2009/01/090112_brasilocdeml.shtml
    O título é: OCDE: Brasil é o único em 35 países ‘a escapar a forte desaceleração’.
    Deste documento, poderá partir para outros que contrariam a tese da futura catástrofe de Teresa de Sousa e essa outra versão de que o crescimento do Brasil se sustenta, apenas e só, no esquema de ‘prestações sociais’. Basta ler e é a OCDE que o declara. Mais ainda, o Brasil, como acentuo, tem recursos a um nível que o meu país e toda a Europa estão longe de igualar. A dependência do exterior será sempre muito menor.
    Quanto à vida política, concordo com a existência de faltas graves de gente do PT, principalmente no domínio da corrupção. Por isso, no meu texto, reclamo para a nova Presidenta a obrigação de atacar este problema, o qual, de resto, nem foi directamente abordado pela jornalista criticada.
    No entanto, sublinho que o facto de Lula terminar o mandato com uma popularidade superior a 80%é um sinal político elucidativo.
    Obrigado pelo seu comentário.
    Cumprimentos,

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