Mais um caso de jornalismo de oportunidade

O Adriano Campos fez no Adeus Lenine uma investigação sobre Carlos Moedas e os seus interesses económico-profissionais, que era para ter aqui referido e  por qualquer amnésia perdi pelo caminho. A revista Sábado publica agora o que era obviamente notícia. Referência à fonte? não a vejo. O costume.

Vem isto também a propósito de um artigo do Público Uma década depois do boom, o que é feito dos blogues? que utiliza o curioso método de ir perguntar a quem já cá não anda, ou mal anda, como isto anda, uma grande andança em prol da investigação jornalística. O Pedro já tratou do assunto, mas como lá deixei um comentário que foi censurado aproveito para o deixar aqui, desenvolvido: quem está a morrer são os jornais, jornais como o Público que inventa este fantástico modelo de negócio: Quer ler o Ipsilon completo? depois de comprar o jornal paga mais, usa a aplicação para tablet e descarrega a versão completa, uns 400 MB, coisa pouca, deve vir em papel couché de 200gr. Ou como o Expresso que depois de ter andado pelos lados do Aeiou vai agora para o Sapo, o que se por um lado se compreende porque ali andam bons profissionais é no mínimo ridículo, nenhum jornal de referência se mete dentro de um portal. Mas para os maus jornalistas quem morreu foram os blogues. Publica-se um vídeo do Aventar num Público Online sem qualquer referência à fonte, é natural, não se citam falecidos. No meu comentário afirmava que nestes casos, havendo Provedor do Leitor como é o caso do Público, sorte tinham eles em ninguém se dar ao trabalho reclamar. Como gosto pouco de ser censurado, ainda por cima pelo jornal que leio todos os dias desde que existe, é para lá que irá este artigo.

Já para o jornalista Paulo Querido

um balanço dos últimos três anos: “dezenas de milhar de blogues abandonados” e “o surgimento de blogues colectivos”. Ao mesmo tempo, plataformas emergentes, com destaque para o Facebook e para o Twitter, trouxeram novas propostas de socialização.

deve ser traduzido por: mudei-me para o Twitter, é raro escrever no meu blogue, logo a “blogoesfera” morreu. Sim, coloco aspas, nunca tal coisa existiu, um mínimo de conhecimentos de geometria permite-nos falar num blogopoliedro, com muitas faces que pouco comunicavam entre si. Tal como um mínimo de conhecimento do que se passou em 2011 permite perceber que o Facebook democratizou e potenciou o sucesso de um artigo publicado num blogue que hoje já não depende do aval, ou seja da hiperligação de blogues de topo, sendo agora relativamente fácil colocá-lo directamente à apreciação de centenas de leitores que o partilham nessa, e noutras, redes sociais, alcançando em 24 horas sucesso se tiver qualidade para isso.

É o escrutínio democrático, uma chatice para quem ainda vê os blogues num sistema de castas onde contava o ilustre nome de alguns dos seus intervenientes muito mais do que aquilo que publicavam. Esse tempo sim, morreu, acabou, e tenho enorme prazer em assistir ao seu funeral. Ita missa est.  Ámen.

Comments

  1. O anúncio da morte da Blogosfera é cíclico e perpétuo 🙂

    Os números de que disponho (e são alguns), apontam no sentido contrário 🙂

  2. Completamente de acordo com o post.
    Agora, será que li bem quando diz que foi censurado por um colega do Aventar?

  3. Leu mal: coloquei um comentário no Público que ainda não apareceu. Nos termos do que aqui escrevo, embora muito mais curto.

  4. Tem razão, li mal. Deve ser do adiantado da hora 🙂

  5. Margarida Alegria says:

    Já reparei que anda alguma censura nos comentários do Público (e não só). E não relacionados com questões de linguagem… Daí haver cada vez menos.
    Concordo com o post.
    As redes sociais vieram permitir o acesso de outros leitores aos blogues, de forma mais rápida e universal. Só resta regressar a interactividade nos blogues, pois agora os leitores acedem, lêem e não dão feed-back, segundo a tal estratégia do toca -e -foge das redes sociais.
    Decerto surgirão outras formas de interagir, mas concordo é que o sr. jornalista se cansou de blogar e agora generaliza , tentando promover o seu Twitter. Não conhecia muito os textos de blog do Paulo Querido, mas se eram com alguns dos seus textos jornalísticos… certamente estará melhor no Twitter… 😛
    E esse, o Twitter é que deverá durar bem menos, como brincadeira e moda passageira que sempre me pareceu.

  6. joaopaulo74 says:
  7. Na verdade, é uma interação entre micro-blogs, concretizando o mundo do editor.

  8. Na verdade, é a interação entre micro-blogs, que formam o mundo da web do editor, essa é a tendência atual…

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