From Lisbon with tactics

CULTURA - Antonio Costa presidente da Camara Municipal de Lisboa na a

Apesar do desastre, este PSD diverte-me. Sempre feroz quando o PS puxa da cartada da antecipação das eleições, reforçando que este governo exerce funções no âmbito da legitimidade que lhe foi concedida pelas urnas, e que é inegável, o PSD-Lisboa reagiu imediatamente à intenção de António Costa em disputar a liderança do PS pedindo eleições antecipadas na Câmara Municipal de Lisboa. Ainda não há data para o congresso e as laranjas lisboetas já estão a contar espingardas. Já agora, onde estava mesmo Pedro Santana Lopes antes de ser nomeado (não confundir com “eleito“) para Primeiro-Ministro? Ganda nóia, estava presidência da CML. Claro que tal constatação não passa de um detalhe curioso e pouco relevante.

De resto, esta oficialização da disponibilidade de António Costa para liderar o PS não será uma grande novidade para quem opta por não viver a dormir. Era mais que sabido que António José Seguro era um líder de transição, daqueles sacos de pancada que normalmente se colocam nos partidos para absorver as ondas de choque que se seguem a uma liderança derrotada eleitoralmente e caída em desgraça. E Seguro serviu bem o seu propósito. Bem de mais se calhar: a ausência de ideias e de um projecto concreto para Portugal que fizesse jus à oposição à governação da direita, a que se juntou uma campanha patética para as eleições europeias onde nem com Martin Schulz se conseguiu sintonizar sobre questões como a mutualização da dívida, central na argumentação dos socialistas portugueses sobre a saída da crise. Isto para não falar das intenções de Assis em coligar-se à direita. Nem a selfie salvou este animado grupo de amiguinhos…

Quando em 2007 se decidiu retirar do governo Sócrates para participar na corrida às intercalares para a CM de Lisboa, António Costa saiu da mira dos críticos e foi colocado dentro de uma redoma de vidro em banho-maria, aguardando serenamente enquanto ia opinando, a partir do ano seguinte, entre os ilustres da Quadratura do Círculo. Popular na capital, algo que ficou provado com a sua reeleição em 2009 com uma votação esmagadora de 40,22% (contra os 29,54% de 2007), o agora candidato à liderança do PS tem os apoios necessários para reconquistar eleitores para os socialistas mas não passa daqui. Quem acredita que com António Costa o PS mudará de rumo está obviamente enganado. Como disse, e bem, o João José, constatando o este óbvio, a única diferença é que “António Costa pode vencer eleições, Seguro no máximo seria ministro de Passos Coelho“.

Sobre a expectável tomada de assalto do PS por parte do autarca de Lisboa, não será preciso dizer muito mais. O João Branco já o fez por mim. Mas não deixa de ser curioso que, tal como Passos fez a Sócrates quando, depois de contribuir para a aprovação de 3 PEC’s, lhe tirou o tapete no IV, também Costa jogou o jogo do tacticismo político e esperou cuidadosamente até que a direita estivesse pelas ruas da amargura eleitoral e o PS provasse toda a sua fragilidade ao não conseguir captar o voto “útil” na alternativa socialista. Apesar de criar profundas divisões no seio do partido, de que o virar de costas de Soares a Seguro na recta final da campanha é bem ilustrativo, António Costa surge no momento mais fácil para se tornar no potencial próximo primeiro-ministro. Mas Seguro ainda não caiu e a política partidária dá muitas voltas.  E não nos podemos esquecer que Passos Coelho poderá ter uma palavra a dizer. Será gambito?