Vem depressa, emigrante!

888002011688.170x170-75Parece que foi há dois ou três anos (talvez por ter sido há dois ou três anos) que Passos, Relvas e outros sucedâneos espalharam a ideia de que os jovens portugueses precisavam de sair da sua zona de conforto e emigrar. O impagável primeiro-ministro chegou mesmo a afirmar que o português tinha de deixar de ser piegas. Pelo meio, como é típico da elite parola portuguesa, lá vinha a referência à valentia de um povo de descobridores que sempre soube ultrapassar adamastores e bojadores, entidades consubstanciadas, na maior parte das vezes, em politicotes que andam a minar o Estado praticamente desde a fundação da nacionalidade.

Em muitos casos, a zona de conforto de muitos que emigraram era a zona do desemprego. A direitola, neologismo resultante da expressão “direita tola”, não consegue falar ou escrever sobre desemprego sem recorrer às inevitabilidades de despedir ou à caracterização do desempregado como um inútil que vive confortavelmente sentado num subsídio de desemprego. Paulo Portas chegou mesmo a declarar que havia gente a receber o Rendimento Social de Inserção e a aforrar cem mil euros nas respectivas contas bancárias, sem especificar o número de prevaricadores, o que implica lançar uma lama fétida sobre todos os outros. Não admira: o porco, quando se espolinha, não está preocupado em saber se suja alguém.

Camilo Lourenço chegou a explicar que o país ganhava muito com o facto de haver profissionais portugueses altamente qualificados a trabalhar fora do país (esquecendo-se, talvez, de que esses profissionais terão filhos fora do país, pagarão impostos fora do país, servirão as populações de outros países, farão as suas compras nas lojas de outros países). [Read more…]

Jornalismo, socialismo, capitalismo [França]

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O jornal francês Libération também procura o modelo de negócio do jornalismo do futuro, se possível sem ter de abrir um restaurante ao lado da redacção. Entretanto, o director nomeado pelos novos accionistas (mas os assalariados poderão recusá-lo com mais de 66% de votos contra) aposta tudo no digital, na redução de jornalistas e em mais trabalho para os que ficam. «Para combater o liberalismo», afirmou ontem perante a redacção inteira reunida e «fazer do Libération o jornal de todas as esquerdas» (à imagem do que François Hollande também dizia, na campanha eleitoral para a presidência que ganhou, e a que aliás o Libération prestou vergonhosa vassalagem). Sente-se a desconfiança dos jornalistas no olhar da maioria, cheira-se o medo: o medo de ir parar ao matadouro de fazer desempregados, em muitos casos para o resto da vida.

E nada de tudo o mais que disse Laurent Joffrin (para quem esta nomeação poderá constituir um regresso ao jornal onde se fez jornalista e cuja redacção já dirigiu) parece minimamente relevante, apesar de sê-lo: o combate pela recuperação da credibilidade do jornalismo, numa sociedade que, tal como a nossa, o vê com os maus olhos de quem o sabe minado por toda a sorte de compromissos anti-jornalísticos: com os poderes políticos e financeiros, com os interesses de classes particulares, com a mediocridade que incessantemente vemos espelhada num jornalismo preguiçoso e indigno de sociedades supostamente civilizadas e democráticas. [Read more…]

Memofante

O ex-Secretário de Estado da Cultura   Francisco José Viegas, na sua coluna de 23 de Junho no Correio da Manhã, a propósito de um livro (Portugal em ruínas, da Fundação Francisco Manuel dos Santos) refere-se ao trabalho do autor, Gastão de Brito e Silva, dizendo que este fotógrafo “… reúne num pequeno livro ……….dedicado a espiar não só as ruínas dos monumentos, mas também os sinais e os testemunhos deixados pelo tempo em edifícios que tudo corroeu: a incúria, o desprezo, o desinteresse, a ignorância e a fúria da construção civil”. Termina o artigo: “São, por si só, diques que não resistiram à nossa passagem ou ao nosso esquecimento, a doença fatal de um país.”

 

Pois. Lembrei-me logo de quatro coisas, entre várias: a barragem do Tua, o acordo ortográfico, a reestruturação dos serviços da área da administração do Património Cultural (Museus, Arquivos, etc.), e os bens Património Mundial . E a propósito da passagem de Francisco José Viegas pelo Governo, lembrei-me também ( isto da memória é tramado! ) de um artigo de Vasco Pulido Valente (também ele ex-Secretário de Estado da Cultura) de 11 de Janeiro de 2009, no jornal Público, intitulado “Uma história portuguesa”, que não resisto a citar parcialmente (recomendo a leitura na totalidade), pois assenta como um fato da House of Bijan nos titulares da pasta da Cultura dos Governos Sócrates (especialmente Isabel Pires de Lima, Gabriela Canavilhas e Elísio Sumavielle), e nos titulares da área da Cultura dos Governos Passos Coelho ( Francisco José Viegas e Jorge Barreto Xavier.
Nunca a gente que ocupou o Ministério da Cultura conseguiu perceber que a sua principal responsabilidade era o património”.
E não se chega à presente catástrofe em menos de anos sobre anos de abandono e de incúria. Quando se pergunta como depois da democracia e da Europa acabámos nesta melancólica miséria, basta pensar na política de promoção e defesa do património cultural; no oportunismo, desorganização e pura estupidez de que ela precisou para durar.

Lapidar.

Contribuições para um debate sobre o estado da nação

estado da nacao 2014
da série ia a passar no meu bairro, jjc, 2014.

O Ricardo e o Amílcar

foram às compras no BES. Terá sido com aqueles  trocos que vieram de Luanda?