O Público e os empatas

esquerda_empata

Na primeira página do Público, podemos ler aquilo que está na imagem. Como sabemos, empatar na política ainda é mais feio do que no futebol ou na vida íntima de outros.

Se lermos apenas este título, que é o que fazemos muitas vezes, é evidente que a imagem da esquerda não ficará em bom estado, porque, aparentemente, não quer resolver determinados assuntos. Se a esquerda merece ter bom ou má imagem, poderemos discutir noutra altura, se não vos importais.

Se se quiser, apesar de tudo, pensar um bocadinho, levantar uma dúvida, poderemos perguntar-nos se este título será uma referência a toda a esquerda, PS incluído, ou se haverá algumas divisões.

Ao fazer essa coisa raríssima que é ler a reportagem, ficamos a saber que o PS recusou as propostas dos partidos de esquerda acerca da limitação dos salários dos reguladores, que o PS, ao contrário dos (outros) partidos de esquerda, quer diminuir paulatinamente o número de alunos por turma, que o PS não quer fazer alterações no mapa das freguesias antes das próximas eleições autárquicas, que o PS não quer resolver já muitas questões relacionadas com o sistema bancário ou com os offshores, que o PSD e o PCP não viabilizarão de imediato algumas medidas contra os maus tratos a animais, que há uma proposta do CDS acerca do envelhecimento activo que tarda em ser aprovada, que o PS anda a adiar uma resolução sobre o uso da produção nacional e regional nas cantinas públicas, e, enfim, que há um grupo de trabalho que tem a seu cargo dois diplomas do PCP e do BE acerca do regime jurídico da partilha de dados informáticos e dos direitos de autor. [Read more…]

«Somos livres de mudar o Mundo para começar nele algo novo» (Hannah Arendt)

Uma conversa séria jamais verdadeiramente tentada, por exemplo.»
Aí está ela, para gáudio de democratas, e apesar de todas as reservas mentais que têm poluído o ar nos últimos dias.

Golpismos anti-democráticos e inconstitucionais

«[Se o PS] tiver maioria absoluta governará, mas se a não tiver, sendo no entanto o partido com um maior número de deputados, será chamado a formar governo, podendo ser governo se as outras esquerdas se não juntarem à direita para aprovarem uma moção de rejeição do seu programa de governo.»
[Uma análise n’O grande zoo]

Otários de esquerda

pata na poça

Entenderam os líderes dos partidos de esquerda que o Observador é um jornal online de direita mas um jornal como os outros e concederam-lhe entrevistas.

O Observador é um projecto político, e não sei se projecto será a palavra mais correcta, pago por multimilionários para substituir o que não têm coragem para fazer, fundar um partido e concorrer às eleições. Os manuais do neo-liberalismo explicam porquê.

Tem de caminho a função de fazer umas transferências bancárias para alguns opinadores da extrema-direita, gente que mete sempre o bolso à frente das causas, e contratou alguns jornalistas para disfarçar a sua verdadeira função.

Passa pela cabeça de alguém que Jerónimo de Sousa dê uma entrevista ao Povo Livre ou que Catarina Martins preste declarações ao Portugal Socialista? Pela de ambos pelos vistos passou. O resultado está à vista, não só no branqueamento que emprestaram ao pasquim, como numa fantástica peça intitulada “O que distingue as nossas esquerdas?“, onde à cabeça Catarina aparece como não querendo o poder e depois se vão “extraindo pistas” e manipulando as afirmações que proferiram, deixando um retrato da esquerda portuguesa pintado pela direita. Uma festa, e de borla.

Que os dirigentes partidários não leiam blogues, e não tenham percebido o que é o Observador, já sabia, agora que ninguém os tenha avisado, isso estranho. Fica a originalidade: como as esquerdas portuguesas meteram a pata na poça. Agora sacudam a lama.

Problemas de memória com o Muro de má-memória: 4 notas de Rui Bebiano

Esta manhã publiquei um parágrafo retirado de um texto que Rui Bebiano escreveu e publicou no seu A Terceira Noite. Reedito agora este post e, com a autorização do autor, publico o texto na íntegra, para que o contexto em que esse parágrafo se insere não se perca. Em favor, também, de um debate urgentíssimo para as esquerdas, que o texto de Rui Bebiano, que não é um homem de direita, suscita. [S.A., 14:00]

Quatro notas sobre a queda do Muro

Rui Bebiano

1. Vinte e cinco anos após a derrocada do Muro de Berlim, boa parte do seu cenário permanece na nossa memória partilhada. Mais que uma incomum fronteira física, ele constituía uma metáfora, e as metáforas não se apagam a meros golpes de vontade e picareta. Do lado ocidental, uma pesada vedação de 155 quilómetros contornava todo o perímetro da parte da cidade que não fora ocupada pelo Exército Vermelho. Era possível tocar o betão que lhe dava solidez, sobre ele podiam pintar-se palavras de ordem, escalando até uma posição confortável conseguia observar-se de longe o hermético «Leste». Do lado oriental, o Muro era cinzento e deprimente, eriçado de arame farpado, ladeado por uma terra de ninguém minada e perigosa para qualquer leste-alemão que tentasse uma mera aproximação ao carcinoma do capitalismo. Em cada metade de Berlim, viva-se uma existência esquizofrénica que concebia a realidade a partir de duas escalas que simultaneamente se olhavam e ignoravam. Como se uma não pudesse viver sem a outra, aceitando-se na certeza de que a proximidade se materializava numa distância que condenava cada modelo à inflexível clausura. O Muro representava a metáfora suprema da simetria que a Guerra Fria impunha. [Read more…]

Jornalismo, socialismo, capitalismo [França]

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O jornal francês Libération também procura o modelo de negócio do jornalismo do futuro, se possível sem ter de abrir um restaurante ao lado da redacção. Entretanto, o director nomeado pelos novos accionistas (mas os assalariados poderão recusá-lo com mais de 66% de votos contra) aposta tudo no digital, na redução de jornalistas e em mais trabalho para os que ficam. «Para combater o liberalismo», afirmou ontem perante a redacção inteira reunida e «fazer do Libération o jornal de todas as esquerdas» (à imagem do que François Hollande também dizia, na campanha eleitoral para a presidência que ganhou, e a que aliás o Libération prestou vergonhosa vassalagem). Sente-se a desconfiança dos jornalistas no olhar da maioria, cheira-se o medo: o medo de ir parar ao matadouro de fazer desempregados, em muitos casos para o resto da vida.

E nada de tudo o mais que disse Laurent Joffrin (para quem esta nomeação poderá constituir um regresso ao jornal onde se fez jornalista e cuja redacção já dirigiu) parece minimamente relevante, apesar de sê-lo: o combate pela recuperação da credibilidade do jornalismo, numa sociedade que, tal como a nossa, o vê com os maus olhos de quem o sabe minado por toda a sorte de compromissos anti-jornalísticos: com os poderes políticos e financeiros, com os interesses de classes particulares, com a mediocridade que incessantemente vemos espelhada num jornalismo preguiçoso e indigno de sociedades supostamente civilizadas e democráticas. [Read more…]

Portugal e o Sémen da Palavra

Portugal, o País que amo, alberga gente com formas de pensar as mais diversas e o talento, muito ou pouco, para as expressar. Somos fauna de ideias, à procura de analogias, de caminhos e de verdades. Mas há muita dessa fauna, Fauna de Esquerda Mal-Humorada, que não tolera o pensamento diverso dos outros, a leitura diversa dos outros, pois só existe a sua leitura e a sua emissão conceptual, o seu quadro descritivo da realidade, fora do qual outro qualquer ejaculador das palavras poéticas ou poético-analíticas só pode estar doente e deverá ser ou internado ou evacuado da plataforma que usurpa para debitar e debitar-se. É como que o Perigo de Haver Diversos, o Horror de Haver Diferentes. É a teoria dos escreventes malditos. Dos corpúsculos estranhos. Do 8.º Passageiro. Em suma, o Medo do Outro. Não separo a Poética da Poética de uma Poética da Política e é a partir desse meu corpo sexuado do dizer que insemino e inseminarei com Palavras a vagina passenta dos leitores em regime de estrito consentimento. Todo o leitor é um consentidor do diálogo da palavra que afinal busca e busca porque quer. Nenhum texto, postulado ou ideia, invadem o cérebro desprevenido do leitor por penetrar. Nada mais consensual que a leitura e a rejeição da leitura. Os inquisidores proibiam leituras, indexavam-nas. Os comunistas mais petrificados e aterrorizados com o Outro fazem outro tanto. Está inscrito no pensamento único, dogmático e violento como o Islão. [Read more…]

Ainda o Fóssil Espingardar em Minoria

Portugal é um País extraordinário que consegue ter um Governo moribundo há dois anos e uma Esquerda Fóssil, Mumificada há quarenta com um manifesto problema de hiperventilação psíquica: exagera nos seus choques e dores de ilharga, está sempre à espera de um pretexto para se zangar e as lentes que usa para a realidade são as do eterno farisaísmo, inflexível, lapidário, aflito por partir para grandes batalhas campais contra moinhos de vento, aparecendo sempre em minoria.

Prefiro ter paciência com um suposto fascismo europrotector prosseguido pelo BCE e pelos Governos de Estados Intervencionados da União que o aplicam, apertando o gasganete aos sectores públicos na Irlanda, Grécia e Portugal, carreando um enorme sofrimento social a essas sociedades. Prefiro aturar essa estratégia. Desconheço qualquer outra. Prefiro suportar a maligna salvação dos bancos europeus e da banca europeia à custa de milhões desses contribuintes, desempregados cada vez mais endémicos, como eu, ou pensionistas vulneráveis como os meus pais, porque sei que um dia esse holocausto reverterá em benefício dos sobreviventes e máximos sacrificados de hoje, ressarcidos os que se viram na iminência de prejuízos volumosos e investimentos comprometidos pela insolvabilidade bancária de 2008, cujas perdas fariam colapsar a confiança mundial hoje muito delicada nos seus equilíbrios. A impaciência, escrevia recorrentemente Kafka, é o pecado capital da Humanidade. Quando lhe cedemos, sobrevém o pior. A Esquerda é impaciente e apressada nos seus juízos. Rasga as vestes, como se a inexorável Senectudocracia Europeia não suscitasse novos roubos reequilibradores do sistema nunca dantes necessários, a par da lenta coragem dos Governos para, em nome dos contribuintes e dos cidadãos prejudicados, atacar a chicha dos sectores protegidos. [Read more…]

Pluralidade Unitária, Salada de Esquerda

Pega-se no Partido Comunista, no PEV e no Bloco; pega-se noutros Partidos e movimentos, miríade de siglas e acrónimos, recordam-se por momentos os genomas de PSR, UDP e Política XXI; faz-se memória do MDP/CDE, um minuto de silêncio chega, e do PCTP/MRPP, com os seus cromos e fósseis redivivos e a salada plural de Esquerda está pronta a mostrar a perna suculenta, nua, ao PS. Será que vão todos para a cama?!

E um dia, Governo.

Recomeçaria, então, a segunda parte do PRECoito Interrompido: uma Democracia do Povo e para o Povo. E o Capital a esvair-se para mais longe.

Posicionem-se

Abrir os olhos é não imputar a uma putativa e ficcional Direita Portuguesa as culpas que se partem e repartem sobre todo o espectro decadente e moribundo do sistema político-partidário português. Por exemplo, depois de anos ao serviço dos interesses instalados, financeiros e económicos, apeada da governação, a Ala Socratista do PS aparece agora umas vezes a masturbar o PCP e o Bloco, outras a diminuir e a vexar a utilidade pragmática de tais partidos. Mesmo Seguro não resistiu a convidar e a incluir PCP, PEV e BE nesta coisa criada pelo Presidente, uma Troyka Negocial do Arco da Governabilidade. Seguro quis incluir esses partidos na proposta presidencial, dando por garantido o voto inútil a favor na próxima moção de censura. Qual foi a resposta dessa Esquerda Anti-Troyka? Rejeição liminar. Dir-se-ia que tal Esquerda se está a cagar para a condescendência segurista ou para o namoro pegado que lhe move a Ala Socratista, ainda incrustada na Bancada Parlamentar Xuxa. A sugestão socratista-socialista-segurista de o convite à salvação de Cavaco ser extensivo àqueles partidos foi portanto mandada àquele lugar. Percebe-se que o socratismo forceja fabricar o seu regresso ao Poder não apenas pelo malogro do Ajustamento, mas também pelo Cavalo de Tróia de alianças e compromissos impostores com a Esquerda Protestatória.

Embora Seguro formulasse o convite, os pretorianos do socratismo apodam-no de pura retórica – talvez desejassem em andamento um projecto de coligação escrito e assinado onde se consagrasse a ruptura com a Toyka e a exigência por um regresso formal aos moldes do PEC IV. Como esse entendimento parece comprometido, a Esquerda bloco-comunista passa a ser tratada à bruta pelo paleio pretoriano dos adeptos e amantes do Grande PlayBoy: comunas e bloquistas não participam em coisa nenhuma que não seja derrubar governos, especialmente se forem socialistas. São partidos de bota-abaixo. Pois, um bota-abaixo selectivo e eficaz se xuxas se confinam à impotência minoritária. A dor de corno política dá nisto. [Read more…]

Quando o Plutossocialismo Estrebucha

Camarada, estás cansado da Austeridade? Podes voltar à balbúrdia e à roda livre dos cheques amistosos dos Governos Socialistas, onde crescimento e emprego, emprego e crescimento nasciam como cogumelos ao estalar de um dedo. Basta nacionalizares o teu voto e sugerires às Esquerdas o que às Esquerdas incumbirá, assim que a Suprema Maçã Podre do Regime, sempre a maquinar conspirações, acabe de as federar para derrubar este Governo e talvez o próximo e o próximo, se, à vez, cada um dos próximos governos não agradarem ao Exmo. Plutossocialista Maçónico, papa de todos os Plutodemocratas.

Só gostava de perceber como é possível que amanhã Mário Soares, basicamente a Maçã Podre Suprema do Regime, consiga reunir na mesma sessão, na Aula Magna, as direcções do PS, PCP e Bloco de Esquerda e estas aceitem deixar-se federar-conspurcar numa espécie Peitaça Comum que funcionará como Espantalho das intenções e simpatias da Opinião Pública e como Repelente Fatal do voto útil ulterior numa alternativa a Bruxelas, a Berlim e às políticas que o BCE prescreve para o nosso carcinoma regimental corrupto e decadente, sob o obediente Governo de Salvação pós-PEC a que Passos-Gaspar presidem. [Read more…]