Olha João, parece que o teu Bloco de Esquerda vai para o governo. A Catarina Martins, à saída da reunião com o António Costa teve uma tirada que tu deves ter gostado de ouvir: “O governo de Passos e Portas acabou hoje“. Não sei se será bem assim, João. Mas parece. Ironia do destino.
Já sei, já sei que estás a rir, com aquele teu ar de menino trocista e a soltar um: “E tu não dizes nada, pá? Não soltas os cães? Anda lá, escreve!”. Escrevo sim senhor, João. Está na hora de regressar a sério, como tu querias e como tu mereces que cada um de nós, cada um dos aventadores, o faça. E olha lá, desta vez nem me vou esquecer de “cortar” o texto a meio e assim evito que tenhas de me telefonar a puxar as orelhas por, como quase sempre, me ter esquecido de colocar o “Ler mais…”. E como detesto esta coisa do “Ler mais…”, João.
Pois é, João, eu acho muito bem que o Bloco experimente esta coisa da governação. O Bloco e a CDU. Acho muito bem e sabes porquê? Porque é o merecido castigo para aquela malta de direita que no dia das eleições preferiu ficar em casa ou ir ver a bola em vez de votar. Ri-te, ri-te que eu acompanho no riso. Esses e aqueles de direita que preferiram um voto de protesto via abstenção para obrigar o Passos e o Portas a governar em minoria. Pois é, João, que valente ironia do destino. Lembrei-me daquele ciclista numa importante corrida, que ao ver a meta, olhou para trás e mediu mal a distância dos adversários e levantou os braços a festejar e quando estava a milímetros de cruzar a linha da meta, foi ultrapassado. Ele não queria acreditar, nem nós que estávamos a ver o drama em directo. É a vida.
Uma parte (talvez pequena) do eleitorado de direita esqueceu um pormenor e tanto: e se o somatório de votos e mandatos da esquerda atingir a maioria absoluta? Pensaram que seria absurdo o PS fazer um acordo ou até uma coligação com a esquerda. Pensaram mal e não estiveram atentos à campanha. É que o António Costa foi claro, bem claro. Afirmou que não aprovaria um governo e programa da coligação de direita (e a malta pensou que estava a brincar). Foi cordial e diplomata no debate com o Jerónimo (e até o meu gato percebeu que estava ali a fazer pontes – vê lá tu, o meu gato até já está representado na AR através do deputado do PAN!) e não esticou a corda no debate com a Catarina, bem pelo contrário. E depois, temos o passado. Não foi o mesmo António Costa que em Lisboa soube construir as pontes necessárias com a esquerda e assim governar a câmara? Pois foi. Não me venham dizer, agora, que foram enganados. Não foram.
E a legitimidade da coisa, gritam os meus amigos de direita? Está na Constituição, está na Democracia. Ninguém está a tomar isto “de assalto” ou “a tiro”. Não. Estão apenas a juntar os trapinhos. É verdade que a coligação ganhou. Na medida em que teve mais votos que o PS. Mais votos que o Bloco. Mais votos que a CDU. Pois. Mas sozinha não consegue governar e precisa do acordo com o PS. Ou com o Bloco. Ou com a CDU. Não consegue? Upssss. A tradição já não é o que era e o PS, desta vez, não quer. Ou não pode.
Olha João, sabes o que te digo? Que isto aqui parece um manicómio. E ou o Costa está a fazer bluff ou vamos mesmo ter uma frente de esquerda a governar o sítio. Coligados ou não. Já o eleitorado de direita está em choque, a exemplo do Jorge Jesus quando viu o Kelvin, no minuto 92, fazer aquela maravilhosa maldade aos seis milhões. No fundo, só resta uma esperança à direita: que o árbitro invente um fora de jogo. De outra forma, foi-se…
E tu continuas a rir-te. Ainda bem, fico feliz por ti.
🙂 🙂 🙂