Finanças: instrumento ou ditadura?

No mundo global com que, de acordo com recomendações superiores, temos de nos conformar, a Economia deixou de ser uma ciência social ao serviço das pessoas e passou a ver as pessoas como carne para canhão em nome de conceitos económicos ao serviço do capitalismo selvagem representado por multinacionais e grandes banqueiros. Os governos, submetidos a ditames vários, usam os recursos dos respectivos países para ajudar ao sustento dos poderosos, preferindo entregar dinheiro a bancos e diabolizando os mais fracos, encarados sempre como empecilhos. A Economia, portanto, é apenas um instrumento ao serviço das Finanças (ou da Finança).

Não é possível defender a extinção da Economia, porque está no cerne de qualquer sociedade mesmo que primitiva, mas ignorar em absoluto o contributo dos especialistas ou as especificidades de tantas áreas é criminoso.

Na semana passada, houve reuniões entre técnicos do Ministério das Finanças “com presidentes dos conselhos de administração de alguns hospitais do Porto para discutir questões ligadas à oncologia pediátrica naquelas unidades de saúde.” Segundo parece, não esteve presente nenhum representante do Ministério da Saúde, facto que mereceu alguns comentários do bastonário da Ordem dos Médicos. É um mau sinal dos tempos. Mais um. [Read more…]

France: douze points

A história é simples, a de um bebé chamado Mercy que nasce numa embarcação de refugiados a caminho da Europa. Depois troca-se por ali as voltas ao significado de Mercy em inglês e de Merci em francês. A música é bem esgalhada e com potencial para irritar os governos húngaro, polaco, britânico e todo o refugo xenófobo de Le Pen a Beppe Grillo. Só por isso, mereceria logo à cabeça douze points. Entre as minhas favoritas estão também a da Irlanda e da Albânia.

As várias mensagens políticas da Eurovisão ao longo das décadas são muito bem abordadas num documentário do canal ARTE, intitulado “Eurovisions” (não disponível), onde se refere a canção de Paulo Carvalho que serviu de senha do 25 de Abril, as vitórias de Dana International e Conchita Würst ou a canção anti-Putin de Verka Serduchka.

Pode-se pensar o que se quiser deste que é o espetáculo televisivo mais popular da Europa, mas comparado com o conservadorismo do Super Bowl americano onde uma simples maminha causou escândalo nacional, prefiro a Eurovisão onde as avozinhas e as netas dão a vitória a um grupo de Heavy Metal finlandês, a um travesti israelita ou a uma mulher de barba austríaca.

Discriminação

Há tempos, o Q juntou-se ao LGBT. Acho que há uma clara discriminação face ao restante alfabeto.

A ajudinha de Trump ao “comércio livre”

Cecilia Malmström, a amazona europeia do comércio livre, tem um objectivo claro: arrematar o maior número possível de acordos comerciais e de investimento antes das próximas eleições europeias, marcadas para Maio de 2019.

Até lá, a coisa corre-lhe de feição, contando até com uma ajudinha de Trump. Porquê? Se por um lado o proteccionismo trumpista está a dar fortes dores de cabeça à comissária por via da ameaça de aumento das tarifas sobre o aço e o alumínio, por outro lado está a facilitar-lhe o trabalho. É que os vigorosos e alargados protestos de milhões de cidadãos europeus durante as negociações do TTIP e do CETA quedaram emudecidos, neutralizados, por via da sonora lógica maniqueísta: Trump é proteccionista e MAU, portanto o comércio livre é BOM. É como dizer que quem critica as derivações perversas do capitalismo é comunista. Uma estratégia populista e fácil, de que a Sra. Malmström se utiliza e desfruta para enfiar as esporas anti-democráticas e passar a galope acordos para o comércio dito “livre”, entendido à boa maneira neoliberal: privatização, liberalização, desregulamentação. Desenvolvimento sustentável?? Fica emoldurado para inglês ver num capitulozito muito jeitoso e simbólico, sem sanções. Porque o resto das mais de mil páginas dos acordos é gerido pela perspectiva que interessa: transladar – e aí sim, com mão de ferro – para esferas superiores e inteiramente fora do nosso alcance, as normas de tudo o que possa ser comercializado e garantir aos investidores a margem de actuação que tanto merecem. [Read more…]

A revolução saiu à rua no bolso do banqueiro

Cartoon via The English Blog

O CDS-PP juntou-se ontem à perigosa Geringonça para aprovar, com a abstenção do PSD, a obrigatoriedade da banca reflectir a queda da Euribor e o efeito dos juros negativos nos créditos à habitação. Não que os titulares destes créditos se preparem para receber uma pequena fortuna, mas sempre é melhor que um pontapé nas costas.

E agora, a parte interessante da coisa: foi preciso esperar até Maio de 2018 para que o Parlamento fizesse o seu trabalho, colocando um ponto final numa das muitas práticas extorsionárias de sector bancário, que não hesita uma milésima de segundo em reflectir todo e qualquer aumento da Euribor nos créditos à habitação, à mais ínfima parcela do cêntimo, mas que, até ontem, podia simplesmente fazer de conta que, quando a Euribor descia para valores negativos, a taxa de juro batia no zero e não descia mais. Porque sim. Uma das consequências de existirem tantos decisores públicos a viver nos bolsos de banqueiros e quejandos: tudo lhes corre de feição. Se não correr, o contribuinte está cá para lhes deitar a mão.

Amar pelos embaixadores

Fotografia: Manuel de Almeida@SIC Notícias

Imaginem o comentador Marcelo, à mesa da TVI com a Judite de Sousa, a comentar esta tirada do presidente Marcelo, durante a condecoração dos irmãos Sobral:

[Salvador e Luísa Sobral são] “embaixadores mais qualificados e mais eficientes do que a generalidade da nossa diplomacia

Havia de ter piada. Quem não achou piada foram os diplomatas, que, recursos estilísticos à parte, foram tratados abaixo de vencedor da Eurovisão, o que em muitos casos não anda muito longe da verdade, ou não estivesse a diplomacia portuguesa bem artilhada de boys partidários, apesar da sua boa fama internacional. Será que o presidente Marcelo se safava com nota positiva?

O Douro Internacional

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