«BCE faz teste de stress a maiores bancos para quantificar impatos da pandemia»

Nuno Pacheco denunciou estes *impatos do Expresso. Impatos? Do professor Expresso? Efectivamente: impatos da pandemia.

A Bronx Tale

In such a language as German or Latin the adjective would have one definite ending indicating more or less distinctly gender, number, and case, but all of these are left indefinite in English combinations like a heavy sleeper, the dirty clothes-basket, a public schoolboy, a practical joker, etc.
Otto Jespersen

I think that it is the obligation of the people that have created, and perpetuate and benefit from, a system of oppression to be the ones that dismantle it.
— Joaquin Phoenix

SONNY
You’re worried about Louie Dumps. Nobody cares. Nobody cares!
A Bronx Tale

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Em Janeiro, estive no Bronx, o borough nova-iorquino onde ainda não pusera os pés. Nos últimos anos, não encontrara ainda pretexto para me deslocar ao território dos Yankees — além disso, o Chez Bippy e afins ficam em Queens. Aproveitei uma manhã triste, de chuva, no dia do regresso a Bruxelas, para andar a passear por ruelas e parques, passando à porta da Rafael Hernandez Dual Language Magnet School, descendo a avenida Jerome, subindo a avenida Shakespeare, virando para a rua 167, na direcção da avenida Woodycrest, olhando com um sorriso para os turistas que faziam acrobacias na escadaria do Joker — alguns dos acrobatas retratavam-se (efectivamente, sem cê) e retratavam outros como eles, aperaltados e maquilhados a rigor, enquanto davam pontapés no ar, equilibrando-se com segurança naquele recanto sujo do Bronx profundo. O Five Boro Bike Tour não passa por aqui. A rua 166, mesmo ao lado, também tem uma escadaria, mas ninguém lhe liga. Cá está ela.

Foto: Francisco Miguel Valada (Bronx, NYC, 4 de Janeiro de 2020)

Terminada essa agradável manhã no Bronx, voltei para Manhattan e desenferrujei os dedos no piano do Port Authority Bus Terminal. Chegado a Bruxelas e lida a correspondência do Natal, verifiquei que nada mudara: o Acordo Ortográfico de 1990 continuava a fazer vítimas, na leitura e na escrita, e os responsáveis por esta situação continuavam no faz-de-conta habitual.

E hoje, primeiro dia útil de Fevereiro, mudou alguma coisa? Efectivamente, nada mudou.

No sítio do costume, como é óbvio, está tudo exactamente na mesma.

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O fato das alianças, a persistência dos contatos e o massacre contínuo

MAÎTRE DE PHILOSOPHIE. La voix U se forme en rapprochant les dents sans les joindre entièrement, et allongeant les deux lèvres en dehors, les approchant aussi l’une de l’autre sans les joindre tout à fait : U.
MONSIEUR JOURDAIN. Il, U. il n’y a rien de plus véritable : U.
MAÎTRE DE PHILOSOPHIE. Vos deux lèvres s’allongent comme si vous faisiez la moue : d’où vient que si vous la voulez faire à quelqu’un, et vous moquer de lui, vous ne sauriez lui dire que : U.
— Molière, “Le Bourgeois gentilhomme

Considering that the sound /y/ is absent from the vowel space of the subjects in the present study, both at the phonemic and allophonic levels, and consequently that /u/ varies freely, beginner L1 American English learners of L2 French should have difficulty establishing contrastive phonemic categories for /y/ and /u/.
Ruellot

Specifically, the study focused on production by native English speakers of the French vowels /u/ and /y/. French /u/ is realized with variants that are similar, yet acoustically non-identical, to the realizations of the /u/ category of English. French /y/, on the other hand, does not correspond directly to an English vowel, and can therefore be regarded as a new sound for English native speakers who learn French as an L2.
Flege

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Há um importante aspecto — com <c>, que em português do Brasil ilustra /k/ e em português europeu fixa o /ɛ/, impedindo um /ɛ/→[e] (cf. ‘espeto’) — a ter em mente, ao reflectirmos — também com <c>, que ilustra o /k/ subjacente e fixa igualmente o /ɛ/, evitando-se /ɛ/→[ɨ] (cf.repetirmos‘) — sobre a recorrência de grafias como aquela ali à esquerda:

Agora, de forma escorreita.

Há um importante aspecto a ter em mente, [Read more…]

Reflictamos acerca do fato

Nice chap, buys his round.
Ian Hislop

Never in the field of human conflict was so much owed by so many to so few.
Churchill (apud Boris Johnson)

Furthermore, there is an enormous class hatred: how can this uneducated worker who doesn’t even speak proper Portuguese dare to be sitting in the presidential palace?
Noam Chomsky

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Efectivamente, depois de o livro de Nuno Pacheco ter sido muito bem apresentado, houve uma semana ligeiramente atribulada e o sossego do fim-de-semana.

Chegados a segunda-feira, encontramos isto, no sítio do costume:

Os responsáveis pelo desastre lá vão encolhendo os ombros, assobiando para o ar e, armados em Boris, fazendo de conta que não está a chover.

Apetecia-me escrever umas linhas acerca do verbo reflectir e da nítida função diacrítica do c nas formas arrizotónicas com e: reflecti, reflectia, reflectiam, reflectíamos, reflectias, reflectido, reflectíeis, reflectimos, reflectindo, reflectir, reflectira, reflectirá, reflectiram, reflectíramos, reflectirão, reflectiras, reflectirás, reflectirdes, reflectirei, reflectireis, reflectíreis, reflectirem, reflectiremos, reflectires, reflectiria, reflectiriam, reflectiríamos, reflectirias, reflectiríeis, reflectirmos, reflectis, reflectisse, reflectísseis, reflectissem, reflectíssemos, reflectisses, reflectiste, reflectistes, reflectiu.

Tal função torna-se perceptível, por exemplo, se compararmos com repetir: repeti, repetia, repetiam, repetíamos, repetias, repetido, repetíeis, repetimos, repetindo, repetir, repetira, repetirá, repetiram, repetíramos, repetirão, repetiras, repetirás, repetirdes, repetirei, repetireis, repetíreis, repetirem, repetiremos, repetires, repetiria, repetiriam, repetiríamos, repetirias, repetiríeis, repetirmos, repetis, repetisse, repetísseis, repetissem, repetíssemos, repetisses, repetiste, repetistes, repetiu — e quanto à justificação de -ct- nas formas com i (reflicto, reflictamos, etc.), lembremo-nos da “derivação ou afinidade evidente” e do <x>com valor [ks].

Além dessas apetecidas linhas, também queria propor formalmente uma adenda à lista de Vasco Pulido Valente. Ei-la, informal: agora facto não é igual a fato (de roupa).

Infelizmente, como o “bem-amado kaiser“, ando com pouco tempo: quer para as linhas, quer para a formalização da proposta. Fica para outra altura.

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Lançamento do livro e debate “Acordo Ortográfico: Um Beco com Saída”, de Nuno Pacheco

A união de fato: o regresso

Maxine: Workin’ on your sermon for next Sunday, Rev’ rend?
Shannon: I’m writing a very important letter, Maxine. [He means don’t disturb me].
— Tennessee Williams, “The Night of the Iguana

Franchement, c’est too much.
Hélène Lecomte

Un dernier verre de sherry
De cheri mon amour, comme je m’ennuie
Sylvie Vartan

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Segundo o sítio do costume, união de fato é um dos elementos que servem para enquadrar o conceito agregado familiar.

É o regresso da união de fato, essa nossa velha conhecida.

Efectivamente, o aspecto do Diário da República mudou: todavia, a grafia caótica mantém-se.

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Nótula: Tive pena de não poder estar presente ontem no lançamento do Acordo Ortográfico – Um Beco com Saída, de Nuno Pacheco. Para esquecer essa tristeza, no fim do trabalho, fui dar umas voltas no velódromo dos meus vizinhos, que, segundo eles – e eu acredito e agradeço-, também é meu.

Para quedas, para pentes e pentes para carecas

La résilience, la définition est très simple : c’est la reprise d’un type de développement, après avoir subi un traumatisme.
Boris Cyrulnik

Thus, if learners are applying a ‘first-noun strategy’ when beginning to learn Latin, they might miscomprehend something like Ursum tigris amat (bear-ACC tiger-NOM loves) as ‘The bear loves the tiger.’ For this reason, it is not enough to only measure reading times of grammatical and ungrammatical sentences to see if learners develop sensitivity to case marking. It is also prudent to determine whether learners can make use of case marking during sentence comprehension. That is, can they correctly interpret something like Ursum tigris amat as ‘The tiger loves the bear’?
VanPatten & Smith

Jouis et fais jouir, sans faire de mal ni à toi ni à personne : voilà, je crois, toute la morale.— Chamfort (apud Onfray, bah oui, Onfray)

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Já sabíamos que a ausência crónica de contacto com a realidade é uma disfunção que afecta muitos decisores políticos. Todavia, hoje, ficámos igualmente familiarizados com o conceito “sem contato com o solo”.

E lá está o famoso paraquedas (versão 1990 de pára-quedas), ao qual, apesar dos boatos, Manuel Monteiro não se referiu.

Efectivamente, como dizia anteontem Nuno Pacheco,

o Acordo Ortográfico não é uma coisa com erros, é um erro com coisas.

Siga.

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Debate “Acordo Ortográfico: Manter ou Revogar?” Feira do Livro de Lisboa 2019

As paupérrimas intervenções de Lúcia Vaz Pedro confirmam que só é possível defender o chamado acordo ortográfico desde que não se fale de ortografia. Defender o acordo ortográfico implica, ainda, não ser capaz de demonstrar a sua superioridade relativamente a outros instrumentos anteriores. Veja-se e ouça-se tudo, do princípio ao fim, e atente-se nos exemplos dados por Manuel Monteiro e nos argumentos aduzidos por Nuno Pacheco. Exemplos e argumentos.

Há solução?

Sim, há solução: «a solução é acabar com o Acordo Ortográfico».