Como se Putin precisasse de Medina para alguma coisa

Em Janeiro, um grupo de manifestantes juntou-se em frente à embaixada russa em Lisboa, para protestar contra o regime totalitário de Vladimir Putin, em particular contra a detenção de Alexei Navalny, um dos mais audíveis opositores da ditadura instalada no Kremlin. Meio ano depois, Expresso e Observador noticiaram o caso, que rebentou como uma bomba no espaço publico nacional.

Este caso, gravíssimo e intolerável, não se circunscreve ao alegado erro, que resultou na entrega dos nomes dos organizadores daquela manifestação às autoridades russas, conhecendo o historial de assassinatos de activistas perpetrados pelos sabujos de Putin, pese embora resulte de um procedimento em vigor há 10 anos. Ainda assim, deveria ser suficiente para Medina colocar o lugar à disposição e se afastar do exercício de cargos públicos até que tudo estivesse esclarecido.

Não quero com isto dizer – muito menos alinhar nas conspirações estapafúrdias e imbecis que li no Twitter e no Facebook – que Medina recebeu um telefonema de Putin para denunciar os activistas, e que o autarca fez o frete ao ditador russo. Isto é um absurdo a todos os níveis, até porque Putin não precisa das autoridades portuguesas para nada, logo a começar no facto de a manifestação ter decorrido em frente à sua própria embaixada, observada de perto pelos elementos do FSB com passaporte diplomático. Aliás, se os hackers russos conseguem minar as eleições nos EUA, certamente não precisarão de nenhum Snowden para entrar na rede CM de Lisboa e extrair toda e qualquer informação que lhes interesse.

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From Russia, with love #6 (Moscow – Saint-Petersburg)

Cheguei a Leninegrado,

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ou Petrogrado ou São Petersburgo, como lhe queiram chamar. Eram cinco e meia da tarde quando o Sapsan, ou ‘falcão peregrino’ parou na estação Moscovo. Mal saio da estação, onde contei com a boa vontade de estranhos, como sempre, para descer as escadas com as malas, vejo um reclame no alto de um prédio: город горой Ленинрадюю. Qualquer coisa como ‘cidade heroica Leninegrado’. Pareceu-me um bom prenúncio.
 

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From Russia, with love #5 (Moscow)

‘Yo soy comunista’…

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disse-me um senhor basco que encontrei junto à estátua de Marx, esta tarde, pondo-me a mão sobre o ombro, erguendo o punho esquerdo e começando a cantar, em castelhano, a Internacional. Tive de lhe dizer que se erguia o punho direito, ‘mas em Espanha, erguemos o esquerdo’, e fez-me a vontade. Ergui eu também o punho, e fui cantando em português. A filha, uma miúda anarquista, segundo o pai, tirava fotografias e ria-se. Eu também me ri, como é evidente. Coisa mais inusitada, cantar em ‘portunhol’ a Internacional, diante da estátua de Karl Marx, ali ao lado da Praça Revolução, em Moscovo, às 5 da tarde.

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From Russia, with love #4 (Moscow)

 Visitei hoje o Camarada Lenine…

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… e encontrei-o com bom aspeto e boas cores, sobretudo para quem está morto há 93 longos anos. O Camarada Lenine repousa num feíssimo, escuro e frio mausoléu no centro da Praça Vermelha. Quero dizer, aquilo que resta do Camarada Lenine, praticamente pele e ossos, repousa no mausoléu bem no centro da Praça Vermelha. Não tem sangue, nem cérebro, nem vísceras, mas suponho que não lhe façam falta nenhuma, assim como assim. De 18 em 18 meses o corpo é retirado do mausoléu e submetido a diversas operações de conservação*. Li algures que lhe limpam e passam o fato também nessa altura e que de três em três anos lhe compram um novo. Parece que custa muito dinheiro à Federação Russa manter o corpo de Lenine.

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From Russia, with love #3 (Moscow)

Dos heróis caídos…

 

 

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assim chamam à parte do Parque-Museu das Artes, que ocupa a parte norte do Parque Gorki. Há quem lhe chame parque, mas a maior parte das pessoas refere-se-lhe como ‘cemitério dos monumentos caídos. Além de uma impressionante coleção de estátuas, nem todas dos heróis soviéticos derrubados, esta parte do grande espaço verde que é o parque Gorki, é ocupada pela Moderna Galeria Tretyakov e também pela casa dos artistas.
Antes de ir visitar o parque, fui à galeria Tetryakov, a antiga, ou a clássica, como quiserem que apresenta uma coleção magnífica de quadros de pintores russos do século 11 ao início do século 21. Se me conhecem sabem que sou pouco apreciadora de arte que não a moderna e contemporânea, mas lá fui. Acordei tarde e achei que era um bom plano. Perdi o pequeno almoço no hotel e era meio dia e meia quando bebi um sumo de laranja e um croissant e um expresso, no café da esquina. Depois, tendo aprendido a lição breve que um rapaz me deu sobre os anéis de Moscovo e as linhas de autocarro, assim como a das imensas e rapidíssimas escadas rolantes do metro de Moscovo (de que tenciono afastar-me),apenhei o M5 para Tretyakovskaya.

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From Russia, with love #2 (Moscow)

‘May God be always with you’…

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… foi o que me disse a senhora, abraçando-me suavemente para minha surpresa, à entrada da praça vermelha, junto ao ‘quilómetro zero’, o ponto a partir do qual se medem todas as distâncias desde Moscovo. Estava a admirar o que faziam as pessoas no ‘quilómetro zero’. Basicamente colocavam-se no centro e atiravam uma moeda para trás das costas. Perguntei ao rapazinho que estava ao meu lado o que era aquilo, que significava. Ele disse que não falava bem inglês, mas percebi perfeitamente quando me explicou que era o ‘quiómetro zero’. A conversa continuou de uma forma estapafúrdia. Ele falava sobretudo em russo, tal como a mãe, e eu em inglês. Seja como for entendemos-nos e eu percebi que as pessoas faziam aquilo para dar sorte.

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From Russia, with love #1 (Moscow)

‘Good luck’ disse-me o homem, enquanto fechava a porta do táxi

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… entendi aquilo como uma ameaça qualquer, não sei explicar porquê. Talvez fosse apenas por serem duas da manhã em Moscovo, mais uma que em Cracóvia, de onde chegava e mais duas que em Portugal de onde saí há sete dias. Talvez fosse apenas porque estava muito cansada de levantar voo e aterrar e esperar em aeroportos horas infinitas por aviões atrasados. Talvez fosse porque, mal aterrei, me propuseram um táxi para a cidade ao preço de 5000 rublos (75 euros) e ainda talvez fosse porque ninguém falava inglês convenientemente, mesmo no aeroporto. Talvez fosse também porque, quando saí do aeroporto, depois de ter encontrado uma companhia de táxis que me pediu 1700 rublos (25 ou 26 euros), chovia.
 
Tive de esperar, com outras pessoas, debaixo de uma chuva ainda miudinha, mas que haveria de se tornar mais copiosa, pelo táxi que demorou uns bons minutos a aparecer. O rapaz da companhia deu o endereço ao rapaz do táxi que pareceu (talvez fosse de tudo o que descrevi acima) não saber onde era. Eram duas e qualquer coisa da manhã e o aparente desnorte do condutor preocupou-me. O rapaz da companhia fecha-me a porta do táxi e atira-me ‘good luck and enjoy the streets of Moscow’. Podia ter achado simpático – provavelmente foi – mas achei apenas ameaçador.

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História de um cão moscovita

Malchik (“Menino”, em russo) tem uma estátua na estação de metro de Mendeleyevskaya, em Moscovo. Era ali que vivia e foi ali que morreu, assassinado. Era um cão rafeiro, de pêlo negro, e viveu na rua até procurar refúgio na estação. Tornou-se conhecido dos utilizadores do metro por guardar a estação do ataque de outros cães e afugentar os bêbedos que provocavam desacatos. Quem passava por ali todos os dias deu-lhe um nome, fazia-lhe festas, levava-lhe comida.

Estima-se que vivam nas ruas de Moscovo cerca de 35 mil cães. Destes, cerca de 500 vivem nas estações de metro, um número impressionante se tivermos em conta que a cidade conta com um total de 200 estações. E entre estes, um número reduzido, aí uns 20, usa o metro para deslocar-se na cidade, um feito notável e que tem chamado a atenção dos estudiosos do comportamento animal. Imaginem um cão capaz de usar escadas rolantes, de escolher a linha de metro e a estação em que deve sair. Que não se assusta com o ruído da locomotiva, com a hostilidade do ambiente, que, seja pelo cheiro ou porque reconhece o nome da estação quando pronunciada pelo aviso sonoro, ou ambos, consegue orientar-se no labirinto subterrâneo. [Read more…]

Notícia de última hora!

Moscovo perde contato com satélite militar. Efectivamente: contato.

P183, o pintor que saiu do frio

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Chamam-lhe o Bankski por comparação com o artista de Bristol e ataca nas ruas de Moscovo. Consta que tem 28 anos e se chama Pavel, o que sabemos é que assina P183, e nos aparece como mais um génio das artes plásticas contemporâneas, feitas no único espaço onde a arte ainda faz sentido: a rua.

Deixo-vos também dois vídeos: [Read more…]

Terrorismo Islâmico em Moscovo

Trés dezenas de mortos e centenas de feridos em mais um ataque suícida em Moscovo. Em plena hora de ponta com o metro cheio de gente, cujo o único crime que comete é ir para o trabalho todos os dias, duas mulheres com cintos explosivos fizeram-se explodir.

Segundo a polícia e as autoridades de Moscovo trata-se de mais uma manifestação dos movimentos independentistas de Regiões que reinvindicam a independência face a Moscovo.

O Presidente Russo aponta como objectivo do ataque desestabilizar a paz que se vive no país e criou uma célula para gerir a crise. Um minuto de silêncio foi guardado em memória das vítimas.  As autoridades tentam passar a ideia que estes movimentos são já muito residuais.

Vídeo pornográfico atrapalha trânsito

Era o fim de um dia normal, igual aos outros. Igor Ivanovich saiu tarde do trabalho e dirigia-se para casa. Em Moscovo, nesta época do ano, a noite cai cedo, Igor faz o mesmo percurso cinco vezes por semana.  À entrada do túnel Serpukhovski foi obrigado a parar. Um engarrafamento. Merda, mais um acidente, pensou. Alguns automobilistas abriam as janelas e punham a cabeça de fora. Olhavam todos na mesma direcção e Ivanovich imitou-os. Arregalou e esfregou os olhos, primeiro por não acreditar, depois para ver melhor. Mas, ver melhor o quê? Isto, no gigantesco painel publicitário! Uma pequena diferença num dia absolutamente normal.