Ah, o Halloween, essa tradição bem portuguesa

Lembro-me como se fosse hoje. Vestia-me de feiticeiro, com uma capa preta e o inevitável chapéu em forma de cone. Pegava numa pequena vassoura com a mão direita e num globo de neve com a esquerda, a simular uma bola de cristal. Era assim que saia à rua, par a par com outros miúdos da vizinhança. Corria as casas das redondezas a pedir doçuras e a prometer travessuras.

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Normalmente corria bem e os índices de açúcar no sangue subiam mais depressa que um foguetye em madrugada de ano novo. Um dia, o senhor Mota, dono de um belo Toyota vermelho, não quis dar nem um rebuçado da Régua, nem um mísero rebuçado do Dr. Bayar. Insistimos, chegamos a pedir por favor, primeiro, e a ameaçar uma travessura, depois. Nicles. O velho estava a pedi-las. Pimba! Uma pedra mágica voo em direcção ao vidro do retrovisor do lado do condutor e ele não resistiu. Partiu-se. Uma pequena grande tragédia. Houve o regabofe no momento da magia mas uma grande preocupação quando o Tó, o mais velho do grupo, disse, em voz grave e algo trémula, que partir um espelho equivalia a sete anos de azar.

O velho Mota nunca soube como o espelho se partiu. Ainda desconfiou de nós mas depois acusou o ex-namorado da filha, a Rute. O bandidola do Rui foi apontado como o culpado para todo o sempre.

Nós ficamos apenas com medo dos tais sete anos de infortúnio. Acho que são estes. Chegaram ao retardador mas não faltaram.

Foram bons tempos. Muitas festas de Hallowen na escola, muitas actividades sobre o dia das bruxas, trabalhos de casa sobre as maiores maldades que se poderiam fazer. Ah, saudades… Olhando o passado verifico que essas tradições bem portuguesas perderam algum fulgor em benefício de algumas americanices, coisas importadas das terras do tio Sam.

Mas nem tudo está perdido, dentro de poucos dias vamos lambuzar-nos com um peru assado à maneira, como deve ser em cada festa do dia de acção de graças. Mal posso esperar.

P.S. Esta é uma obra de ficção. Qualquer semelhança com acontecimentos reais é tanga. E ao contrário do que se pensa, esta é uma tradição de origem celta.

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