Os dias são nossos. Todos os dias são nossos.

Não sei bem qual delas admiro mais: se a minha avó Maria, que pariu 13 filhos sozinha e ainda ajudou a nascer meia aldeia; se a minha avó Leontina, que pariu apenas 10, 8 dos quais ao lado da minha mãe, numa esteira, no chão (“mandava-me ir chamar a tia Amélia e eu já sabia para que era”), que percorria os 20 km que separam Antões de Pombal com um cesto de laranjas à cabeça, para vender nos tempos de fome; se a avó do meu homem (que também foi muito minha, nos anos em que convivemos), que ficou viúva aos 32 anos, com cinco filhos e sem qualquer ajuda; ou a minha mãe, uma muralha à prova de tudo.

Na minha família as mulheres têm tão mau feitio que nunca qualquer homem ousou desafiar-lhes limites, nem pisar o risco. Se o fizesse, tenho a certeza de que acabava partido aos bocados. Sempre ganharam o seu próprio dinheiro, sempre trabalharam muito, em casa e no campo, nas casas dos outros, nas fábricas, nos escritórios, nas escolas, onde houver trabalho e onde for preciso. Nunca os homens ousaram mandá-las calar, porque qualquer um que se aproximou delas percebeu ao que ia.

A minha mãe sabe que eu não concordo nada com a forma como a maioria decidiu assinalar o Dia Internacional da Mulher e não se rala nada com isso. Logo à noite lá vai ela para um desses jantares. A liberdade também se faz dessas diferenças, afinal.

Depois há muitas que eu admiro, à minha volta, e que nunca são evocadas nos poemas nem nas músicas. Luísas de muitas calçadas que nunca desistem. Seria nessas que pensava madre Teresa de Calcutá quando escreveu estas linhas.

Tenhas sempre presente que a pele se enruga, o cabelo branqueia, os dias convertem-se em anos …
Mas o que é importante não muda; a tua força e convicção não têm idade.
O teu espírito é como qualquer teia de aranha. Atrás de cada linha de chegada, há uma de partida.
Atrás de cada conquista, vem um novo desafio.
Enquanto estiveres viva, sente-te viva.
Se sente saudades do que fazias, volta a fazê-lo.
Não vivas de fotografias amarelecidas…
Continua, quando todos esperam que desistas.
Não deixes que enferruje o ferro que existe em ti.
Faz com que em vez de pena, te tenham respeito.
Quando não consigas correr através dos anos, trota.
Quando não consigas trotar, caminha.
Quando não consigas caminhar, usa uma bengala.
Mas nunca te detenhas!

 

Comments

  1. vitor alpendre says:

    “não deixes que enferruja o ferro que existe dentro de ti…”
    bonito, forte! Um abraço de solidariedade.