O Presidente da República pediu aos portugueses um governo estável e duradouro. Em poucas palavras, pediu aos portugueses uma maioria absoluta, fosse ela oferecida à Coligação ou ao Partido Socialista. Um pedido veementemente repetido na sua mensagem antes das eleições legislativas. Os portugueses, esses teimosos, não lhe fizeram a vontade.
Depois de apurados os resultados, o Presidente da República, transformou o pedido em exigência aos partidos com assento parlamentar. A Coligação tentou mas não conseguiu. O Partido Socialista tentou e, aparentemente, conseguiu. Perante este cenário ao PR só restava um de dois caminhos: ou entender que o acordo apresentado pelo PS não era suficientemente cumpridor dos seus requisitos e nomear para Primeiro-ministro o líder do partido mais votado, no caso, Passos Coelho ou então, entender que o PS tinha conseguido a tal maioria absoluta (com o apoio do BE e CDU) e dar posse a António Costa. Até aqui, tudo muito bem. Cavaco Silva optou pela primeira hipótese e, sobretudo, em devolver à Assembleia da República a decisão soberana. Mas….
Pois é, infelizmente e como é hábito nosso, existe sempre um “mas”. O Presidente da República “borrou a pintura” com o seu discurso. Ontem, Cavaco Silva, informou os portugueses que não considera o BE e a CDU como dignos de fazerem parte seja de um governo, seja de um acordo de governo de mera incidência parlamentar. No fundo, explicou que quase 20% dos portugueses que cumpriram o seu dever cívico de ir votar são incapazes. E foi mais longe, de forma implícita, apelou à rebelião dentro do grupo parlamentar do PS. Pelo caminho, acaba de considerar António Costa igualmente incapaz. E com isso fez um enorme favor à esquerda. Enorme.
Alguns amigos de direita, pelo que me foi dado a ver nas redes sociais, não perceberam (na minha opinião) o que aconteceu ontem. Bastava ao Presidente da República tomar a decisão de nomear Pedro Passos Coelho, com a justificação da tradição na nossa democracia de governar quem ganha as eleições e depois esperar para ver o que aconteceria no seio do grupo parlamentar do PS. Acreditando nas conversas de salão de Lisboa (e o Presidente acreditou) alguns deputados do PS (os suficientes para a PàF) e o PAN iriam deixar passar o programa e até o orçamento. O problema ficaria resolvido para 2016 e a purga interna no PS que se seguiria trataria de resolver a questão para 2017 e 2018, no mínimo. Bastava a Cavaco Silva falar pouco e decidir bem.
Mas não, o que Cavaco Silva fez ontem foi acentuar a divisão do país em direita dura e esquerda dura. Transformou tudo numa espécie de Porto-Benfica que não interessa a ninguém. Humilhou o PS e António Costa, atacou violentamente o Bloco de Esquerda e a CDU e desrespeitou uma parte significativa dos eleitores portugueses. Com isso o que vai conseguir? Unir a esquerda e embaraçar a direita. Afirmando o que afirmou ontem perante os portugueses, colocou a oposição interna a António Costa numa situação delicada – se forem contra a disciplina de voto em vez de serem vistos como uma espécie de “patriotas” passam a reles traidores. Ao atacar o Bloco e o PCP da forma que o fez transformou-os em vítimas e deu-lhes uma importância bem superior àquela que os portugueses lhes atribuíram no passado dia 4 de outubro. E embaraçou a direita, pelo menos a direita porque entregou de mão beijada à esquerda o poder executivo nos próximos, pelo menos, três anos.
Mas posso estar equivocado, admito.
Os nossos raciocínios vão no mesmo sentido, https://cefariazores.wordpress.com/2015/10/22/o-presidente-da-republica-asfixiou-ou-oxigenou-a-coligacao-de-esquerda/
Depois do dia de ontem, e de todos os que o antecederam, considero impossível ajudar o Prof. Cavaco a acabar com dignidade o seu mandato. Aliás, um mandato que começou sem dignidade e que sem dignidade continuou não poderia terminar de outra forma. Como Pilatos, Cavaco lavou daí as suas mãos e, sabendo que a solução é a mais instável entre todas as possíveis, persistiu na sua condição de chefe de facção (“de seita” disse ontem Catarina Martins na sua entrevista à TVI), procurando pressionar o PS e marginalizar definitivamente BE e PCP. Nada que não se esperasse de alguém que nunca soube dignificar o cargo.. Já agora, e para aliviar o tom negativo deste comentário, deixo algumas sugestões para o elenco do próximo governo pafioso:
– Ministro das Finanças : Oliveira e Costa
– Ministro da Economia : Dias Loureiro
– Ministro da Educação e Ensino Superior : (obviamente) Miguel Relvas
– Ministro da Justiça : Duarte Lima
– Ministro para os Refugiados Sírios e Vistos Gold : Miguel Macedo
– Ministro do Ordenamento do Território : Marco António Costa
– Ministro do Trabalho : Carlos Silva (o da UGT)
– Ministro da Solidariedade Social : o Peixoto da Guarda (o tal do “cisma Grisalho”)
– Ministro da Informação e Propaganda : Fernando Lima
Para os restantes Ministros e “ajudantes” deixo o critério de nomeação a cargo do Prof. Silva
Elenco governativo inultrapassável. Do melhor que existe neste reino, à beira-mar plantado. Muito bem apanhado!
Partilho o agradecimiento a Cavaco. Nao precisou de estar bêbado para mostrar o que lhe vai na alma.
Cavaco, neste memorável discurso, ‘falou oralmente’?