Os cães ladram e as panelas da família Soares passam

JS

A panela obtida pelo filho de João Soares na CM da Lisboa é duplamente interessante. É interessante, por um lado, porque demonstra que o clientelismo está vivo e de boa saúde no seio do PS. Nada de novo. Interessante também é verificar o regresso da máquina de propaganda da direita a estes temas, depois de um silêncio ensurdecedor de quatro anos. Já tínhamos saudades deles.

É daquelas coisas que muito me agrada nesta casa: não servimos clientelas. Aqui o tacho do filho do Soares merece destaque como o tacho do filho do Durão. Noutras latitudes, em blogues e “jornais” afectos a partidos políticos como o PSD e o CDS-PP, rara foi em vez em que alguém abriu o bico para aborrecer o dono. Das castas à prova de austeridade que enxamearam a Administração Pública aos tachos e aumentos pré-eleitorais, toda a rede de propaganda do anterior governo, dos opinadores apaniguados aos bloggers sediados em gabinetes governamentais, se manteve calada e obediente como puppies amestrados que são. Umas jóias de moços.

Mas nem só de tachos se fazia o silêncio dos cobardes habitantes do ministério da propaganda passista. Havia toda uma cobertura da vida nebulosa do Sócrates mas nem uma palavra sobre o Marco António Costa. Havia o Vara mas pouco ou nada se dizia sobre o Dias Loureiro. Havia o passado sombrio do Soares e a sacro-santidade de Cavaco. Agora rasgam-se vestes quando António Costa sugere que se fume menos ou se use mais os transportes públicos mas não se lhes ouvia um latido quando Pedro “Tecnoforma” Passos Coelho sugeria mais emigração e menos direitos laborais. Nem quando fugia aos impostos. Nem quando fazia fretes por ajuste directo ao ex-patrão. Nem quando pagou à malta do Relvas para ficar com o Efisa. Nem quando mentiu para ser eleito. Nem quando se arranjavam tachos de especialista para o acompanhamento do “plano de ajustamento” a jotinhas recém-formados. Pudera! E depois, quem lhes dava o biscoito?

Depois de quatro anos de conivência com os mais variados esquemas, os próximos quatro prometem. Quanto ao alegado tacho do Soares-neto, que dizer? O óbvio claro está: que trasanda a tráfico de influências, que o salário de 2800€ por mês é um insulto para a minha geração (a mesma que a do privilegiado), ainda por cima pago por uma autarquia sobreendividada, que ainda ontem era presidida pelo actual primeiro-ministro que nem de propósito até precisou do apoio de João Soares, outrora um segurista convicto (terá sido prémio de assinatura?), que a casta soarista está em grande forma e que tudo isto me mete muito nojo. E se o nojo não fosse por si só suficiente, o simples facto de João Soares sair a correr para dizer ao mundo que é muito sério e que toda esta história é uma espécie de cabala do grande José António Cerejo é, por si só, revelador. Até porque, num país de compadrios e de culto do senhor doutor, o seu filho nem precisa de uma cunha formal. O simples facto de fazer parte do clã chega.

Foto@TVI24

Comments

  1. tancredo says:

    Se uma Empresa não deve ser administrada segundo os interesses do seu dono, porque é um perigo, aldrabam as contas, colocam o dinheiro lá fora.
    Uma Câmara por maioria de razão deve ter isso em conta, é um perigo, esses colocam os filhos lá dentro.
    .
    Sem concurso público? Que vergonha!

  2. jpfigueiredo says:

    Os gabinetes executivos fazem-se de relações de confiança pessoal. Neste caso, o filho do João Soares, que até parece ter um currículo bastante razoável para o trabalho que vai desenvolver, terá sido convidado para integrar o gabinete da vereadora. É assim desde tempos imemoriais e de acordo com legislação especificamente aplicável a este tipo de contratações. Não faria qualquer sentido o concurso público, que levaria a resultados parecidos, com a agravante de toda a hipocrisia subjacente. Por isso, não me parece que aqui haja quer ilegalidade quer alguma imoralidade. Não se pode comparar o caso do filho do João Soares com o caso do filho do cherne. Este foi por convite directo para o Departamento de Supervisão Prudencial do Banco de Portugal, um órgão independente, que não contrata habitualmente senão por concurso público. Este foi cunha e da grossa. O outro, circulava nas imediações do carrossel e foi apanhado. Dito isto, não deixa de ser censurável que não existam critérios objectivos para aferir a pertinência destas contratações, designadamente em matéria de necessidades efectivas dos serviços, de aferição de competências para o exercício dos cargos e de sindicância dos resultados. São dinheiros públicos que andam a rolar sem qualquer escrutínio substantivo e isso não se admite num regime democrático.

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