O “Bardo” tunisino. Razões para o massacre.

O massacre do Museu do Bardo (21 mortos), em Tunes, tem razões claras, as quais tentarei sintetizar de seguida, sem no entanto cair no simplismo.

1º Há dúvidas sobre se o objectivo seria verdadeiramente o museu, ou o Parlamento, muito próximo (aliás a notícia começa a ser veiculada como sendo um ataque ao Parlamento), no qual decorria a votação de uma lei anti-terrorista. É esta a convicção do Ministro dos Negócios Estrangeiros Taieb Baccouche e de muitos outros tunisinos; [Read more…]

Alô-alô? Klop!

Aguardamos ansiosamente os furibundos protestos de uma certa esquerdinha que quanto a este tipo de nefastíssima seitazita, mantém-se sempre ceguinha, surdinha e mudinha. Vá lá, expliquem-nos o que se passa e o que se pode fazer.  Não, desta vez “os sionistas” não têm qualquer culpa.

Retrocessos da civilização

Há 56 anos, a mulher tunisina alcançava o “mais avançado estatuto entre todas as mulheres dos países árabes: a igualdade de género“.

Hoje, o actual governo pretende a «islamização» do país e os tunisinos não estão pelos ajustes. Já houve manifestações na rua.

Os tunisinos exigem a alteração de um artigo da futura Constituição em que a mulher surge não como igual mas como «complementar ao homem». Escreveu-se já que esta posição do governo é uma “nova ditadura baseada na religião”.

Ao mesmo tempo que está em debate a alteração à Constituição, a atleta tunisina Habiba Ghribi dedicou a sua medalha olímpica (a primeira mulher na história do país a conseguir uma) às tunisinas e a uma «nova Tunísia». É preciso dizer que a Tunísia ganhou apenas 3 medalhas nestes Jogos Olímpicos sendo que, então, uma delas é de Habiba! Nada mal!

Muitas vezes as mudanças não se fazem para melhor, como é o caso.

Volta-se para trás, retrocede-se, perde-se, de um dia para o outro, aquilo que alguém (ou muitos e ao fim de muito tempo) conquistou.
Já vi isto em qualquer sítio

o real dos pais – caim e abel

lita pelo lucro que dura uma eternidad, como o dia de hoje

Retirado do meu livro O saber das crianças e a psicanálises da sua sexualidade

Durante anos de textos, em todos eles, como ao proferir conferências, costumo dizer que toda a sociedade tem duas culturas, a do adulto e a da criança e que ambas as culturas estão entrelaçadas e que para entender uma, é preciso entender a outra no seu comportamento e na sua epistemologia. Ao escrever este livro as minhas dúvidas fizeram-me pensar outra vez e hoje eu diria que toda sociedade tem adultos e crianças, hierarquizados pela forma de materializar os seus sentimentos em emoções diferentes, como acontece em diferentes culturas em todo o mundo. [Read more…]

O comentador Pinguim sobre as visitas de Sócrates

o comentador pinguim - as visitas de sócrates

Banalização "à Ben Ali"

Segundo diz Vasco Pulido Valente, o dr. Mário Soares vai à Tunísia. Não, desta vez não parte em turismo seichélico, nem leva comitiva de cento e tal convivas. Basta-lhe a companhia dos senhores António Vitorino e Cravinho, garantindo copiosa ora em conferências conselheiras acerca da “desejável transição ” da Tunísia para a democracia. Sim, leram bem: vão aconselhar os tunisinos acerca da construção de uma “democracia de sucesso! É claro que terão rivais de peso, nas pessoas de enviados espanhóis.

Dada a evolução de Portugal e de Espanha, sugerimos aos locais, a atenta escuta da algaraviada que será pronunciada em castelhano, pois as razões de sucesso estão mais do lado de lá da fronteira. Para não perderem muito tempo com discussões de “poleiro”, até podem recorrer aos descendentes do Bei de Tunes, ainda residentes junto a Cartago. Foi a deposição de Muhamad Lamine, o facto que elevou o safardanismo de Bourguiba, aos píncaros de detentor absoluto do Estado. Ben Ali não passou de um “caçador-recolector” de serviço e o Museu de Tunes sabe-o bem.

Esperemos que o dr. Soares e os seus convivas, aproveitem para gozar as delícias de antecipado veraneio e informem os atentos tunisinos, acerca da sua profunda e pretérita amizade para com o deposto sr. Ben Ali e manifestem pétrea solidariedade ao Partido do referido cavalheiro. Convém recordar-lhes que tal como o PS e o Partido Nacional Democrático do marechal Mubarak, a agremiação tunisina é membro da Internacional Socialista.

Como corolário do roteiro turístico, recomenda-se uma homenagem na tumba do colega Bettino Craxi, esse imortal vulto do heroísmo de típico recorte siciliano.

Eu vejo este povo a lutar

Anda tudo tão entretido com o Egipto (não confundir com “Egito” que é nome de pessoa, ainda por cima de poeta) que nem se repara no rei da Jordânia que demitiu o governo (antes que o demitam a ele, 1 de Fevereiro é um bom dia para regicídios) e na Síria que já tem a sua revolução marcada para 6ª feira.

2011 começa com um Janeiro a saber a Abril. Dá-me a nostalgia, privilegiado que fui por ter vivido uma revolução na adolescência,  “eu vi este povo a lutar“, e dão-me em cima com os viciados em pânico do costume: os ocidentalistas.

Os ocidentalistas tremem de medo perante o islamismo (como se as religiões não fossem todas iguais e crentes no mesmo deus), os mercados andam aflitos com o petróleo. Já os vi a arrancar o cabelo porque Portugal podia virar a Cuba da Europa (uma tolice pegada: URSS e EUA tinham o seu tratado de Tordesilhas e as jangadas de pedra são um conceito tecnologicamente muito avançado e por enquanto impraticável). É sempre assim. Eu gosto do povo a lutar.

Uma faísca incendiou a pradaria, como dizia o camarada Mao, o incêndio é muito mais rápido do que foi o último movimento revolucionário comparável, o que culminou no derrube do Muro de Berlim. Dali só podem vir coisas boas, porque o que ali estava tinha que ser derrubado. O mundo está a ficar melhor.

A Liberdade no Islão:

Quando olho para o que se passa na Tunísia e no Egipto fico moderadamente optimista. Um optimismo fundado no que vi e ouvi dos manifestantes muçulmanos em Londres, uma vontade genuína de Liberdade.

Ingenuidade minha? Talvez. O que querem, por exemplo, os muçulmanos egípcios e tunisinos que vivem em Inglaterra e que estavam na manifestação pelo fim das ditaduras no mundo árabe? O mesmo que os seus irmãos em França, na Alemanha ou nos EUA: uma vida melhor para os seus na sua terra. Sem entrar em grandes filosofias ou teorias políticas: querem comprar um bom carro, comer em restaurantes, ir ao cinema, ter um iPhone e navegar na internet. Querem ter aquilo que nós temos e que muitas vezes nem damos o devido valor tal a forma como o nosso estilo de vida se generalizou na nossa sociedade. Eles querem viver.

E esse querer, fundado na sua experiência de vida no mundo ocidental, deve-nos obrigar a ajudar a que assim seja e a melhor ajuda que podemos dar é a nossa abstenção construtiva. Ou seja, não interferir, não voltar a ter tiques imperialistas. O lado mais fundamentalista e radical do islamismo só pode ser combatido pelos muçulmanos moderados. É uma batalha entre irmãos, entre homens e mulheres do Islão. A interferência, constante, dos principais actores políticos ocidentais deu sempre asneira e prejudicou os moderados em favor dos radicais. Será que já aprendemos a lição da história?

Obviamente, o perigo de um assalto ao poder por parte dos radicais existe mas os jovens e as mulheres que protestam na rua contra a ditadura fazem-no por uma genuína vontade de mudança e um objectivo claro de liberdade e esta adquire-se lutando e perde-se se imposta de fora para dentro.

Egipto, Tunísia e Países Árabes: a Revolução Dominó

Depois de fazer tudo o que os tiranos sempre fizeram nestes casos, -a velhinha repressão musculada, detenções arbitárias, etc. – o regime de Hosni Mubarak avançou com as medidas que os tiranos de hoje em dia tomam e cortou o acesso à internet e telemóveis. Mohamed ElBaradei, que regressou ao Cairo e se colocou ao lado dos protestantes, parece estar em prisão domiciliária (segundo a Antena1 há momentos), ao contrário do que afirmam notícias como estas.

As confrontações estendem-se já a várias cidades do país e vão continuar a alastrar. Depois da Tunísia e do Egipto, as manifestações por uma mudança de poder começam a fazer ouvir-se no Iémen e noutros países árabes.

Sem pretender fazer futurologia e sem arriscar prever o que se seguirá ou que tipos de regime surgirão, é certo que a geografia política do Norte de África e Médio Oriente está a mudar nestes dias. Está a fazer-se história nas ruas e assistimos em directo a uma revolução-dominó. [Read more…]

Davos serve-se fria e o Magreb a ferver

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Davos, estância de neve suíça, é outra vez cenário do Fórum Económico Mundial. O acesso de contestatários às proximidades do local é interdito. Um militar de arma alçada é a força dissuasora. Há que proteger banqueiros, empresários e políticos. O ambiente de serena reflexão é imprescindível. Permite a crueldade da continuidade e, de resto, Davos serve-se fria.

Os homens das finanças e dos negócios, em Davos, não dispensam a  participação de políticos. Além de outros, compareceram Merkel, a proprietária do euro, Sarkozy, o presidente mais cabotino da história republicana francesa, e Cameron, um PM britânico gentil e sorridente, ainda que longínquo da capacidade de Blair, no número de sorrisos por segundo. De realçar que Merkel, Sarkozy e Cameron comungam de ideais do neoliberalismo e do nefasto modelo de globalização que arrasa a vida a milhões de seres humanos.  Porém, existe outro fenómeno comum entre eles,  o desemprego; Alemanha, França e Grã-Bretanha orbitam à volta de idêntico número de desempregados:  4.000.000 em cada país. Ainda agora, Sarkozy viu agravar-se a taxa do desemprego. É a Europa no fulgor da desgraça. [Read more…]

Este inverno as revoluções andam pelo sul

egypte_manif_inside Sabe bem o Mediterrâneo a pedir mudança. A Europa mediterrânica está a ficar entalada entre o norte que a empurra para o sul da falência, e o seu sul, o norte de África que descobre que para mudar é preciso vir para a rua. Depois da Tunísia vem o Egipto. Há 2000 anos éramos províncias  do mesmo império.

Visionário!

Sócrates, há cinco anos “gritou três vezes, três vezes se  ergueu e disse” Espanha! Espanha! Espanha!

Acaba de vir da Tunísia e de Marrocos com mais uma extraordinária vitória da “Diplomacia económica” com dezenas de empresários, tudo sôfrego a ver se não deixam para trás os contratos, tantos são eles.

Antes, passou pela Venezuela onde vendeu “magalhães” como pãezinhos e o Grupo Lena até gastou uns milhões a preparar um contrato de muitos milhões de casa sociais que nunca serão construídas.

Este político é um estadista, é um homem que vê longe, um Visionário! Que ideia fazia ele da situação de Espanha, há anos com problemas graves na sua economia e com altos índices de desemprego? Nesta situação a que título se lembrou ele “três vezes” de Espanha?

Saberá ele que quem abraça não é Juan Carlos, mas Kadafi ?