Paulo Rangel e o equívoco de Madrid

E assim, de repente, vejo o Professor Doutor Paulo Rangel na televisão portuguesa aos berros num inenarrável castelhano em plena manifestação das direitas espanholas, em Madrid. Porquê?

O Partido Popular espanhol ganhou as últimas eleições legislativas espanholas. Contudo, não conseguiu a maioria absoluta. Nem somando os deputados eleitos pelo VOX. Ao todo, entre PP e VOX, 11 milhões de eleitores votaram na chamada “direita” e assim elegeram 169 deputados. Por sua vez, o PSOE e o SUMAR, as “esquerdas” somaram pouco mais de 10,7 milhões de votos e 153 deputados. Porém, o somatório dos partidos chamados “independentistas” que vão da Catalunha ao País Basco passando pela nossa bem conhecida Galiza, conseguiram mais de 1,5 milhões de votos. Ou seja, as esquerdas, em conjunto com os independentistas, conseguiram atingir a maioria absoluta e, dessa forma, o PSOE e o SUMAR formaram governo, recentemente empossado e representando mais de 12,5 milhões de eleitores. Eu não vou nem aqui nem agora discutir a “bondade” ou “maldade” da decisão. Em Espanha, a exemplo de Portugal, existe uma democracia e, de quatro em quatro anos, no mínimo, os eleitores são chamados a votar e decidir. Permitam-me apenas um pequeno esclarecimento, muito pequeno: tenho visto muitos comentadores televisivos, em Portugal, a dizer que o acordo com os independentistas foi uma surpresa para o eleitorado espanhol. Vivo em Espanha há mais de sete anos, antes disso estudei em Espanha e, tanto por questões familiares como até profissionais, sempre tive uma grande proximidade e um razoável conhecimento da realidade espanhola. Ora, afirmar que foi uma surpresa é, no mínimo, atrevimento. No passado, até o PP se aliou com os independentistas da Catalunha e do País Basco e, mais recentemente, o PSOE governou com o apoio de todos eles. A surpresa, a ter existido, foi o PP não ter conseguido ter maioria absoluta, nem somando os seus deputados aos do VOX…

Porém, o meu artigo não é sobre o resultado das eleições espanholas. É sobre um outro facto: o de ter visto Paulo Rangel, vice-presidente do PSD, a discursar numa manifestação muito particular realizada em Madrid no passado fim de semana. Não se confundam, não era um comício do Partido Popular – e, mesmo que fosse, já teria muitas reservas em concordar – foi uma manifestação convocada por associações “cívicas” espanholas ligadas à direita e à extrema direita espanholas com o apoio do PP e do VOX. Vou repetir, organizada por associações cívicas de direita e de extrema direita. E a extrema direita espanhola é muito peculiar. Uma parte, muito pequena, do PP e mais robusta do VOX olha para Portugal de uma forma pouco….como direi….agradável. Não é a primeira vez, nem a segunda, tão pouco a terceira que surgem textos, panfletos ou cartazes dessas “direitas” em que no mapa de Espanha está incluído como parte integrante desta o nosso país. Quem está atento a algumas páginas de Facebook destas “direitas” espanholas onde estão alguns, poucos, militantes do PP e muitos do VOX e imensos membros de algumas das tais plataformas “cívicas” que organizaram a referida manifestação, sabe que o “apetite” pela integração plena de Portugal como região de Espanha não é nem escondido nem tão pouco disfarçado. Obviamente, os mais desmiolados da turba até advogam o uso da força se necessário. Mas “tolinhos” existem de ambos os lados. Só isto já deveria criar desconforto suficiente para um vice-presidente do PSD não se misturar em semelhante. 

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Serviço público: a lição de demagogia de Miguel Pinto Luz

No rescaldo das eleições espanholas, que tem como desfecho mais provável a repetição do sufrágio, uma boa parte da direita portuguesa viajou no tempo, até 2015, e perdeu-se na boa velha ignorância sobre o funcionamento da democracia representativa. Ou então, influenciada pelos seus novos potenciais parceiros, deixou-se levar pelo populismo mais básico e infantil.

E porque chora essa direita?

Chora porque os seus amigos do PP venceram as eleições, mas não têm uma maioria para governar. Apesar do contributo dos neofranquistas do Vox.

É uma daquelas coisas chatas da democracia representativa: não governa quem fica à frente. Governa quem tem maioria no Parlamento. Porque são deputados que se elegem em Legislativas, não governos.

Aliás, não existe eleição alguma, em Espanha ou Portugal, para eleger um governo. Os governos, cá como lá, são uma emanação da arquitectura parlamentar. Governa quem consegue apoio maioritário para ser investido, no hemiciclo ou nas cortes.

E de pouco interessa, caras pessoas, se existem “pessoas que acham que votam em governos”. Também existem pessoas que acham que podem estacionar em cima do passeio, que o fazem impunemente, mas isso não as livra de levar uma multa. Mesmo que seja a primeira vez. [Read more…]

Fascistas odeiam livros

Em Espanha, as primeiras medidas adoptadas pelos novos executivos locais e regionais PP/Vox consistiram na censura de várias formas de expressão artística, da obra Orlando, de Virginia Woolf, ao filme de animação Lightyear. E é natural que assim tenho sido. Quando a direita moderada fica refém da extrema, o resultado não pode ser outro. Os fascistas, para prosperar, precisam de um povo tendencialmente estúpido. Não surpreende que os livros sejam seus inimigos.

Guerra Ayuso vs Casado….

….and the winner is:

Defenestrem-se os Vasconcelos! Viva a Restauração!

Passaram 381 anos desde que atiramos o Vasconcelos pela janela e começamos a chutar os espanhóis para o lado deles da fronteira. E nada contra os espanhóis, que tenho lá bons amigos, tudo gente do melhor que há. Mas Portugal não é Espanha e nós já não temos idade – já não tínhamos, em 1640 – para brincar às anexações. Muito menos para ser anexados.

Por falar em anexações, quem volta e meia brinca com o tema é o partido neofranquista Vox. Ainda há dias voltaram a fazer um daqueles mapas, inspirados no período cujo o fim celebramos hoje, onde Portugal surgia como um território sob domínio da coroa espanhola. Bourbons por Bourbons, prefiro os de Linhaça. Mas, se quiserem, podem anexar André Ventura, que para autoproclamado nacionalista e defensor da pátria, executa um “Viva a Espanha” bastante convicto. E suspeito.

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Crónicas do Rochedo 45: Aqui está o efeito Ayuso

No passado dia 17 de Abril escrevi uma crónica com o título “A carteira é quem mais ordena ou o efeito Ayuso“. A crónica mereceu uma audiência surpreendente e eu, enquanto seu autor, levei porrada de criar bicho na respectiva caixa de comentários. E porquê? Porque escrevi que Isabel Diaz Ayuso iria esmagar a concorrência e ter um resultado histórico.

Um anónimo com nome de apóstolo comentou que eu não era sério na análise. Um outro acabou por ir em “Paz”. Nem voltei a falar no tema. Eu sabia que bastava esperar por hoje. Afinal… Ayuso conseguiu ter ainda mais votos do que aqueles previstos em Abril. A fazer fé em todas as sondagens à boca das urnas publicadas às 19h de hoje, Ayuso sozinha vai ter mais deputados que toda a esquerda junta e terá mais de 43% dos votos (numa das mais participadas eleições de Madrid). O segundo partido mais votado é o PSOE com 18%. Em terceiro o Más Madrid com 16%, em quarto o VOX com 9,2%, em quinto o Podemos com 7,9% e por último o Ciudadanos com 3%. Se isto não é esmagar… Ayuso foi buscar votos ao Ciudadanos (depois de quase desapareceram na Catalunha, repetem o feito em Madrid) e ao PSOE. As razões já estão explicadas no meu outro post (link acima).

A minha opinião sobre Isabel Diaz Ayuso não é a melhor (como referi há muito num dos PodAventar) mas não reconhecer que é corajosa e arrojada seria pouco sério da minha parte. O problema é que o efeito Ayuso não se fica por Madrid. Nalgumas comunidades autonómicas existem movimentos que querem a mesma gestão da crise pandémica que Ayuso seguiu. O que está a tornar complicada a vida para o PSOE em comunidades como as Baleares, por exemplo. Quem ficou, também, com a vida mais complicada é o actual presidente do PP. Ayuso vale mais votos que ele. Já Pablo Iglésias cometeu um erro tremendo. Estava confiante que Madrid o receberia de braços abertos e conseguiria evitar uma vitória de Ayuso e da direita em Madrid. Pode regressar ao seu “chalet” de 700 mil euros num dos bairros mais exclusivos de Madrid e, quem sabe, escrever as suas memórias políticas enquanto olha para os seus vizinhos, eleitores de Ayuso e do VoX. O “Pablo Podemita”, como lhe chamam por aqui, representou o pior da esquerda caviar em todo o seu esplendor.

Quando 16 pontos dá direito a título, será que 15 pontos também pode?

O título da notícia do ECO reza assim: “Sondagens colocam Rio 16 pontos abaixo de Costa“. Um valor que me surpreende. Sendo Rio um verdadeiro zero à esquerda enquanto líder do PSD (e da oposição) a surpresa é Costa só estar 16 pontos na frente.

Só que o título podia ser outro: “Chega de André Ventura já só está a 15 pontos do PSD de Rio”. E isto sim, é surpreendente e assustador. O problema de Rio ser o presidente do PSD não é o de ser uma garantia de vitória para Costa. Não. É o de estar a tornar o PSD tão insignificante que até o Chega se está a aproximar. Dirão alguns que não passa de uma sondagem e de um momento. Foi o que pensaram os do Partido Popular em Espanha sobre o VOX e agora, nas últimas sondagens, aparece o PP com 19% e o VOX com 15%.

Ou os militantes do PSD se organizam e tiram de lá o Rio ou vão todos ao fundo com ele. Neste momento o PSD é o Titanic da política portuguesa e o maestro Rio continua a tocar. Valha-nos Deus…

 

(cartoon palmado AQUI)

Nuno Melo não tem a certeza de que o Vox seja de extrema-direita

E já que os comunistas também não têm a certeza de que a Coreia do Norte seja uma ditadura, parece-me que estão quites.