FALANDO SOBRE TRANSPORTES. AS FALÁCIAS DO MOPTC (3ª PARTE) – VI

A renovação de um contrato baseada num projecto virtual

Por último, a APL procura responder às perguntas mais frequentes, segundo diz; destacamos:

  • Fica-se a saber que irá ser criada uma zona de acostagem e operação de barcaças e um feixe de mercadoria (doca seca). Será construída uma nova estação ferroviária para mercadorias, abaixo do nível do solo, que terá ligação ao futuro nó ferroviário de Alcântara.

Tudo isto é muito bonito no papel e no filme projectado na Exposição organizada pela APL; simplesmente não havendo um projecto ou anteprojecto de engenharia, ou os seus fundamentos, as perguntas serão certamente incómodas e ficarão sem as respostas adequadas.

Nomeadamente quanto à concretização das ligações ferroviárias, no nó de Alcântara, com as linhas Lisboa /Cascais e Alcântara / Campolide, com o caneiro de Alcântara pelo meio, e ao lado, uma espampanante estação ferroviária subterrânea para passageiros e mercadorias, tudo isto implantado numa zona de níveis freáticos elevados, forte risco sísmico e solos com características geológicas difíceis. A propósito onde fica a gare de triagem dos vagões, indispensável?

Ao considerar-se um cais de acostagem com fundos de ordem dos 16,50 m isso implica, certamente, um reforço apreciável dos actuais ou, mesmo, ao sua substituição conforme escrevi em 9 de Outubro p.pº.

E com tantas mexidas no subsolo, será lícito perguntar em que medida elas irão afectar, agravando, as consequências das cheias que ciclicamente afectam a zona de Alcântara,.

  • No que respeita à chamada cortina de contentores, ela já hoje atinge os 5 ou 6 empilhados uns sobre os outros, normalizados, de 20 ou 40 pés de comprimento, uma altura de 9 pés e 6 polegadas (2,90 m) e 2,46 m de largura; daí resulta uma “parede” com 5 x 2,90 = 14,50 m de alto. Os novos pórticos “portainer” atingem os 115 m e conseguem alcançar 20 filas de contentores, dado que têm um alcance de 45 m; portanto, a sua rentabilização levará a uma maior altura no empilhamento e “paredes” cada vez mais espessas.

É claro que não serão as “quatro aberturas” entre os molhes de contentores que irão melhorar o aspecto da muralha de aço aí prevista nem, tão pouco, aliviar substancialmente as lindas vistas; aliás, essas aberturas seriam sempre indispensáveis para permitir o percurso dos “mafis” ou das gruas móveis.

Sugere-se aos snrs. Especialistas que se desloquem sobre o terreno (pessoalmente, como amador, aproveitei uma ida recente a Barcelona) e vejam como esta é uma actividade dinâmica, por vezes febril dadas as poucas horas disponíveis para “safar” um navio, envolvendo também muitos outros meio de transporte em terra (guindastes móveis, pórticos, tractores de rodas ou de lagartas, c.f., camiões, etc.). como á-parte, direi que Barcelona é o 3º porto de contentores de Espanha, em importância, ficando Valência em 2º lugar e Algeciras ocupando o 1º, qualquer deles muito acima de Lisboa ou Sines.

Só para termo de comparação, em TEU´s de 20 pés, aproximadamente, por ano:

Algeciras    … 3.500.000

Valência    …  2.700.000

Barcelona  … 2.200.000

Alcântara   …    250.000

  • Um ponto importante a esclarecer diz respeito ao aproveitamento da linha de Cintura para escoamento dos contentores do terminal ou, então, o seu transporte por via fluvial.

A primeira solução parece-nos dificilmente praticável, dado que esta linha será, julgo eu, preferencialmente aproveitada para transporte de passageiros a distribuir pelas estações da cidade de Lisboa, em concordância com as do Metro.

  • Deste modo, para se evitar a subida exponencial do número de camiões que hoje penalizam fortemente esta zona, há que incentivar a via fluvial, tanto mais que as barcaças podem transportar muitas dezenas de contentores, ao passo que os camiões, regra geral, transportam um só de cada vez.

Contudo, como já escrevi, a solução fluvial envolve a resolução de muitos outros problemas, nomeadamente no que se refere á navegação no rio e, também, ao seu crescente assoreamento como resultado da projectada ponte Chelas–Barreiro.

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