Procurei resistir por achar a coisa um pouco estranha. Entre o piroso e o voyeurismo em voga. Depois achei que estava a ser parvo. A ideia até é gira. Ao ler a posta do Luís senti-me inibido. Depois de uma descrição daquelas (detesto escrever “duma”) um tipo fica desarmado.
Eu escrevo quase sempre aqui, no exacto local onde estou a escrever isto. Uma mesa de escritório que era do meu pai e que ele, mais o seu eterno sentido de poupança, nunca ou quase nunca utilizou. Talvez para me vingar uso-a todos os dias, risco-a, gasto-a. Não será vingança, será apenas uma quase-homenagem. Imaginem uma mesa de escritório comprada com o saldo de anos de poupanças e cuidada com esmero, no seu significado de não-uso, durante anos a fio e agora conspurcado com um computador, um cinzeiro fedorento, uma impressora hp caprichosa, um par de colunas, uma pilha de jornais religiosamente guardados como filhos, alguns livros que me esqueci de colocar no lugar (coisas de homens) e CDs espalhados. Só falta um pormenor. As minhas mulheres, cada uma com o seu motivo, fizeram o favor de colocar um mapa-mundo por baixo do teclado. A minha mãe em memória do cuidado a ter com a mesa, a minha mulher para melhor limpar e a minha filha por achar piada. Um mapa que me tira do sério por incluir Timor como parte integrante da Indonésia. Por cima da dita tenho três quadros do Porto (Ponte das Barcas, Ponte da Arrábida e Ponte Pênsil). Depois existe algures uma vela ranhosa de cheiro anti-tabaco, coisas do mulherio da casa. Parece que não me conseguem ver nem respirar ao entrar. Nunca dei por nada, mas enfim.
Claro que a Carla, vê-se logo que é mulher, tirou uma foto com tudo escrupulosamente arrumado. Eu, para ser diferente, permiti uma liberalidade ao meu gato. Desta vez não o obriguei a desimpedir a loja. O meu gato…Já agora, para compor o ramalhete, além da mulher, da filha, da mãe e de três cadelas junta-se um gato…que foi capado pelo mulherio. Ou seja, vivo rodeado de espécimes do sexo feminino ou aparentado. Aliás, só não me capam a mim por ainda me restar um mínimo de autoridade. Mínimo. Até quando? Não sei mas se a Ana Anes começar a escrever no Aventar, a faca começará a ser afiada com denodo…
Comentários Recentes