Taiwan e China Imperiais

A globalização, brutal e desregulada, vem causando às economias ocidentais graves crises económico-sociais. A Europa, continente pioneiro na criação e manutenção do Estado Social, é das regiões mais afectadas. Taiwan e China, e o estatuto imperial adquirido, constituem-se como adversários imbatíveis; sobretudo se mantida a conivência de organismos como a OMC e a OIT – atente-se, a propósito, no artigo publicado há dias pela insuspeita The Economist.

De facto, enfrentando a concorrência de países sem princípios e regras sociais, ou seja, de economias onde prevalece o chamado “dumping” social, é difícil, para não dizer impossível, aos governos europeus manter políticas de maior equidade na distribuição de rendimentos e manutenção de empregos e serviços de interesse público; em particular serviços das áreas da Justiça, da Educação e da Saúde; todos sob ameaça de desmantelamento, pelo menos parcial. Por exemplo, a subsistência do nosso SNS e da fonte inspiradora, o NHS do Reino Unido, está posta em causa. As medidas do actual governo e as intenções do candidato à alternância governativa em Portugal, assim como os propósitos anunciados pelo recém-eleito PM do Reino Unido, David Cameron, não suscitam dúvidas quanto ao esperado desfecho.

Ainda por cima, não é incomum ouvir declarações do género: “O Estado tem de retirar-se do papel de prestador, mesmo na Saúde e na Educação, limitando-se, isso sim, a exercer funções de regulação”. Quero crer que muitos dos defensores desta ideia o fazem porque acreditam nela. Eu estou entre os cépticos e questiono: “O que pode fazer isoladamente um Estado, ainda para mais reduzido de poderes como nosso, para através da regulação nacional controlar os efeitos económico-sociais adversos e enormes de um mundo globalizado e desregulado?”. E respondo: “Muito pouco” – para não dizer “Nada!”.

No excelente livro “El Imperio frente a la Diversidad del Mundo”, Sami Naïr, catedrático de ciências políticas em Paris e ex-eurodeputado por França, aborda as causas da mutação do vínculo social com palavras certeiras:

Os capitais já não têm pátria. Na actualidade, as multinacionais podem optimizar a sua rendibilidade ao localizar a suas unidades de produção onde as suas vantagens sejam maiores, como, por exemplo, as referentes à “flexibilização” da mão-de-obra.

Há dias publiquei um ‘post’ sobre os suicídios de operários na Foxccon, em Shenzen, China. As fábricas desse grupo trabalham para a Apple, Dell, HP, Nitendo e Sony. Ainda segundo “The Economist”, a Foxconn emprega 800.000 trabalhadores e cada operário aufere um salário mensal médio de cerca de 100 euros – para trabalhar 12 horas diárias em 6 jornadas semanais. Quem são os responsáveis principais por este atentado à dignidade humana? É o cidadão de Taiwan dono da Foxconn, as autoridades da China ou as multinacionais e os governos dos países donde provêm? A quem cumpre e como regular eficazmente este modelo de economia global? A OMC e a OIT nada fazem. Naturalmente, desprovido de respostas, continuo em meditação.

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