Mineiros do Chile. A Ave Fénix do patriotismo

a morte desafiada pelos chilenos, uma Fénix Univesal...

Falar de Mineiros do Chile, todos sabemos o que siginifica: trinta e três pessoas soterradas numa mina de cobre no Norte do Chile, a 35 quilómetros da cidade mais  próxima, Copiapó, desconhecendo-se, durante 19 dias, do seu paradeiro e se estavam vivas ou mortas. A mina de São José, com mais de cem anos de exploração, pertencia ao Estado do Chile, após a nacionalização de todo o cobre existente no país, em 1972, pelo Presidente da República, Salvador Allende.

En 1810, año de su primera junta nacional, Chile producía unas 19.000 toneladas de cobre al año. A lo largo del siglo la cifra fue creciendo hasta convertir al país en el primer productor y exportador mundial. Sin embargo, a finales del siglo XIX comenzó un período de decadencia, debido por un lado al agotamiento de los yacimientos de alta ley y por otro al hecho de que la explotación del salitre acaparaba las inversiones mineras. En 1897 la producción había caído a 21.000 toneladas, casi lo mismo que en 1810.

La situación cambió a comienzos del siglo XX, cuando grandes grupos mineros estadounidenses, dotados de avances tecnológicos que permitían la recuperación de

cobre en yacimientos de baja concentración, iniciaron la explotación de los yacimientos chilenos.

La producción chilena de cobre se ha multiplicado por cuatro en las dos últimas décadas, debido en gran parte a la apertura de minas de capital privado.

El Estado chileno recibió pocos beneficios de la minería de cobre durante toda la primera mitad del siglo XX. La situación empezó a cambiar en 1951 con la firma del Convenio de Washington, que le permitió disponer de 20% de la producción. En 1966 el Congreso Nacional de Chile impuso la creación de Sociedades Mineras Mixtas con las empresas extranjeras en las cuales el Estado tendría 51% de la propiedad de los yacimientos. El proceso de “chilenización del cobre” culminó en julio de 1971, bajo el mandato de Salvador Allende, cuando el Congreso aprobó por unanimidad la nacionalización de la Gran Minería del Cobre[27].

…por exigirlo el interés nacional y en ejercicio del derecho soberano e inalienable del Estado de disponer libremente de sus riquezas y recursos naturales, se nacionalizan y declaran por tanto incorporadas al pleno y exclusivo dominio de la Nación las empresas extranjeras que constituyen la gran minería del cobre.

Disposición transitoria agregada en 1971 al artículo 10 de la Constitución de Chile

En 1976, ya bajo el régimen militar de Pinochet, el Estado fundó la Corporación Nacional del Cobre de Chile (Codelco) para gestionar las grandes minas de cobre.

Fonte: Codelco Chile (2006), Historia de Codelco

Após a sua morte, ou mais bem, do seu assassinato, o cobre, a principal riqueza da República, foi apropriada pelo Estado, sem ser devolvida aos que se consideravam seus legítimos proprietários, a empresa norte-americana Kenneth Copper Cº. Mas, a mina de São José por ser pequena e render pouco cobre e ouro, foi praticamente ignorada e passou a ser uma espécie de graça divina, quando a mina, também do Estado, era arrendada. Os donos da empresa, Alejandro Bohn e Marcelo Kemeny, foram inquiridos sobre as condições e os procedimentos de segurança da mina, que tem um longo historial de irregularidades, falhas e acidentes fatais, o último a 11 de Julho, quando a queda descontrolada de uma rocha esmagou a perna de um mineiro. E, a seguir, a derrocada da mina sobre o corpo de trinta e três trabalhadores que permaneceram soterrados durante setenta dias a setecentos metros de profundidade. Ninguém no Chile sabia o quê fazer, especialmente o novo Presidente do Chile Sebastian Piñera Miguel Juan Sebastián Piñera Echenique (Santiago do Chile, 1 de Dezembro de 1949) é um economista, empresário e político chileno, membro do partido de centro-direita Renovación Nacional e presidente eleito do Chile. Assumiu o cargo em 11 de Março de 2010, sucedendo a Michelle Bachelet. O seu governo também não sabia, era mais uma rasteira para os ambiciosos planos de governo. Ambiciosos, porque queria que a República se sustentasse por si própria, que todos trabalhassem ou criassem as suas próprias indústrias e formas artesanais de trabalho. Tenho sido incapaz de esquecer a frase, proferida por ele a 27 de Fevereiro deste ano: o pior já passou, agora todos os que não tenham casas, que procurem crédito, se juntem às suas famílias com casas ou trabalhem como fiz eu, até entesourarem moeda para construir melhores casas. Nota-se logo essa influência que teve sobre o ditador do Chile, a quem ajudara a transformar um país na miséria, para um Estado com o PIB mais alto da América Latina, Piñera é e tem sido um homem de grande ambição como economista e gestor de bens, pretendendo, através do novo cargo (Presidente), incrementar a sua fortuna, dentro e fora do Chile, sem qualquer preocupação pelo povo que nada tem. Começou mal: Em 20 de Janeiro, os títulos da Axxion, holding que controla os ativos do presidente eleito do Chile, fecharam em alta (52,73%). Ouviram-se críticas a Piñera por não se ter desfeito das ações antes de vencer as eleições. “Era a medida mais saudável ter liquidado antes [das eleições] as ações“, comentou o economista da Universidade Central, Rafael Garay, que atribuiu a alta a “movimentos especulativos“. “Sua prioridade deveria ter sido desvincular-se o quanto antes de seus conflitos de interesse“, destacou Pedro Martins, do banco de investimentos Merrill Lynch. As negociações de títulos da Axxion na Bolsa chegaram a ser suspensas durante 33 minutos. Mesmo depois disso, os papéis continuaram a subir, chegando a valorizar-se 62%. Em Abril, através de um fideicomisso voluntário, Piñera passou a administração de grande parte da sua fortuna, avaliada em 1,2 bilhão de dólares, a um fiduciário. Porém, manteve a sua participação na LAN, assim como a propriedade do canal de televisão Chilevisión e sua participação no Colo-Colo, a equipa de futebol mais afamada do Chile e da América Latina, como o nosso Benfica, com uma diferença: o Colo – Colo (nome de um antigo Toqui o Rei Mapuche) sempre ganha, o Benfica, que sim e que não, depende do treinador e do entusiasmo dos jogadores.

Para Piñera tudo é um desafio. O caso dos mineiros era conhecido por ele, porque, como discípulo do ditador do Chile, cujo nome tenho propositadamente esquecido, no Chile nem um cabelo se mexe sem a sua autorização.

Apenas que a arrogância paga-se cara. O Chile continua a tremer, pensa-se que pode naufragar dentro do Oceano Pacífico, pelo estreito que é, entre a Cordilheira e o mar – a Angostura do Paine, perto de Santiago, tem 160 quilómetros entre os dois limites, enquanto a parte mais larga é Chañaral, comuna e capital da província de Chañaral, localizada na Região de Atacama, Chile. Possui uma área de 5.772,4 km² e uma população de 13.543 habitantes (2002). Piñera não sabe geologia, nem geografia. Arrendou uma mina que fica exactamente no deserto de Atacama, os proprietários estavam falidos, nada fizeram para construir vias, caminhos, mudar a madeira por andaimes de ferro ou aço, mas Piñera aceitou esse contrato com a sua fé miltoniana, que todo o mundo sabe como, o que e quanto ganhar. Por outras palavras, arriscou a vida dos que nada tem, pelos pagamentos feitos ao Estado e a outras das suas empresas. Os mineiros, na sua maioria da etnia Aimara, são pobres, como referi no ensaio que precede este.

De facto, o dia da derrocada da terra, foi a 4 de Agosto, mas como Piñera não podia estar em Atacama nesse dia, a notícia foi anunciada a 5 pelo Presidente, já em Atacama. As famílias estavam em desespero, gritavam e choravam, como sempre acontece no Chile quando as tragédias acontecem, especialmente desta magnitude, a única mais hedionda da nossa história Universal. É verdade que têm existido deslizamentos de terras quer nessa mina, quer na Austrália ou no Norte da Escócia, nas minas de carvão, mas todas de curta duração. No entanto, nem que seja uma hora, produz pavor entre os familiares, amigos e vizinhos. Quanto mais, esta: o abrigo estava a setecentos metros da superfície, não havia vias alternativas nem muita vontade no governo de se importar por um caso que parecia impossível. Os mineiros estavam ai, a culpa era deles por não terem tomado precauções – quais? Digo eu, se era sabido que a mina não respeitava as normas de segurança. Mas a pobreza e a fome matam, por isso não é de estranhar que trabalhadores estrangeiros partam para o Chile, tal como o boliviano Carlos Mamani, ou pessoas doentes, como José Ojeda com diabetes, que precisava cuidados especiais ou Mário Gómez, de 65 anos, que precisava insulina, medicamente inexistente no subsolo.

A história é conhecida por todos. O Presidente da República tinha, praticamente desistido, até começarem a aparecer jornalistas, televisões (chilena e estrangeiras) e a NASA, ao saber do ocorrido, a par de doze países, como a Austrália, o Japão, a Bolívia, a França e os Estados Unidos entre outros, ofereceram os seus préstimos através dos seus saberes e tecnologias, congeminado vários planos para resgatar os mineiros. O que Piñeira pensava era que até Dezembro não haveria salvação, mas os técnicos, no terreno, com o apoio do Ministro de Mineria, Laurence Golberne, estudaram e aplicaram alternativas e o prazo ficou bem mais encurtado. Foram 70 dias no fundo da montanha, felizmente com entradas de ar, permitindo a circulação do oxigénio e de rochas que forneceram água, quando esta se acabou, tão necessária à sobrevivência. Foram setenta dias de desespero, das mães, dos pais, das mulheres dos seus homens, dos filhos dos mesmos, que sofreram até ao lento içamento dos mineiros e dos especialistas que entraram na cova onde se refugiavam. Instalou-se um acampamento, um hospital de emergência: analistas, médicos, sacerdotes cristãos e evangélicos, apareceram em São José e ajudaram a tranquilizar as vítimas e as famílias, com as suas artes de psicanálise, de medir as pulsações, o oxigénio e o estado anímico, que esteve sempre alto. A Fénix 2, com as cores da bandeira chilena, lenta, mas seguramente, retirou das entranhas da terra todos os homens, e nós, persistentemente, acompanhámos pela televisão e pelos jornais, as 18 horas de salvação, orámos por todos eles, mesmo eu que sou um homem sem fé, e vivemos essa pequena parte da imensa angústia dos mineiros e das suas famílias. Até o Cardeal do Chile oficiou uma Acção de Graça na Catedral de Santiago e deslocou-se ao acampamento.

Se Piñeira em temos passados quis aldrabar, hoje em dia atingiu o estatuto de herói nacional, que deve respeitar e interessar-se mais pelo povo, que depositou nele a sua soberania. Ele e Evo Morales, o seu homólogo Boliviano, têm uma pesada carga a cumprir: abrir as portas do seu coração e da sua alma ao imenso povo pobre que governam. Não sou homem de fé, mais uma vez reitero, mas não consigo não agradecer a uma divindade qualquer (ou será mesmo a Luís Urzúa?) pelo heróico salvamento de trinta e três seres humanos e ter sabido mantê-los em calma e com atenção religiosa e médica.

Não queria escrever este texto, já na minha cabeça, por causa de não deitar foguetes antes da festa.

Os que mais vão sofrer, serão os mineiros: serão entrevistados, declarados heróis e condecorados? O que deve acontecer, é que lhes paguem os seus salários em atraso, uma recompensa material pelos dias sofridos e sejam capazes de continuar a gritar Viva Chile, esse país, que, se não fosse pela derrocada, nem saberia da sua existência nem dos perigos a que todos os dias estavam sujeitos. Não resisto escrever uma simples metáfora para um povo cheio de fé na divindade: quando o profeta Jesus pregava, poucos o seguiam; quando foi assassinado e ressuscitou, milhares de pessoas não deixam em paz o seu espírito…Será assim com os nossos heróis…? E Piñera, passará a ser um Presidente de verdade, como demonstrou nestes dias, ou foi um actor forçado deste reality show?

Falar de Mineiros do Chile, todos sabemos o que siginifica: trinta e três pessoas soterradas numa mina de cobre no Norte do Chile, a 35 quilómetros da cidade mais próxima, Copiapó, desconhecendo-se, durante 19 dias, do seu paradeiro e se estavam vivas ou mortas. A mina de São José, com mais de cem anos de exploração, pertencia ao Estado do Chile, após a nacionalização de todo o cobre existente no país, em 1972, pelo Presidente da República, Salvador Allende.

En 1810, año de su primera junta nacional, Chile producía unas 19.000 toneladas de cobre al año. A lo largo del siglo la cifra fue creciendo hasta convertir al país en el primer productor y exportador mundial. Sin embargo, a finales del siglo XIX comenzó un período de decadencia, debido por un lado al agotamiento de los yacimientos de alta ley y por otro al hecho de que la explotación del salitre acaparaba las inversiones mineras. En 1897 la producción había caído a 21.000 toneladas, casi lo mismo que en 1810.[

La situación cambió a comienzos del siglo XX, cuando grandes grupos mineros estadounidenses, dotados de avances tecnológicos que permitían la recuperación de

cobre en yacimientos de baja concentración, iniciaron la explotación de los yacimientos chilenos.

La producción chilena de cobre se ha multiplicado por cuatro en las dos últimas décadas, debido en gran parte a la apertura de minas de capital privado.

El Estado chileno recibió pocos beneficios de la minería de cobre durante toda la primera mitad del siglo XX. La situación empezó a cambiar en 1951 con la firma del Convenio de Washington, que le permitió disponer de 20% de la producción. En 1966 el Congreso Nacional de Chile impuso la creación de Sociedades Mineras Mixtas con las empresas extranjeras en las cuales el Estado tendría 51% de la propiedad de los yacimientos. El proceso de “chilenización del cobre” culminó en julio de 1971, bajo el mandato de Salvador Allende, cuando el Congreso aprobó por unanimidad la nacionalización de la Gran Minería del Cobre[27].

…por exigirlo el interés nacional y en ejercicio del derecho soberano e inalienable del Estado de disponer libremente de sus riquezas y recursos naturales, se nacionalizan y declaran por tanto incorporadas al pleno y exclusivo dominio de la Nación las empresas extranjeras que constituyen la gran minería del cobre.

Disposición transitoria agregada en 1971 al artículo 10 de la Constitución de Chile

En 1976, ya bajo el régimen militar de Pinochet, el Estado fundó la Corporación Nacional del Cobre de Chile (Codelco) para gestionar las grandes minas de cobre.

Fonte: Codelco Chile (2006), Historia de Codelco

Após a sua morte, ou mais bem, do seu assassinato, o cobre, a principal riqueza da República, foi apropriada pelo Estado, sem ser devolvida aos que se consideravam seus legítimos proprietários, a empresa norte-americana Kenneth Copper Cº. Mas, a mina de São José por ser pequena e render pouco cobre e ouro, foi praticamente ignorada e passou a ser uma espécie de graça divina, quando a mina, também do Estado, era arrendada. Os donos da empresa, Alejandro Bohn e Marcelo Kemeny, foram inquiridos sobre as condições e os procedimentos de segurança da mina, que tem um longo historial de irregularidades, falhas e acidentes fatais, o último a 11 de Julho, quando a queda descontrolada de uma rocha esmagou a perna de um mineiro. E, a seguir, a derrocada da mina sobre o corpo de trinta e três trabalhadores que permaneceram soterrados durante setenta dias a setecentos metros de profundidade. Ninguém no Chile sabia o quê fazer, especialmente o novo Presidente do Chile Sebastian Piñera Miguel Juan Sebastián Piñera Echenique (Santiago do Chile, 1 de Dezembro de 1949) é um economista, empresário e político chileno, membro do partido de centro-direita Renovación Nacional e presidente eleito do Chile. Assumiu o cargo em 11 de Março de 2010, sucedendo a Michelle Bachelet. O seu governo também não sabia, era mais uma rasteira para os ambiciosos planos de governo. Ambiciosos, porque queria que a República se sustentasse por si própria, que todos trabalhassem ou criassem as suas próprias indústrias e formas artesanais de trabalho. Tenho sido incapaz de esquecer a frase, proferida por ele a 27 de Fevereiro deste ano: o pior já passou, agora todos os que não tenham casas, que procurem crédito, se juntem às suas famílias com casas ou trabalhem como fiz eu, até entesourarem moeda para construir melhores casas. Nota-se logo essa influência que teve sobre o ditador do Chile, a quem ajudara a transformar um país na miséria, para um Estado com o PIB mais alto da América Latina, Piñera é e tem sido um homem de grande ambição como economista e gestor de bens, pretendendo, através do novo cargo (Presidente), incrementar a sua fortuna, dentro e fora do Chile, sem qualquer preocupação pelo povo que nada tem. Começou mal: Em 20 de Janeiro, os títulos da Axxion, holding que controla os ativos do presidente eleito do Chile, fecharam em alta (52,73%). Ouviram-se críticas a Piñera por não se ter desfeito das ações antes de vencer as eleições. “Era a medida mais saudável ter liquidado antes [das eleições] as ações“, comentou o economista da Universidade Central, Rafael Garay, que atribuiu a alta a “movimentos especulativos“. “Sua prioridade deveria ter sido desvincular-se o quanto antes de seus conflitos de interesse“, destacou Pedro Martins, do banco de investimentos Merrill Lynch. As negociações de títulos da Axxion na Bolsa chegaram a ser suspensas durante 33 minutos. Mesmo depois disso, os papéis continuaram a subir, chegando a valorizar-se 62%. Em Abril, através de um fideicomisso voluntário, Piñera passou a administração de grande parte da sua fortuna, avaliada em 1,2 bilhão de dólares, a um fiduciário. Porém, manteve a sua participação na LAN, assim como a propriedade do canal de televisão Chilevisión e sua participação no Colo-Colo, a equipa de futebol mais afamada do Chile e da América Latina, como o nosso Benfica, com uma diferença: o Colo – Colo (nome de um antigo Toqui o Rei Mapuche) sempre ganha, o Benfica, que sim e que não, depende do treinador e do entusiasmo dos jogadores.

Para Piñera tudo é um desafio. O caso dos mineiros era conhecido por ele, porque, como discípulo do ditador do Chile, cujo nome tenho propositadamente esquecido, no Chile nem um cabelo se mexe sem a sua autorização.

Apenas que a arrogância paga-se cara. O Chile continua a tremer, pensa-se que pode naufragar dentro do Oceano Pacífico, pelo estreito que é, entre a Cordilheira e o mar – a Angostura do Paine, perto de Santiago, tem 160 quilómetros entre os dois limites, enquanto a parte mais larga é Chañaral, comuna e capital da província de Chañaral, localizada na Região de Atacama, Chile. Possui uma área de 5.772,4 km² e uma população de 13.543 habitantes (2002). Piñera não sabe geologia, nem geografia. Arrendou uma mina que fica exactamente no deserto de Atacama, os proprietários estavam falidos, nada fizeram para construir vias, caminhos, mudar a madeira por andaimes de ferro ou aço, mas Piñera aceitou esse contrato com a sua fé miltoniana, que todo o mundo sabe como, o que e quanto ganhar. Por outras palavras, arriscou a vida dos que nada tem, pelos pagamentos feitos ao Estado e a outras das suas empresas. Os mineiros, na sua maioria da etnia Aimara, são pobres, como referi no ensaio que precede este.

De facto, o dia da derrocada da terra, foi a 4 de Agosto, mas como Piñera não podia estar em Atacama nesse dia, a notícia foi anunciada a 5 pelo Presidente, já em Atacama. As famílias estavam em desespero, gritavam e choravam, como sempre acontece no Chile quando as tragédias acontecem, especialmente desta magnitude, a única mais hedionda da nossa história Universal. É verdade que têm existido deslizamentos de terras quer nessa mina, quer na Austrália ou no Norte da Escócia, nas minas de carvão, mas todas de curta duração. No entanto, nem que seja uma hora, produz pavor entre os familiares, amigos e vizinhos. Quanto mais, esta: o abrigo estava a setecentos metros da superfície, não havia vias alternativas nem muita vontade no governo de se importar por um caso que parecia impossível. Os mineiros estavam ai, a culpa era deles por não terem tomado precauções – quais? Digo eu, se era sabido que a mina não respeitava as normas de segurança. Mas a pobreza e a fome matam, por isso não é de estranhar que trabalhadores estrangeiros partam para o Chile, tal como o boliviano Carlos Mamani, ou pessoas doentes, como José Ojeda com diabetes, que precisava cuidados especiais ou Mário Gómez, de 65 anos, que precisava insulina, medicamente inexistente no subsolo.

A história é conhecida por todos. O Presidente da República tinha, praticamente desistido, até começarem a aparecer jornalistas, televisões (chilena e estrangeiras) e a NASA, ao saber do ocorrido, a par de doze países, como a Austrália, o Japão, a Bolívia, a França e os Estados Unidos entre outros, ofereceram os seus préstimos através dos seus saberes e tecnologias, congeminado vários planos para resgatar os mineiros. O que Piñeira pensava era que até Dezembro não haveria salvação, mas os técnicos, no terreno, com o apoio do Ministro de Mineria, Laurence Golberne, estudaram e aplicaram alternativas e o prazo ficou bem mais encurtado. Foram 70 dias no fundo da montanha, felizmente com entradas de ar, permitindo a circulação do oxigénio e de rochas que forneceram água, quando esta se acabou, tão necessária à sobrevivência. Foram setenta dias de desespero, das mães, dos pais, das mulheres dos seus homens, dos filhos dos mesmos, que sofreram até ao lento içamento dos mineiros e dos especialistas que entraram na cova onde se refugiavam. Instalou-se um acampamento, um hospital de emergência: analistas, médicos, sacerdotes cristãos e evangélicos, apareceram em São José e ajudaram a tranquilizar as vítimas e as famílias, com as suas artes de psicanálise, de medir as pulsações, o oxigénio e o estado anímico, que esteve sempre alto. A Fénix 2, com as cores da bandeira chilena, lenta, mas seguramente, retirou das entranhas da terra todos os homens, e nós, persistentemente, acompanhámos pela televisão e pelos jornais, as 18 horas de salvação, orámos por todos eles, mesmo eu que sou um homem sem fé, e vivemos essa pequena parte da imensa angústia dos mineiros e das suas famílias. Até o Cardeal do Chile oficiou uma Acção de Graça na Catedral de Santiago e deslocou-se ao acampamento.

Se Piñeira em temos passados quis aldrabar, hoje em dia atingiu o estatuto de herói nacional, que deve respeitar e interessar-se mais pelo povo, que depositou nele a sua soberania. Ele e Evo Morales, o seu homólogo Boliviano, têm uma pesada carga a cumprir: abrir as portas do seu coração e da sua alma ao imenso povo pobre que governam. Não sou homem de fé, mais uma vez reitero, mas não consigo não agradecer a uma divindade qualquer (ou será mesmo a Luís Urzúa?) pelo heróico salvamento de trinta e três seres humanos e ter sabido mantê-los em calma e com atenção religiosa e médica.

Não queria escrever este texto, já na minha cabeça, por causa de não deitar foguetes antes da festa.

Os que mais vão sofrer, serão os mineiros: serão entrevistados, declarados heróis e condecorados? O que deve acontecer, é que lhes paguem os seus salários em atraso, uma recompensa material pelos dias sofridos e sejam capazes de continuar a gritar Viva Chile, esse país, que, se não fosse pela derrocada, nem saberia da sua existência nem dos perigos a que todos os dias estavam sujeitos. Não resisto escrever uma simples metáfora para um povo cheio de fé na divindade: quando o profeta Jesus pregava, poucos o seguiam; quando foi assassinado e ressuscitou, milhares de pessoas não deixam em paz o seu espírito…Será assim com os nossos heróis…? E Piñera, passará a ser um Presidente de verdade, como demonstrou nestes dias, ou foi um actor forçado deste reality show?

Comments

  1. Cruz says:

    Espero que desta vez os vaticanos, não atribuam este salvamento a mais um dos milagres de /Fátima, já que deu-se a recolha do 1º mineiro de madrugada tal como os milagres ou aparecimentos nesta data, mas no seculo passado, na volta como o nome indica as minas de San “Rosé” quando deixarem de ser produtivas será construído um santuário, quando se deram o aparecimento e os milagres eram três pastores e foi construído um santuário enorme então com trinta e três mineiros, imagino então o tamanho da construção espero que os vaticanos não se lembrem de reivindicar também a sua parte, a equipa de futebol já têem.
    È sempre á custa do pobre, que os ricos ficam m ais ricos e de certeza que alguém ficou mais rico mas os mineiros não foram de certeza, esta popularidade é mais éfemera do que participar no bigbrother ou na casa dos segredos.

  2. Raul Iturra says:

    Caro Senhor Cruz,
    Obrigado por ter tido a paciência de ler o meu texto! Até parece que adivinhou o meu pensamento! Pensava escrever no meu ensaio: “de certeza, uma igreja ou um monumento sacro, será levantado no sítio dos sucessos”E porquê? Porque são pessoas profundamente cristãs, normalmente da Igreja Evangélica, como são denominados os cristãos separados de Roma no Século XV. E pensei no “estar certo”, porque se repara na foto de una mulher Aimara colocada no meu texto A Nossa Esperança é a Salvação dos Mineiros, porta na sua mão direita ela leva um cartaz que se lê: “la espera és la fuerza”. Aliás, estes mineiros perderam a sua paz, de certeza serão convidados por outros sindicatos dentro e fora do Chile, para transferir como foi essa paciência, como era a sobrevivência a setecentos metros baixo a terra. A mina será encerrada por falta de segurança para os trabalhadores e os irmãos separados, fanáticos como são, vão adjudicar esta salvação à Divina Providência. Passei alguns anos no Chile e reparei como eram fanáticos com a divindade. O Vaticano pode também intervir, como sempre. Parece-me ouvir Rattzinger dizer: É um milagre de Deus! Em momentos de desespero, todos ficam como homens de fé, não como nós que não alinhamos, embora respeitemos, as formas de acreditar em milagres…
    Cumprimentos
    Raúl Iturra
    lautaro@netcabo.pt

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