A deputada Inês de Medeiros e o reino da ignorância

Ines-de-Medeiros

(…) a deputada Inês de Medeiros rebateu a ideia [de alterações à proposta de lei sobre a cópia privada] dizendo que esta já é uma discussão com vários anos e que muitos dos intervenientes já são conhecidos, assim como as suas posições.

Mesmo considerando a cópia privada como um tema polémico, a deputada da bancada socialista diz que esta é “uma típica polémica portuguesa” e que estará acabada “em três dias úteis”. [TEK SAPO]

A deputada Inês de Medeiros, a mesma que pretendia ter as viagens para Paris pagas pelo parlamento, tendo depois protagonizado um volte-face ao ver lograda a sua intenção, acha que combater um projecto de lei injusto e que toma todos os cidadãos como criminosos é uma inutilidade. [Read more…]

A comissão

Nestes dias, banqueiros, super-banqueiros, governantes e super-governantes têm dado um espectáculo obsceno a que assistimos perplexos e, para quem tinha ilusões, desiludidos. A trafulhice, a mentira, a guerra e o respectivo salve-se quem puder, põem-nos frente à evidência de que muitos dos ídolos da finança e da governança, que tantos louvam como se fossem gigantes, não passam de pigmeus morais. E nem sequer, pelo que se vê, se distinguem pela competência. Quem se vai distinguindo neste descaminho são, é bom que se diga, os deputados da Comissão Parlamentar. Nem faço aqui distinções ou exclusões, sabendo, quem me conhece, da minha óbvia preferência pela parte esquerda (alta…) da mesa. Sempre é refrescante, para crédito da Democracia, ter a percepção que os eleitos estão, diligente e competentemente, a fazer aquilo para que os elegemos. No meio do lamaçal, é bom encontrar algum terreno firme, alguma segurança que se possa atirar à cara dos que dizem que os políticos são todos iguais. Sabemos bem, sobretudo quem visita com alguma frequência o canal AR, que é nas comissões que se passa algum do trabalho mais nobre do parlamento. Mas ver deputados a aguentar, concentrados e intervenientes, 18 (!!) horas de sessão – alguns foram sendo substituídos, outros fizeram o pleno -, escancarando à nossa frente este sinistro enredo, tem de ser saudado. Precisamos de sentir que, nesta encruzilhada, alguém nos representa.

A excelente forma de Ricardo Salgado

Sed cum legebat, oculi ducebantur per paginas et cor intellectum rimabatur, vox autem et lingua quiescebant.

Santo Agostinho (354430)

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Gostei imenso do discurso que Ricardo Salgado proferiu ontem na comissão parlamentar de inquérito ao caso BES. Por motivos profissionais, não pude assistir à audição. Contudo, o Público e o Expresso publicaram o excelente texto do ex-presidente do Banco Espírito Santo.

Vejamos alguns (sim, só alguns) dos melhores momentos:

Acção, Abril, accionistas, acções, actas, actividade, activos, actuação, actuações, afectava, afecto, correctas, Dezembro, directa, directamente, directo, efectivamente, efectuar, incorrecto, injectar, interacção, Janeiro, Julho, Junho, Maio, Março, Novembro, objectivo, objecto, Outubro, percepção, perspectiva, perspectivas, projecção, projecto, protecção, protectora, respectiva, respectivos, ruptura, Setembro.

Aliás, até proponho que Salgado seja distinguido com uma menção honrosa, devido à destreza com que adoptou grafias extremamente perigosas, como percepção, perspectiva, perspectivas, respectiva, respectivos e ruptura.

Muito bem, Ricardo Salgado. Óptimo. Excelente.

É evidente que estes “muito bem”, “menção honrosa”, “óptimo” e “excelente” devem ser lidos à luz da máxima atribuída por Daniel Dennett (p.21) a Gore Vidal: “It is not enough to succeed. Others must fail“.

“Others must fail”. Pois, claro. Sim, ‘others’. Efectivamente, os do costume.

Depois de apreciado o desempenho ortográfico de Salgado, debrucemo-nos sobre a habitual salgalhada do Diário da República:

dre 9122014Exactamente: ontem, no sítio do costume.

Actualização (11/12/2014): Sim, sim, reparei no *eminente. Contudo, atenhamo-nos ao AO90. 

Morreu Fernando Machado Soares

Uma notícia muito triste. Obrigado por tudo.

FMS

© 1988 PolyGram Portugal, SA (http://bit.ly/1zwdSUB)

 

Eu é que não fui

Depois da maratona da comissão parlamentar (18 horas a ouvir Salgado e Ricciardi! Já houve quem fosse canonizado por menos), os telejornais da manhã estão em grande, com os mais diversos figurões a sacudir comichões quais cães com pulgas. Ele é o Costa do Banco de Portugal, ele é o viscoso Passos do Conselho (de ministros, claro) e, até, um encavacado Cavaco. Os temas são: não digo nada que é confidencial, não tenho nada a ver com isso, a culpa não é minha, é do outro menino, etc. e tal. Vão ver que a culpa é nossa. Pelo menos os patos que pagam a conta, somos.

Asa de morcego, pata de aranha

Conheço uma astróloga / taróloga / quiromante/ numeróloga/ aromoterapeuta/  maga holística/ reflexóloga/ conselheira espiritual, a quem eu, para simplificar, chamo a bruxa. Ao que parece, o negócio nunca lhe correu tão bem, coisa que não pode causar espanto em épocas de crise, porque é justamente da crise que vivem os videntes do futuro. As pessoas felizes não consultam os bruxos, nem lhes ocorreria desperdiçar meia hora de felicidade para saber como será um futuro que pode bem ser pior do que o presente. São sempre os infelizes, os derrotados, aqueles que não temem a previsão porque acham que as coisas não podem piorar (e nisso enganam-se, porque enquanto estivermos vivos tudo pode sempre piorar) os que querem saber como será o futuro, e que procuram o conforto de uma previsão vaga, nebulosa e alentadora.

“Vejo um homem estrangeiro”. “Pressinto a chegada de uma boa notícia”. “Vai conhecer uma mulher de cabelo negro, não fuja dela”. “A sua sorte vai mudar numa terça-feira.” [Read more…]

Serviço público

Disto tudo é uma excelente iniciativa e um blogue da deputada Mariana Mortágua que funciona como um diário da comissão parlamentar do BES. A seguir atentamente.

Mariana