“Minha laranja amarga e doce”

“Cavalo à solta” é, para mim, uma das mais belas canções alguma vez concretizada pela genial dupla Ary dos Santos e Fernando Tordo.

A dualidade de sentimentos e perceções próprias da precária condição humana, o modo como em cada um de nós os opostos lutam e dessa luta nasce um sentido, tem uma dimensão singular nos trilhos da vida.

A dado momento, diz o genial Ary dos Santos:

“Minha laranja amarga e doce, minha espada
Poema feito de dois gumes, tudo ou nada”

Tudo isto, acompanhado pelos tons dramáticos que as notas musicais de Fernando Tordo, e a sua voz precisa e profunda, que nos levam a compreender melhor a mensagem, sem subterfúgios ou equívocos, num embalo semântico e dual.

Ali está, sem dúvidas ou ambiguidades, ou com todas elas, toda a contradição harmonizada que compõe a condição e o sentimento.

Revisitei ontem esta canção quando via os resultados eleitorais do meu meu clube, do meu Futebol Clube do Porto.

Outrora sócio, e, há muito anos anos, mero adepto, se sócio continuasse a ser, teria votado André Villas-Boas.

Mas, jamais teria comemorado tão grande derrota sofrida por Jorge Nuno Pinto da Costa. Pela simples razão que entendo que do passado se faz melhor futuro. E eu não posso esquecer as dimensões europeia e mundial que Pinto da Costa deu ao meu clube.

Foram décadas de consolidação de um modo de ser e de sentir, não apenas de um clube, mas, acima de tudo, de um modo inconformado de estar na vida de uma região e, até mesmo, de qualquer um que não se resigna.

É verdade que os últimos anos foram de desacerto e que o clube atingiu perigosos níveis de endividamento. E, não menos verdade, faltou visão e até coerência, entre princípios e acções.

E, mais ainda, faltou a aquilo que John Pappas – personagem do filme “City Hall”, interpretada por Al Pacino – denomina por “menschkeit” (um termo Yiddish que significa “the space between a handshake”: [Read more…]

London Bridge is falling down

À vista desarmada do comum plebeu, o protocolo London Bridge, planeado ao micromilímetro para garantir que as exéquias de Isabel II decorreriam de forma imaculada, estava em curso desde a manhã de Quinta-feira, pese embora o seu planeamento estivesse a ser preparado e limado há muitos anos. A família mais próxima a caminho de Balmoral, as declarações da sua equipa de médicos em crescendo de preocupação até ao anúncio oficial no final da tarde e até o Huw Edwards da BBC, de fato e gravata preta a apresentar no noticiário da uma, tudo apontava para o inevitável desfecho. É possível até que a rainha tivesse falecido durante a noite anterior, mas ainda não tinha chegado o momento de o anunciar, precisamente por haver um protocolo a seguir. Longo foi o seu reinado, como sempre se deseja nas monarquias sólidas, mas nem Isabel II era eterna. Nem verdadeiramente soberana. Era – sempre foi – refém do protocolo. Até na sua morte.

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Um futuro negro

Lembro-me do princípio da pandemia (parece que foi há anos). Lembro-me de, ingenuamente, esperar que a tragédia global que se adivinhava tivesse, pelo menos, o condão de funcionar como um “click” para impulsionar a raça humana para uns degraus acima na escalada da evolução. Sei que não fui o único.

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Sem nome, ainda

Na quase irrelevância de um Rui Rio bipolar, sobra a evidência de um PS atirado para a extrema-esquerda quer pela vocação da sua actual direcção quer pelas dolorosas, exorbitantes e retrógradas contrapartidas de um apoio parlamentar indispensável à sobrevivência de um governo, muito mais animado pela sede de estar no poder do que, propriamente, pelo talento e intenção da prosperidade.

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O Professor hoje e os desafios de amanhã

A FENPROF organizou na passada sexta-feira um encontro em Coimbra onde a Educação esteve no centro da reflexão. Trago, neste dia especial para o Aventar. Neste dia em que um de Nós partiu. Neste dia em que um de Coimbra partiu. Neste dia em que um Professor partiu, nada melhor do que celebrar  a sua memória, trazendo até si, caro leitor, as intervenções de António Sampaio da Nóvoa, de Licínio Lima e de David Rodrigues.

Contigo sempre junto de Nós, amigo JJC, vamos continuar, porque nada substitui um bom professor!

The Mars Underground

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The Mars Underground – Como relançar o programa espacial americano e chegar a Marte em dez anos?

Em inglês, legendado em inglês. Página IMDB.

O antigo dono disto tudo?

Eu sei que o mundo não é a preto e branco, embora, por estes dias, tudo pareça flutuar entre o laranja e o vermelho. E, até por isso, vou entrar no desafio e questionar o Carlos Garcez Osório: Aqui entre nós, que ninguém nos ouve, entre a “nova dona disto tudo” e este tipo de pessoas que agora apresento em vídeo (ao minuto 7.50), será que a escolha a fazer, resulta em alguma divergência entre nós?

Obviamente, não estou a fazer trocadilhos foleiros. Estou a falar da substância do conteúdo do que vai na mente deste tipo.

Sublinho algumas palavras que até poderiam passar em branco, coisas deste género”as meninas do bloco de esquerda”, “esganiçadas…”

Mas, daquele orifício do sistema digestivo do senhor saiu algo verdadeiramente inacreditável: “não queria nenhuma daquelas mulheres, nem dada.”

Será que o personagem costuma pagar? É isso.

“Contra o marido, lá em casa (…) Com o tempo iriam colocar o personagem fora de casa e a coisa até poderia continuar…

E o aborto, e o casamento e a adopção…

Ainda há dúvidas sobre a evolução social que os acontecimentos de ontem reflectem?

Nunca como agora está clara a divisão em Portugal, entre o poder de alguns, suportado no passado e nas tradições e o poder, partilhado e construído por todos, suportado na evolução permanente da sociedade.

Pode e deve haver divergência económica, cultural e claro, social. Mas, não podemos querer voltar à idade média, ou podemos? Portugal não é o que este senhor defende e, também por isso, a votação no Parlamento mostra de forma clara o que Portugal pensa sobre algumas das coisas que este personagem defende.

E, para terminar, finalmente descobri que para ele a tradição é um elemento estrutural da vida em sociedade. Não deve, estou certo, questionar as mulheres que são mortas, todos os anos, às mãos destes medíocres. É da tradição!

E que tal enchermos as urnas?

O evento que faltava. Não vos parece uma boa ideia? As tropas do regime não irão vacilar.

Família, trave mestra de uma sociedade com futuro.

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Uma intervenção fantástica do Papa Francisco, durante a visita a Filadélfia, sobre a importância da defesa da Família enquanto trave mestra de uma sociedade com futuro.

O futuro aprisionado no passado

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O season finale do Prós e Contras encheu-se de malta nova para debater o futuro do país. Independentemente da minha concordância ou discordância com as opiniões dos membros do painel, que dentro daquilo que é a sua ideologia política ou pensamento económico souberam argumentar com coerência, não posso deixar de referir a pobreza das intervenções dos líderes das duas maiores juventudes partidárias do país. O líder da JS limitou-se a fazer campanha por António Costa, sendo mesmo acusado por Mendes da Silva de estar a ler o teleponto no telemóvel, insistindo no discurso repetitivo e vago que, em parte e contra todas as expectativas, permitiu à coligação PSD/CDS-PP ultrapassar o PS nas sondagens. Já o líder da JSD regressou à narrativa gasta do confronto geracional, apontando o dedo aos nossos país e avós, responsáveis pela herança de dívida que nós, os jovens, carregamos aos ombros. Uma não-questão. Uma não-questão porque o único erro que os nossos pais e avós cometeram, no limite, foi votarem nos nossos carrascos. Porque quem onerou a minha geração e as que estão para vir foi uma casta de políticos irresponsáveis do chamado arco do poder, cuja incompetência aliada ao eterno embuste eleitoralista, cultura despesista e gestão clientelista em função dos interesses do costume nos trouxe até aqui. Creio, se a lógica não me falha, que Simão Ribeiro estaria com certeza a falar para dentro. Será que os barões do seu partido ouviram?

Pânico no sistema

Nervoso

Eles andam todos muito nervosos. Das clientelas dos blocos centrais aos teóricos do regime, passando pela extrema-direita ressabiada ou pelos apóstolos da ditadura dos mercados, a vitória esmagadora do Syriza nas legislativas de ontem na Grécia causou profundos arrepios a todos os parasitas que se alimentam ou que anseiam vir alimentar-se do apetitoso lombo do sector público, quais percevejos comodamente instalados costas do rinoceronte estatal.

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Asa de morcego, pata de aranha

Conheço uma astróloga / taróloga / quiromante/ numeróloga/ aromoterapeuta/  maga holística/ reflexóloga/ conselheira espiritual, a quem eu, para simplificar, chamo a bruxa. Ao que parece, o negócio nunca lhe correu tão bem, coisa que não pode causar espanto em épocas de crise, porque é justamente da crise que vivem os videntes do futuro. As pessoas felizes não consultam os bruxos, nem lhes ocorreria desperdiçar meia hora de felicidade para saber como será um futuro que pode bem ser pior do que o presente. São sempre os infelizes, os derrotados, aqueles que não temem a previsão porque acham que as coisas não podem piorar (e nisso enganam-se, porque enquanto estivermos vivos tudo pode sempre piorar) os que querem saber como será o futuro, e que procuram o conforto de uma previsão vaga, nebulosa e alentadora.

“Vejo um homem estrangeiro”. “Pressinto a chegada de uma boa notícia”. “Vai conhecer uma mulher de cabelo negro, não fuja dela”. “A sua sorte vai mudar numa terça-feira.” [Read more…]

Mensagem Para Quem Ama o Futuro

Podemos adoptar duas atitudes relativamente ao nosso futuro colectivo imediato. Ou acreditamos nele e apostamos nele. Ou dispomo-nos a desistir, sendo que desistir é morrer, mesmo que só seja emigrar. Os desafios colocados pela Troyka, por causa da dívida cavada pela Gestão Política em Portugal até 2011, são, na verdade, os velhos desafios colocados pela Política à Portuguesa a si mesma e a nós: durante anos, mesmo décadas, toda a noção de obra materializava-se em estruturas físicas, basicamente, e na parecerística cara contratada fora do Estado para coisa nenhuma a não ser para bizantinar e tornar inextricáveis contratos como os swap, as ppp e estupros colectivos a prazo similares.

Chegou a hora em que as dimensões espirituais, culturais e humanísticas, farão toda a diferença no grande menu dos principais centros urbanos nacionais e, logo, dos Governos com Estratégia Nacional. Em vez de uma rotunda, um ciclo de Música Popular; em vez de um Anfiteatro, de um alargamento de Cemitério, de uma Sala sumptuosa para Reuniões e Espectáculos, uma Semana de Teatro e Poesia e a profusão de grupos, devidamente apoiados e acarinhados pelos poderes públicos e pela comunidade, onde iniciativas de Arte pontifiquem. Aqui se inscreve a minha confiança total nos munícipes que investem parte dos recursos autárquicos em manuais escolares gratuitos, em medicamentos comparticipados, em residências municipais sociais, Infantários, ou mesmo em vacinas fora do plano nacional igualmente gratuitas. [Read more…]

O meu voto de confiança

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E no entanto, nem todos andamos cá para ver andar os outros, e aprender a fazer como eles (sem pensar) fazem. Muitos escutam a sua humanidade pedir-lhes o que profundamente é no que a constitui: um anseio, que requer a caminhada – descoberta, conquista, chama-lhe o que quiseres. A maioria desses caminhantes são jovens, pessoas a quem contudo normalmente se atribuem todos os defeitos herdados dos pais, como se o Mundo que lhes é dado a viver nada lhes trouxesse, não os confrontasse, como se fossem apenas os genes de que são a reprodução mais recente. Alguns desses jovens viajantes que não querem já saber dos carros e das casas (que o desemprego que lhes destinam torna de qualquer modo inalcançáveis) fazem-se hoje portugueses noutros lugares.

Cruzei-me há dias com uma jovem estudante que quer cumprir a sua vocação e ser médica – ser médica pelas razões certas e eternas que fazem da medicina uma missão. Como o jornalismo o é, ou o ensino, e também a política, apesar de tudo aquilo a que assistimos e que nos é oferecido como normalidade. Gostaria de ser médica, essa médica, em Portugal, onde é tão precisa. Mas receia não aguentar a pressão, os sistemas informáticos de gerir pessoas ainda demasiado centrais no processo curativo, e ainda cheios de deficiências e de rigidez, sem espaço para a diferença (a singularidade que cada ser humano é), reproduzindo o que acontece na organizações, onde as pessoas competem pela sobrevivência e pelo poder, e onde a diferença não serve, não cabe.

Vi nessa estudante de medicina, como em muitos mais jovens que vou conhecendo, a visão desse mundo em mudança, dentro da cabeça dos mais novos, em gestação rápida que os tempos vão velozes, um mundo a nascer e que se construirá sem dúvida contra aquele que hoje decai alegremente, perante a indiferença de tantos para quem a injustiça é uma espinha de engolir.

O presente envenenado

O apelo presidencial de um compromisso de salvação nacional, foi aceite pelo PS que já iniciou diligências com o PSD e o CDS. Esse apelo, ao contrário do que muitos poderão pensar, é um forte apoio ao Governo. É um modo de arrastar o PS para a lama, para o lodaçal criado por este Governo, que além de piorar o défice, conseguiu alastrar a pobreza, atrofiar a economia e esvaziar o sentido de vida de um povo. E só um PS sem carisma, titubeante e ideologicamente vazio, aliás à imagem e semelhança do seu líder, aceitaria semelhante engodo. Só um PS sem liderança ou carisma, amarrado a compromissos estranhos ao interesse nacional, sem qualquer independência ou ideologia. Para significar mudança, o PS teria de ser aquilo que não é. E este PS não é esse partido. Não é este PS, nem nenhum partido do chamado arco governativo – PS, PSD e CDS. Uma falência de independência que é a causa primeira da inoperância dos partidos políticos com responsabilidades governativas ao longo da democracia portuguesa, cuja factura andamos a pagar. E a razão primeira de aceitar negociar o inaceitável: pactuar na manutenção no poder de quem mentiu descaradamente para ganhar as eleições e assim tornou a mentir para se manter no poder; de quem não soube governar nem escutar; de quem não tem escrúpulos para conseguir mais poder ou nele se perpetuar. O apelo presidencial não é um apelo: é um presente envenenado, aceite pelo PS. Um presente e um futuro.

Economia da felicidade

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Há uns dias, em França, no âmbito das 13ª edição das Rencontres économiques d’Aix-en-Provence, o Cercle des économistes promoveu uma iniciativa que teve por base um programa chamado Inventez 2020, la parole aux étudiants (Inventem 2020, a palavra aos estudantes). O programa, participado por centenas de jovens oriundos de toda a França, desafiou-os a escrever um texto de reflexão prospectiva sobre o estado do Mundo em 2020 – nele pondo as suas perplexidades, expectativas e desejos. Seleccionados os cem melhores textos, o Cercle des économistes convidou os seus autores a subir a uma tribuna para dar conta das ideias neles contidas.

O que disseram? Que querem viver num mundo mais compreensível e mais feliz. A felicidade – variável desprezada pela generalidade dos empregadores – é o que os move, e estão certos. Crescimento? Sim, claro, disseram todos, mas antes de tudo o mais um crescimento que faça inflectir o caminho danado do capitalismo financeiro, produtor de grande número de pessoas infelizes em toda a parte. [Read more…]

Regionalistas de bancada

Não gostam do Jamor!

Amanhã, às 15h

Para memória futura ficam as declarações de Nuno Crato:

“O Governo não está a discutir, o Ministério não está a discutir qualquer aumento do horário de Professores e muito menos de 35 para 40 horas. Isso não está em causa” (…) “Eu posso dar essas garantias para que as pessoas estejam tranquilas em relação a isso”

 

Estou tão tranquilo que amanhã, sábado, dia 16 de fevereiro volto à rua!

Abraçar a Casa da Música

Casa-da-musicaEsperemos que o abraço agendado para hoje às 15.30h, possa salvar a Casa da Música dos cortes anunciados para 2013.
Esperemos que sejam ouvidos os mais de 40 signatários do apelo Um Abraço à Casa da Música. Eles têm razão: “Um Governo que desinveste na Cultura  não acredita no futuro (…)  nem honra os seus compromissos” e, por isso, não merece a confiança dos cidadãos.
A Casa da Música merece um «15 de Setembro», sim. Mas, ao contrário do que sugeriu Paulo Rangel , essa manifestação – mais que oportuna neste momento -, devia ser feita não só pela população do Porto e sua região, como também por todo o país!
A Casa da Música é a casa de todas as músicas e de todos os públicos. É também daqueles que, em princípio, nunca lá entrariam. Estamos a falar do trabalho que a Casa da Música desenvolve com as comunidades desfavorecidas – «som da rua» ou o trabalho que fizeram em 2008 com reclusos de Custóias no projecto “A Casa vai a casa”. Lembro-me que li “Não podendo ir Maomé à montanha, há que levá-la até junto do profeta. E,  ultrapassado que está o estigma de serem vistos como “meninos do coro”, são  agora quase 50 os reclusos do Estabelecimento Prisional do Porto (em Custóias,  Matosinhos) inscritos num projecto que os fará actuar na Casa da Música (…)os  Ala dos Afinados,que tinham uma canção:  “Uma vida, uma oportunidade/Um castigo, um futuro/Liberdade”.
Mas a Casa da Música é ainda mais (são muitas as suas valências). [Read more…]

O melhor está para vir

Obama prometeu, no seu discurso de vitória, que, “para os EUA, o melhor (ainda) está para vir“.

Esta frase ficará tão ou mais célebre que “Yes, we can”, proferida pelo primeiro presidente negro dos EUA na sua primeira eleição em 2008, ou como a de Bush, quando este se referia a Bin Laden: “Dead or Alive”.

Não imagino nenhum político português ter a ousadia de dizer que, “para Portugal, o melhor está para vir“.

Obama pode dizer isso.

As bandeirinhas de milhares de norte-americanos agitam-se, eufóricas, ao som desta música e numa ovação de três minutos: “o melhor está para vir”, um grande título para uma canção ou hino de campanha.

Também eu queria ouvir esta frase abençoada…

Tomara que os nossos políticos tivessem como lema o «tudo por tudo», «ou vai ou racha», «custe o que custar», «dead or alive», «sim, nós conseguiremos»,  para que Portugal tenha um futuro mais risonho.

A felicidade também faz um jornal

Hoje, Miguel Esteves Cardoso (Público) sacia-nos com estas palavras, poesia perdida (?), poesia que não é um engano nos dias que correm, poesia que é a nossa maior necessidade. As suas palavras – intencionalmente encaixadas entre notícias de austeridade, troika, dívidas, TSU, pobreza, desaparecimento da classe média, etc.- que, com amor se casam uma às outras, como MEC e Maria João, falam do que verdadeiramente interessa na vida, ofuscado pela miséria que nos aparece mais visível:

O futuro contém a nossa morte e, depois dela, o infinito de nadas, chato como o ferro do cosmos, que antecedeu os nossos nascimentos.

A felicidade, se calhar, é desejar que as coisas não piorem muito, de dia para dia, para não se notarem tanto.

O presenteaquilo que ainda se tem, a começar por estar vivo e lembrarmo-nos de termos estado pior — é a felicidade maior, somada às memórias de felicidades que continuam vivas e que nos fazem sorrir, pertencer e desejar bem aos outros que ainda não as tiveram. Se não nos lembrarmos de termos estado pior ou não tivermos a esperança de ficarmos melhor, já não conta como felicidade; já não conta como presente. Não é só dizer “eu ainda consigo”: é preciso também haver a consciência de ter prazer, não em conseguir, mas nas coisas que se fazem.

Todos sabemos o que nos espera. Interessa apenas decidir não tanto o que fazer enquanto esperamos como descobrir as formas que ainda nos restam de nos distrairmos. A distracção é a forma mais exaltante da vida. Quem se pode distrair — amando, lendo, pintando, trabalhando, coleccionando, politicando — não pode ser inteiramente triste, não por não estar apenas simplesmente não-morto e vivo, mas por ter encontrado a maneira de fazer pouco do presente, em atenção ao passado ou ao futuro lembrado ou desejado, como momento e movimento em direcção a eles.

Restam as consolações.

Quando é ser momento ou movimento a única coisa, para se ser feliz, que se quer.

E viveram felizes para sempre

Cavaco perguntou, em Évora, ao Noivo:

– “Quer casar com a Noiva?”

– “Não.”

E viveram felizes para sempre, ou não.

Mas, pelo sim, pelo não, todos para a boda em Belém.

É verdade que o noivo não foi convidado para a festa – no seu lugar foi o contabilista.

Com um pequeno grande detalhe – a Maria anda a dormir mal e por isso à uma hora a festa termina. Lamento amigo, mas a pista fechou.

Podem começar a assobiar.

Vamos continuar

Agora pela Escola Pública!

Amanhã, 2ª feira numa cidade perto de si.

General Humberto Delgado regressa hoje ao Porto

Não vivi os sentimentos de 1958 no Porto.

Ouvi falar muito de Humberto Delgado pela voz de pessoas que no dia 15 de maio (há quem escreva 14) estiveram no Porto.

Sente-se algo de parecido hoje. Há qualquer coisa no ar de diferente. Há gente que nunca vai e hoje telefona a dizer que vai lá estar.

Hoje respira-se Liberdade por aqui!

Rigorosamente a não perder numa Praça perto de si.

Por mim, vou! AGORA!

Escola Pública e País – cumplicidade de MobiÜs

No último dia do mês de Agosto, o Ministério da Educação e Ciência publicitou as listas de colocações de professores, nokafkiano que vem de há anos. E se quando não havia computadores até se entendia este funcionamento burocrático, é menos óbvia a percepção dos motivos que levam a esta demonstração pública de desrespeito por uma classe que aguarda em frente a um ecrã uma informação: colocado ou não colocado é a dúvida.

E esta atitude, que faz lembrar o olhar do Imperador sobre a arena do circo romano, leva-me para a Fita de Mobius e as suas propriedades onde a fronteira e o interior se confundem, mas onde cada ponto permite um ponto de vista diferente sobre a mesma realidade. Para Nuno Crato, o Ministério da Educação e Ciência não contratou tantos professores como o ano passado porque não precisava deles. Para os docentes que ficam de fora, depois de anos e anos a trabalhar, a sensação é a do despedimento. Para quem está de fora fica a confusão sobre os pontos de vista, havendo, no entanto, uma certeza, que deixo sob a forma de questão – o que pensaria Portugal se uma empresa despedisse quase seis mil trabalhadores de uma só vez?

Um passeio na Fita de MobiÜs seria uma aventura interminável, de cumplicidades permanentes entre o estar fora e o estar dentro, entre o interior e o exterior. É a imagem perfeita para expressar a urgência da Escola Pública em Portugal – uma cumplicidade sem fim com o país, com as pessoas, com o futuro de um povo. Uma união de objetivos e de ideias, mas também de práticas onde a comunidade educativa, com os seus diferentes agentes possa ser exigente com a Escola Pública, assumindo-a como parte de si, como parte de um património que o País não se pode dar ao luxo de dispensar.

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A Escola Pública vai fechar?

Uma reflexão para ler sobre a Escola Pública, por José Carlos Cidade:

“Ironicamente é num momento de recessão, de grandes dificuldades para as famílias que o governo diminui a capacidade de resposta da Escola Pública, tornando ainda mais complicada a saída da crise. A Escola Pública é uma conquista da República e, em especial, da Democracia que não pode ser maltratada e reduzida a nada por um qualquer preconceito ideológico ou por um qualquer pretexto económico. Fechar a Escola Pública seria fechar o futuro do país.”

A Happy Woman menos feliz

A Happy Woman foi a revista de moda com a maior queda de vendas em Portugal, embora continue a ser a mais vendida.

São mais de 18 mil mulheres as que deixaram de comprar revistas de moda em Portugal. A ‘Vogue’ foi a única a subir.

Outras viram-se obrigadas a fechar.

Pelo contrário, na China, as revistas de moda são fenómeno. Este país é um “autêntico paraíso para o mercado do luxo e as revistas de moda”.

As portuguesas estão a poupar no supérfulo, claro, enquanto “que a maioria das chinesas está a sair da pobreza para a classe média e alta (…)”.

Tudo ao contrário… uns a sair outros a entrar na pobreza.

«Aprenda a ler o destino na palma das mãos»; «Os novos medos que nos estão a dominar»; «As despedidas de solteiro que eles escondem»; O meu signo»; «Venha a um leilão de escravos»; «Envolvi-me com o meu psicólogo»; «Demos a exprimentar os melhores sex toys», as promessas da Happy Woman para este mês por apenas 2,50€!

Saudades do futuro

Francisco José Viegas, talvez deslumbrado com o facto de ser entrevistado pelo Le Monde, aproveitou a oportunidade para tentar ser profundo e acabou por ser involuntariamente lúcido.

Servindo-se de psicologia barata e usando frases de literatura comercial, explica que Portugal não consegue ser feliz com a Europa porque “uma parte essencial das nossas raízes continua em África e no Brasil…”. No fundo, Viegas tenta justificar, aqui, o seu velho entusiasmo pela lusofonia, essa espécie de conceito que serve, sobretudo, para que políticos e universitários garantam uns tachos e o direito a molhar o pé nas águas tropicais, quando devia servir para que livros e ideias circulassem. [Read more…]

Resposta a “Esquerda – destinada a perder?”

Por LuisF

Comentário ao post Esquerda – destinada a perder?.

O século XX assistiu ao apogeu e declínio da esquerda. Esta, conquistou poder e falhou na sua execução, perdendo aí parte do referencial de humanismo progressista que lhe estava (e está) na base. Com a queda do modelo económico e de organização social caiu também a pujança ideológica mais radical, vermelha e comunista. As variantes social democratas não passam de subterfúgios menos ambiciosos duma sociedade baseada no “homem bom” capaz de se organizar em prol da comunidade. Esse “homem bom” revelou-se como é: individualista, interessado no melhor para si, e para os seus. A esquerda não o previu, não o incluiu nem criou formas de o “auditar”…

Apesar desta “dura” realidade para as almas generosas (e talvez a mais bela matriz da esquerda esteja precisamente no sentido humanista de protecção dos fracos e tolerância à diferença), a verdade é que o mundo precisa da “esquerda” como nunca.

Não obstante, a esquerda está ainda na ressaca dos seus próprios “falhanços” históricos e continua a ignorar as alterações profundas que o mundo experimentou nos últimos trinta anos.
Em Portugal, a esquerda “parlamentarizou-se”, sentou-se do conforto dos telejornais, na maciez amorfa do sistema e desistiu das lutas verdadeiras, optando em muitos casos pelas causas perdidas ou até levianas.

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Esquerda – destinada a perder?

No Público de hoje, Maria de Fátima Bonifácio assina um texto, a Impotência da Esquerda Radical, que longe de ser integralmente subscrito por mim, levanta uma questão essencial: se nós, eleitores de esquerda, defendemos uma sociedade que é mais justa, mais solidária, mais equilibrada, etc, etc, etc, como é que estamos sempre a perder? Porque é que os eleitores não votam à esquerda?

Serão, como diz MFB, as propostas de igualdade algo que o eleitor não quer? Será que cada um dos potenciais decisores, no momento do voto, prefere o seu IPAD ao sistema nacional de saúde para todos? Será que o LCD é, na urna, mais valioso que o sistema educativo para todos?

Será que podemos também ganhar?

Ou será que vamos perder sempre?