A internet está cheia de coisas giras. Por estes dias encontrei por aí um site chamado Direita Política, um site que, segundo os seus não-identificados autores, tem como objectivo “a divulgação da politica de direita“, apesar de se dedicar quase em exclusivo a malhar na esquerda, algo que rapidamente se comprova com um curto passeio pelo estabelecimento. O grau de imparcialidade é tal que no separador dedicado à corrupção não há espaço para a corrupção envolvendo actores políticos de direita. Os corruptos, quando nascem, são todos de esquerda.
A área “sobre nós” é reveladora. Lá chegados, somos iluminados por verdades absolutas de um nível de elevação fascinante. Reparem:
Nos países de direita, seja lá o que isso for, as pessoas são mais cultas, educadas, existe mais emprego, mais desenvolvimento e melhores condições de vida. Até podia pegar no caso alemão, onde o SPD, de centro-esquerda, integra actualmente o governo de Angela Merkel, para além de ter governado noutras ocasiões, mas prefiro pegar nos exemplos escandinavos, onde vários governos de centro-esquerda foram bem-sucedidos nas suas funções e, imaginem só, estão à frente de todos os exemplos oferecidos pelos autores anónimos deste site em tudo o que é indicador de qualidade de vida. Talvez tenha sido o funcionamento de excelência do Estado Social nestes países que assustou esta Direita Política.
Já nos países de esquerda, como não podia deixar de ser, é onde impera a pobreza e o caos reina. Coreia do Norte, Cuba e Venezuela não podiam deixar de figurar no lote principal mas, perdoem-me as palavras, é preciso ser mesmo muito estúpido e/ou ignorante para tentar convencer alguém que o país de Tchaikovsky e Tolstói é um país pouco educado ou inculto. É preciso comer clichés fanáticos com bagaço ao pequeno-almoço. O problema da Rússia está longe de ser falta de educação ou cultura. O problema da Rússia é mais ou menos o mesmo que o nosso: classe política corrupta e incompetente que gere para as elites e não para o povo. Simples. Mas aqui devo voltar ao parágrafo anterior: então e quando países como a Dinamarca, a Suécia, a Alemanha ou a Holanda foram governadas por executivos de esquerda? Caiu uma cortina temporária de pobreza, caos, analfabetismo e crime sobre estes países? Já agora, criminalidade e grupos criminosos? Será que esta malta conhece os EUA? Não devem conhecer.
Trata-se, portanto, de um site de propaganda barata, de autores de cara escondida, de discurso fundamentalista feito de meias verdades e outras aldrabices, musculado com todo e qualquer atropelo de esquerda mas sempre cobarde no que toca a mostrar o lado negro da força que tentam proteger. E aqui entra a publicação que me fez descobrir esta coisa. Segundo o autor X deste site, as 154 nomeações feitas pelo actual governo no espaço de 41 dias representam um “record absoluto“. E isto funciona muito bem nas redes sociais. O que ninguém lhes disse – e mesmo que dissesse nada aconteceria na medida em que isto é malta que tolera tudo o que a direita faz – é o que anterior governo nomeou 1097 nos primeiros 214 dias de governação. Portanto, para que este governo estabelecesse o tal record absoluto, teria que ter nomeado, nesses 41 dias, qualquer coisa como 211 boys.
Claro que a propaganda serve o seu propósito e o anonimato cobarde mantém tudo na opacidade. E se esta gente tivesse o mínimo interesse em defender o interesse público, que claramente não tem, teria no passado contado as histórias do primeiro-ministro que não queria ser eleito para dar empregos aos amigos, das castas à prova de austeridade ou de tantos outros episódios da boylândia do anterior governo, do enxamear da Segurança Social aos especialistas em programas de ajustamento com pouco mais de 20 anos e um cartão da JSD, passando pelo ex-patrão de Pedro Passos Coelho ou por todo um batalhão de gente que se fez muito bem à vida enquanto governou. Mas não o fazem porque não passam de um instrumento de propaganda de quinta categoria. O fundo da cadeia alimentar.
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