O problema era de cariz religioso e resumia-se numa pergunta: Pode haver dois papas ao mesmo tempo na mesma cidade?
– Pode – diziam no Porto – nós temos o nosso papa, o Papa Portista.
– É um papa de pacotilha. – diziam outros.
Para resolver o diferendo, e porque os apoiantes de cada lado eram muitos, escolheu-se o estádio do Dragão, que se encheu de mirones.
De Lisboa vieram Jesus e seus pupilos, entre os quais o Anjo de Maria. No Porto encontravam-se já o dito Papa Portista, o seu braço direito Jesu(aldo) e respectivas tropas.
O Papa Portista instalou-se no camarote VIP começando por incorrer no seu primeiro pecado capital: a soberba.
Jesus preferiu misturar-se com os homens e sentou-se mais abaixo, num banco junto ao relvado.
Para manter o simbolismo do acto, o juiz foi escolhido em função de uma virtude espiritual: a Benquerença.
Os apoiantes das duas facções manifestavam-se ruidosamente, nem sempre fazendo jus ao nome do juiz.
Benquerença, chegando a hora marcada, autorizou que se começassem a exibir argumentos canónicos.
Perante a argumentação opositora, e não sendo o momento adequado para negar revelações, o Papa Portista resvalava disfarçadamente para outro pecado capital: a ira.
Jesus, lá em baixo, revelava a sua face humana e comungava os sofrimentos e alegrias dos homens que por ele se batiam. A redenção, para estes, afigurava-se próxima.
O juiz atrapalhava-se aqui e ali, como seria de esperar em matéria teológica envolvendo subtilezas complicadas e interpretações delicadas.
A multidão, pouco dada ao estudo das escrituras, gritava por sangue e desejava a derrota adversária, perante as diferentes razões que, com maior ou menor arte, os contendores se esforçavam por exprimir.
À medida que o tempo avançava o Papa Portista sucumbia a mais um pecado capital: a inveja.
– Estes tipos – pensava a sós com a sua gravata – apesar de tudo, têm tido no último ano argumentos mais fortes do que os nossos. Ainda me dão cabo da carreira pontificia.
Jesus mexia-se nervosamente no banco.
Durante noventa minutos discutiu-se no relvado quem tinha, afinal, direito à posse da Bula.
Trocadas todas as razões e em função da eficácia argumentativa dos dois lados, não se esperando milagres, Benquerença deu o julgamento por terminado.
Eis o Veredicto Final: Não foi possível a este tribunal decidir hoje de forma definitiva. A decisão final fica marcada para o estádio da Luz, em Lisboa, dentro de uma semana. Em caso de voto favorável aos argumentos de Jesus cumprir-se-á o seguinte: no dia 14 de Maio, sexta feira, na mui nobre cidade do Porto, Papa haverá só um, o romano e mais nenhum.
Conhecido o resultado Jesus e os seus pupilos recolheram aos túneis entre assobios, aclamações e provocações. Jesus virou-se então para os apóstolos e disse-lhes:
– Para a semana, se tudo correr como esperamos e para que não me acuseis de avareza, estareis finalmente livres para pecar. Cedereis à gula e à luxúria, pois tereis então ganho com o vosso esforço o direito ao título e à preguiça.
mas que delicia religiosa…
Mas o Dragão hoje estava furioso. Ganhou bem! E não vi nada de especial no árbitro. O primeiro golo os centrais do benfica nem saltaram; no segundo golo é de bandeira, sai, saiu, nada a fazer.
Góstéi…