Post scriptum

No passeio de lá, apareceu de repente o meu pai. A minha cabeça sabia, e soube-o durante todo o tempo que a cena durou, que não podia ser o meu pai. As pessoas mortas não passam do lado de lá da rua, embora haja aquela história muito bela do Juan José Millás, de quando ele era pequeno e acreditava que quem morria ia viver para o bairro dos mortos, nos arredores da cidade. A minha cabeça sabia que não era possível, mas o meu coração acreditou, por instantes. E por isso bateu um pouco mais depressa. E as pernas, que sabem aquilo que a cabeça lhes diz, desta vez deixaram-se enganar pelo coração e tremeram. Em seguida, a cabeça recuperou o domínio sobre todos e lembrou que não, não pode ser, aquele homem, reparem bem, não pode ser ele e não é ele. É certo que o recorda um pouco, no cabelo, no casaco, no jeito de andar, mas nada mais. Aquele homem é um desconhecido. Não batemos, coração, mais depressa por um estranho. Nem trememos, pernas, por desconhecidos do outro lado da rua, que não nos perseguem nem ameaçam, nem sequer reparam em nós. Vamos lá recuperar o bom senso. [Read more…]

Imperfeito

Começa-se por tropeçar num tempo verbal: o pretérito imperfeito. Quem já não está connosco gostava, ria, comia, ia, costumava. O presente já não é possível porque o nosso presente não o é para ele, e apenas nos resta mantê-lo entre nós com esse artifício do pretérito imperfeito, situado num passado repetido na nossa memória, transformado num presente que é agora também imperfeito porque não existe. Digo “ele gosta” e logo me dou conta da impossibilidade, habituo-me à imperfeição do pretérito, obrigo-me a corrigir o tempo verbal como se o rigor gramatical fosse um auxiliar de cura, uma terapia, quase um amigo. “Ele gostava”. [Read more…]

As ilegalidades destes dias

Dois fatos ilegais têm acontecido nestes dias, Fatos que, pela tristeza que me causam, foram silenciados no meu consciente e inconsciente, levando-me a guardar silêncio. Vão as minhas primeiras palavras para as mães e pais sem filhos e os pais e mães sem esposos, estudantes sem docentes e discentes sem professores, por causa dos pelos acontecimentos de New Town, em Connecticut, fundada em 1705 e incorporada aos Estado da União em 1711, em Fairfield, norte de Nova Iorque. Em 2003, Gus van Sant tinha filmado outra matança de estudantes e docentes, em Portland, distrito de Oregon nos Estados Unidos de Améria, conhecida como a Massacre de Columbina.

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Um velório tipo sapataria, à medida do pézinho

Fernanda Câncio tem uma nova causa: funerais à sua medida. Luís Rainha consegue escrever sobre o nojo dos outros. Eu não.

a morte do avô

textoi dedicado em 2004 à pequena querida Constança Souta, hoje já menina

Alice Miller, no seu texto de 1999, afirma que a verdade liberta os seres humanos, as pessoas. Mas liberdade para quê? Talvez para o caminho do engano e da falsa verdade que o adulto tenta transferir aos pequenos, por causa do seu próprio temor. Ou, por causa da sua própria dor. O adulto nem sempre entende o que é a realidade e pretende transferir o seu entendimento, para fugir da tristeza que certos processos da vida lhe causam. A morte é um deles. Especialmente, a morte do pai ou da mãe do adulto. Os grandes ficam presos nos seus sentimentos, do amor que têm e tiveram e vão continuar a ter, pelo adulto desaparecido. Essa dor faz com que disfarcem o real perante os mais novos, facto que me faz pensar noutra ideia de Alice Miller, a de 1981: não deves saber que…?

Nós, adultos, parecemos possuir a verdade que liberta, não está nos livros, está na vida e no decorrer do nascimento até partirmos para outro sítio. Qual o lugar, quem vamos ver outra vez, onde está a pessoa amada? Mas será que uma criança coloca esta pergunta? Nós, adultos, não temos resposta perante a morte. Para nós é um sentimento, uma comoção. Um terramoto nas nossas vidas, como se o chão nos fugisse. É um

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prostitución de crianças

reedito este texto en memória del amigo que me desafaria a escreve-lo

Devuelvan nos al niño!

(canção sem palavras)

Em memória de mi amigo Estevão Stoer, amigo durante anos, cujos comentários me desafiaram a escrever este texto. Como outros escritos da minha vida.

1. A ilusão da infância

Ilusão de quem? Do adulto ou da criança? O adulto tem pensado como deve ser uma criança. Tem desenhado as suas habilidades e aptidões, a sua inocência e a sua responsabilidade. A compilação de decretos eclesiásticos do Bispo católico Graciano, feita durante o século IX e convertido em Código no passado século XX, define à infância. Com essa inocência e irresponsabilidade civil e criminal, já conhecidas pelos meus leitores, à força de tanto martelar sobre o facto neste jornal. Napoleão Bonaparte, mandou também compilar esses textos, para o Código Civil que nos governa. [Read more…]

e os sentimentos no prolongamento artificial da vida? a Nai Esperanza, luto e melancolia

os meus sentimentos desenham o amor das nossas mães

Todos gostriamos vamos viver eternamente, da maneira e forma que hoje somos. Todos quereriamos manter o corpo da forma atraente e sedutora. Mas as descobertas no campo de ciência médica e genética, acrescentando um valor alimentar que os nossos ancestrais não conheciam e comiam o que havia com o valor nutritivo que pensavam ser o adequado. Especialmente em áreas rurais ou em áreas periféricas das grades cidades, sítios em que o porco era e ainda é a base alimentar. Minguém parecia importar-se com esse desconhecido conceito colesterol. Não é estranho, porém, que os que comiam menos, viviam mais anos.

Esse comer menos junto a um trabalho intenso, físico ou intelectual, mantinham o corpo são e com força. O descanso depois de uma refeição, era outra parte do segredo da natureza, como o não beber em excesso, e abster-se do café, esse vício trazido pelos lusos portugueses desde Ásia e cultivado nas colónias portuguesas de África e introduzido, seguidamente, no velho continente. Desde a China, onde era denominado chá, foi exportado para a Grã-Bretanha pela Infanta portuguesa Catarina de Bragança, a

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maria fernanda loureiro

homenagem a uma compatriota, conhecia à moda etográfica de Lewis

Conheci a Maria Fernanda, pelos anos 80 do Século passado, mais precisamente em 1988. Tinha 22 anos, magra, alegre, sempre com um sorriso, a tomar conta das crianças com as limpezas que fazia na escola e as comidas que preparava para as crianças que trabalhavam connosco na escola. Os seus pais são Manuel Marques Loureiro e Elvira de Jesus de Loureiro. O seu irmão, o amigo e compadre Ramiro Vítor Loureiro, casado com Fátima Abrantes e pais de Sara, a minha afilhada. [Read more…]

Alice Miller foi-se embora

 
 
 

 

 

Retrato de Alice Miller em casa, sítio para escrever livros

Alice Miller, nascida em 12 de Janeiro de 1923, é uma psicóloga polonesa que se mudou em 1946 para a Suíça. Seu trabalho é notável pelo enfoque em abuso infantil. Os seus livros, escritos em alemão na editora Shurkamp Verlag, Frankfurt am Mein, foram  traduzidos para o inglês, em Virago Press, para o castelhano em Tusquets, para  o luso-brasileiro por Boitempo, Rio de Janeiro. O seu trabalho tem sido a base das minhas teorias sobre Antropologia da Infância, Antropologia da Educação e, mais recentemente, Etnopsicologia da Infância.  Tenho dedicado imensas horas de ensino sobre a criança, investigada e analisado por mim e equipa, ao longo de  ao longo de 30 anos. A minha derradeira comunicação com ela, foi aos começos de Abril deste ano. Quer os gestores do nosso projecto The Natural Child, quer o seu filho Chris Miller, comunicam-me hoje que a 14 de Abril, Alice Miller nos tinha deixado, aos seus 88 anos de idade. Foi expulsa do Colégio de Psicanalistas pelo seu atrevimento de dizer que uma criança não é um adulto e não pode ser submetido a sessões de psicanálises, apenas a conversas cobre a sua vida. Soube analisar a vida do maior assassínio da História, Hitler, a vida alegre e cheia de fantasia da Pablo Picasso, e nos explicara como e porque um homem só e triste, como Buster Keaton, sabia por o rir na cara das multidões. Defendeu principalmente o drama da criança dotada, obrigada a ser inteligente e saber muito pelos seus pais. O seu texto de 1998 Thou Shalt not be Aware. Society´s Betrayal of the Child, Pluto Press , (!981 em Verlag, Frankfurt am Main) USA e Grã-Bretanha, 1991, em luso brasileiros: [Read more…]

una pareja

La pareja de Presidentes de Polónia

Hablar de pareja, hoy en día, es un asunto de mucho cuidado. Diría más, es un asunto delicado. Pienso que lo primero es definir el concepto de pareja. Según el Diccionario de la Real Academia de la Lengua Española, pareja es un conjunto de dos personas, animales o cosas que tienen entre sí alguna correlación o semejanza, y especialmente el formado por hombre y mujer. Hasta porque las hay del mismo sexo y las de género diferente. [Read more…]