A baía de Angra do Heroísmo é, do Mundo, a que maior densidade de naufrágios históricos apresenta – nela se encontram mais de noventa navios naufragados, desde caravelas portuguesas até vapores brasileiros, passando por galeões espanhóis e naus da Carreira da Índia portuguesa.
Estes naufrágios estão protegidos por várias leis, desde a Convenção da UNESCO que Portugal ratificou em 2008 até às mais variadas leis nacionais e regionais – a baía está classificada como Parque Arqueológico subaquático, onde é proibido construir o que seja.
Não obstante isto e não contente com o estrago que a construção da Marina de Angra causou já a este património único no Mundo, o Governo Regional dos Açores quer agora construir ainda mais outro mamarracho nesta acanhada baía: um cais Terminal de Cruzeiros.
Ao arrepio da democracia participativa e, pior, ao arrepio de toda a legislação de protecção ao património cultural subaquático vigente, incluindo a que ele próprio aprovou, o Presidente do Governo Regional escolheu a baía de Angra como alvo de mais uma betonagem. Escolheu-a como opção política, sem que houvessem quaisquer estudos de impacte ambiental feitos, sem que estivessem em cima da mesa quaisquer outras opções em discussão.
E, o mais grave disto é que,em total desconformidade com os princípios da economia, da eficiência e da eficácia, jaz às moscas e a menos de 20 km de distância, o Porto Oceânico da Praia da Vitória – o local ideal para construir o Terminal de Cruzeiros da Ilha Terceira!
Concluindo, a construção de um cais desta natureza na baía de Angra mais não é do que um capricho do Governo, que este agora quer legitimar ordenando a elaboração, a posteriori) de um estudo de impacte ambiental. É um atentado ao património, um assassinato da legalidade, uma infracção às regras comunitárias e um descaso à UNESCO e aos cidadãos – açorianos, continentais e estrangeiros – que preferem o peso e o legado da história ao perfume da modernidade bacoca do betão.
Vai a Não ao Cais de Cruzeiros na Baía de Angra do Heroísmo:
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Editar definições de e-mail para o grupo Não ao Cais de Cruzeiros na Baía de Angra do Heroísmo:
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Sou angrense. Vivo há muitos anos em Lisboa. Olho com pasmo para a cidade de Angra sempre que lá regresso. É o pasmo de quem não consegue conceber a enormidade que são os mamarrachos que sucessivamente são “plantados” na cidade, chega a ser doloroso o estado de abandono da cidade, onde desafio alguém encontrar uma referência que seja ao seu estatuto como cidade património classificada pela UNESCO. Para além dos casos referidos no texto, há que relembrar que foi parcialmente demolida uma arriba sobre a baía para ser lá inserido um hotel, espelhado, para se poder lá reflectir o mar… Ou a inexistência de um projecto coerente de urbanismo. Angra está cada vez mais desfeada, desleixada e sem rumo. Mais valia que fizesse companhia aos naufrágios da sua baía para não perecer às mãos dos piratas que hoje a saqueiam.