Na mensagem de Natal dirigida aos fiéis da São Caetano à Lapa, Pedro Passos Coelho voltou a faltar à verdade, ao afirmar que o seu partido não alinha em “encenações, opacidade e ocultações”. É claro que, e porque ainda existe esperança para o PSD, nem todos os militantes daquele partido alinham ou alinharam nos vários casos em que Passos Coelho ou alguns dos seus mais próximos colaboradores alinharam em “encenações, opacidade e ocultações”. Politicamente moribundo, o ainda líder do PSD atravessa inclusive um momento em que a oposição interna finalmente decidiu sair do armário e iniciar uma pequena rebelião com intuito de depor o comandante-chefe laranja. É o golpe de Estado.
Regressemos às “encenações, opacidade e ocultações”, as tais em que Passos Coelho e o seu partido não alinham. Comecemos pelas encenações. Não foi Passos Coelho que garantiu aos portugueses, durante a campanha que antecedeu a sua ascensão ao cargo de primeiro-ministro, que não ia subir impostos, não cortaria salários ou venderia património do Estado “como quem vende os anéis para ir buscar dinheiro?”. Não afirmou todas estas coisas, e outras mais, para de seguida fazer o exacto oposto? Então e aquela encenação do Portas, quando se demitiu para progredir na carreira, não terá Passos alinhado nela, cedendo às exigências do seu parceiro de coligação? E o embuste da sobretaxa, na antecâmara das Legislativas, quando o seu governo garantia, a poucos dias das eleições, que devolveria 35% da sobretaxa? E a treta da saída limpa? Já chega de encenações ou será preciso escavar mais um bocadinho?
Falemos agora de opacidade. O caso Tecnoforma, onde para além de Passos e Relvas estão envolvidos uma série de dirigentes e militantes do PSD, investigado pelo Organismo Europeu de Luta Antifraude, é transparente? Então e caso Webrand, que envolve um dos homens fortes de Passos, Marco António Costa, não é ele todo um tratado à opacidade? E o caso dos Vistos Gold, que tem como protagonista um dos ex-ministros mais próximos de Passos Coelho? E os documentos sobre os swaps ruinosos assinados por Maria Luís Albuquerque que foram literalmente destruídos? E aquela história do Banco Efisa e dos deputados que estavam a ser pressionados por falarem demais? Nunca mais saímos daqui. Em todo o caso, deixo aqui uma lista que elaborei há um ano, plena de histórias onde a variável comum, regra geral, é a ausência de transparência. Será que Passos quer mesmo falar sobre opacidade?
Finalmente, as ocultações. Quem se lembra da proposta pelo Banif que o seu governo escondeu? E, ainda a propósito do Banif, que dizer do lixo que foi varrido para ocultado debaixo do tapete, no âmbito da encenação da saída limpa? Então e aqueles dois pareceres da Inspecção-Geral das Finanças relativos a relatórios trimestrais da Comissão de Auditoria da Caixa Geral de Depósitos de 2014 que mostravam um agravamento das imparidades do banco público, e que ficaram meses ocultados numa gaveta, sendo despachados a 15 dias das Legislativas? E a declaração de rendimentos que Passos Coelho deveria ter entregue em 1999, já apareceu ou continua oculta?
E era isto. Um agradecimento especial ao nosso primeiro no exílio, pela incansável batalha contra os seus próprios pés. Era escusado enganar os portugueses no Natal, é certo, mas os dias do fim tendem a ser assim, trapalhões e desesperantes.
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Tudo bons rapazes 🙂