A proposta que isentou do IMI as famílias com rendimentos brutos anuais até 11.560 euros foi aprovada por todos os partidos, excepto PSD e CDS, aquando da votação do OE2016.
Isso agora não interessa nada
Na votação do OE2016, o PSD foi o único partido que não aprovou a descida da taxa máxima do IMI. Absteve-se.
O Orçamento do Estado e a mensagem política
Com “invertendo a política dos últimos anos, perspectiva-se“, em vez de “invertendo a política dos últimos anos, perspetiva-se”, ficava tudo resolvido. Efectivamente: tudo. Tudo resolvido.
Fachos de Coelho não chegam ao céu
Ouvi finalmente o seu discurso a propósito da proposta de orçamento de Estado para 2016 e tive uma epifania: Passos Coelho é um facho confesso. O homem está perfeitamente a borrifar-se para as pessoas, para o povo. Para o povo que o elegeu, embalado pelas suas aldrabices, cegas de ambição pelo “pote”, no mais vergonhoso assalto ao poder de que há memória em democracia, e para o povo que 4 anos depois não o elegeu, retirando-lhe categoricamente a confiança traída. De facto, como os seus apaniguados o classificaram, um discurso brilhante. Brilhante como um facho a queimar mentiras.
Depois de, como é hábito, recalcitrar na mentira, desta vez a de que a proposta de OE apresentada pelo Governo se limita a dar com uma mão o que tira com outra, mantendo incólume a austeridade, e depois de insistir na facécia de que o poder lhe foi usurpado pelo parlamento, Passos Coelho, para justificar o anúncio de que votaria contra o orçamento – o que só lhe fica bem -, sintetizou exemplarmente as razões pelas quais o povo, que despreza, lhe retribuiu o chuto no cú com desprezo.
Diz ele, a partir do minuto 12′ 30”, o seguinte:
“O país inteiro sabe qual era a estratégia orçamental que nós executaríamos se estivéssemos no Governo. Defenderíamos uma mais gradual, mas permanente remoção da austeridade para não tropeçar no excesso de voluntarismo e não obrigar os portugueses a ter que pagar no futuro, novamente com mais sacrifícios, a imprudência do presente“.
Citações
Assunção Cristas diz que OE lembra “crianças num recreio”. Página 28 do “Manual de Metáforas, Trocadilhos e Graçolas”, de Paulo Portas, edições J. L. Capelo Rego, 2015.
O Orçamento do Estado para 2016 é mau

PE (http://bit.ly/1Q6Ki0W) (*)
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É a justificação apresentada pelo PSD para o voto contra. Concordo com o PSD: o OE2016 é mau, logo, merece chumbo. Contudo, considerando a lógica “voto contra porque é mau”, o PSD deveria ter votado contra os Orçamentos que apresentou para 2012, 2013, 2014 e 2015.
E hoje?
Hoje, há contatos.
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(*)
A screwdriver can be inserted into a cavity and be turned inside, and in this sense could also be used to scratch one’s ear. But it is also too sharp and too long to be manoeuvred with millimetric care, and for this reason I usually refrain from introducing it into my ear. A short toothpick with a cotton top will work better.
— Umberto Eco (resposta a Rorty), “Interpretation and overinterpretation“, Cambridge University Press, 1992, pp. 145-6
‘Quindi non avete una sola risposta alle vostre domande?’
‘Adso, se l’avessi insegnerei teologia a Parigi.’
‘A Parigi hanno sempre la risposta vera?’
‘Mai,’ disse Guglielmo, ‘ma sono molto sicuri dei loro errori.’— Umberto Eco, “Il nome della rosa“
Sinais de esperança
Se um ex-PM que precisou de 8 (oito) orçamentos rectificativos diz que “este OE não tem arranjo possível” deve ser bom sinal.
A alternativa à “geringonça” é um “calhambeque desconjuntado”?
Instalou-se em Portugal um estilo de oposição que diz mal de tudo o que mexe, sem o mínimo de reflexão e sem atenção aos interesses de Portugal. Isso resulta do mau funcionamento dos partidos que, como dizia Viriato Soromenho Marques ontem no DN, nos pode levar de novo ao abismo: “É mesquinho querer ganhos táticos, quando o interesse nacional exige dos partidos seriedade, compromisso e convergência estratégica. O espírito de fação levou-nos à beira do abismo. Se não quisermos mergulhar nele, teremos de pensar e agir de modo diferente“. [Read more…]
Qual classe média?
Eis o gráfico que Ricardo Paes Mamede mostrou, ontem, no programa “Números do Dinheiro”:
Quase 70% das famílias portuguesas vive com menos de 600 euros por mês, e 22,7% não chegam aos dois mil euros. Os rendimentos mais elevados concentram-se em 8,9% dos agregados familiares.
É um bom banho de realidade e, sobretudo, muito útil para perguntar àqueles que acusam o Orçamento de Estado para 2016 de “penalizar a classe média” de que classe estão, afinal, a falar.
(Gráfico disponibilizado por R.P. Mamede no facebook).
Orçamento do Estado para 2016

JOÃO RELVAS/LUSA (http://bit.ly/1PcDInQ)
Já tínhamos visto os “riscos relevantes”, as opções “pouco prudentes” e “a incerteza relativa às consequências de médio prazo”.
E agora? Agora, temos um
com:
acção social (pp. 52, 110, 118, 127 e 131) e ação social (pp. 86, 88, 128, etc.) [Read more…]
OE2016: estrangulamentos e constrangimentos

via The Independent (http://ind.pn/209b6Pq)
O Governo reitera que “está tudo a correr bem”. Considerando o passado recente, este “correr bem” é extremamente duvidoso. Ainda por cima, se não correr bem, sabemos que é possível “*contatar o governo”,
esperar que haja “receção de *contato de qualquer recetor” e manter “contato permanente”.
Estrangulamentos? Constrangimentos? Onde?
Marco António Costa diz que o OE2016 não tem credibilidade técnica
E com toda a razão. Contudo, os OE de Passos Coelho (2012, 2013, 2014, 2015) também estavam «completamente mortos na sua credibilidade técnica». A solução, já sabemos, é extremamente simples.
Não há perspetiva comum
Perspective is lost
— Megadeth, “Foreclosure of a Dream“
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Ontem, Pierre Moscovici desdramatizou o envio da carta de que se fala, sublinhando:
É muito importante que tenhamos conversações estreitas, construtivas e, espero, conclusivas, nos próximos dias, com uma perspetiva comum.
Aparentemente, a Comissão Europeia ainda não foi informada sobre a impossibilidade da adopção de uma “perspetiva comum”. Antes de Janeiro de 2012, efectivamente, havia uma perspectiva que era correcta e comum. Agora, a perspectiva é exclusiva do Brasil e a perspetiva, além de incorrecta, não é comum.
Desejo-vos um óptimo fim-de-semana.
Orçamento do Estado para 2016: irresponsabilidade, incerteza e riscos relevantes

© Pedro Rocha/Global Imagens (http://bit.ly/1VewGAx)
Efectivamente, depois de ter aguardado com serenidade, li o Esboço do Orçamento do Estado 2016 e estou de acordo com a avaliação levada a cabo pelo Conselho das Finanças Públicas. Trata-se de um documento com “riscos relevantes”, com opções “pouco prudentes” e que acentua “a incerteza relativa às suas consequências de médio prazo”.
Reflictamos acerca de alguns exemplos deste Esboço:
- «a política orçamental caracteriza-se» (p. 1) e «caraterizou a economia na década que precedeu a crise» (p. 12);
- «Compl. Reforma Transportes Colectivos» (p. 8) e «rendimentos coletáveis anuais» (p. 8);
- «empresas do sector» (p. 8) e «desempenho do setor empresarial» (p. 10);
- «Poupanças Sectoriais» (p. 8) e «Balanças Setoriais» (p. 4);
- «promover a reafectação» (p. 12) e «é afetada através das previsões» (p. 10);
- «submetidos em Novembro de 2015» (p. 17) e «apresentação pela Comissão Europeia, em novembro de 2015» (p. 1).
Portanto, ao contrário daquilo que diz o ministro das Finanças, não se trata de «um orçamento responsável».
Desejo-vos um óptimo fim-de-semana.
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