Não confundir Mikhail Gorbachev com Mahatma Gandhi

Gorbachev foi uma personalidade marcante, central na definição da nova ordem mundial que resultou do fim da Guerra Fria, e uma das mais importantes na história das relações internacionais do século passado. Não foi, contudo, uma figura consensual, ao contrário daquilo que parece ser a imposição da narrativa, nestes dias em que nos despedimos do último líder da URSS.

Aqueles que celebram o triunfo do capitalismo e da supremacia hegemónica dos EUA, no aftermath da Guerra Fria, destacam o seu contributo para o novo status quo que colocou um ponto final no equilíbrio do terror.

Aqueles que choram a queda do grande bastião comunista e a dissolução do Pacto de Varsóvia relembram a capitulação perante o Ocidente e as atrocidades cometidas no processo de desmantelamento da URSS.

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A União Soviética nunca existiu

Tal como certos e determinados camaradas do Partido Comunista da União Soviética foram desaparecendo “misteriosamente”, das fotos e da face da Terra, também Putin, experiente na arte de fazer desaparecer opositores políticos, pretende que a Ucrânia desapareça sem deixar rasto. As acções do Adolfo de São Petersburgo falam por si.

Azar o dele, a prática da lavagem cerebral torna-se menos eficiente do lado de lá das fronteiras russas, pese embora a adesão de vastas regiões do globo à propaganda, que a arrogância eurocêntrica, cheia de si, não consegue vislumbrar ou combater. Uma das traves mestras da sebenta fascista de Putin, é a ideia de que a Ucrânia não existe enquanto país, por resultar do colapso da URSS. Ora, por essa ordem de ideias, também a URSS nunca existiu como país, por resultar do colapso do império czarista. No limite, nenhum país existe, porque as fronteiras estão há séculos em constante mutação. Itália e Espanha seguramente não existem. Alemanha idem. Portugal também não tem grande esperança de existir, na medida em que resultou de um condado atribuído pela coroa de León a Henrique de Borgonha.

O mais triste nesta narrativa da não-existência da Ucrânia nem é a propaganda russa. Propaganda é propaganda, não é para levar a sério. O mais triste é mesmo haver quem viva numa democracia, com acesso livre a fontes informação sem censura, e acredite numa estupidez desta magnitude.

PCP: João Ferreira, és tu?

“Após a invasão da Polónia pela URSS, na sequência do Pacto com Hitler, o PCP deu esta “explicação” aos seus militantes. Afinal nada do que todos viram suceder tinha acontecido – de acordo com a visão afunilada dos estalinistas de 1939. Tal como hoje. Tanta atualidade 83 anos depois…”, Carlos Abreu Amorim, Facebook, Março de 2022.
O documento foi originalmente publicado por Maria José Oliveira (Journalist; researcher (@ihc_fcsh
, @hah_africa @osomeafuria); History Phd cand.@nova_fcsh & @uniovi_info; Book: WWI port. POWS; Dickens & George Eliot addict)

100 anos sobre a barbárie vermelha…

No dia 27 de Fevereiro de 1917 chegava ao fim a desgastada e ineficiente monarquia russa, na prática o Czar Nicolau II apenas abdicaria em favor do irmão alguns dias depois, mas a recusa do Grão-duque abriu caminho ao que poderia ter sido a instauração de valores democráticos. Infelizmente para os russos, povos vizinhos e grande parte da humanidade, os dias revolucionários de esperança num futuro melhor, culminariam num golpe em Outubro na tomada do poder pela minoritária facção bolchevique, que derrotando forças que lutavam entre si, levaram Lenine ao poder após uma sangrenta guerra cívil. O resultado foi a instauração da ditadura, restringindo as liberdades civil, económica e política. Mais tarde até dissidências ou simples falta de entusiasmo levariam às purgas e ajustes de contas, nomeadamente nos anos em que o execrável regime foi liderado pelo facínora J. Stalin, um dos 3 piores sanguinários, a par de Mao e A. Hitler, que alguma vez governaram… [Read more…]

Revolução de Outubro – 96 anos

Foto de Pascoal Sousa

Foto de Pascoal Sousa

Há 96 anos deu-se a Revolução de Outubro. Com todos os erros e desvios – não há sistemas perfeitos – foi um marco único na história da humanidade. O povo tomou nas suas mãos o seu destino. O “Estado social” europeu foi criado para procurar igualar todas as conquistas dos trabalhadores na URSS. Não conseguiu e está a ser dizimado todos os dias, em todos os países, agora que não equilíbrio de forças sem  socialismo a leste. No entanto, “as derrotas no caminho da libertação são temporárias e comportam sempre lições”. Saibamos retirá-las, estudá-las e o futuro voltará a ser de todos nós, como um dia foi depois da ocupação do Palácio de Inverno czarista. [Read more…]

Aconteceu há 45 anos

Em memória das vítimas…

É desta que aprendo o alfabeto russo

0_746af_e0a0c83d_orig1Pelo meu amigo António Oliveira chego a estas fantásticas ilustrações, com as quais Sergei Merkurov participou na luta contra o analfabetismo, URSS, 1931.  Sim, não é gralha: a União Soviética em 1931 ainda estava muito à frente nas artes (o estalinismo iria impor o realismo socialista no ano seguinte), pese que nesta altura o grande Malevich já tivesse levado nas orelhas. Desconfio que com estas imagens as campanhas de alfabetização no Portugal de 1975 teriam durado ainda menos tempo, mas teriam sido um nadinha mais emocionantes.

Pode ver o alfabeto completo no The Charnel-House que as publica.

Mudanças

(adão cruz)

Casa nova, por sinal bem bonita e arejada. Hoje, quando fui ao Aventar, tive aquela sensação que se tem quando se muda de casa. Salas diferentes, cozinha e quartos diferentes, vistas diferentes. Pareceu-me, no entanto, que esta mudança se deu dentro do mesmo quarteirão, dado que os vizinhos são, praticamente, os mesmos, o que muito me alegrou porque a sensação de mudança torna-se, assim, mais suave. [Read more…]

Quando a vida nos é destruída mesmo antes de nascermos

 

Adil Zhilyaev tem dois anos. É cego e sofre de paralisia cerebral e de hidrocefalia. Doenças que herdou da mãe, que esteve exposta, há uns anos, às radiações emitidas pelos testes de armas nucleares pela extinta União Soviética (URSS) no tempo da guerra fria.

Os pais abandonaram Adil, aqui ao colo da enfermeira Larissa Soboleva, no orfanato de Semey, no Cazaquistão, numa imagem de 24 de Novembro de 2008.

 

Enquanto se assinala hoje o 20º aniversário do Muro de Berlim, uma outra data ficou por registar. Há 60 anos, a URSS fez explodir a sua primeira bomba nuclear, apelidada de “Primeiro relâmpago”, num campo de testes do norte do Cazaquistão. O local, com o nome de Semipalatinsk Polygon, foi cenário de 456 detonações atómicas nos seus 40 anos de existência.

 

Os habitantes das redondezas foram expostos de forma deliberada, por vezes, de forma imprevista, de outras, aos efeitos da radiação. Foram também sujeitos de testes. Acabaram afectados por doenças como cancro, deformidades, envelhecimento precoce, doenças da tiróide e do coração. Ainda hoje a esperança média de vida é de 17 anos a menos que a média nacional do Cazaquistão.

 

A radiação afectou três gerações de residentes. Mais de um milhão de pessoas foram afectadas. Umas mais outras menos. Já se vê que Adil foi dos mais atingidos, como muitos outras protagonistas de uma reportagem fotográfica de Ed Ou para a Getty Images, que o Big Picture hoje mostra.