E prepara-se para actuar na Festa das Cruzes…!
Pinto da Costa não é do Porto
O Fernando Moreira de Sá, grande portista, rejubila, compreensivelmente, com a vitória – justíssima – do Porto sobre o Benfica, querendo transformar essa mesma vitória numa manifestação de superioridade moral, uma lição a um benfica que, na sua opinião, só pode ser escrito com minúscula inicial.
Não faço parte dos que atribuem as vitórias do Futebol Clube do Porto a jogadas de bastidores, mesmo acreditando que há gente de todas as cores a praticá-las, o que tem como efeito mais ou menos cómico acabarem por não ter o resultado pretendido, por se anularem umas às outras. Entretanto, nos últimos trinta anos, como diz o Fernando – e bem – “São onze contra onze e no fim ganha o Porto.”
Já a superioridade moral e a bofetada de luva branca afiguram-se-me mais invisíveis. É certo que Villas-Boas consegue, na maior parte das vezes, ter um discurso mais elevado do que a maioria dos frequentadores da praça futebolística, mas, tirando isso, a verdade é que, de uma maneira geral, em termos de ética, respeito e desportivismo, o nome dos clubes só pode ser escrito com letra minúscula, sobretudo quando temos ocasião de ouvir Luís Filipe Vieira ou Pinto da Costa.
Kanimambo, João!
Kanimambo significa ‘obrigado’ em Changane, um dos idiomas de Moçambique. Como título da canção que o popularizou, é a palavra de agradecimento eterno ao João Maria Tudela pela relação cordial que mantivemos, a despeito dos encontros espaçados e casuais dos últimos tempos. Repito o meu kanimambo, João:
A última vez que nos encontrámos foi numa estação do Metropolitano, em Lisboa. Como sempre, foste afável. Tínhamos ideias diferentes, mas respeitámo-nos sempre. Com a tolerância de quem tem a elevação de aceitar quem não pensa igual. E ao contrário da injusta e falseada opinião, de ignorantes e perversas cabeças, a diabólica censura do ‘Estado Novo’ também não te poupou; quando, em 1968, te afastou da RTP por ousares cantar ‘Cama 4, Sala 5’, de Ary dos Santos e Nuno Nazareth Fernandes. Voltaste em 1975.
Como imaginas, ao saber hoje da tua partida, por aqui e aqui, fiquei desolado. Lembrei-me dos nossos encontros no CIF, onde a tua paixão pelo ‘Ténis’ permanecerá para sempre. Como a minha admiração por ti. Kanimambo e até sempre, João.
Os obscenos dinheiros do futebol
Sou um apreciador de futebol em final de processo de desintoxicação. Diversas e substantivas razões levam a alhear-me do dito “desporto-rei”. Cheguei ao ponto de, pela TV do café mais próximo, me dispensar de assistir a um jogo daqueles que há tempos considerava imperdível – por exemplo, um ‘Barcelona-Real Madrid’, dito assim, em respeito pela ordem alfabética.
A violência, sobretudo entre as claques dos ‘dois grandes’, e todo esse espectáculo degradante de confrontos entre uns e outros e a polícia a tirotear, mostrados nos telejornais, constituem motivos de sobra para a minha repulsa.
Todavia, também dão forte contributo notícias como esta, da saída Villas-Boas poder representar a receita de 15 milhões de euros para o FCP; ou então esta, em que é contado que Ronaldo ganhou 71 mil euros diários, em 2010.
Tais casos, e ainda é mais grave, são meras gotas de água de vastíssimos mares. Nos quais também navega a construção do ambientalista Sócrates de 10 estádios de futebol e de outras infra-estruturas que entram – e de que maneira! – na contabilização do défice público, assim como do défice externo total. Os tais défices que trouxeram até nós a troika e tudo o mais que se vai seguir na caminhada, de cada vez mais portugueses, na direcção da pobreza ou mesmo da miséria.
Não é, obviamente, redutível a Portugal o fenómeno da obscenidade dos dinheiros futebolísticos. É impossível ignorar os mais de 4,5 milhões de desempregados em Espanha; ou, em síntese, as percentagens da população em risco pobreza publicadas pela EUROSTAT para 2009 (últimas estatísticas publicadas). Observe-se as elevadas percentagens da Itália e do Reino Unido, destinos eventuais apontados para Villas-Boas.
É o futebol e o mundo, como diria Rodrigo Guedes de Carvalho. Triste, muito triste, acrescento eu.
Sair do euro é mesmo uma opção?
Os economistas terão uma resposta técnica. Não sendo o meu caso, limito-me a opinar sobre a minha memória dos anos 80. Nesse tempo, de cada vez que havia uma crise orçamental, desvalorizava-se o escudo e todos ficavam mais pobres de um instante para o outro. A inflação era galopante e os juros concedidos aos depósitos a prazo andavam na casa dos dois dígitos. Pura ilusão, já que esses juros nem cobriam o que a inflação levava. Quem tinha meios para isso, teria as suas contas em moeda estrangeira para fugir a este problema. Os restantes mortais simplesmente viam as suas poupanças desaparecer e, simultaneamente, o mesmo salário numérico não chegava para as mesmas compras.
Hoje, com o euro, tal mecanismo não é possível ao nível de um só país mas também ficamos mais pobres. Pagamos mais impostos e cada vez sobra mais mês no fim do ordenado. Mesmo imaginando que sair do euro não teria outras implicações, se fosse possível termos neste preciso momento o escudo, logo este seria desvalorizado como nas décadas anteriores. O mesmo empobrecimento nos atingiria porque o que é importa é resolver o problema e isso passa por parar o descontrolo da despesa. Não vejo por isso que sair do euro seja uma opção, já que o problema não é a moeda mas o que com ela se faz.
a materializacão da solidariedade
…para Maria Teresa Gentil-homem, que honra o seu nome…
Émile Durkheim em 1893, definiu solidariedade como o apoio que uma pessoa dá ao seu grupo social e, também, como esse grupo apoia a pessoa que mora só. Dai, nasceu mais tarde a sua obra O Suicídio, que foi um dos pilares no campo da sociologia. Escrita e publicada em 1897, foi um estudo de caso de um suicídio, publicação única na sua época, foi um exemplo de pesquisa e de como a ciência da vida social deve ser escrita (sempre em monografia). Fez escola: As monografias são, assim, meios de divulgação do conhecimento e da investigação. Entre o seu texto A divisão social do trabalho, em que define solidariedade, e O Suicídio, Durkheim criou o saber da Sociologia. A este sábio, que soube ser solidário com o mundo inteiro, devemos-lhe muito.
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