Um amigo

(pormenor - adao cruz)

Um amigo

Ambos somos a maior cidade, o seio cálido e palpitante, o êxtase da geração, a excitação amolecida desta idade de volúpia e de efusão.

Moderado, claro!

Estando sempre à mão, sendo um abraço supremo, não deve curvar a gente a qualquer tipo de sensação.

Há os que vêem nele um grama a mais que na gordura. Não bebam, ele não é dieta, é ternura, afeição criada no destino humano para musicar a vida e fazer dela uma canção.

A medida é o espírito de cada um e não o balão.

Se é trágica a sua acção, pena de morte! Proscrito seja a quem da vida não tem questão, a quem o fluido calor da crença enche de momentos incolores que mais não fazem do que criar cataras na razão. Ele é sagrado, poético, linguagem de horizontes que não pode ser bebida aos copos, mas em gotas de emoção. O abuso é uma metáfora da natureza criadora e tem de ser internado.

O estado grandioso do pensamento e da razão não termina nos olhos vazios do silêncio, nem no calor da alma embriagada nem nas comissuras reprimidas dos lábios secos. Vamos lá a ver se nos entendemos, para além das rugas e dos discursos. Vamos lá a ver se encontramos a margem do lago sem ondas de agitação. Tomado à medida, não é vida feita à toa, nem inimigo nem fantasma nem demónio. É o estímulo recíproco entre a alma e o corpo na esfera misteriosa da exaltação, que gira e se renova dia a dia no alternativo universo da verdade e da ilusão.

Ele fascina, é certo, mas isso não interessa senão às almas menores. Para estas, maldito seja o veneno, e venha a polícia prender os sonâmbulos, os fazedores de gargalhadas, os ruidosos contra-sensos da dialéctica. Sorrir por fora não existe, não arrebata e nada cria.

Bebido à medida do espírito, à altura do peito, contém a mágica atracção e a complexa virtude de fazer olhar as ondas, mesmo sem o jeito dos que pensam ter jeito de observação.

As mundanas inflexões da felicidade são uma merda.

Frémitos, delírios, desejos, loucuras, explosões, braseiros, desertos, excertos de alma penada, intermitências de eclipse, raízes no céu e flores na terra, mortos que respiram ar de vivos…

Não!

A empatia entre a neurobioquímica do nosso amigo e o pensamento, como poderoso elemento da racional homeostasia da vida…

Ah! Isso sim!

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