Exmo. Sr. Ministro dos Negócios Estrangeiros,
Não nos restando muito tempo para evitar o pior, vou directamente ao assunto e vou ser muito frontal. Peço-lhe que não o considere uma falta de respeito. Vou lhe falar de ESTRATÉGIA.
A ideia de que Portugal, para tornar o PEC suportável e bem sucedido, precisa de mais receitas provenientes do crescimento da economia é, em princípio, correcta. Neste sentido, desde há mais de 15 anos postulo que Portugal “reforce relações”. Infelizmente a “euro-farra” toldou a visão para este objectivo fundamental. Agora chegou a hora da verdade!
Desculpe que lhe diga: a sua frase “sobretudo quando a situação económica exige que Portugal mobilize todos os seus recursos para vender mais”, não acerta, em termos estratégicos, no objectivo certo. Por isso, quanto muito, poderá ter sucessos passageiros.
De facto, “vender mais” é um objectivo egocêntrico que só pode funcionar de forma passageira. Em contrapartida o objectivo “Portugal deverá mobilizar todos os seu recursos para criar mais benefício junto de um determindado grupo-alvo”, é um objectivo válido que é recompensado pelo sucesso sustentável. As maiores vendas serão uma consequência automática.
“Se o objectivo principal for de definição errada, também todos os posteriores passos dirigidos na direcção daquele objectivo o são, mesmo que fossem correctos se dirigidos na direcção de um objectivo diverso. O facto de se poder alcançar sucessos passageiros com o consequente uso de vistas curtas, não altera nada na sua nocividade a longo prazo”, diz o meu professor supracitado – e não se trata de mera teroria mas sim de prática verificável e bem sucedida.
Com efeito, no meio da recessão e do declínio mundial geral, “vender mais” (exportar) é o que muitos querem. Todavia, como os países alvos lutam eles próprios contra cada vez maiores dificuldades, as exportações portuguesas que sobretudo na óptica dos países em desenvolvimento e subsdesenvolvidos constituem uma “importação de luxo”, poderão, quanto muito, interessar apenas a uma pequena parte da população. Em concorrência com outros países com perfis parecidos ao de Portugal e sobretudo com a China, os resultados, além de magros, serão passageiros – além de desencadearem uma guerra acessa pelos tostões, isto é, uma concorrencia de desalojamento através do factor preço.
“Mas isto traz encaixes mais ou menos imediatos, better than nothing”, dirá agora. Certo, aproveita-se no imediato. Todavia, o que Portugal, a UE no seu todo e incluindo o meu país, Alemanha, precisamos urgentemente é de uma ESTRATÉGIA diversa, abrangente e sustentável. E garanto-lhe: a mera proclamação da estratégia por mim proposta há longa data – cf. documentos anexos – fará com que as Rating Agencies suspendam a “caça” contra o suprasistema UE e os seus subsistemas, nomeadamente Grécia, Portugal e outros, incluindo a Alemanha que também está visada.
Voltando a Portugal: algumas pessoas já começaram a vislumbrar que o país precisa de afastar-se urgentmente da estratégia “me too” e “tudo o que vem à rede é peixe”. Sejamos francos: neste momento é este o perfil pouco definido e nítido que o país tem lá fora e é daí que vem a sua falta de atracção e de poder – e de receitas – nos mercados internacionais. Com efeito, se Portugal mudasse de estratégia, concentrando-se num grupo-alvo preferencial, algures no mundo (e as hipóteses são em maior número do que se pensa), junto de quem pudesse dar cartas, por aí poder usar do seu perfil único e inconfundível de melhor solucionador de problemas, então as coisas mudariam rapidamente. E até nem era preciso esperar por resultados práticos imediatos, pois as Rating Agencies reconheceriam, de imediato, o novo objectivo como promissor. Depois bastariam os pequenos passos de realização bem sucedidos para manter essa ideia acessa. Sei de que estou a falar, pois quando cheguei a Portugal em 1964, as coisas no país, então considerado emergente, passaram-se da mesma maneira.
“Mas nos PALOP e em outros países subdesenvolvidos/emergentes (excepto Angola) pouco ou nada há para buscar”, poderá porventura alegar. De facto, de momento não há nada para “buscar”. Primeiro é preciso entregar – desenvolvendo o grupo-alvo – para depois poder receber. Mas atenção, essa “entrega terá que ser feita em termos estratégicamente correctos tal com por mim descritos (é preciso criar um dilema), senão tudo continuará como dantes no quartel de Abrantes – quanto mais esmolas ao terceiro mundo, tanto mais insucesso e miséria. Resta dizer que na implementação da nova estratégia, o MNE poderá ter um papel préponderante. Todavia, como em todo na vida também aqui vale: “O mais dífícil de tudo é sempre o que parece mais fácil, ver o que está diante dos olhos” Goethe
O resto poderá depreender dos meus documentos anexos. Sr. Ministro, enverede pelo caminho por mim proposto. Afaste-se dos caminhos do me too. Permita que Portugal aplique os seus verdadeiros pontos fortes e que abandone aquela vontade antiga surgida depois de concluidas as grandes proezas quinhentistas de querer-se bater com armas que outros dominam melhor. O país deve e pode dar cartas de novo. Implemente a mundança de estratégia e crie para Portugal um grupo-alvo no mundo que sirva de retaguarda sócio-económica central para o país. Garanto-lhe: se o governo português seguir os meus conselhos terá, automaticamente, uma resposta à questão do que poderá significar, nos dias de hoje, o antigo lema nacional “dar novos mundos ao mundo”: o princípio da retoma dos grandes sucessos de outrora – e sucesso, claro! A afirmação de Fernando Pessoa – “desempregados desde a descoberta do caminho marítimo para a Índa” –deixará, então, de ter validade. “Structure follows strategy” – S.C.Chandler.
Com os melhores cumprimentos
Rolf Dahmer
Estratégia e Liderança
( Cibernética Social)
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