José Sócrates não devia ter sido o primeiro ex-primeiro-ministro a ser preso em Portugal

Diz Mário Soares, em mais uma intervenção em defesa de José Sócrates, que não existe Justiça em Portugal.
É espantoso que alguém que foi primeiro-ministro por 2 vezes e presidente da República durante 10 anos venha agora confessar que, enquanto governante, nada fez para que existisse Justiça em Portugal.
Mas Mário Soares sabe bem do que fala. E tem toda a razão. É que, se existisse Justiça, José Sócrates não teria sido o primeiro ex-primeiro-ministro a ser preso no nosso país.

Contos Proibidos – Memórias de um PS Desconhecido. A amizade com Bettino Craxi

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A partir da sua eleição em Genebra, em 1976, os vice-presidentes da Internacional Socialista Bettino Craxi e Mário Soares estabeleceriam uma relação de grande amizade pessoal. Um tipo de relacionamento descontraído, comum a pessoas com gostos e pontos de vista semelhantes. O PSI tinha ajudado bastante a Acção Socialista através de Manuel Tito de Morais, que vivera exilado em Roma, mas, depois do 25 de Abril esse apoio seria relativamente modesto.
Assim, eu seria surpreendido quando Mário Soares informou que a situação mudara e que o seu cunhado e eu nos deveríamos deslocar a Milão no dia 15 de Setembro (1977), a fim de receber uma considerável quantia de dinheiro. Naquele dia, Fernando Barroso e eu teríamos à nossa espera um dos assessores de Craxi para assuntos financeiros, Ferdinando Mach, que nos levaria numa agradável viagem de carro à cidade de Lugano na Suíça, onde nos seria entregue aquele dinheiro. Meio milhão de dólares que deixavam o partido numa situação desafogada.
Nunca me foi dito qual a razão dessa generosa dádiva e nem a mim me competia fazer quaisquer «investigações». [Read more…]

Contos Proibidos – Memórias de um PS Desconhecido

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Perante o enorme descontentamento do eleitorado socialista e em virtude da crescente contestação das bases, muitas das quais, pela primeira vez, começariam a tratar o seu secretário-geral com alguma hostilidade, Soares resolve tirar nova carta «da manga» para calar os contestatários, anunciando negociações para a entrada em bloco do pequeno grupo de ex-dirigentes do MES, conhecidos como Grupo de Intervenção Socialista. Para muitos, a determinação de Soares em fazer entrar este grupo no PS pela porta grande era revelador do seu enorme complexo de esquerda. Para o secretário-geral do PS a esquerda tinha que ser bem falante e engravatada e, de preferência, ter contestado o salazarismo duma posição de privilégio. O grupo do ex-MES era isso mesmo. Criado após o 25 de Abril como manifestação de repúdio pelo convite de Sottomayor Cardia a um pequeno grupo de amigos, liderado por Jorge Sampaio, para integrar a manifestação do PS e convencidos de que «o PS não ia longe», o MES apareceria pela primeira vez no dia 1 de Maio de 1974. E, sem nenhum relevo, aquele grupo abandonaria o Movimento da Esquerda Socialista ainda nesse ano, para se constituir em Grupo de Intervenção Socialista. Entre 1974 e 1978 funcionaria como uma espécie de grupo de apoio às teses mais radicais do MFA tendo mesmo defendido, em 1975, a tese de que votar em branco era votar no MFA. Em 1975, no IV Governo Provisório, Jorge Sampaio seria secretário de Estado da Cooperação e João Cravinho ministro da Indústria, tendo ficado ao lado de Vasco Gonçalves mais tempo do que seria democraticamente recomendável. Em 1978, quando Soares lhes dirige novo convite, o Grupo de Intervenção Socialista é praticamente desconhecido em Portugal. [Read more…]

Contos Proibidos – Memórias de um PS Desconhecido. O acordo com o CDS

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O primeiro-ministro Mário Soares nem acreditava que o general Ramalho Eanes tivesse «coragem» para lhe retirar o tapete, nem que houvesse alternativa ao seu Governo. Acreditava, sim, que Eanes lhe devia a ele o facto de ser Presidente da República e que o PSD e o PCP lhe deviam, embora por razões contrárias, a sua existência legal. Assim se explica o inacreditável «memorando» que enviaria aos partidos a 15 de Novembro, esclarecendo que «o PS não aceita entrar em nenhum Governo de coligação.
Por duas razões, fundamentalmente: — porque tal posição representa um compromisso tomado perante o eleitorado e… porque considera que um Governo de coligação, ainda que pudesse ajudar a vencer certas dificuldades no plano parlamentar, não teria operacionalidade e viria ainda agravar as tensões sociais e regionais já existentes». Alegava ainda que uma coligação não poderia resultar de uma decisão das cúpulas «devendo antes resultar de algo sentido e vivido pelas bases dos partidos interessados». Este «memorando aos partidos» continha uma proposta de plataforma que no fundo não passava da repetição da posição de arrogância em que o I Governo se colocara.
Era a repetição da tese do «PS sozinho», com a ameaça da moção de confiança pelo meio. [Read more…]

Contos Proibidos: Uma reunião em Washington. A criação da UGT

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No dia 16 de Abril de 1977, teria lugar em Amsterdão mais uma cimeira da Internacional Socialista. O único acontecimento de relevo que justificava aquela reunião era exprimir solidariedade ao PSOE, que tinha sido legalizado no mês de Fevereiro e preparava as primeiras eleições livres daquele país para o mês de Junho. Helmut Schmidt era um dos presentes e dado que no dia seguinte Mário Soares partiria para a sua primeira visita oficial aos EUA ficara acordado haver ali mesmo um encontro entre os dois.
Como havia pouco tempo para o realizar, esperávamos resposta do chanceler quando este me fez sinal para ir ter com ele. Disse-me então para levar Soares para fora da sala de reuniões em que nos encontrávamos, acabando o encontro por ter lugar num vão de escada no hall de entrada. O essencial deste breve encontro seria uma análise sobre a maneira como deveria decorrer o «grande empréstimo» e a sua opinião sobre a proposta do presidente Cárter, relativa ao mesmo.
O estilo de reunião era um pouco insólito e um dos fotógrafos presentes não perderia a oportunidade para tirar uma foto que iria ser publicada em jornais de todo o Mundo. Schmidt explicaria então que o seu governo estaria disposto a participar no chamado «grande empréstimo» proposto pelo presidente Cárter, desde que o Governo português estivesse na disposição de se submeter ao rigor de um aval do Fundo Monetário Internacional. [Read more…]

Contos Proibidos: Memórias de um PS Desconhecido. As primeiras negociações com o FMI

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«Nas negociações que conduziu com Portugal, o Fundo Monetário Internacional não exigira ao governo do Partido Socialista que apresentasse uma moção de confiança e existia mesmo, por parte dos países que avalizariam esse empréstimo, uma grande pré-disposição para ajudar Portugal. Mário Soares era visto com enorme simpatia quer nos EUA quer na Alemanha, principais parceiros do chamado «grande empréstimo» de 1,5 mil milhões de dólares.
Francisco Salgado Zenha tinha sido o pioneiro dessa ajuda internacional, quando em Março de 1976, enquanto ministro das Finanças, estivera nos Estados Unidos com o embaixador Frank Carlucci que apoiava plenamente a ideia. Nessa altura «Francisco Salgado Zenha sensibilizou Kissinger para esse assunto, quando visitou Washington em Março de 1976, e Carlucci deslocou-se especialmente aos Estados Unidos para advogar medidas de emergência, tendo a sua acção sido decisiva, designadamente pelos esclarecimentos que prestou ao Congresso, deixando de Portugal a imagem de um país em recuperação».
Tendo assistido e até participado em grande parte das conversas e negociações sobre o chamado grande empréstimo e seus antecendentes, posso assim garantir que se deve essencialmente a Salgado Zenha todo o trabalho pioneiro nesta área. 0 que revela uma tese completamente diferente da que os «serviços de contra-informação do PS lançariam em 1976, para justificar o seu afastamento do I Governo. [Read more…]

Contos Proibidos: Memórias de um PS Desconhecido. A queda do I Governo Constitucional

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Na madrugada de 7 para 8 de Dezembro cairia o I Governo. O Presidente da República, general Ramalho Eanes, iria fazer tudo ao seu alcance para que este governo que agora acabava e a «alternativa parlamentarmente exequível» fossem os Governos do nosso descontentamento, que iniciariam um longo processo de descaracterização dos ideais de altruísmo e solidariedade que tinham estado na origem do jovem movimento socialista democrático português.
A tentativa do «PS sozinho» caíra por terra, assim como as esperanças dos que pensaram que o I Governo seria imbatível na sua configuração PS/Eanes. Mas o receio de Sá Carneiro era tão grande, que o PS continuaria a contar com Ramalho Eanes para o bem e para o mal, apesar das suas constantes demarcações. Mesmo depois de se ter pressentido que Eanes mantinha uma velada ambição de substituir Soares na liderança do PS.
A questão formal que estivera na base da queda do I Governo, a exigência de um amplo apoio parlamentar para as negociações com o FMI, não passaria de uma falsa questão. [Read more…]

Contos Proibidos: O apoio de Kadhafi ao PS e as relações com Israel

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Uma outra questão essencial da política externa do PS foi o empenho com que «forçámos» o Governo Português a normalizar as relações diplomáticas com Israel, encontrando eu em Salgado Zenha o principal protagonista desta normalização. A quase totalidade da direcção socialista saída do II Congresso tinha laços antigos com os argelinos.
O apoio financeiro do coronel Kadhafi, em 1974, era uma outra importante condicionante ao reconhecimento de Israel. O que, a meu ver, era um autêntico disparate. Não só porque o país existe e era (e continua a ser) a única democracia do Médio Oriente, mas porque esse não reconhecimento tinha repercussões político-económicas em todo o mundo ocidental. Havia também que contar com o facto de existir em Israel um partido que fazia parte da IS.
A resistência do Governo, à semelhança do que se passara com os Governos Provisórios, dava lugar a rumores de que Portugal cedia às pressões do mundo Árabe, ao passo que era do conhecimento geral de que seríamos mais respeitados pelos árabes reconhecendo Israel, do que o não fazendo. Um outro fundador do PS e da chamada ala moderada do partido, Bernardino Gomes, que Soares tinha designado para certos contactos com a CIA, desenvolvia então em Lisboa uma espécie de lobby pró-israelita. Era seu assessor em S. Bento e muito diligente para com a família Soares. [Read more…]

Contos Proibidos: Memórias de um PS Desconhecido. Soares e os outros líderes socialistas europeus

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«Era primeiro-ministro do I Governo Constitucional, atravessava uma vertiginosa promoção nacional e internacional e aparecia nos media, sobretudo norte-americanos, como o «herói» dos mencheviques que derrotara os bolcheviques. Acima de tudo, controlava de forma absoluta o Partido Socialista e em Setembro de 1976, no PS, tudo dependia da sua vontade. Nenhum dos responsáveis por pelouros no Secretariado Nacional permanecia durante muito tempo no seu posto. Iam sendo mudados para não adquirirem demasiado poder. Essa era e sempre foi a sua estratégia. Com duas excepções. Salgado Zenha, que só em 1981 quando «disciplinadamente vota de acordo com a sua orientação» é que «Soares sente que só naquele momento o submeteu» e eu próprio. [Read more…]

Contos Proibidos: Memórias de um PS Desconhecido. O poder absoluto de Mário Soares no PS

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«No II Congresso do Partido Socialista, que teve início no dia 30 de Outubro, cumprir-se-ia a «promessa» que Salgado Zenha e o secretário-geral me tinham feito em sua casa em Janeiro de 1975, no sentido de ser corrigido o erro e a injustiça cometidos no
turbulento I Congresso. Assim regressaria à Comissão Nacional e Directiva do Partido Socialista de que tinha sido co-fundador. Mas seriam, essencialmente, o trabalho entretanto desenvolvido e as decisivas iniciativas para o PS que iriam justificar plenamente
a minha ascensão ao Secretariado Nacional e a confirmação no pelouro de responsável pelas relações internacionais.
A própria comunicação social se apercebera desse facto, comentando um semanário que «o Grupo que em 74 foi marginalizado do PS durante a luta interna com Manuel Serra (grupo este que participava no PS desde os tempos da clandestinidade) deverá regressar ao primeiro plano, em particular, à Comissão Política Nacional. É o caso de Vítor Cunha Rego, Rui Mateus, Alfredo Barroso, Bernardino Gomes e Rudolfo Crespo. A sua ‘reabilitação política’ revelará um acentuar do peso dos moderados no seio do PS». [Read more…]

Contos Proibidos: Angola, Manuel Alegre e a visão pró-americana de Soares

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Reunimos durante quatro dias no Palácio Presidencial com Agostinho Neto, o então  primeiro-ministro, Lopo do Nascimento e o então ministro dos Negócios Estrangeiros, José Eduardo dos Santos. A reunião, que tinha uma enorme cobertura mediática internacional, começou com o pé esquerdo.
António Macedo que antes de partir para Angola se encontrara como o presidente Ramalho Eanes, transmitira a Agostinho Neto um convite do presidente português para visitar Portugal.
Tal convite não era oficial, não existiam relações diplomáticas entre os dois países e não fazia parte da agenda socialista. Nem o Tito de Morais nem eu tínhamos sido avisados, nem sabíamos que antes de partir para Angola, António Macedo se tinha encontrado com o presidente português. Naquela altura, dada a grande hostilidade que certos sectores, sobretudo entre os retornados, sentiam pelo MPLA um tal convite era altamente inconveniente para o PS. [Read more…]

Contos Proibidos: Memórias de um PS Desconhecido. A independência de Angola


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Em meados do mês de Agosto de 1976, estava eu na Suécia a acompanhar Olof Palme e em colaboração com a campanha eleitoral do Partido Social-Democrata daquele país, quando recebi uma chamada urgente de Mário Soares com instruções para ir imediatamente para Luanda, onde me deveria juntar ao presidente do Partido António Macedo e a Manuel Tito de Morais, ainda formalmente responsável pelas relações internacionais do PS. Portugal reconhecera a República Popular de Angola a 22 de Fevereiro de 1976, mas as relações diplomáticas entre os governos dos dois países seriam suspensas dois meses depois, em Maio, pelo Governo Angolano. Este, depois de não respeitar os acordos que tinha assinado em Alvor, consideraria serem as atitudes do VI Governo Provisório inamistosas. Esta atitude derivava essencialmente da enorme e compreensível campanha na comunicação social contra Angola, naquele difícil momento das relações entre os dois países, quando centenas de milhares de portugueses regressados de Angola acusavam o MPLA de responsabilidades pelo seu dramático êxodo.
Entretanto, apenas dois meses após o corte de relações com Portugal, Agostinho Neto compreenderia que tal acto acabaria por atirar ainda mais o seu país para uma quase total dependência da União Soviética. [Read more…]

Contos Proibidos: O I Governo de Mário Soares. Dividir para reinar numa corte de intrigas. O Secretário de Estado Manuel Alegre.

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«Conforme prometera antes de ser eleito, o general Ramalho Eanes convidaria o secretário-geral do Partido Socialista para formar o I Governo Constitucional após o 25 de Abril. Tomaria posse no dia 23 de Julho de 1976 e duraria pouco mais de um ano, caindo precisamente no dia em que Mário Soares celebrava os seus 53 anos de idade. No dia em que chegara ao governo, Soares «não percebia nada de economia, podia ser um ás na política mas na economia era um zero» e dada «a forma displicente com que [tratava] dos números que traduzem a realidade económica, trocando os milhões e os milhares», muitos se perguntavam se «deveria ter sido [ele] o primeiro-ministro do I Governo Constitucional, apesar de o Partido Socialista ter ganho as eleições?»
Muito provavelmente, se Portugal vivesse num regime democrático normal, a resposta seria não mas, em 1976, considerando que o secretário-geral do PS rejeitara a proposta de Sá Carneiro, só existiam dois homens com autoridade política para chefiar o governo de Portugal. Mário Soares e Salgado Zenha. [Read more…]

Contos Proibidos: Memórias de um PS Desconhecido. Da reunião de Caracas da Internacional Socialista à fusão do PSP com o PSOE


Carlos Andrés Perez, Presidente da Internacional Socialista em 1976

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«Atento à evolução política na Península Ibérica, o Presidente da República da Venezuela, Carlos Andrés Perez, cujo partido, Accion Democrática, era observador da Internacional Socialista, percebeu que a «Revolução Portuguesa» e a evolução democrática em Espanha iriam ter enorme impacto na América Latina, onde ele, chefe de Estado de um país produtor de petróleo, pretendia ter um papel de relevo. O presidente venezuelano, que tinha sido eleito em 1974, acompanhava de perto a crescente importância da Internacional Socialista e, como tal, desenvolveu todos os esforços para reunir em Caracas uma cimeira semelhante à que acabara de ocorrer em Portugal. Mas, enquanto em Portugal a iniciativa partira de Olof Palme, a ideia da reunião de Caracas partira de Klaus Lindenberg, representante da Fundação Friedrich Ebert naquele país. Esta fundação já na altura investia consideráveis meios naquele subcontinente e tinha escritórios e representantes alemães em quase todas as capitais latino-americanas. [Read more…]

Contos proibidos – O ficheiro completo

O Aventar começou a publicar em Setembro de 2009 os «Contos Proibidos» de Rui Mateus, o livro proibido que revela as «façanhas» de Mário Soares e seus acólitos entre as décadas de 70 e 90 do século passado.

No entanto, deparámo-nos desde o início com um problema: a forma como o grande Ferrão digitalizara a obra, página a página em formato PDF, não permitia o copy + paste habitual nestas circunstâncias. A única solução era transcrever manualmente o conteúdo do livro, tarefa morosa para quem não tem os blogues como fonte de rendimento.

Mão amiga, mas anónima, fez-nos chegar uma versão leve do livro, que permite copiar e colar do princípio até ao fim. Fica mais fácil o nosso trabalho. Passaremos a publicar diariamente um excerto do livro, mas não queremos deixar de disponibilizar desde já a totalidade da obra neste formato, bem como os anexos e as fotografias. [Read more…]

Contos Proibidos – Memórias de um PS Desconhecido. Sá Carneiro e as «grosserias» de Mário Soares

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Sá Carneiro ficaria extremamente desiludido com a atitude de Mário Soares, que considerara irresponsável. Para ele a consolidação do regime democrático, então ainda tutelado pelos militares e sob enorme influência político-cultural do PCP, passava pela cooperação entre os dois partidos do centro, que se reclamavam da família social-democrata. Uma cooperação que poderia mesmo conduzir à fusão do PPD no PS. As bases de ambos, afinal, eram idênticas e os princípios semelhantes. Para Sá Carneiro seria difícil compreender a arrogância dos socialistas, convencidos que estavam de que Eanes era parte do seu património político. Acusaria então o PS de «tentação mexicana», o que não foi completamente destituído de razão, dada a sobranceria com que pretendia aliar-se a Ramalho Eanes para governar o País em minoria. Por outro lado, Soares considerava que «objectivamente, o regime do México não é de partido único».
Da parte do PS não seriam invulgares as manifestações de grosseria para com Sá Carneiro. Desde referências à sua estatura física, à sua situação familiar e até à colaboração em campanhas pouco dignificantes que visavam atingir a sua honorabilidade. [Read more…]

Contos Proibidos – Memórias de um PS Desconhecido. As Eleições Legislativas de 1976

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Apesar do difícil relacionamento, Felipe González demonstraria grandes qualidades de estadista ao compreender quer a amizade pessoal de Soares com os dirigentes do Partido Socialista Popular, quer a diferença de pontos de vista derivada da diferença de idades entre ambos. Também sabia que dentro do PS português tinha inúmeros amigos e que as bases simpatizavam com ele, como a própria cimeira do Porto demonstrara.
Estas delicadas questões tinham já sido abordadas numa reunião que tivera lugar em Lisboa, em Junho de 1975, entre o PS e uma delegação do PSOE chefiada por Nicolas Redondo. Quando então nos pediram para clarificar a situação, derivada do entusiástico apoio a Santiago Carrilho e da nossa tão ambígua posição, Mário Soares pediu a Nicolas Redondo que informasse o seu partido de que o PS «reconhecia o PSOE enquanto parceiro na Internacional Socialista, não obstante laços de amizade pessoal entre alguns socialistas portugueses e espanhóis não pertencentes ao PSOE».

O resultado eleitoral das primeiras eleições legislativas não corresponderia, contudo às expectativas. Nem às expectativas políticas dos dirigentes do PS, nem às dos amigos estrangeiros que tinham investido no PS. [Read more…]

Contos Proibidos: Memórias de um PS Desconhecido. As más relações de Mário Soares com Felipe González


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O secretário-geral do PS estava eufórico com a ocasião [Conferência «Europa Connosco» no Porto], ao lado dos grandes da social-democracia mundial. Estatuto que considerava não poder ser atribuido a Felipe Gonzalez que, além de usar blusão de cabedal na cerimónia, não era reconhecido na Espanha pelo Partido Socialista Popular, chefiado por Tierno Galvan. E no que respeita a Espanha, em 1976, as preferências de Soares eram claramente a favor do partido dos seus amigos Raul Morodo e Fernando Moran, estando mesmo convencido que, eleitoralmente, até o PCE de Santiago Carrilho teria mais votos do que o «grupo» de Gonzalez.
Assim, numa das crises de «enfant gatê» que ocasionalmente o assaltavam, não queria que Gonzalez discursasse no grande comício que teve lugar no Palácio de Cristal, no dia 13, encarregando-me a mim da desagradável tarefa de explicar a Gonzalez que só um número restrito de oradores estava previsto. Um pequeno número que incluía só os «grandes» líderes. Tanto quanto me pude aperceber então, a ideia era excluir Zenha, cuja reputação nacional, popularidade e estatura moral lhe começavam a fazer sombra. E depois, quando já fosse tarde demais, seria eu responsabilizado, por ter sido eu a organizar a conferência. (…) Mas, como já tinha explicado inicialmente, as relações do PS com o PSOE não eram exactamente as melhores, se bem que, da parte de Felipe Gonzalez, todos os esforços fossem feitos para um bom relacionamento connosco. (…)
Começa aqui a explicação da deselegância da cimeira do Porto. Soares não queria Gonzalez nessa cimeira e seria o chanceler Bruno Kreisky quem insistiria para que o jovem líder espanhol estivesse presente. (…) Mário Soares cumprimentaria sem grandes cerimónias os «convidados» espanhóis, que nunca lhe perdoariam a altivez e a frieza da recepção. E apesar de todos os esforços que eu desenvolveria nos anos seguintes, as relações de Mário Soares com Felipe Gonzalez seriam sempre pouco calorosas.

Contos Proibidos – Memórias de um PS Desconhecido. A CIA financia o PS em 1976

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Grande parte do apoio [ao PS] vinha em notas e cheques em moedas estrangeiras e, apesar dos contactos que o PS detinha na Banca, sempre que o tesoureiro, Fernando Baroso, procedia a operações cambiais, saíam notícias e circulavam rumores. (…) As notícias inicialmente difundidas pelo «New York Times» de que o PS estaria a receber avultadas quantias da CIA e do estrangeiro «obrigariam» Mário Soares a veementes desmentidos e a uma conferência de imprensa, a 8 de Fevereiro, não só para desmentir o que era verdade mas, sobretudo, para camuflar esses apoios, anunciando o lançamento pelo PS de uma campanha de angariação de fundos. Diria então que «o nosso Partido é um Partido de trabalhadores, é um Partido de Esquerda e, como tal, um Partido pobre. Têm-nos sido dirigidas muitas calúnias por parte dos que nos acusam de recebermos fundos estrangeiros. Essas calúnias nunca foram provadas, nem o poderiam ser, porque são efectivamente calúnias. Estamos no início desta campanha, que vai ser extremamente dinâmica e esclarecedora para o país, com grandes dificuldades financeiras, porque a campanha eleitoral é efectivamente dispendiosa. Por isso rewsolvemos iniciar a nossa actuação, neste período pré-eleitoral em que nos encontramos, por uma campanha de recolha de fundos. (…)
Nesse ano eleitoral de 1976, vários Partidos e entidades estrangeiras entregariam avultadíssimas somas em dinheiro, por todos os meios, as quais a Administração Financeira ia classificando como campanha de «angariação de fundos». Só os recibos que me foram entregues ultrapassariam, então, os 40 mil contos, embora à medida que iam sendo entregues na rua da Emenda a Fernando Barroso fossem, inadvertidamente, sendo classificados em moeda estrangeira e, às vezes, referindo mesmo a entidade doadora. O Partido Trabalhista, segundo me foi comunicado, tinha unicamente enviado, em 1975, para a conta da Holanda, a quantia de 4108 libras, o que equivalia a 240 contos na altura. Os «pacotes de biscoitos» do M 16, «CH», o último dos quais seria entregue em 7 de Abril de 1976, representavam a extensão do conceito político da «Europa Connosco» ao outro lado do Atlântico! (…)

Contos Proibidos – Memórias de um PS desconhecido. Mário Soares nos Estados Unidos

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«Mas se a 17 e 18 de Janeiro Mário Soares tivera ensejo de agradecer na Dinamarca o apoio recebido da famíia socialista, logo a seguir, a 19 de Janeiro, seguiria comigo para os Estados Unidos, para uma visita de duas semanas. Apesar de a visita ter um carácter privado, uma vez que, em Janeiro de 1976, Mário Soares não era membro do Governo, viagens e estadias seriam pagas pelos Estados Unidos. O convite partira de Frank Carlucci e o programa da visita seria preparado em pormenor pelo conselheiro da Embaixada, Richard Meton. Incluía o primeiro de uma série de «doutoramentos» políticos na Universidade de Yale, sob os auspícios do prgrama Chub Fellow, visitas às comunidades portuguesas de Massachussets, um encontro com o senador Ted Kennedy, encontros com o New York Times e o Washington Post para conversas «off the record», uma (então) inédita entrevista numa cadeia de televisão traduzida em simultâneo e um encontro no Departamento de Estado com Henry Kissinger, a 26 de Janeiro. [Read more…]

Da Emaudio à TVI


Os socialistas no poder são useiros e vezeiros na «arte» de controlar ou tentar controlar a Comunicação Social portuguesa. É curioso que, agora que se sabe os contornos exactos desse controle, seja precisamente Mário Soares a defender o primeiro-ministro, dizendo que, no seu tempo, nunca foi tão atacado como ele.
Mário Soares que esteja calado e que deixe de alardear aos quatro ventos a sua senilidade: ao lado da Emaudio, um grupo empresarial com «testas de ferro» no comando e um conjunto de negócios obscuros que envolveram grandes magnatas internacionais, o negócio da TVI é uma brincadeira de crianças. E nisto dos negócios esconsos, Sócrates nunca conseguiu chegar aos calcanhares de Soares.
Mais: nos tempos em que, como primeiro-ministro, Mário Soares telefonava para os Telejornais aos gritos sempre que qualquer notícia o incomodava, só havia dois canais de televisão do Estado, meia dúzia de rádios e jornais, não havia internet e podia-se facilmente comprar toda a tiragem de um livro incómodo para que ele não chegasse ao grande público.
Claro que Mário Soares não foi tão atacado como José Sócrates.

Manuel Serra (1932 – 2010) e as batalhas campais no PS de 1974


Morreu no Domingo Manuel Serra, um histórico do PS. Nos tempos que se seguiram ao 25 de Abril, foi protagonista, no Partido Socialista, de alguns dos momentos mais quentes, liderando uma ala que defendia a aproximação ao Partido Comunista. Foi eleito para o primeiro Secretariado Nacional do Partido em Dezembro de 1974, mas acabaria por abandoná-lo poucos dias depois.
Nos «Contos Proibidos», num episódio que já se publicou por aqui, Rui Mateus descreve esses momentos quentes do PS: ««Entretanto, o tempo se encarregaria de revelar novos episódios em matéria de financiamentos. Vinte anos após o 25 de Abril, ao ser preso por alegado desvio de fundos públicos, o ex-presidente da Venezuela, Carlos Andréz Perez, declararia que uma parte desses fundos teria sido entregue a Mário Soares. Foi a primeira vez que eu ouvi falar do assunto, que foi confirmado à Agência Lusa por uma fonte não identificada do Palácio de Belém («Público», 22/05/1004). (…)
Os trabalhos [do I Congresso do PS depois da Revolução] iniciaram-se com a leitura de um telegrama de saudações enviado por Mário Soares ao Presidente da República Costa Gomes. O mesmo, segundo os joranis da época, foi vibrantemente aplaudido de pé pelos congressistas.
Logo no início foi aprovada uma moção subscrita por Manuel Serra e Maria Barroso em que se afirmava que «o PS defenderá o modelo constitucional democrático que melhor consolide a aliança do Povo e das forças democráticas com o MFA. Depois, tendo em conta que a ratoeira comunista passava por sensibilizar o seu conhecido egocentrismo, Mário Soares foi reconduzido na Secretaria-Geral sem qualquer oposição, o que já não aconteceria com a orientação do Partido.
Para a Comissão Nacional, Manuel Serra não preconizou tal unanimidade e, depois de uma autêntica guerra campal, a lista da direcção histórica do Partido sairia vencedora pela escassa margem de 94 votos, tendo a lista de Manuel Serra obtido quase 44% dos votos dos congressistas. O nome de Mário Soares aparecera nas duas listas concorrentes, por ordem alfabética na lista da direcção histórica e à cabeça da lista que o PCP promovera por meio de Serra. Aliás, só por milagre Mário Soares não sairia daquele Congresso como secretário-geral de dirigentes afectos a Manuel Serra e ao Partido Comunista. [Read more…]

Contos Proibidos: Memórias de um PS Desconhecido. Mário Soares e o 25 de Novembro.

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O antigo chefe de gabinete do ministro dos Negócios Estrangeiros e secretário-geral do PS, Vítor Cunha Rego, tivera contacto anteriores ao 25 de Abril com o chefe da CIA em Lisboa, John Morgan. Após o assalto ao «República» e quando Carlucci adquirira a certeza de que Soares entrara no «bom caminho», seriam designados Cunha Rego e Bernardino Gomes para veicular os futuros contactos e o apoio da CIA ao PS.

Com o caso «República» ainda fresco e tendo em conta que aquela organização considerava prioritárias as acções na imprensa e em editoras, como o senador Edward Boland de Massachusset apuraria no final dos anos 70, foi decidido combater a predominância do PC nestes sectores. Assim nasceria a editora «Perspectivas Realidades», ao mesmo tempo que era adquirido o edifício onde iria funcionar a CEIG, Cooperativa de Edições e Impressão Gráfica, com a finalidade de imprimir o diário «A luta» em substituição do «República». O contacto americano era um «operacional» das chamadas «covert operations», ou operações clandestinas, da CIA, a que chamarei apenas KC. (…)

Em entrevista à TVI e a Miguel Sousa Tavares na SIC [1994], o Presidente da República [Mário Soares], para além de se colocar no papel de principal líder da resistência à tentativa comunista de 25 de Novembro, adiuantaria que, de facto, «conspirara» com Callaghan e os serviços secretos ingleses, embora negasse qualquer apoio dos norte-americanos. (…) Mas o general Ramalho Eanes, um pouco esquecido pelos media, viria a contestar o paperl de Mário Soasres no 25 de Novembro, afirmando poder «garantir que a versão dos mesmos apresentada pelo Dr. Mário Soares contém algumas inverdades». Chegaria mesmo a acusar o seu sucessor de pretender adulterar a história, de não ter lido os documentos oficiais sobre o 25 de Novembro e de ter tendência para valorizar os seus contactos internacionais. Mas, segundo refere, «a verdade é que os militares trabalharam essencialmente com matéria-prima nacional». [Read more…]

Contos proibidos: Memórias de um PS desconhecido. A editora «Perspectivas & Realidades» e a resistência ao Partido Comunista

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«A editora Perspectivas & Realidades, hoje propriedade de João Soares, foi constituída por escritura notarial de 24 de Setembro de 1975, com um capital de 300 contos dividido em partes iguais entre João Soares e Victor Cunha REgo. Era inicialmente co-dirigida por Bernardino Gomes e Ivone Cunha Rego, sendo o seu primeiro lançamento «O Triunfo dos Porcos», de George Orwell. Mas quando este conhecido livro foi publicado, já o PCP estava em declínio e as «P & R» acabariam por se transformar essencialmente, nos anos seguintes, na editora dos livros sem mercado dos principais dirigentes do PS, com destaque para os de Mário Soares. (…)

No seguimento da Conferência de Estocolmo, aumentaram as delegações que vieram a Portugal exprimir o seu apoio ao PS, sendo os apoios financeiros normalmente canalizados através da já referida conta na Holanda. Por vezes, contudo, o dinheiro vinha das maneiras mais improvisadas, tendo eu assistido, em casa de Tito vde Morais, a uma entrega por parte de uma delegação sueca que acabara de chegar e que, de repente, começou a triar maços de notas dos bolsos de cada um dos membros da delegação. Nessa altura ainda Carlos Carvalho era tesoureiro do Partido, mas era assessorado por José Manuel Duarte. A partir de certa altura, Carvalho, que fora fundador do PS em Bad Munstereifel, desapareceria para sempre da cena política, passando essa tarefa para Fernando Barroso, que acabara de chegar de Moçambique, onde vivera durante muitos anos. A partir de então Fernando Barroso ocupar-se-ia desse cargo, assim como da administração financeira das Fundações ligadas ao Partido, até ao IV Congresso em 1981. O secretário-geral tinha entretanto saído do Governo e ao ocupar-se do dia-a-dia do PS, compreendera a importância das finanças, que controlaria rigorosamente através do seu cunhado. Uma das medidas adoptadas nesta área seria a progressiva descapitalização da conta na Holanda, movimentada por José Neves e a abertura de uma conta pelo próprio secretário-geral no Bank fur Gemeinwirtschalf em Frankfurt. Esta conta a que Gunter Grunwald chamaria «contas especial do Mário»  só seria encerrada anos mais tarde e, pelo que consegui apurar, movimentaria somas consideráveis. (…)

Naquele período, a resistência ao PCP representava um verdadeiro sorvedouro de dinheiro, que Mário Soares ia mandando entregar  por intermédio dos seus colaboradores. 

E bem melhor do que a minha memória, os meus registos mostram as seguintes entregas em dinheiro para acções de resistência ao PCP: a 23 de Setembro, 300 contos depositados na conta da Associação António Sérgio e, nesse mesmo dia, 1000 contos entregues a Gustavo Soromenho para o jornal «A Luta». No dia 27 de Setembro, 1000 contos entregues ao cunhado de Mário Soares, José Manuel Duarte. Depois, ao tesoureiro do PS entregaria 1000 contos a 30 de Setembro, 2000 contos a 28 de Outubro e 500 contos a 11 de Novembro. A 20 de Novembro, seriam entregues quinhentos mil escudos mais. No rescaldo do 25 de Novembro, certamente para pagar despesas pendentes, seriam entregues a 1 de Dezembro 1800 contos à Administração Financeira do PS e, a 4 de Dezembro, mais 500 contos ao tesoureiro Carlos Carvalho.

Evidentemente que não conheço a totalidade do conteúdo das caixas de biscoitos, nem os movimentos das contas de Frankfurt e da Holanda, nem, tão-pouco, outras verbas relacionadas com este período, oriundas dos americanos ou as que o ex-presidente Carlos Andres Perez disse ter entregue a Mário Soares.  Consegui, contudo, apurar que antes da reunião de EStocolmo Rolf Theorin mandaria transferir para a conta na Holanda mais meio milhão de coroas suecas. Também o PSD da Dinamarca enviaria mais 304 690$00 em Março e 29 734 coroas em Setembro.

 

 

Contos proibidos: Memórias de um PS desconhecido. O afastamento de Tito de Morais

continuação daqui

 

«No rescaldo do Congresso Manuel Tito de Morais seria de certo modo responsabilizado pela situação a que tinha chegado o Partido por ter sido «ultrapassado pela grandeza da tarefa que lhe estava incumbida», sendo desterrado, enquanto responsável pelas relações internacionais, para um primeiro andar na rua D. João V, perto do Largo do Rato. O outro dirigente histórico a quem o Partido muito devia, por ter sido ele a abrir as primeiras relações internacionais nos anos 70 e que poderia ter sido uma excelente alternativa para Ministro dos Negócios Estrangeiros, tabém não seria poupado, não entrando sequer para o Secretariado Nacional do Partido que tanto lhe devia. Francisco Ramos da Costa seria também desterrado para embaixador em Belgrado. Quando faleceu, em 1982, estava contra o rumo que o seu velho amigo Soares imprimia ao PS e em total sintomia com as posições de Zenha e do grupo que viria a ser conhecido por «ex-secretariado». (…)

Salgado Zenha, com quem eu não tinha grande intimidade, uma vez que não o conhecera pessoaalmente antes do 25 de Abril, era a grande figura do PS. As bases e os dirigentes reconheciam a sua grande estatura moral e intelectual. Ao contrário de Mário Soares, era algo introvertido, comedido nas suas palavras e possuidor de um apurado sentido de humor que, quando desfiado, podia resvalar para um temível sarcasmo. Logo nesse meu primeiro contacto a sós com os dois dirigentes juntos, pareceu-me também que Soares se ressentia daquela evidente superioridade. Era o número dois do PS quem tinha sempre a última palavra, com frequentes arremessos de paternalismos.

Enquanto Soares nunca se aventurava sozinho num raciocínio novo e recorria quase sempre à cumplicidade de «O Zenha e eu», este, pelo contrário, raramente falava a dois. Mas era frequente começar por explicar uma situação com uma farpa ao seu amigo. «Bom, dir-me-ia, aqui o Mário gosta muito de viajar e depois queixa-se de que o Tito não tem mão no Partido.»

 

 

 

 

 

 

Contos Proibidos – Memórias de um PS desconhecido. O I Congresso do PS em democracia (1974) e a intervenção do PCP

Continuação daqui

«Entretanto, o tempo se encarregaria de revelar novos episódios em matéria de financiamentos. Vinte anos após o 25 de Abril, ao ser preso por alegado desvio de fundos públicos, o ex-presidente da Venezuela, Carlos Andréz Perez, declararia que uma parte desses fundos teria sido entregue a Mário Soares. Foi a primeira vez que eu ouvi falar do assunto, que foi confirmado à Agência Lusa por uma fonte não identificada do Palácio de Belém («Público», 22/05/1004). (…)
Os trabalhos [do I Congresso do PS depois da Revolução] iniciaram-se com a leitura de um telegrama de saudações enviado por Mário Soares ao Presidente da República Costa Gomes. O mesmo, segundo os joranis da época, foi vibrantemente aplaudido de pé pelos congressistas. Logo no início foi aprovada uma moção subscrita por Manuel Serra e Maria Barroso em que se afirmava que «o PS defenderá o modelo constitucional democrático que melhor consolide a aliança do Povo e das forças democráticas com o MFA. Depois, tendo em conta que a ratoeira comunista passava por sensibilizar o seu conhecido egocentrismo, Mário Soares foi reconduzido na Secretaria-Geral sem qualquer oposição, o que já não aconteceria com a orientação do Partido. PAra a Comissão Nacional, Manuel Serra não preconizou tal unanimidade e, depois de uma autêntica guerra campal, a lista da direcção histórica do Partido sairia vencedora pela escassa margem de 94 votos, tendo a lista de Manuel Serra obtido quase 44% dos votos dos congressistas. O nome de Mário Soares aparecera nas duas listas concorrentes, por ordem alfabética na lista da direcção histórica e à cabeça da lista que o PCP promovera por meio de Serra. Aliás, só por milagre Mário Soares não sairia daquele Congresso como secretário-geral de dirigentes afectos a Manuel Serra e ao Partido Comunista. A confusão era tanta que ninguém se entendia e os organizadores do Congresso, predominantemente pró-Serra, que, vale a pena repetir, Soares encarregara da Segurança do Partido, utilizariam todos os meios de coacção e até força para impedir os «históricos» de exprimirem a sua voz e o seu voto. Eu próprio, que para além de fundador, fazia parte da Comissão Directiva vigente e era delegado em representação do núcleo de Malmoe na Suécia, fui inicialmente pura e simplesmente impedido de entrar no local do Congresso. Só depois de umas boas horas alguém conseguiu encontrar Manuel Tito de Morais no interior para vir à porta obrigar os «gorilas» a deixarem-me entrar.
As relações entre os «militantes» socialistas estavam longe de ser solidárias e nem sequer primavam pela boa educação. Era o resultado da invasão ocorrida no PS, após o 25 de Abril, de todo o tipo de novos militantes. Com isso mesmo tinha também contado o PCP. No final, ainda insconsciente do que ali se tinha passado, Soares afirmaria que não tinha havido «vencedores nem vencidos» mas apenas «socialistas e camaradas». . Provar-se-ia bem pouco depois, já em Janeiro de 1975, que assim não era. Aliás, Manuel Serra advertira já no seu discurso final, com a arrogância de quem quase conseguira o que se propusera, que saía do Congresso «com a fraternidade de militantes revolucionários, de militantes da classe trabalhadora». O primeiro Secretariado Nacional, eleito em 21 de Dezembro, ainda incluiu Manuel Serra que, contudo, abandonaria o Partido poucos dias depois, na esperança de levar consigo os «44% de militantes revolucionários, da classe trabalhadora». Se tal não aconteceu deveu-se, com grande grau de probabilidade, à visão de Francisco Salgado Zenha. Mas o Partido Socialista nunca recuperaria totalmente da psicose do golpismo que se iniciou log após o 25 de Abril e de que o I Congresso na legalidade seria um bom primeiro exemplo. Passaria a fazer parte da própria evolução e história do movimento socialista português.»

Contos Proibidos: Memórias de um PS Desconhecido. Mário Soares e o financiamento do PS

Mário Soares ia, entretanto, aproveitando algumas das suas viagens enquanto ministro dos Negócios Estrangeiros para angariar alguns fundos para o PS. Mas, apesar de alguns contributos iniciais dos partidos sociais-democratas escandinavos, do SPD e de uma campanha de angariação de fundos lançada na Holanda pelo PVDA (PArtido Trabalhista), os apoios financeiros estavam longe de ser o que muitos imaginavam e se insinuava. Segundo consegui apurar, o movimento sindical noruguês deu pela primeira vez ao PS, em Maio de 1974, após visita a Oslo de Francisco Ramos da Costa, cem mil coroas norueguesas. E demonstrando os seus bons contactos internacionais e capacidade de angariação de fundos, também o PSD da Dinamarca forneceria cinquenta mil coroas enviadas através do Banco Espírito Santo e Comercial de Lisboa.(…)
Pelos meus cálculos, com base na pesquisa informal que eu próprio faria posteriormente, deduzi que, em 1974, o PS não recebeu de partidos «irmãos» montantes significativos e nem de longe minimamente comparáveis aos que os serviços de informação americanos afirmavam o PCP estar a receber! Aliás, só o secretário-geral sabia exactamente quanto e de onde recebia o dinheiro, sendo certo que, na prática portuguesa, o controle financeiro dos partidos está intimamente ligado ao controle do próprio partido. Não admira que este tipo de informação permaneça fechado e que as leis da chamada transparência, aprovadas pelos principais partidos políticos, permaneçam ainda hoje tão opacas!

Contos Proibidos: Memórias de um PS Desconhecido. Soares e Cunhal no I Governo Provisório

(continuação daqui. explicação da iniciativa aqui. para ver todos os «posts», carregar na imagem da capa do livro na barra lateral)

Valerá talvez a pena analisar aqui, tanto quanto é possível a mais de vinte anos de distância, se a ideia da inclusão do Dr. Álvaro Cunhal no I Governo Provisório parte realmente do general, como ele próprio admitiria em entrevista de fim de carreira (e já admirador do Dr. Mário Soares), em 1984, ao historiador e jornalista José Freire Antunes,ou se ela parte do primeiro encontro com Mário Soares. Ora, dados os sentimentos anticomunistas do general Spínola, dada a sua amplamente demonstrada ignorância
política e o facto de se saber que Mário Soares teria dito ao general que se Cunhal não entrasse ele também não entrava para o Governo, parece evidente que a decisão foi influenciada decisivamente pelos socialistas. Aliás, Soares diria a Dominique Pouchin de forma peremptória que Spínola não era então favorável «à presença dos comunistas no governo». Também me parece duvidoso, e nenhum registo existe que o confirme, que tenha sido o próprio secretário-geral do PCP a reivindicar tal lugar! O que implica que estando à partida excluída a hipótese de terem sido os comunistas a insistir na sua participação – e não devemos esquecer que o PCP em Abril de 1974 ficaria satisfeito com a sua mera legalização – estamos perante a probabilidade de ter sido o próprio Mário Soares, na sua primeira entrevista com Spínola, graças ao apoio de Raul Rego, quem lançou Cunhal para o I Governo, a fim de ele próprio se tomar indispensável na pasta dos Negócios Estrangeiros!
O ex-embaixador de Portugal em Washington, João Hall Themido, confirma que Mário Soares «não inspirava confiança» ao general Spínola, que terá simplesmente comentado que Soares não era «um génio» mas daria «um ministro aceitável». «Sá Carneiro estava no Governo, como ministro sem Pasta, para acompanhar de perto os problemas da política externa» necessitando o general apenas de alguém para abrir «as portas» do reconhecimento à Revolução, convencido das «ligações europeias do líder do PS». Do ponto de vista do Partido Socialista – tanto quanto me seria dado a conhecer posteriormente – não havia nenhuma vantagem em que a pasta dos Negócios Estrangeiros fosse ocupada por Mário Soares, havendo outros dirigentes, como por exemplo Ramos da Costa, que não tendo que se ocupar com a organização do Partido, era quem melhores relações internacionais detinha no PS de então, além de dominar razoavelmente o idioma inglês! Não seria essa, evidentemente, a opinião do próprio Mário Soares, que considerava que «ninguém mais do que [ele] tinha então a possibilidade de conquistar rapidamente a simpatia da Europa e do Mundo para uma
revolução tão repentina, que inquietava o estrangeiro». Contudo só Mário Soares teria essa opinião, com a falta de modéstia que todos lhe conhecem. O mundo inteiro recebera o anúncio do 25 deAbril com grande regozijo e quem dava garantias e tranquilizava os
governos aliados de Portugal na NATO era exactamente o general Spínola e não o socialista Mário Soares, co-signatário de um «inquietante» acordo de governo com o Partido Comunista. Teremos contudo que admitir que o 25 de Abril encontrara o País e os seus dirigentes (quer os cessantes, quer grande parte dos emergentes) num estado de grande provincianismo e isolamento internacional, o que explicaria a grande necessidade que Spínola sentia de ter alguém que lhe abrisse portas e alguém que controlasse as actividades do «porteiro»! O Partido Socialista achava o seu secretário-geral fundamental paraorganizar um partido que a 25 de Abril não existia «de facto»e que, como se veria alguns meses depois, ia sendo «entregue» ao PCP no seu I Congresso. Os socialistas, em 1974, não só não queriam que Soares fosse o ministro dos Negócios Estrangeiros do general Spínola como exigiam «que ficasse em Lisboa a fim de organizar o mais rapidamente possível as infraestruturas do Partido». Este, no entanto, não seguiria os conselhos dos amigos, admitindo mesmo que nenhuma atenção dava ao seu partido pois «as raras semanas que passava em Lisboa eram absorvidas por Conselhos de Ministros interrnináveis». Mas, mais uma vez demonstrando aquela vaidade que Tony
Benn diz ter encontrado no líder do PS, este explica o seu «sacrifício» pela Nação em detrimento do seu partido, perguntando-se «quem era suficientemente conhecido deWilly Brandt para lhe pedir uma audiência no próprio dia? Quem é quepodia organizar,
à pressa, um encontro com o Presidente Senghor, de passagem por Paris? Quem é quetinha a possibilidade de reunir em Helsínquia com um simples telefonema, os líderes da social-democracia escandinava? Quem é que Harold Wilson esperava para reconhecer, sem mais demora, o novoregime português?». Mas, acrescentaria, é evidente que o meu partido tirou proveito dessas viagens».
A necessidade de angariação de fundos para o PS, embora fundamental naquela fase,também não justificava quefosse o secretário-geral a ocupar a pasta dos Negócios Estrangeiros.
Francisco Ramos da Costa e Manuel Tito de Morais tinham sido no passado, e continuavam então a ser, não só angariadores de fundos como elementos bem creditados junto da Internacional Socialista, a quem tinham apresentado Mário Soares,anos antes. Por outro lado, para além da ridícula vaidade demonstrada, a sua autopromoção não passaria de uma operação de branqueamento que só o provincianismo reinante deixaria passar em claro.
De facto, Willy Brandt, que à semelhançade qualquer outro chefe de governo socialista receberia com o maior prazer qualquer enviado especial do novo regime português, estava demissionário após a prisão, a 24 de Abril de 1974,do seuconselheiro
Gunther Guillaume, acusado de ser espião do KGB. Seria já Helmut Schmidt, que Soares não conhecia, a reconhecer o novo regime português. Senghor, embora ainda não ligado à Internacional Socialista, ao que parece receberia com igual prazer qualquer enviado do general Spínola. E só por grande pretensão se poderia imaginar que o telefonema do MNE português levaria os líderes da social-democracia escandinava a reunir em Helsínquia para um encontro com ele. Acontece que quando Mário Soares pediu para ser recebido pelo então primeiro-ministro sueco, Olof Palme, lhe foi dito que seria melhor deslocar-se a Helsínquia, onde os quatro primeiros-ministros dos países nórdicos estavam reunidos numa das habituais reuniões do Conselho Nórdico.
Eram eles o sueco Olof Palme, o dinamarquês Anker Joergensen, o norueguês Trygve Brattelli e o anfitrião, Kalevi Sorsa. Todos sociais-democratas ansiosos por ter notícias do que se passava em Lisboa. Toma-se mais credível que ao insistir junto de Spínola na inevitabilidade da presença do Dr. Cunhal no Governo se estivesse ele próprio a tomar inevitável como sendo, na altura, o socialista e, provavelmente, o português mais bem credenciado para ocupar a pasta dos Negócios Estrangeiros, de que necessitava para se autopropulsionar internacionalmente.
Político comprovadamente astuto, sabia que em Portugal os próximos anos passariam pela vertente internacional e que o seu futuro político teria que passar pelas Necessidades. Também sabia que no Partido Socialista não existia na altura «um centavo» e que o controlo dos financiamentos representaria igualmente o controlo do partido.

Contos proibidos: Memórias de um PS Desconhecido – A fundação do PS

(continuação daqui. explicação da iniciativa aqui. para ver todos os «posts», carregar na imagem da capa do livro na barra lateral)

Em Bad Munstereife compareceriam vinte e sete fundadores, dos quais onze residentes em Portugal. Mário Soares, Ramos da Costa e Liberto Cruz viviam em Paris.
Soares vivia desafogadamente, leccionando instituições portuguesas na Universidade de Vincennes e, sobretudo, enquanto consultor do Banco d’Outre Mer de Manuel Bullosa. Este emprego, que era a sua principal fonte de rendimento só seria revelado, pelo
próprio, em 1983. Jorge Campinos leccionava na Universidade de Poitiers e Francisco Ramos da Costa era considerado um homem abastado que vivia de rendimentos que tinha em Portugal. Manuel Tito de Morais e Gil Martins viviam em Roma. O primeiro
era financeiramente apoiado pelo Partido Socialista Italiano e o segundo estudava arquitectura. Fernando Loureiro era licenciado em medicina e vivia na Suíça, onde trabalhava para uma empresa farmacêutica. Bernardino Gomes vivia na Bélgica e estudava na Universidade Católica de Louvaina. De Londres vinham José Neves que era funcionário de uma empresa de equipamentos de escritório e Seruca Salgado que tinha participado, enquanto militante da LUAR, na tentativa de golpe de Beja refugiando-
-se primeiro em Argel. Da Alemanha vinham Gomes Pereira, que lá trabalhava como metalúrgico, assim como Lucas do Ó, Carlos Novo e Carlos Queixinhas. De Portugal estariam presentes os advogados Catanho de Menezes, Gustavo Soromenho, Fernando
Vale, Fernando Borges e António Arnaut. Arons de Carvalho, Nuno Godinho de Matos e Roque Lino eram licenciados em direito e Maia Cadete, Mário Mesquita e Carlos Carvalho eram jornalistas. A única mulher presente seria Maria Barroso que, na Alemanha,
representaria essencialmente o grande ausente, Francisco Salgado Zenha. Também outros, à data reconhecidamente ligados à fundação do Partido Socialista, não estariam presentes pelas mais variadas razões.
Áurea Rego que vivia em Londres e muito fez para dinamizar o núcleo de Londres, Raul Rego, António Macedo, JaimeGama,
António Campos, José Luís Nunes, Magalhães Godinho e Vasco da Gama Fernandes, são alguns dos ausentes de maior relevo.
Em qualquer dos casos o Partido que fundámos na Alemanha, no dia 19 de Abril de1973, não teria mais de cinquenta filiados em todo o mundo.
E a polémica que viria à luz, aquando das celebrações do vigésimo aniversário da fundação, sobre quem votara a favor e quem era contra a transformação da ASP em partido é realmente pouco relevante. E apesar do meritório esforço jornalístico de Mário Mesquita, nem a fundação do PS teria a «benção»de Willy Brandt nem os que votaram contra a fundação do PS, como foi o caso de Salgado Zenha, através de Maria Barroso, e do próprio Mário Mesquita, o fizeram por razões doutrinárias. Willy Brandt não esteve presente nem enviou qualquer mensagem a este congresso fundador e os únicos representantes do SPD seriam a funcionária da fundação Ebert para as questões ibéricas, Elke Esterse, no último dia, o secretário internacional Hans Eberhard Dingels que é igualmente funcionário e não pertence aos quadros dirigentes daquele partido.
O SPD não acreditava então, nem na viabilidade do Partido Socialista enquanto partido de massas, nem na queda do regime. As razões que levariam sete congressistas a votar contra explicam-se em alguns casos pelo receio das consequências de tal acto, noutros casos porque também havia quem achasse que para se ser um partido político era necessário ter mais que meia centena de dirigentes.
Havia ainda os que viam na fundação do PS uma manobra apressada e camuflada de Mário Soares para poder negociar com o PCP o acordo que viria, aliás, a assinar cinco meses depois, sem mandato das «exíguas» bases.

continua aqui

LOUÇÃ 6 – SÓCRATES 3

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É SEMPRE A PERDER ATÉ UMA VITÓRIA FINAL, QUE NÃO SERÁ A DELE
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Caretas e mais caretas.
“E não mas faça essa cara que não vale a pena”.
O programa do BE lido ontem, deve ter feito dores de cabeça. As marcações e sublinhados que alguém lhe fez, fizeram jeito.
O adversário de Louçã é Sócrates, mas este não reconhece aquele como adversário.
Inteligente, Sócrates tenta entalar Louçã com o programa do BE. Louçã safa-se por pouco.
No resto do debate, Sócrates, nervoso, só se defende. A culpa de tudo o que de mau acontece em Portugal é de todos, da crise internacional, mas nunca dele. Não soube explorar devidamente as loucuras das propostas económicas e sociais do oponente.
Louçã ataca, sorri e marca pontos.
Aflito, muitas vezes o ainda nosso Primeiro e admirável Lider, o grande Irmão, olhava para a moderadora, na vã tentativa de que ela mandasse calar Louçã.
No fim, Louçã ajuda Sócrates no caso da d Manuela e da Madeira. À espera de uma coligaçãozinha?

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JM
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