Eleições em França: Ler os sinais

Le Pen ganhou no eleitorado dos 18 aos 50. Só a partir daí Macron conseguiu vencer. É só perceber os sinais. Ou mudam as políticas ou os franceses vão acabar a entregar o poder ao lado negro da história.

Depois não culpem o eleitorado…

Eleições em França: Respirar de alívio por mais uns anos….

Macron vence com 58% dos votos e a Europa suspira de alívio. Por mais uns anos. Muitos? Se as coisas não mudarem, não serão muitos….

França: As sondagens valem o que valem….

…. mas esta é assustadora.

Os “coletes amarelos” andaram meses a protestar em França. Uma boa parte da sociedade civil francesa radicalizou-se politicamente (basta somar as intenções de voto nos candidatos das extremas). Os chamados “partidos do centro” definham. E a Le Pen vai subindo de eleição para eleição. O Putin pode até nem ganhar a guerra na Ucrânia mas os filhos de putin estão a crescer a olhos vistos em quase todos os países europeus.

O mundo está a ficar perigoso.

Porque é que a comunicação social portuguesa insiste neste frete a André Ventura?

Qual será o motivo que leva ao silêncio de jornalistas, pivots de telejornal e moderadores de debates e os impede de confrontar André Ventura com as suas referências e aliados políticos internacionais?

Porque não o confrontam com os terroristas que há um ano atacaram o Capitólio, directamente incitados por uma das suas grandes referências politicas, quase um líder espiritual, Donald Trump?

Porque não o confrontam com o autoritarismo de Jair Bolsnaro, outras das suas referências, que promove activamente a violência e o ódio contra minorias, jornalistas e opositores políticos, para além de múltiplos envolvimentos do seu clã de carreiristas nos mais variados esquemas de corrupção?

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Solução BES: a Nova Direita e a Direita Má

Pedro Mota Soares já foi Ministro da Solidariedade Social. Peço o favor de não se rirem, porque é verdade. Esse extraordinário currículo transformou-o em professor da chamada Escola de Quadros do CDS.

Em dada altura, enquanto ministro da Solidariedade Social (vamos tirar esse sorrisinho da cara, já!), chegou a criticar o facto de que havia gente a ganhar fortunas à custa do Rendimento Social de Inserção, como todos os bons direitolas do mundo inteiro que se dedicam a chamar parasitas aos que recebem alguma ajuda do Estado, essa entidade que só deve existir para entregar dinheiro aos grandes empresários, que é para isso que servem adjudicações e simulacros de concertação social e outros fingimentos.

Por outro lado, há tanta gente tão pouco recomendável na direita mundial que até Mota Soares se sente na obrigação de fazer de conta que não quer a mesma sociedade que é defendida por Bolsonaro. O centrista chega mesmo a distanciar-se de Le Pen, que, por sua vez, anda assustada com os exageros do mesmo Bolsonaro. Pelo meio, Mota Soares até recicla um discurso que está muito em voga, dizendo que a culpa de todos os disparates da extrema-direita é da esquerda e que, no fundo, a extrema-esquerda é igualzinha à extrema-direita, unidas pelo populismo e que, se formos ver bem, uma pessoa, estando ali na extrema-esquerda, basta contornar o quiosque e já está na extrema-direita, porque é tudo malta que frequenta o mesmo café, ao contrário de Mota Soares, cliente habitual de um outro snack-bar que, por acaso, até serve uns preguinhos muito bons.

No fundo, Mota Soares quer para a direita uma solução como a do BES: de um lado, está ele, da Direita Boa, a Nova Direita (a da “tradição humanista”, disse Henrique Burnay, humorista involuntário); do outro, está a Direita Má. Entretanto, o Novo Banco, a parte boa do BES, parece que precisa de mais dinheiro, o que nos leva a pensar que, se calhar, não há grande diferença entre o banco bom e o banco mau, mas isto pode ser o meu populismo a falar.

Leituras matinais

Exactamente: 2017 = 2002.

É mesmo para acabar.

“Com a retirada de Obama e a entrada em cena do Luís XIV da Quinta Avenida, o mundo entra noutra fase. Podemos chamar-lhe incerteza mas incerteza é o que menos existe” – Clara Ferreira Alves, Expresso, 21 de Janeiro de 2017.

Quando acabei de ler o artigo desta semana de Clara Ferreira Alves na revista do Expresso fiquei a pensar que nunca como nos últimos tempos concordei tanto com aquilo que ela escreve. Sempre gostei de ler os seus artigos e ainda mais quando discordo das suas opiniões. Mas este seu texto, com o título “É para Acabar”, é do melhor que tenho lido nos últimos anos. Está ali tudo, devidamente retratado e colocado no seu real contexto:

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A maior prova, se tal seria necessário, foram os resultados das eleições nos Estados Unidos. A imprensa a fazer campanha contra Trump e o resultado foi ao contrário. O mesmo se diga no que toca ao Brexit. Retomando o texto de Clara Ferreira Alves:

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Estou plenamente convencido que assim será. Um a um, eleição a eleição os “Trump” mais ou menos letrados por esse mundo fora, a começar pelas próximas eleições em França, vão vencer com o voto popular. Porque o povo está farto. Completamente farto e prefere o “quanto pior, melhor”. As elites merecem que assim seja, para desgraça de todos. Voltando ao artigo de Clara Ferreira Alves:

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Subscrevo tudo isto que a Clara Ferreira Alves escreveu. Para mal dos nossos pecados, estou convencido que assim será. É mesmo para acabar…

Nem tudo é a mesma merda

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A Cour de Cassation de Paris deu provimento, na semana passada, ao recurso de uma decisão judicial que ilibava o animador Laurent Ruquier de ter cometido, no seu programa de televisão “On N’Est Pas Couché” (FR2), uma difamação, ao exibir, entre outros cartazes eleitorais imaginários publicados no Charlie Hebdo, um cartoon que comparava Marine Le Pen a um fumegante cagalhão (“étron”). Não obstante a decisão recorrida ter salientado que Ruquier, ao mostrar todos os cartazes e afirmando «c’est satirique, c’est Charlie Hebdo», se distanciara daquele cartaz específico – não tendo por isso cometido uma infracção penal, a mais alta instância judicial francesa considerou que os limites da liberdade de expressão do apresentador foram no caso ultrapassados, ordenando um terceiro julgamento, com recomposição dos juízes, pela Cour d’ Appel de Paris.

Noutro recurso antes interposto pela mesma senhora, a Cassação tinha reconhecido que o humorista Nicolas Bedos, ao tratar, num polémico apontamento de humor publicado no semanário Marianne, Marine Le Pen por “cadela fascistóide” (“salope fascisante”),  não ultrapassara os limites da liberdade de expressão. Le Pen contestava, bem entendido, apenas o uso do substantivo “salope”, no qual não se revê, e não do adjectivo “fascisante”.

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Armaste muita bandalheira papá

E contigo aqui não conseguimos ganhar as eleições. Antes que descubram que somos mesmo fascistas, vamos ter que te pôr a andar.

A observar num novo jornal

Le Pen e o vírus ébola, um casal feliz.

Marchais, esse precursor de Le Pen


Sabe-se o que aconteceu quando da reforma eleitoral promovida por Mitterrand. Visando enfraquecer a direita “clássica”, introduziu o sistema proporcional, aliás mais justo que esta ridícula ficção das duas voltas. O PCF, até então incontestado dono dos banlieu, caiu dos 20% para uns residuais 5%, passando-se o seu eleitorado com armas e bagagens para as hostes da Frente Nacional que atingiria perto de 15% dos votos.
O discurso de Le Pen, nada mais é senão a continuidade do posicionamento político do precursor PCF. Entretanto, o conhecido “barão” de Lavos já terá iniciado o processo de canonização da indefesa criança Mohamed.
* A pedido de um leitor, aqui segue uma tradução mais que imperfeita:
“Há que pôr fim à imigração oficial e clandestina. É inadmissível fazer entrar novos trabalhadores imigrados em França quando o nosso país conta com quase 2 milhões de desempregados franceses e imigrantes” (palmas seguidas da voz da locutora que informa ser o PCF contra a construção de um centro cultural islâmico). O porta-voz do PCF em Rennes, diz o seguinte:
“Verificamos que não se trata de um centro cultural que está em construção, mas de facto é uma mesquita e uma escola corânica. Nesse sentido o senhor Maire de Rennes (um socialista) apoiou a ideia (não estou a entender todo o discurso, lamento). “Nós não mudámos de opinião, somos pela separação da Igreja e do Estado e de forma alguma o dinheiro público deverá servir para construir”… (aqui também não consigo entender o que o homem diz, uma vez mais lamento).
E regressa Marchais, desta vez de dedo em riste pela moral:
“Colocamos o problema da imigração. Será para utilizar e favorecer o racismo. Procuraríamos acarinhar os mais baixos instintos. Assumimos a luta contra a droga e isto porque não queremos combater o alcoolismo que é apreciado e corrente na nossa clientela. Para a juventude, eu escolho, sim, eu escolho o estudo, o desporto, a luta e não a droga” (salva de palmas).
E Marchais passa então a atacar os socialistas, irmanando-os à direita nas questões relativas ao respeito pelos trabalhadores, etc, etc. O discurso parece um bocado desconexo, sem seguimento (há partes certamente recortadas do todo, claro). Enfim, uma espécie de Jerónimo de Sousa avant la lettre.

Faltam 407 dias para o Fim do Mundo

O artigo de opinião de Bernard Henri-Lévy hoje no i é de leitura obrigatória para se compreender o que verdadeiramente ficou das últimas eleições francesas. Depois não digam que não foram avisados.

O país mergulhado numa crise impressionante e os nossos senhores preocupados com a comunicação social. Quantas falsas virgens ofendidas! Pressões políticas sobre a imprensa? Que grande novidade. E que tal discutir a privatização do grupo RTP? Isso sim, seria um bom começo para uma verdadeira independência da comunicação social. Um começo, apenas.

Pé ante pé, finta após finta, chuto a chuto, Messi vai provando quem é o melhor jogador de futebol do Mundo. E o resto é treta.