pela primeira vez desde que tenho consciência cívica e política (desde os meus 11\12 anos) decidi não assistir a uma noite eleitoral. deixei o professor marcelo a pregar aos incautos, o dr. karamba marques mendes a adivinhar o número exacto dos próximos cortes orçamentais, a Judite de Sousa (sem ou com Montenegro; com ou sem equívoco na pessoa) num saco do Pingo Doce e a televisão desligada de forma a poupar energia e pagar menos à China Three Gorges. encontrei-me com a minha princesinha AMF e fomos ao cinema ver Grace of Monaco de Olivier Dahan. apesar da história ser batida, o filme de Dahan acaba por ser bastante interesse e, no plano técnico, é simplesmente fantástico. desde os planos à direcção das cenas, passando pelo límpido som de voz nos diálogos entre personagens.
a campanha foi degredante. do surfer rosa (bem que queria ir ver os pixies para a semana ao primavera sound mas mas todo o argent é escasso nos dias que correm) nos currículos escolares aos vírus despesistas. de reminiscências do holocausto que não foi vivido em verso à governação socratina. Até o filósofo (cientista política, teorético político) teve que se meter na querela e vir a público lavar roupa suja. Sócrates himself, teve ali uns 7 orgasmos seguidos durante os 3 episódios em que pode comentar a campanha. discutiu-se tudo excepto política europeia. discutiu-se tudo excepto os problemas que neste momento precisam de ser resolvidos na europa bem como os que estão a rebentar. como a deflação. o partido socialista ainda tentou lançar a discussão sobre a mutualização da dívida na fórmula desusada de eurobonds mas… com tamanha babugem estavam à espera que a malta andasse informada e estivesse minimamente ciente dos projectos europeus defendidos pelos candidatos?
deixei a noite eleitoral para trás porque presumi o resultado verificado. na minha modesta previsão dava vitória ao PS com um percentagem de votos entre os 26% e os 31%. o PSD teria entre 23% a 25%, a CDU entre 12% a 14%. como tive o privilégio de dizer ao meu colega de blog e amigo João José Cardoso há umas semanas atrás a meio de um hambúrguer com ovo na Praça Velha de Coimbra, previa uma ligeira subida do bloco (a unica previsão onde falhei) e a eleição do Marinho Pinto. Para o nosso amigo Rui Tavares ficariam as códeas.
assis e zorrinho foram os grandes vencedores da noite. o par mais insonso, mais vazio de espírito e de ideias, o pior par político da história da democracia portuguesa conseguiu um par de bilhetes para bruxelas. espero bem que só de ida. caso contrário, dentro de poucos anos estarão de volta para trocar os seus clios por belos audis de dois Ministérios.
enquanto passos coelho e portas afirmavam não haver drama (há mais vida para além da troika logo agora que a troika se foi embora), paulo rangel deverá ter ficado toda a noite a bater com a cabeça contra a parede tal o melão de pela primeira vez ter sentido que foi literalmente atirado para a fogueira pelos seus colegas de partido e coligação.
à boa moda da história do PCP, quotizados os fiéis de sempre (para sempre) Jerónimo de Sousa tratou de anunciar a moção de censura ao governo, chumbada hoje na Assembleia da República (o PS votou a favor. teremos aqui o primeiro passo dos socialistas com vista à assinatura de uma possível coligação nas próximas eleições legislativas de forma ao partido conseguir governar com maioria absoluta?)
Marinho Pinto foi eleito. O jurista agradece ao MPT pela disponibilidade demonstrada para o lançar no palco político. O MPT agradece ao candidato os fundos que irá receber por esta eleição. Serão suficientes para pagar (quiçá) as próximas 10 eleições do partido. Para além do mediatismo granjeado por esta eleição. Quanto ao antigo bastonário da ordem dos advogados pode-se ainda referir que pela primeira vez, os holofotes da política estarão virados para si. Não podemos ser hipócritas ao ponto de crer que esta eleição não se deveu à admiração que o povo português sente por esta personagem dos média porque de facto, milhares de portugueses gostam do sensacionalismo, da abertura de espírito e da crítica do jurista. Esperemos que em Bruxelas, Nigel Farage tenha no português um bom colega para bater pedra.
Marisa Matias continuou em Bruxelas. Para bem da sã discussão em Bruxelas, a Super Deputada Europeia (de longe a melhor naquele ninho de vespas e tachistas) conseguiu sobreviver no meio do vendaval que passou na Rua Palma ontem à noite. De mal o menos na porca miseria sentida pelo Bloco de Esquerda na noite eleitoral de ontem. Podendo capitalizar os votos que há 3 anos flutuaram para o PSD, por mais uma vez denotou-se que a liderança bicéfala instaurada no partido após a saída de Louça bem como a ridicularização dos discursos de Catarina Martins\passividade absoluta de João Semedo\falta de ideias que neste momento paira no Bloco de Esquerda\abandono puro e duro nos últimos anos do “nicho político” que deu a era dourada ao partido, ou seja, as questões sociais fracturantes, fizeram regredir o partido e ameaçam vulgarizá-lo à 2ª liga política se nada for feito. Fazenda, Louçã, Rosas, Drago, Matias, Catarina Martins, Pureza e seus pares terão que se reunir em breve para dar um novo rumo (urgente) a este Bloco de Esquerda.
Livre… de Rui Tavares! Acabou-se o experimentalismo do falso intelecto. Fim da linha para o Livre. Rui Tavares voltará decerto às aulas de história para perceber o basics: todos os absolutistas, todos aqueles que acreditaram que o mundo girava à sua volta, acabaram com a cabeça no cepo.
2. Alarmante – NPD na Alemanha, Frente Nacional na França. UKIP com 24 deputados no Reino Unido. Uma autêntica família de euro…. esqueçam o termo. eurocépticos são todos aqueles que aproveitam as falhas dos tecnocratas dirigentes em bruxelas para desconstruir o projecto europeu. Falamos aqui de extrema-direita de linha dura, partidos que albergam autênticas milícias, milícias essas que semeiam diariamente a violência nas ruas de Londres, Marseille, Lyon, Paris, Budapest, Viena, Londres, Manchester, Birmingham, Atenas junto de imigrantes dos mais variados cantos do mundo.
Durão Barroso apelou à necessidade da europa se unir de forma a não azo de actuação a estes recém entrados na política europeia (excepto o UKIP do mítico Farage; que, nas últimas eleições autarquicas também começou a construir o seu espaço internamente na política britânica) – a europa assiste ao ressurgimento de uma horda que não tem espaço neste mundo e para nossa infelicidade, o seu discurso (baseado em crenças superadas pela ciência e pela vida em comunidade em pleno espaço europeu) voltou a cativar a consciência política popular em vários países. a Kristallnacht está aí de volta e poderá rapidamente tomar de assalto um ou dois governos europeus (de certa forma já tomou com Viktor Orban na Hungria).
Tanta união. Tantos problemas.