PT/TVI – informalmente

Foi a esta conclusão a que chegou a Comissão Parlamentar para o negócio PT/TVI. Sabemos que o primeiro ministro sabia, mas não formalmente! Não, não é isso, o que a Comissão disse é que ela, Comissão, sabe informalmente que o primeiro ministro sabia, mas não é capaz de provar que ele, primeiro ministro, sabia formalmente!

Dito assim pode parecer confuso, mas isto é cristalino como a água. A Comissão, depois de tudo fazer para não saber formalmente (o seu presidente impediu que a Comissão soubesse formalmente, subtraindo documentos que o juiz do Baixo Vouga diz que sem esses documentos não é possível saber formalmente) vem agora dizer que sabe que o primeiro ministro sabia, mas não pode provar que mentiu ao declarar no Parlamento que não sabia.

Esforcem-se!

Freios, porcos e maus

( Pormenor - adao cruz)

(Estive fora e depois de regressar adoeci. Por isso, esta ausência do Aventar. Peço desculpa de preencher o vazio ( ou talvez não), com um texto que não é meu. Nestes tempos um tanto conturbados, dentro e fora do Aventar, em que vêm à tona, com muita facilidade, valores e desvalores, eu penso que este texto do Marcos Cruz pode ser interessante).

Freios, Porcos e Maus

Devia haver um Dia Mundial do Desenfreado (pela piada fonética, até merecia ser feriado), em que todos despejássemos indiscriminadamente o que trazemos dentro, o lixo orgânico e anímico no mesmo saco, no saco do Dia. Eu, cá por mim, vou fazer de conta que é hoje e, daqui para a frente, o que este texto contiver já terá de ser lido à luz dessa ausência de critério. Normalmente, o que me acontece é pegar numa ideia mínima e desenrolá-la, como se faz à massa de rissóis. Só que depois não vou lá com os copos, aliás, se lá fosse com os copos não escreveria nada de jeito, ou às tantas até era assim que arranjava maneira de o fazer, pois quem sabe se as minhas coisas são ou não de jeito é quem as lê, incluindo eu quando assumo esse papel. Nesta última frase, confesso já, quebrei as regras, porque onde escrevi “assumo esse papel” pensei antes escrever “o faço”, mas como tinha escrito, um pouco acima, “arranjava maneira de o fazer”, achei melhor não repetir o verbo. Mas continuemos: não vou lá com os copos, em vez disso junto a massa toda e chapo-a no blogue, menos bruta, concerteza, mais espalmada, mas para vocês fazerem dela o que quiserem. Porque é que me sai das mãos, ou do rolo, menos bruta do que a ele chegou, eis a questão. Em todo o caso, é uma questão que hoje, por ser, para mim, Dia Mundial do Desenfreado, não poderei explorar, ou melhor, poder explorar até posso, mas não poderei esclarecer, porque não garanto coerência ou consistência na abordagem, ou então não seria Dia Mundial do Desenfreado e sim Dia do Freio, a que levanto desde já o dedo do meio, porque esse é todos os dias. [Read more…]

Os nossos ancestrais amavam no Chile?

Promaucaes ou clã Picunche do povo Mapuche, vestidos como antes

Queira o leitor lembrar, que ando a tentar entender o contexto da produção das crianças que cresceram. E que essa produção, não é o resultado de apenas a transferência de saber entre adultos e filhos de uma casa. Para entender esta pergunta, estudei as vidas de três raparigas de diversos continentes, nos anos 90 do Século XX: Victoria, do clã Picunche do povo Mapuche do Chile, Pilar, de Lodeitón, Paroquia de Vilatuxe, Pontevedra, Galiza, e Anabela, da aldeia de Vila Ruiva, Concelho de Nelas, Portugal. Analisei os seus pensamentos e os da sua família. De Pilar tenho já falado. De Victoria, apenas mencionado em outro ensaio, como é o caso de Anabela. Hoje vou introduzir Victoria, do clã Picunche do concelho ou municipalidade de Pencahue, que limita com a cidade de Talca, capital da Província denominada Maule.

Os Picunche eram denominados Promaucaes pelos conquistadores, no século XVI. Na altura que os Castelhanos foram ao país frio, o chile dos Quechua, esse habitantes da hoje República do Peru, esse inimigos imbatíveis, impossíveis de conquistar nas guerras índias (Villalobos,Sergio e tal. 1974; Lizana, 1909; Ovalle, 1646 Pedro de Valdivia, 1545-1542). Os purum auca, os inimigos imbatíveis para os habitantes do norte do sul do hoje Continente americano. Os que dançam, para os Castelhanos, os que se divertem, para quem fez uma enganada tradução mapudungun das palavras. Puru, feliz para os Mapuche e para os que Mapuche têm querido entender. Para os Mapuche, Picunche, as pessoas do Norte, donde che é pessoa, e Picun, Norte. Habitantes do Norte. Do Norte do rio Choapa, que separa os lugares nos quais viviam (ver mapa das etnias). Até Valdivia entregar as terras dos nativos, aos invasores, como relata ao Imperador Carlos V, nas suas cartas citadas. Eram sessenta as famílias invasoras. Terras asaltadas, beliscadas de volta, com raiva, com lanças, com flecha e arco, perdidas e tornadas a recuperar pela compra, séculos mais tarde. Picunche que teciam, teciam a lã dos guanacos locais da Cordilheira de Los Andes, das lamas e vicunhas importadas pelos prévios invasores Inca. Tinham uma horta em cada grupo consanguíneo de lares contíguos, ou rucas, feitas de madeira e barro. Madeira não elaborada, fibra de madeira, ramas de uma árvore, plantas de junco ou coligue entretecido e enchido com lama ou barro, a quincha, como o material é ainda denominado e usado por grande parte da população do país. Antigamente, pelos Pehuenche, os Huilliche, os Picunche, os Mapuche, as várias famílias dos Rauco. Os habitantes não parentes, as vezes inimigos outras aliados, conforme for a continência dos tempos. Por engano, eram denominados Araucanos pelos Castelhanos (SilvaPereira,1998;Bengoa,1985;Villalobos,1974). Cultivavam que hoje ainda cultivam: milho, feijão verde, cabaços ou pencas, donde Pencahue, ají, a quente guinda ou piri-piri; a batata que salvou a Europa e a fez crescer demograficamente e em proteínas, e mani ou amendoim. E outras plantas não conhecidas entre nos, nos verdes vales regados pelos canais de aguas tiradas aos rios circundantes, o branco Claro, e o navegável Maule. Espantados os Castelhanos de ver um homem com tanta mulher, até seis ou sete, e tanto filho. Varias Crónicas sobre o Chile, relatam a fertilidade das terras, a fertilidade das pessoas, a fertilidade do imaginário que adjudica um deus ou espírito a cada fenómeno natural, a cada animal, a cada pessoa. Até hoje, com nomes mortos na memória, mas vivos na dos Mapuche (ver Silva Pereira, 1998). Mapuche e Picunche compartiam os mesmos deuses, a mesma cosmogonia. Que os Castelhanos apagaram rapidamente nas Doutrinas ou Reduções para as quais transferiram esses habitantes. Habitantes que, em breve, se misturaram com os Castelhanos e outros da Espanha, que aí chegaram.

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Um Moçambique que passou


Ao fim da tarde, o whisky dos administrativos, na cantina local.

Hoje é Sábado e parece-me acertado fazer uma pausa nas nossas preocupações com o devir da nação da bola, com fumos de tabacos alheios ou com a transcendência das malandragens de outras personagens que preenchem alegremente o nosso dia a dia.

Indianos, numa rua da velha Lourenço Marques.

Assim, decidi apresentar-vos uma parte importante do trabalho executado pela minha mãe ao longo de décadas. Considero estes testemunhos pictóricos, uma fonte de informação única no âmbito da compreensão daquilo que foi e representou a fase final da presença portuguesa além-mar. Na linha daquilo que Jean-Baptiste Debret fizera no Brasil durante a permanência da Corte no Rio de Janeiro, a minha mãe começou desde cedo, a recolher aspectos característicos da vida na antiga colónia de Moçambique. Interessaram-lhe sobretudo, as incontornáveis cerimónias públicas, as actividades dos quadros administrativos locais, os sectores da economia, a vida familiar e sobretudo, a sua grande paixão pelos usos e costumes daquela excepcional gente que forma aquilo que hoje reconhecemos como povo moçambicano. As cantinas onde um pouco de tudo se vendia e onde ao fim da tarde o pessoal da administração bebericava o muito anglófilo whisky, a consulta ao feiticeiro capaz de curar maleitas e de afastar os maus espíritos, as ruas onde se aglomeravam gentes oriundas do então Indostão britânico, das Maurícias e “estranhos refugiados” europeus do pós-1945, as mesquitas, a comunidade macaense ou goesa e muitos outros temas que compunham com veracidade, a realidade moçambicana daquele tempo.
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Professores – como não podia deixar de ser…

A avaliação conta para o concurso de colocação dos professores. Vários tribunais (Lisboa, Porto, Beja…) depois de terem dado provimento às providências cautelares da FENPROF vêm agora de forma definitiva dar razão ao ME e aos cerca de 50 000 professores que entregaram a avaliação conforme directiva do ministério.

Claro que os sindicatos e todos os outros professores podem recorrer até ao Tribunal constitucional. O sindicato diz mesmo que pagará as custas aos professores que quiserem accionar acções judiciais, mas isto é uma forma de fugir à responsabilidade, o sindicato devia era pagar o efectivo prejuízo de todos aqueles a quem convenceu para não cumprirem. Claro que todas estes recursos não têm efeitos suspensivos pelo que o concurso e as colocações vão mesmo ser uma realidade!

Esta decisão dos tribunais não podia ser outra por razões simples e fáceis de explicar. i) é o governo que governa, não são nem os sindicatos nem os tribunais ii) quem cumpriu não pode em caso algum ver as suas expectativas goradas por ter cumprido iii) quem não cumpriu sabia ao que se sujeitava.

Mundial – não era preciso ser bruxo…

Como escrevi  aqui no Aventar  não era de esperar grande coisa deste campeonato. A ideia de alavancar a economia e a visibilidade da África do Sul é boa, mas o país em termos de segurança deixa muito a desejar. Acresce que nos últimos tempos, a extrema direita perdeu o seu líder branco, às mãos de um grupo de jovens negros.

Racismo, nazismo e ódio, não são ingredientes para resultar uma boa caldeirada, ou antes ,caldeirada resulta, apetitosa é que não. A violência campeia, a neta de Mandela morreu num desastre e as versões são mais que muitas não se afastando a possibilidade de um atentado. Jornalistas portugueses e espanhóis, no meio do nada foram assaltados enquanto dormiam e os jornalistas que cobrem o evento não têm rebuço em dizerem que têm medo.

Os senhores da FIFA estão hospedados em luxuosos hoteis, com toda a segurança, e no fim levam uns milhões muito largos, há já quem pergunte se valeu a pena fazer o campeonato na África do Sul, mas para os senhores do dinheiro isso é assunto que se vai ver no final. Nas contas!

Entretanto, pessoas que foram assaltadas nunca mais conseguem livrar-se do pesadelo, são assaltos à mão armada de extrema violência, no país os serviços de apoio estão cheios mas as autoridades dizem que a maioria das paessoas não pede ajuda, o problema é bem maior do que mostram as estatísticas oficiais.

E Mandela com 91 anos já não tem poder nem energia para voltar a liderar o seu povo!