Disponho de vários, ainda que pouco sofisticados, recursos para distrair-me do meu medo de voar e nenhum deles inclui meia garrafa de conhaque. O último que usei foi comprar, para a viagem de regresso, Revolución en el Jardín, um livro de crónicas do mexicano Jorge Ibargüengoitia, autor que ainda há pouco eu desconhecia e que tem, entre outras qualidades, a de descobrir a comicidade mais ou menos escondida nas coisas solenes desta vida. Com o livro novinho em folha e a previsão de que a viagem seria rápida, ignorei o facto de me ter sido atribuído o pior lugar possível, o da janela. Quem está à janela do avião sofre triplamente: pode ver, ao contrário dos passageiros do lado, exactamente quão alto está; tem mais dificuldade em perscrutar sinais de alarme na tripulação ou movimentações suspeitas no cockpit; e será o último da fila a conseguir escapar caso seja preciso sair pelo corredor numa emergência. Logicamente, há que escolher sempre o corredor. [Read more…]
Os ajustes directos do ex-patrão amigalhaço de Passos Coelho
Foto: Dário Cruz@Diário de Notícias
Ontem falei aqui sobre Rogério Gomes, ex-patrão e amigalhaço do primeiro-ministro que, coincidência das coincidências, Pedro Passos Coelho levou consigo para Comissão Política Nacional do PSD em 2010 e que agora está responsável pelo programa eleitoral para as Legislativas deste ano. Já dizia o Freddie Mercury, friends will be friends.
O problema é que alguns amigalhaços do primeiro-ministro são bastante dispendiosos e, em muitos casos, verdadeiramente inúteis. Ele nem queria dar emprego aos amigos mas nisto da política de inspiração siciliana, parafraseando Ricardo Araújo Pereira, “quem tem rabo tem medo e quem tem rabo de palha tem ainda mais“. E não fosse a Urbe transformar-se noutra Tecnoforma, há que por a especialidade de Passos em prática e abrir uma porta ao ex-patrão.
Acontece que, para além dos ajustes directos feitos à custa do erário público pela ONG que Rogério Gomes criou, e que têm beneficiado algumas associações às quais está ou esteve ligado conforme noticiou ontem o DN, este amigalhaço do primeiro-ministro recebeu também um ajuste directo do IPDJ, tutelado pela Presidência do Conselho de Ministros que, como sabem, é chefiado pelo amigalhaço Pedro Passos Coelho, no valor de cerca de 61 mil euros para que a sua ONG prestasse serviços de assessoria e consultadoria ao instituto público. Passos não se cansa de abrir portas para os amigos. E que bem que se vive na corte do contador de histórias para crianças.
Nada que me surpreenda
Francisco Assis declara o seu apoio à eleição de Marcelo Rebelo de Sousa.
República das bananas…
Já não sei se é Estado a mais, se é mau Estado, o que sei é que é lamentável o estado a que a choldra chegou…
O leão, a bola, o ser e o nada
Olhai, jogadores do glorioso Sporting Clube de Portugal! Hoje, falo para vós. E por ponderosas razões. É que protagonizais, não sei se um mistério, não sei se um equívoco, já que há coisas que de tal modo se nos colam aos olhos que a elas nos tornamos cegos. Eu explico. Olhai, nesta foto, a solidão do pequeno guarda-redes frente à sua gigantesca baliza. Olhai como entre o ser dos postes e do próprio jogador se estende o nada, o vazio. Largo, imenso. Ora, é aqui que me interrogo: porque será que vós, artistas e atletas de fino recorte e ilustre condição, insistis, num alarde de arte – difícil e refinada, sim, mas inútil, um verdadeiro mergulho no niilismo futebolístico – em acertar com invejável rigor, no guarda redes, no poste direito, no poste esquerdo, na trave. Sei que o primeiro está ali para defender e, por vezes, o diabo do homem não para quieto. [Read more…]
É o retrocesso, estúpido!
A manchete do Jornal de Leiria desta semana remete-nos para algo completamente novo: A Diocese de Leiria-Fátima acaba de proibir o concerto de Camané, agendado para o dia 25 de Abril, na igreja do Mosteiro da Batalha. * O senhor bispo invoca uma norma da Santa Sé, datada de 1987, para fechar as igrejas à música não-religiosa.
Quer dizer que pequei, naquela primavera de 1994, quando assisti (entre centenas) ao concerto dos Madredeus. Quer dizer que pecaram todos os outros que assistiram a todos os outros concertos nas Igrejas do país. Pensando bem, isto era um bocado perigoso: juntar as músicas de Alfredo Marceneiro, Amália Rodrigues e Carlos do Carmo em pleno 25 de Abril…estavam mesmo a pedi-las.
Entretanto, a Diocese já veio esclarecer.
* o concerto mantém-se no Mosteiro, mas no claustro.
Há menos em NOS
Diz o anúncio da NOS:
“O futuro é para nós. Pela primeira vez o teu tablet sabe o que gostas de ver. Depois, só precisas de escolher e enviar para a televisão. Só a NOS te liga à televisão do futuro. Há mais em NOS.“
Tenho algumas reservas. Olhando para este anúncio, vejo uma criança que tem um amigo robô, com quem joga às escondidas dentro de casa, sendo facilmente apanhado, com quem faz desenhos de foguetões (ou melhor, a criança faz um desenho de criança, o robô faz um projecto detalhado com escala), que desiste de fazer os trabalhos de casa, pasta imediatamente passada ao robô, que por ser máquina deve dar conta daquilo num ápice, e que perante a dificuldade em completar o desafio do cubo mágico o entrega ao seu camarada que finaliza o quebra-cabeças em fracções de segundos.
A favor porque sim
Este cartaz está a fazer furor (invento; não sei se está). Paulo Pinto usou-o para dissertar sobre uma tal “inorância tóssica” e Luis M. Jorge trouxe os marretas à discussão para classificar os protagonistas dos debates de ideias em Portugal (não se sabe se todos, se só os referentes ao AO).
Em causa está o facto de este cartaz conter “palavras que não existem nem antes nem depois do AO, que são erros básicos de português, a lembrar a do “cágado cagado” que circula por aí, só para mandar areia para os olhos dos incautos e fazê-los correr, talvez”, escreve Paulo Pinto.
Não conheço a génese do cartaz mas, talvez não por acaso, até reflecte o panorama do que passou a existir depois deste acordo ter sido imposto por lei. Como tem sido repetidamente demonstrado no Aventar, vários são os exemplos de palavras que “não existem nem antes nem depois do AO” e que, graças ao AO, começaram a aparecer com regularidade. Um exemplo? Veja-se este, saidinho no Diário da República.
Mas prontos (também posso inventar, está bem?), em causa está uma “sanha ignorante, cega, mal-informada, preconceituosa e de má-fé” quando alguém ousa demonstrar que o AO é um erro e um falhanço. O primeiro porque complicou, em vez de simplificar e o segundo porque nem os acordistas o conseguem usar correctamente. Claramente, uns marretas.
[editado para corrigir uma gralha]
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