“Meus senhores, como todos sabem, há diversas modalidades de Estado.
Os estados sociais, os corporativos e o estado a que chegámos.
Ora, nesta noite solene, vamos acabar com o estado a que chegámos!
De maneira que, quem quiser vir comigo, vamos para Lisboa e acabamos com isto.
Quem for voluntário, sai e forma. Quem não quiser sair, fica aqui!”
Salgueiro Maia, 24/04/1974
E já fazíamos outro
Sobre o excesso de poder executivo e legislativo
É uma ideia que me ocorre recorrentemente. Os governos em Portugal, apoiados por uma maioria parlamentar, proveniente de um ou mais partidos, que controlam o Parlamento, o qual controla o governo, têm ao seu dispor demasiado poder sem contraponto.
Caracol, caracol…
Tenho a caixa de correio no exterior da casa. Isso permitiu aos caracóis da zona descobrirem as qualidades gastronómicas da correspondência, que violam com entusiasmo e gula. Não raro, desde subscritos variados a publicidade sortida, os caracóis deixam a sua marca roendo deliciados e sem discriminação. Hoje era o extracto bancário, que não só estava severamente roído como ostentava o próprio caracol em plena acção. Francamente, oh desatinado gastrópode, também tu!
O Acordo Ortográfico de 1990 explicado pelo Expresso
O Expresso, a dois meses de celebrar cinco anos de adopção assim-assim do Acordo Ortográfico de 1990, ilustra desta forma as “palavras que ficam ao gosto do freguês”:
Sector ou setor, característica ou caraterística, acumpunctura ou acumpuntura, caracteres ou carateres.
Um jornal que chegou a “poupar letras” onde não devia, gasta letras onde não pode.
Em 17 de Junho de 2011, a presidente da Associação de Professores de Português, Edviges Ferreira, dizia: “a comunicação social já está quase toda a usar a nova ortografia”, o que “irá facilitar”.
Efectivamente, é muito simples.
Desejo-vos um óptimo fim-de-semana.
(página do Expresso, via Tradutores Contra o Acordo Ortográfico)
Jorge de Brito, um banqueiro à portuguesa
Tropeço num grunhido do Henrique Mentiroso, afirmando que os bancos nacionalizados foram roubados. É a velha tese da extrema-direita, que se esquece da forma como na maior parte dos casos as fortunas que deram origem aos bancos foram feitas à pala do estado, sendo o próprio sistema bancário um gamanço institucionalizado.
E lembrei-me desta história contada por Silva Lopes a jornalistas do Público, que em tempos publiquei noutro blogue:
O Banco Intercontinental Português, o BIP de Jorge de Brito, “caiu” na secretária de Silva Lopes em 1974, quando este era ministro das Finanças do II Governo Constitucional. “Agora falamos destas coisas, mas comparado com o que o Brito fazia…”. “Estas coisas” são, como se entende, os casos BPN e BPP que nos últimos meses estão nas páginas dos jornais.
“O Brito utilizava os depósitos para os seus negócios pessoais. Tudo quanto ali se punha era para os seus negócios pessoais. Não emprestava apenas a si próprio. Emprestava também ao jardineiro, que era para ele, claro. Ele comprava de tudo: terrenos, palácios, arte… tudo. Depois, nas compensações do Banco de Portugal [o acerto dos cheques e transferências passados pelos clientes e depositados noutros bancos], o BIP estava sempre a descoberto. E o BdP aparecia-me lá quase todos os dias a dizer ‘mais um descoberto do BIP’. O BdP teve que adiantar nessa altura 10 milhões de contos, que agora corresponde a mais de 100 milhões [500 milhões de euros].” [Read more…]
PSD não olha a meios para ganhar eleições
Escrita por uma funcionária do partido e publicada pela editora da camarada Zita Seabra, “Somos O Que Escolhemos Ser” é a nova biografia de Passos Coelho, a sequela do compêndio de propaganda da Cabrita. Será que desenvolve a escolha da mentira?
Game of Greves
(reparem na pose cheia de swag deste ministro)
Estranho. Em Dezembro, perante o aviso de greve na TAP, o governo não hesitou e decretou serviços mínimos. É certo que a greve estava marcada para o final de Dezembro, o que levantava constrangimentos óbvios, e o governo, forçado a agir, optou por esse caminho. Agora, face a uma greve que tem mais a ver com os interesses dos pilotos* do que com a empresa como um todo, uma greve que poderá custar cerca de 70 milhões de euros aos cofres cheios do Estado e colocar seriamente em causa a estabilidade da empresa, o governo cruza os braços e decide não fazer uma requisição civil. O mesmo ministro que fez “um apelo humilde” aos pilotos para que reconsiderassem a sua decisão e que acenou com o fantasma da ameaça à viabilidade e sustentabilidade da TAP diz-nos agora que “quem estaria à espera de uma requisição civil para poder emendar a mão vai ter muito que esperar“. Um estratega este Pires de Lima, um homem de muitos talentos. Será que é desta que o Efromovich leva a TAP mais barata que o BPN?
*em 1999 foi assinado um acordo entre o sindicato de pilotos e a TAP, acordo esse que recebeu despacho da tutela, mas que aparentemente não tem validade legal. João Cravinho, o ministro que na altura assinou o despacho, acusa agora os pilotos de “má-fé” e “dolo”. A TAP tem tido muita sorte com os ministros que a têm tutelado.
Loja da China
Está ali a SIC Notícias a dizer que na capa do jornal do incontornável Arquitecto Saraiva surge um titulo que vai mais ou menos assim: “Chineses já controlam 33% dos seguros, 45% da energia e 15% da banca”. Nem a Isabel dos Santos, duas irmãs e quatro generais têm pedal para os camaradas do Partido Comunista Chinês, que por sinal não estão sequer satisfeitos com a quantidade de multimilionários de que dispõem.
Quem deve estar entusiasmadíssimo com tudo isto é o deputado socialista Sérgio Sousa Pinto, entusiasta da ascensão chinesa mas pouco dado a outros desvios excessivamente esquerdistas. Deus nos livre do Sampaio da Nóvoa e vivam os camaradas que compram isto tudo!
Diz que Salazar morreu pobrezinho
(publicada no diário As Beiras, 23/04/2015)
Internado após a queda da cadeira em 1968, foi reservada a Salazar uma ala inteira do sexto piso da Casa de Saúde da Cruz Vermelha de Benfica, isto em tempos em que apenas um terço dos portugueses tinha alguma vez entrado num hospital.
No entanto, quando morreu a sua conta bancária estava próxima do zero, daí a lenda do Salazar que morreu pobrezinho, logo honesto. Mas a realidade é que a culpa de a conta bancária ter chegado às lonas é do próprio Salazar. Apesar de ter acautelado a sua reforma numa quinta do Vimieiro e de possuir uma conta bancária típica de um alto representante do regime, Salazar teve o azar de cair nas malhas da protecção social do Estado Novo. Depois de internado e incapacitado para governar, Salazar foi exonerado e substituído por Marcelo Caetano. Tecnicamente desempregado e com tratamentos dispendiosos para pagar, a conta bancária de Salazar ia esvaziando à medida que passavam os meses, a tal ponto que o presidente Américo Tomás aprovou legislação para que se pudesse pagar as contas dos tratamentos médicos do ex-Presidente do Conselho.
O que este episódio revela é que Salazar foi incapaz de montar um sistema de saúde e protecção social digno, sendo incompetente a tal ponto que foi vítima das próprias injustiças que criou, com a agravante de ter vivido os seus últimos anos à custa de milhões contribuintes pobres sem acesso a hospitais. Salazar não morreu pobre, Salazar morreu a 27 de julho de 1970 como um privilegiado do regime com governanta, chauffeur, residência e viatura de estado.
El metro de Oporto
“Consórcio catalão assina contrato para gestão do Metro do Porto” (Público)
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