Mohammed bin Salman é o novo Vladimir Putin, imparável a comprar o Ocidente com petrodólares vermelho-sangue. Tenho pena de ver o Cristiano Ronaldo ser pioneiro no sportswashing do totalitarismo saudita, só comparável à Coreia do Norte em termos de repressão, e mal posso esperar para conhecer os argumentos dos hipócritas, no dia em que a narrativa fizer com ele o mesmo que fez com Putin, após duas décadas a branquear os seus crimes.
Cristiano Ronaldo, as ronaldettes e o regime saudita, igual ou pior que o russo
Descobri estes dias que tenho uma dívida para saldar com Cristiano Ronaldo. Como se não me chegasse o crédito à habitação e a dívida externa do país. Sorte a minha, é uma dívida de gratidão. Mas não deixa de ser uma dívida involuntária, na medida em que tenho que a aceitar, mesmo que me esteja nas tintas para o futebol jogado.
Quem não aceita a dívida sujeita-se ao homem do fraque. E, neste caso, o homem do fraque são as ronaldettes, que logo surgem, de tocha na mão, a exigir que se venere o melhor do mundo, garantindo que Ronaldo está acima da crítica e, por conseguinte, da liberdade de expressão e do estado de direito. O que é interessante, já que Ronaldo foi trabalhar precisamente para um país onde se cultiva a rejeição desses valores.
Eu disse cultiva? Queria dizer reprime. Com brutalidade medieval.
Israel, Putin e Bin Salman
O governo israelita financia madrassas judaicas, tem um ministério da religião e vários partidários de uma espécie de sharia dos Macabeus a caminho do executivo mais extremista e corrupto de que há memória em Israel, que quer acelerar a construção de colonatos ilegais, alargar a ocupação da Cisjordânia e asfixiar ainda mais a Faixa de Gaza. Se Putin e Bin Salman tivessem um filho, seria o líder perfeito para este governo.
Se aparecer um catalão desmembrado num saco de plástico, já sabem…

Uma investigação do Citizen Lab, da Universidade de Toronto, garante que pelo menos 65 independentistas catalães foram monitorizados pelo spyware Pegasus, um sistema informático israelita usado para espiar “high profile individuals”, que saltou para a ribalta por ter sido usado por Mohammed Bin Salman para vigiar e controlar todos os passos do jornalista Jamal Khashoggi, até ao brutal assassinato ordenado pelo príncipe-carniceiro de Riade, nosso estimado parceiro e destacado fornecedor de petróleo.
O software israelita tem sido um forte aliado de vários autocratas, da Arábia Saudita ao Qatar, passando pelos Emirados Árabes Unidos e Cazaquistão, existindo fortes suspeitas da sua utilização por governos europeus, como o polaco, com o mesmo propósito das monarquias absolutas do Golfo: monitorizar, perseguir e intimidar opositores políticos.
A utilização do Pegasus, contudo, parece não ser um exclusivo de monarcas totalitários e autocratas de extrema-direita. Em Espanha, onde o governo em funções é de esquerda, o software está a ser usado para espiar independentistas catalães. Quando chegamos ao patamar em que uma democracia consolidada recorre a ferramentas de espionagem dignas de um Vladimir Putin – que também o deve estar a usar – percebemos o grau de perigosidade dos tempos que vivemos.
Margaret Thatcher sobre as sanções aplicadas à Federação Russa

O problema do capitalismo de casino é que ele só dura até acabar o dinheiro dos regimes ditatoriais.
Margaret something
O que vale é que podemos sempre salvaguardar os princípios democráticos e substituir o Putin pela joia de moço que é o Bin Salman.
De ditador em ditador, até à descredibilização final

Muito se tem falado sobre os PCPs desta vida, e respectivas posições sobre a invasão da Ucrânia (e muito bem), mas muito pouco sobre certos e determinados quadrantes ideológicos, que conseguem fazer igual ou pior, sempre daquela forma hipócrita e dissimulada que os caracteriza. São todos muito democratas excepto quando a economia exige a capitulação perante os interesses económicos que mandam nisto tudo. E eles capitulam, sem pestanejar. Ou, parafraseando o CEO da Volkswagen, “Limitar a actividade a países democráticos não é um modelo de negócio viável para os fabricantes”. Esclarecedor.
Vejamos, por exemplo, o caso dos impolutos conservadores britânicos, grandes guardiões da democracia, que passaram anos a receber milhões de rublos da oligarquia russa, sabendo perfeitamente a proveniência desses financiamentos, o que nunca os fez recuar. Nem cleptocracia oligárquica nem os envenenamentos de opositores de Putin por terras de Sua Majestade, como os casos de Alexander Litvinenko e Sergei Skripal.
Putin, Bin Salman e a direita que não legitima ditadores, tirando aqueles que legitima

Mohammed Bin Salman, o Kim Jong-un da Arábia Saudita, famoso por fatiar jornalistas incómodos em embaixadas estrangeiras e nem por isso deixar o ter o seu ass licked pelos capitalism freedom fighters da direita ocidental, que adoram a democracia mas gostam ainda mais de petro-dólares, pinguem o sangue que pinguem, reafirmou o compromisso da OPEP com o tirano que invadiu a Ucrânia. É sempre bom saber quem está ao lado estão os nossos fiáveis parceiros do Golfo. Após a abstenção dos EAU no condenação de Putin no Conselho de Segurança, ficamos todos muito mais tranquilos.
Se fosse o PCP, a frente conservadora-liberal-fascista que se organizou para derrubar os comunistas já estaria aos berros no meio da rua, porque democracia, liberdade e pardais ao ninho. Acontece que a direita não cospe em mãos invisíveis, e o homem até faz boas compras de armamento aos EUA, e de imobiliário na Europa, e de software de detecção de jornalistas para fatiar em Israel, pelo que convém ficar caladinho, não vá o capitalismo ver vedado o acesso ao dinheiro totalitário do bem.
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