Simples informação

Mera informação aos amigos do Aventar

 Tenho vários livros contendo poemas, mas livros propriamente de poesia tenho dois, ou melhor, quatro, dado que o segundo é um conjunto de três pequenos volumes, com os subtítulos “Poemas do lusco-fusco”, “Poemas de ser e não ser” e “Poemas estoricônticos”. O primeiro livro intitula-se “Esta água que aqui vem dar” e foi editado em 1993, com a prestimosa ajuda do meu amigo Eugénio de Andrade. O segundo tem o título “Nova ponte sobre um velho rio” e é de 2006.

 Estou a preparar um novo livro a que darei o título “Vai o rio no estuário”, com subtítulo “versos de braços abertos”. Neste livro, procurarei dar a poemas novos e a antigos que eu resolver reformular, uma nova forma, em que os versos se abrem e se espraiam como os braços de um estuário, tal como em criança eu abria os braços de par em par, quando chegava ao fim da corrida. Porei de lado o velho conceito de estrofes e a sua classificação quanto ao agrupamento de versos, versos que não submeterei a metrificações, encadeamentos e rimas previamente concebidos em esquemas. Uma espécie de versos livres, versos ao calhas, ao sabor do vento suave que afaga as águas de um estuário.

 Procurarei fazer com que os poemas que doravante o Aventar fará o favor de publicar (deixo aqui lugar a uma ou outra excepção) obedeçam a este princípio. Tudo isto porque há muito me sinto um tanto enjoado com a poesia que por aí se faz e se consome. Talvez porque, embora tarde, comece a ter consciência das margens apertadas do meu rio e a sentir a atracção da liberdade de abrir os braços no fim da corrida.

 Darei aqui um exemplo do que pretendo tentar fazer: [Read more…]

May Malen's Diary-Chapter 9

This is the day when I was little

Once upon a time, as all stories must begin, I was born. My parents, Grannies and their husband were very anxious in the expatiation of seeing me. So were my cousins Tomas and Maira Rose, they wanted to have a cousin to play with. Their disillusion was big, as I was only a Carrot, with no name and used to sleep and sucks mother’s milk, and then I fell asleep again. My parents wanted a daughter and I was a girl for their satisfaction. They have already had a son, who takes care of us from eternity. I feel protected by him. Auntie Paula and Uncle Cristan, were also in the expectation of seeing me as soon as possible. However, as they are people of respect, they waited three months before going with their kids to have a family gathering around my coat, my baby bed. The only person who did not turned up was Abuelo, as Auntie [Read more…]

Uma obra heróica: Luísa Correia


Jamais fui apresentado à Luísa Correia, mas conheço, agradecido, a sua obsessão por nos mostrar aquilo que por muito que tentemos à vista desarmada, não conseguimos lobrigar. Todos os dias pelas ruas deambulamos quase cabisbaixos e não colhemos qualquer benefício do ambiente quase miraculoso em que vivemos. Perspectivas desconhecidas, uma quase indecente beleza que une pedras, plantas e animais, a luminosidade proporcionada por uma paleta de cores que se torna indescritível a cada foto que passa. Não há lugar para qualquer manipulação técnica, ou retoque de postal destinado ao turista. Na obra da Luísa, tudo é autêntico e sem subterfúgios, pois a autora apercebe-se do real valor que os construtores da cidade, talvez na sua maioria inconscientes da sua contribuição para um legado que nos une, foram ao longo de séculos acrescentando à nossa riqueza arquitectónica.

O Nocturno é um blogue de uma categoria dificilmente igualável, amesquinhando ou reduzindo a pó, tudo aquilo que possamos escrever acerca das aterradoras notícias que vão pingando em constantes chuviscos molha-tolos, anunciando a inevitável tempestade final que se aproxima a cada dia que passa.

Dia após dia e mercê do exaustivo trabalho da Luísa, deparamos com uma visão imperial bem diferente da regra europeia de amplas e arrebicadas avenidas, destinadas ao cerimonial que impunha o auto-satisfeito respeito interno e o temor no visitante que logo ao seu país regressava. Aqui, neste centro geográfico do Ocidente, existe essa grandeza despreocupada com convenções, denotando-se a liberdade dos edificadores e um caos organizado que nos deu afinal, a dimensão humana que outras capitais de igualmente extintos impérios, definitivamente não possuem.

A Luísa é uma benemérita e artista do maior valor, em nada ofuscada pelas obras a nós deixadas por outros amantes de Lisboa, que como Botelho ou Maluda, ofereceram sempre beleza, fazendo-nos esquecer o desleixo, a ruína, o negócio torpe e a infâmia iconoclasta de quem se alça a gestor da cidade.

Esqueçam a crise por umas horas e visitem o Nocturno. É um Museu quase desconhecido.

Evocação dos 550 anos da morte do Infante D. Henrique

Com a deslocada palavra “Comemorações”, a cidade de Lagos evoca hoje os 550 anos da morte do Infante D. Henrique, ocorrida na  “sua” Vila de Sagres. No dia seguinte, 14 de Novembro, o Infante foi sepultado em Lagos, donde foi posteriormente transladado para o Mosteiro da Batalha.

A ação, vida, feitos, personalidade, aspecto físico, mito, etc., do Infante prestam-se a inúmeras interpretações, especulações, análises e debates raramente concordantes entre si, assunto que deixo para os historiadores e para quem ao estudo da vida desta personagem da história mundial se dedique. Mas acho que Henrique, O Navegador de cognome, não merecia (presumo que a ele se dirija) uma representação tão estereotipada, rudimentar, ignorante e superficial como esta imagem da página inicial do Google que hoje atravessa o mundo e mete papagaios, bandeiras com ossos e caveiras, trajes de filibusteiro. Não estivesse o “pergaminho” enrolado até alturas do joelho da personagem e seria visível também uma perna de pau.

Adenda: a data, a rosa dos ventos e o tom geral da representação fizeram-me incorrer no erro de pensar que a imagem era dedicada à evocação do Infante (erro meu, má fortuna, precipitação, não confirmação das fontes). Um comentário do Hélder Gerreiro “O logo usado pela Google destina-se a assinalar o 160º Aniversário de Robert Louis Stevenson.” vem esclarecer o assunto e fazer-me engolir as palavras que apontei ao Google e aos autores da imagem.

Assim sendo, reposta a verdade, apresentadas as desculpas e agradecendo ao Hélder, resta-me salientar a data que hoje em Lagos se evoca.

Ainda o financiamento do ensino privado pelo estado

No Público de hoje relata-se uma discussão no parlamento onde um secretário de estado afirmou “um aluno do público custa 3752 euros menos do que no privado. Neste sistema, actualmente, um estudante custa 4440 euros“.  O ministério propõe-se pagar menos às escolas privadas, ficando ainda assim o custo de um aluno em “mais 36 euros do que um do público“.

PSD e CDS tentaram lançar areia para os olhos com um estudo da OCDE de 2007 que indica outros valores, e embora saibamos ser este governo hábil na manipulação de números convém não exagerar: sempre deve ter uma ideia mais aproximada das suas despesas do que a OCDE.

Fica assim claro o que já era uma evidência: no privado além dos outros custos  há ainda uma despesa a não desprezar: o lucro que é a sua razão de ser. Digam-me que as escolas religiosas não têm fins lucrativos, e além de me rir respondo que têm fins confessionais, o que é bem pior se falamos do direito ao ensino num estado laico.

Os argumentos da associação patronal do sector vão caindo, alguns pelas piores razões. Dizia o seu líder: “Temos de falar de condições iguais e também é necessário ver se nas contas entra o custo dos edifícios. No privado, o Estado não gasta com esses edifícios”, o que além de aplicado a outros sectores da economia sugerir que o estado subsidie as instalações de uma fábrica (o típico capitalista português quer sempre  menos estado na hora de pagar impostos mas muito mais estado quando toca ao subsídizito que o sustenta),  se revela desactualizado: as escolas públicas vão passar a pagar renda à Parque Escolar, o que como alerta o Paulo Guinote é gravissímo porque “vai estrangular financeiramente a gestão destas escolas e agrupamentos“, e acrescento eu, é meio caminho para a privatização da Parque Escolar, que seguirá o mesmo caminho da Estradas de Portugal mal haja engenharia para se tornarem lucrativas.  [Read more…]

Aung San Suu Kyi libertada na Birmânia

Aung San Suu Kyi foi libertada hoje ao fim de quase vinte anos de pesadelo a que foi submetida pelas autoridades birmanesas. Mas nada garante que o pesadelo tenha fim. O despótico e tenebroso -no sentido de rodeado de trevas e superstições- regime de Myanmar em nada alterou a sua natureza e os sinais continuam preocupantes.

Por outro lado as esperanças depositadas na ação de Aung Suu Kyi por parte da população são enormes, especialmente num país onde o exercício democrático e a capacidade de livre circulação e expressão estão reduzidos ao mínimo:

Alguns observadores questionam o papel que a líder da oposição vai realmente poder desempenhar. Win Tin, um dos fundadores da LND, não tem dúvidas: quando Aung San Suu Kyi estiver em liberdade, “será como uma enorme chuva. E quando a monção chegar à Birmânia, acordará todo o país para a vida

Post de não incitamento ao terrorismo

Tenham cuidado, muito cuidado…

No conselho de ministros do dia 11 foi aprovada uma proposta de lei que visa criminalizar o incitamento ao terrorismo. Foi publicado o seguinte resumo:

4. Proposta de Lei que criminaliza o incitamento público à prática de infracções terroristas, o recrutamento para o terrorismo e o treino para o terrorismo, dando cumprimento à Decisão-Quadro n.º 2008/919/JAI do Conselho, de 28 de Novembro, que altera a Decisão-Quadro n.º 2002/475/JAI relativa à luta contra o terrorismo, e procede à 3.ª alteração da Lei n.º 52/2003, de 22 de Agosto (pdf)

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O Clube do Regime nos Trinta e Cinco Anos da Independência de Angola (parte II)

O Estádio 11 de Novembro, construído no âmbito do CAN, situa-se numa área de expansão urbana junto à nova auto-estrada que circunda a cidade de Luanda. Possui um imagem bastante simpática pelo exterior, instalações modernas e bons acessos (ainda por acabar), que apesar de tudo não impediram o congestionamento do trânsito, o que é recorrente e uma das imagens de marca desta metrópole de cinco milhões de habitantes.

Foi montado um grande aparato policial, bastante intimidador, o que também é uma das imagens recorrentes desta cidade sempre que há um evento destas características. No entanto o ambiente era festivo e o comportamento do público pacifico, pautado aqui e ali por algumas tentativas de grupos de jovens tentando entrar sem bilhete.

Ouviam-se algumas bocas dirigidas aos adeptos do Benfica, sobretudo aos brancos : “cuidado, pulas, se o Benfica ganhar, amanhã a DEFA (polícia de fronteiras) vai vos fatigar ”  ou o  ” então! cumé? já digeriram a derrota com o Porto?”, etc. Aprendemos também algumas expressões que desconhecíamos. Por exemplo, a polícia de choque é conhecida como sendo “os maridos” . Maridos porquê? ” Esses ui são como os maridos, batem à toa, tás a ver né?”.  Entretanto, vislumbrámos um adepto vestido com a camisola do FcPorto, e um grupo de sportinguistas,que fizeram questão de marcar presença numa saudável provocação. Mas a maioria vestia as cores de Angola ou do Benfica.

O estádio estava  composto, ainda que não esgotado . O ambiente era festivo, abrilhantado com a presença da banda da claque do KabusCorp, clube do bairro Palanca, conhecido como o clube dos langas – emigrantes ou angolanos nascidos no Congo democrático- cujo presidente é o carismático Beto Calamba,  o empresário da juventude. É de sublinhar, pois que  se tratava da única claque organizada presente, ainda para mais sendo de um clube pequeno. Os grandes clubes (1º de Agosto, o Petro, o Inter ou Asa) só se faziam notar por uma outra camisola dos adeptos.

O Benfica trouxe todo o seu plantel e fez alinhar de início grande parte dos seus titulares à excepção do lateral esquerdo, o jovem Fábio Faria. Não por acaso, foi por este flanco que se verificaram as jogadas de maior perigo para as balizas encarnadas, durante os quinze minutos iniciais, em que a selecção angolana empolgou a torcida, sobretudo através das diabruras do seu extremo direito, o jovem Job, a quem apelidam de Mestre. Chegaram mesmo a marcar, num golo infelizmente invalidado  por fora de jogo, que de facto existiu, mas que o homem do apito poderia ter ignorado.  Depois o Benfica assumiu as rédeas e sem grande esforço chegou naturalmente ao dois zero. Quase no final da primeira, dá-se a entrada de Mantorras, da qual resulta um forte salva de palmas naquele que foi um dos momentos grandes da noite.

Convencidos quanto à superioridade técnica do Benfica, aos adeptos angolanos restava a consolação das jogadas bonitas protagonizadas por Job. E foi de facto impressionante a forma como sempre que o miúdo pegava na bola, a plateia levantava-se e vibrava. O puto tem talento, ainda que nos pareça ser difícil uma eventual adaptação ao futebol europeu. Deu dois ou três nós cegos os defesas encarnados, quer na 1ª parte, onde jogou no lado direito, quer na 2ª fazendo diagonais da esquerda para a direita. Mas registe-se alguns nions (expressão muito utilizada pelo falecido Perestrelo) e um túnel a um defesa do Benfica, que deixou os adeptos à beira do delírio, gritando MESTRE! MESTRE!

A determinada altura,  junto a nós, um adepto português muito condescendente, não sem alguma arrogância, vira-se para uma angolana vestida com a camisola da selecção e diz-lhe para não ficar triste porque “nós” íamos deixar Angola marcar. A angolana responde-lhe nós quem? nós estamos a ganhar a dois a zero! O tuga meteu, não sem uma vénia, a viola no saco, certo de que tinha perdido uma boa oportunidade para estar calado.

No final os jogadores do Benfica atiram bolas, camisolas e bonés para a bancada, dá-se uma invasão de campo de miúdos à cata dos equipamentos dos jogadores o que provoca entrada dos “maridos” em campo. Registe-se que não houve bastonadas. Bastou a sua presença para que os miúdos debandassem. Alguns são detidos e levados sem violência. Das bancadas ouve-se Deixa, Deixa ! pedindo a libertação dos garotos.

E foi assim, pá. Uma festa bonita, tás a ver né?