Uma Europa que se nega a equipar para a defesa e a colaborar na garantia da sua própria segurança, não podia ter esperado mais de uma cimeira que antes de tudo, serviu para um crucial apaziguamento e até aproximação da Rússia. Estando o gigante do leste perante dilemas de difícil resolução – fronteiras instáveis, separatismos vários, forte quebra da natalidadel, fraca densidade populacional nas fronteiras da parte asiática -, a NATO pode hoje significar o seu auto-reconhecimento como parte integral da defesa de um Ocidente, a que em boa medida pertence. Daí a vinda a Lisboa e o sucesso da Cimeira. Consistiu este, o aspecto fundamental da magna reunião.

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https://aventar.eu/2010/11/21/1077835/

Exílio (o repto a um repto a um repto a um repto de um amigo)

O Carlos Fonseca, às vezes, lança-me reptos simpáticos e amigos que eu nem sei se mereço. Desta vez brindou-me com Chico, também Julinho da Adelaide, e desenterrou do baú a saga da MPB dos anos de chumbo e de exílio dos seus criadores.

O Carlos merece que eu encha o meu cálice em sua honra e renove o brinde: esta canção, ou melhor, esta atuação e declarações juntamente com a canção, em 1968, remeteram Caetano Veloso e Gilberto Gil para o exílio londrino em 69.

Um conhecimento razoável da história da música popular bastará para que se perceba uma coisa: não fosse a censura e a contenção de danos (vulgo repressão) e esta música -de que se apresenta um extrato e a ligação para a versão integral – faria os possíveis por incendiar o Brasil de 68. À tua, Carlos.

Chega de Saudade por Chico Buarque e Edu Lobo

A música, a boa música, não tem pátria. É universal, tal como os seus autores (compositores e poetas) e intérpretes.

‘Chega de Saudade’, de 1958, de Jobim e Vinícius, é a música fundadora da  Bossa Nova na MPB. Trago-a aqui pela voz de Chico Buarque e Edu Lobo. O Chico é também um cidadão universal, lutador pela liberdade e a justiça social. No tempo da ditadura militar, viveu exilado em Itália. Mas antes de partir ludibriou a censura com o heterónimo Julinho da Adelaide sem ser reconhecido.

A publicação deste vídeo é réplica aos reptos musicais do meu companheiro Pedro (A.Pedro Correia).

Será que não aperto bem?

(Porm.adão cruz)

Não é que eu me considere tolo, embora os meus amigos digam que às vezes eu não bato bem. Eu penso, de facto, que há uma ou outra vez em que eu não aperto bem, ou melhor, aperto à minha maneira, que não é exactamente a maneira como os outros apertam.

Dá-se o caso que, vindo eu de Lisboa, de uma reunião médica, saí da auto-estrada para ir almoçar ao centro de Ílhavo. Estacionei o carro e procurei um restaurante, o qual, por acaso, estava ali mesmo à beira. Restaurante Villa Madrid.

Agradável, aconchegado e com um ambiente acolhedor. Televisão abafada, só com imagem, e no ar uma música suave e melodiosa que já não é habitual ouvir-se na maioria dos restaurantes: a Barcarola, dos contos de Hoffman, de Offenbach.

Sentei-me. A meio da refeição, uma Senhora idosa, dos seus oitenta anos, que me pereceu muito bonita, entrou na sala e sentou-se na mesa em frente à minha. Tinha um rosto vincado e sofrido, uma daquelas caras que parecem estar sempre prestes a chorar. Os nossos olhares cruzaram-se duas ou três vezes durante a minha permanência na mesa. O suficiente para eu achar, com efeito, que aquela Senhora deveria ter sido muito bonita. [Read more…]

A Coragem do Papa e o preservativo

Maybe yes, quizá a veces, magari qualche volte, ci pensiamo,

peut-être, ça depend, on verra, vielleicht ein paar mal, müssen wir überlegen,

temos que pensar quando y hay que saber como, è chiaro.

Portanto, sim, quer dizer, não, ou melhor, talvez.

A fundeira da Nato

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Parece que a Rússia, velha madrasta dos povos seus vizinhos, acasalou com os EUA e seus protectorados. Que tenham muitos meninos.

O inimigo, a indústria da guerra e os impérios precisam de um inimigo, está-lhes no sangue, é agora oficiosamente o Irão. A velha Pérsia renasce desta vez como anedota, e dada a desproporção de forças daria vontade de rir se a ameaça não fosse séria. O Afeganistão não chega, há que arranjar outra guerra para gastar a pólvora.

Claro que o inimigo é outro, para Oriente  mas bem maior, e já passou da ameaça ao concretizar, por enquanto pacífico, da sua condição de novo império dominante.

Os impérios têm tido na História da humanidade hábitos muito regulares: nascem, crescem, dominam, e entram em decadência. O norte-americano que vai para um século arrumou o inglês a um canto da História, está na fase descendente, é a vida rapazes. Um outro nasceu (aliás, renasceu, mas o euro-centrismo histórico nem deu por isso), e já distribui o jogo na economia. Não deixa de ser simbólica a passagem do presidente chinês por Lisboa em vésperas da cimeira. [Read more…]

O Baú das Músicas Portuguesas – VI

Abram a boca e espantem-se, até com o autor. Portugal 1978, um disco considerado pela Bilboard um dos 100 melhores do rock progressivo de sempre.

Sir John (Jack) Goody, pai fundador da Antropologia – 6

O meu antigo patrão em Cambridge, sempre de mau humor, armado Cavaleiro em 1984

Sir John (Jack) Rankine Goody, entrevistado por Erick Hobsbawm, 18 de Maio de 1991, entrevista filmada por Alan Macfarlane.  Houve outro livro de depoimentos de Jack Goody para Pierre-Emmanuel Dauzat, 1996: L´Homme, L’Écriture et la Mort, Les Belles Lettres, Paris

É esta a História que analisa Goody no seu texto citado, retirado das suas pesquisas dos anos 50 do Século XX. Há dois pontos importantes na sua análise – os assassinatos entre parentes para aceder ao poder, são apenas uma anedota. Os dois pontos chaves mencionados antes, são: se há luta, é porque esta antiga monarquia tem uma hierarquia dentro da qual está dividido o trabalho: os estados que têm chefes, os Muçulmanos, que têm os seus privilégios, o povo comum ou comuneiros que realizam o trabalho e devem entregarem ao grupo central da monarquia e aos seus delegados; os escravos que trabalham sem ordenado, e os estrangeiros, que são aceites desde que entreguem  coisas útil para os soberanos; e a hierarquia dos que mandam, entre os que se encontram os prelados ou chefes sagrados, como explica Goody nas páginas 142-146 do livro que me orienta, citado mais em baixo. [Read more…]

Blogopédia – Dicionário da Blogosfera (Pedro Beça Múrias)

Abandonamos por um dia a sequência alfabética da Blogopédia – Dicionário da Blogosfera por razões que, em nossa opinião, se justificam inteiramente. A morte de Pedro Beça Múrias, aos 47 anos, apanhou todos de surpresa. Todos aqueles que insistem em olhar para a morte como se não fosse o mais natural que há na vida.
Este post é a humilde homenagem do Aventar a um companheiro de bloga que agora parte.

P

Pedro Beça Múrias – Jornalista, nasceu em 1963 em Lisboa. Trabalhou em vários jornais e revistas, como O Jornal, o Se7e, Jornal de Notícias, Semanário e Sábado. Recentemente, trabalhava no Rádio Clube Português.
Publicou em Fevereiro de 2010 o livro «Crónicas da Sala de Espera» – setenta crónicas escritas entre Janeiro e Abril de 2009 para o Rádio Clube Português durante os tratamentos que fez antes de uma operação para remover um tumor no recto.
Uma doença que, segundo o próprio, mudou a sua vida, ao ponto de passar a dedicar-se de alma e coração às causas oncológicas e de criar no Facebook o grupo «Pessoas que não gostam de pessoas que despedem doentes de cancro».
De si próprio, dizia que gostava tanto de escrever como de fotografar. «Não sei, de facto, do que gosto mais de fazer, se fotografar, se contar por palavras o que vejo e sinto.»
Fez parte do blogue colectivo Albergue Espanhol, onde escreveu o seu último texto a 5 de Março de 2010, descrevendo um telefonema de Pinto Balsemão para sua casa na altura em que era primeiro-ministro.
Fez também parte do blogue colectivo Emoções Básicas, onde dava azo às suas mais íntimas reflexões. Nesse blogue, escreveu o seu último post no dia 16 de Outubro, com o título «Exposição tenta compreender como Hitler se tornou o salvador dos alemães».
Alguns dias antes, a 5 de Outubro, publicara o texto «Masturdating», que terminava com a frase «Quem amou o homem que foi só a enterrar?»
Morreu em Cascais no dia 20 de Novembro de 2010.

A entrada de Pedro Beça Múrias já está disponível para edição na plataforma Wiki da Blogopédia.