Os ratos

As areias estão movediças, as águas tumultuosas, a embarcação mete água, o petróleo não escoa.

Nas embaixadas líbias, um pouco por todo o mundo, os ratos demarcam-se e salvam o pêlo.

Agora foi a vez do embaixador líbio em Lisboa descobrir que estava ao serviço de um “regime fascista” (cito).

Não sei se desprezo mais ditadores assassinos como Kadhafi ou os ratos de porão.

Enterrado o regime, na hora da disputa dos despojos, vamos vê-los surgir de novo. Como democratas de longa data, pois claro. * que os pariu.

Um país de generais sentados

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«WikiLeaks Portugal: Expresso revela negócios ruinosos na Defesa» [Expresso]

«Nas mensagens enviadas a Washington, o embaixador passa a imagem de um país de “generais sentados”, dizendo que o Ministério da Defesa não é capaz de tomar decisões e que “os militares têm uma cultura de status quo, em que as posições-chave são ocupadas por carreiristas que evitam entrar em controvérsias”. O embaixador sublinha ainda que o dinheiro na Defesa é gasto de forma imprudente e que Portugal tem mais almirantes e generais por soldado do que quase todas as outras forças armadas» [Público]

Album de recordações


Uma foto cheia de futuros ex, dedicada à matilha de serviço

Ir aos dos costume e à bruta

Vem no Económico: «acumular remunerações no Estado que, no total, excedam 1.500 euros verá o seu salário reduzido com efeitos a 1 de Janeiro». A estratégia é, obviamente, arranjar mais dinheiro vindo dos impostos.

Foi anunciado que em Janeiro de 2011 a banca começaria a pagar um novo imposto, os lucros da banca estão em franca ascensão e os respectivos impostos em queda e todos os outros impostos estão jubilosamente a ser cobrados, levando a um aumento da receita fiscal em 15%.

Portanto, que justificação tem este governo para ainda não ter concretizado o que se propôs fazer? Será para “beneficiar das melhores práticas dos diferentes países da União Europeia neste domínio”, como afirmou Sócrates há algum tempo? Se é assim, olhe-se ali para o IVA e para o ISP (Imposto sobre Produtos Petrolíferos) de Espanha, que também é Europa. Ou será que IVA a 18% e 50.5% de carga fiscal sobre os combustíveis na Espanha (respectivamente 23% e 58% em Portugal) não “das melhores práticas”?

O primeiro-ministro diz que este novo imposto “estará regulamentado no primeiro semestre deste ano” e que reportará a “1 de Janeiro de 2011”. Cá estaremos para ver se tal acontece. Certo, certo é que aos do costume já se está a ir e à bruta.

Deus à imagem e semelhança do homem

Com base neste texto, Jorge Oliveira explica, erradamente, que a minha ausência de crença em Deus se baseia no facto de que “Deus (e os seus anjos) deixe morrer tantos e poupe apenas uns poucos.” Deus não me preocupa – os homens, sim – e a minha falta de fé não tem explicação: foi algo que me aconteceu e com que vivo confortavelmente até hoje. Não acredito em Deus porque não e, sobretudo, o sobrenatural não me preocupa.

O que disse no texto anterior é mais do que isso: mesmo admitindo que Deus exista, recusar-me-ia a prestar culto a uma entidade que manifesta preferências aleatórias pelos elementos da sua criação. Um Deus omnipotente e sumamente bom não deve fazer isso, seria um abuso de poder inaceitável. Mesmo não acreditando, só posso aceitar um Deus que não se comporte como um tiranete que compensa quem o adular e castiga quem não o fizer. Se Deus, a existir, não me fizer a vontade, o problema será meu, eventualmente.

Quem acreditar em Deus não merecerá ser desrespeitado por isso. O que não consigo respeitar é quem se serve dessa crença para exprimir irresponsabilidades como as daqueles que se afirmam portadores de um privilégio ou que chegam ao ponto de explicar acasos invocando Nossa Senhora de Fátima, num populismo desavergonhado.

De resto, a História da Igreja está carregada de figuras luminosas e sinistras, exemplares as primeiras e condenáveis as segundas. De um lado, temos, por exemplo, São Francisco de Assis, que até correu o risco de ser considerado herege, e, do outro, Torquemada, que, mais do que um nome próprio, passou a ser uma característica. De uma maneira geral, a Igreja, sempre que pôde, nunca quis esperar por Deus, preferindo, sempre, castigar por antecipação todos aqueles que seguiram outros caminhos. Ou seja: o problema é, mesmo, o Homem. Com Deus, será sempre fácil cada um resolver os seus problemas.